V. um único lugar
Boa leitura ❤
um único lugar
Jeongguk abriu os olhos com preguiça naquela manhã. Suas mãos vagamente deslizaram pela cama, tentando encontrar Taehyung nela. Como imaginou, ele não estava. Suspirou, remexendo-se confortavelmente. O dia anterior poderia ter sido o segundo melhor de sua vida, o primeiro sendo quando conheceu Taehyung.
Era como se não fosse realmente real. Como o deus teria deixado metade de sua divindade apenas para vê-lo, um mero mortal na terra? Digno de um sonho ideal que acaba quando seus olhos se abrem. Mas era verdade, estava realmente acontecendo. Mal tinha palavras para descrever a sensação agradável que tomava seu coração, enchendo-o de um bom sentimento.
Levantou da cama minutos depois, fazendo sua higiene matinal. Assim que terminou, colocou a mochila nas costas e saiu do quarto.
Ele viu sua mãe colocando algumas coisas na mesa enquanto seu pai a ajudava. Eles conversavam baixo, como se não quisessem que o assunto saísse dali. Não chegou a compreender ou tentar focar-se em escutar, pois segundos depois os olhos dos progenitores caíram em si.
Puxou uma cadeira e se sentou, vendo seus pais terminarem de ajeitar a mesa e sentarem lado a lado. O silêncio era incômodo, observou-os colocando o próprio café da manhã sem nem mesmo lhe dizer algo. Suspirou pesadamente.
- Estão ignorando o próprio filho? É realmente um ato bem... diferente do que se espera de pessoas adultas. - disse simples, colocando o próprio café. - Ou dos próprios pais.
- O que espera, Jeongguk? Que lhe tratemos como se tudo estivesse bem?! - sua mãe falou com a voz baixa e indignada.
- E por que não estaria?
- O que Taehyung fez com você? - seu pai tomou a palavra.
- Nada. O que vocês estão pensando-
- Você disse que ele havia esquecido a oferenda e que você poderia continuar sua vida, assim como nós! Mas ele está aqui de volta, atrás de você. E você o defende depois de tudo!!
- Não estou defendendo ele, pai. Ele não me fez mal algum e também é um deus. Precisar que eu o defenda é realmente bem desnecessário. - falou, já sentindo que não iria sair de casa calmo como havia acordado. - Mas vocês insistem!
- Ele matou pessoas, Jeongguk.
- Nada disso teria acontecido se tivessem apenas me entregado - murmurou irritado, olhando para o próprio café.
O silêncio se instaurou no local de novo, e Jeongguk levantou o olhar para os pais novamente. Podia ver as lágrimas acumuladas nos olhos da sua mãe, e se sentiu mal por fazê-la chorar.
- Mãe...
- O que queria que fizéssemos, Jeongguk? Você é nosso único filho e um deus que nem somos devotos exigiu que você fosse a oferenda. Íamos dar sua vida só porque ele queria? Por ser um deus?! - sua mãe disse magoada enquanto o olhava nos olhos. Jeongguk não soube o que falar. - Você ainda não tem filhos, Jeongguk. Se tivesse, talvez soubesse a sensação de saber que seu filho lhe será tirado - ela levantou da mesa em seguida, saindo dali.
- Esse deus só quer você de novo por desejo. Porque ele acha que tem direito sobre todos! Mas não é assim. Com toda certeza Gaia irá intervir, e eu irei continuar rezando para que isso aconteça. Você só não percebe agora porque ele já fez sua mente. Mas a nossa, não.
Viu o mais velho levantar também, e logo estava sozinho na mesa, ouvindo apenas o som do ponteiro no relógio na parede.
Estava até mesmo sem fome agora. Levantou também, saindo de casa. Agora só desejava ir à qualquer lugar que o fizesse esquecer do que tinha ouvido em casa.
- Ouvir a verdade é dolorosa demais? - aquela voz o deixou nervoso rapidamente. Olhou de canto, suas batidas frenéticas ao ver Jimin ao seu lado, caminhando consigo. - Eu sei, eu sei. Deve ser difícil.
- Do que está falando? - tentou desconversar enquanto caminhava mais depressa. O riso o trouxe de volta.
- Eu sou um deus. Saber o que se passa na sua mente é apenas um detalhe pequeno. Mas de qualquer forma, me diga, acha que eles estão mentindo? - ele sorriu abertamente, como se fosse um assunto comum. Umedeceu os lábios antes de ficar sério. - Acredita mesmo que um deus como Morte se importa com você?
Jeongguk queria ficar apenas escutando e ignorando, mas era extremamente difícil. Como se as palavras do segundo deus fossem pesadas, como se o forçasse a acreditar.
- Meus pais deixaram ele irritado. É claro que ele iria querer matar a todos... - Jeongguk murmurou sem perceber, e Jimin sorriu pequeno ao ver que conseguia o efeito que queria.- Era só me entregar, era só...
- Você é bobo, Jeongguk. Acha que nós, deuses, temos sentimentos como vocês, humanos? Há, não seja ingênuo.
Jeongguk sentiu o ar faltar brevemente, e negou com a cabeça, vendo o prédio da faculdade há alguns passos. Jimin continuou ao seu lado, em silêncio, até que estivessem no prédio. Depois disso, Jeongguk viu de soslaio ele sumir de vista.
O ar parecia pesado agora, e Jeon só desejava esquecer um pouco de tudo. Ele sentou na carteira da sala, sentindo um empurrão no ombro. Olhou para o lado, vendo Im preocupada com sua expressão.
- Você tá bem?
- Na verdade, estou péssimo. No intervalo conversamos, tudo bem? - disse quando a professora entrou na sala.
E depois disso, ele não conseguiu pensar mais em nada.
+++
No intervalo, Jeongguk se sentia melhor do que pelo início da manhã.
Ele viu Nayeon mexer no celular com atenção e parou em frente a ela, com os braços cruzados. Viu a mais velha olhá-lo, um sorriso sem graça no rosto, como se entendesse o que ele queria dizer com o olhar.
- Jeon-
- Como você conseguiu simplesmente fugir de mim quando eu precisava de você ontem, Im? Você é uma péssima amiga! - reclamou com falsa irritação, tentando não trazer o assunto da manhã a tona, sentindo os braços da garota o puxarem para um abraço de lado.
- Ah, vamos, eu não ia ficar de vela, você sabe! Te ajudo e é assim que me retribui? - falou chateada. Jeongguk ignorou. - E então? Você conseguiu conversar com ele?
- Sim. Passamos o dia praticamente juntos - disse envergonhado. - Mas não sei onde ele está agora...
- Por que você não pede que ele apareça então?
- É só isso que preciso fazer? Pedir?
- Nem parece que leu o livro das divindades assim - Nayeon revirou os olhos, vendo o amigo olhá-la com ainda mais dúvidas. - Os deuses tem templos nas terras. Com Morte não seria diferente. Há um bem próximo da sua casa, nunca soube? - Jeongguk negou, mas tinha uma vaga lembrança que já tinha estado lá. - Então, você só simplesmente precisa ir até lá e chamá-lo ou orar. É assim que humanos conseguem conversar com os deuses. Pelos templos.
Jeongguk assentiu totalmente impressionado. Ele realmente não lembrava disso. Se Taehyung não aparecesse até o fim do dia, iria no templo tentar encontrá-lo.
Ele foi em direção ao refeitório junto com Im, e tentou comer alguma coisa enquanto sua mente estava a mil. Viu alguém puxar uma cadeira e sentar a mesa em que estavam, e tentou ignorar. Depois de um silêncio incômodo, o desconhecido começou a falar:
- Você é realmente bonito, sabia? Muito bonito - o homem falou do nada, viu Im o olhar com dúvidas e devolveu o mesmo olhar para ela, sem entender. - Que tal a gente conversar um pouco, hum?
- Não, agradeço o convite - disse enquanto levantava, Im ao seu lado. Quando tentou se afastar, sentiu o pulso ser segurado, impedindo-o de continuar. - Me larga!
- Por que está recusando? Você não gosta de mim? - o aperto se intensificou, Jeongguk sentia a respiração mais nervosa, não conseguia raciocinar. Ele nunca tinha visto aquele homem e todos pareciam não enxergá-lo também. Mesmo Nayeon parecia ter seguido seu caminho como se não estivesse naquela situação.
Tentou soltar a mão com mais força, gemendo de dor quando o aperto se intensificou demais. Aquilo era mesmo possível? Seu pulso seria quebrado se não conseguisse se soltar.
- Por favor, me solta, por favor! - sua voz pediu desesperada, e ele sentiu as lágrimas encherem seus olhos. Os fechou, imaginando a única coisa que o fazia se sentir seguro, e mal percebeu quando sua boca formulou o nome. - Taehyung...
Houve um certo brilho que Jeongguk conseguiu perceber por sobre as pálpebras antes que o aperto sumisse por completo. Ele abriu os olhos, surpreso e assustado ao mesmo tempo.
Taehyung estava na sua frente agora, as mãos sobre o pescoço do homem que o machucava. Viu os olhos vermelhos, a raiva que parecia sair dos poros do deus. O mais estranho era como o homem não dizia nada, apenas tentando soltar-se, sem esboçar dor alguma.
Sua boca estava aberta, queria dizer algo, mas não conseguia. O som estrondoso fez seu corpo ir para trás antes que visse o corpo sem vida caído no chão, aos poucos se transformando em pó, sumindo.
Viu os olhos de Taehyung o fitarem, e não soube quem deles se aproximou até que estivessem se abraçando.
Era estranho, estava chorando de verdade, como se o pior tivesse acontecido. De alguma forma sentia que aconteceria. Taehyung beijou seus cabelos antes de se afastar, trazendo-o para um beijo ansioso.
Suspirou entre ele, aliviado, como se nada mais importasse. E talvez fosse a sua verdade absoluta.
Taehyung se afastou, segurando em sua mão e o levando para fora dali. Deixou que fosse, sem forças para negar.
- O que era aquilo? - Jeongguk perguntou quando Taehyung o deixou em sua sala. Ele não parecia ter a melhor resposta pelo silêncio demorado.
- Não é nada. Não precisa se preocupar, isso não vai acontecer de novo - jurou ter visto a respiração de Taehyung nervosa. Jeongguk ficou preocupado. Foi quando percebeu que os alunos e Nayeon estavam na sala, olhando para o quadro enquanto o professor explicava, como se não o vissem. Taehyung deveria estar mudando aquilo. - Preciso ir. - Taehyung o beijou novamente, sumindo em seguida, sem dar chance de dizer algo.
- Jeongguk, por que demorou tanto?! - Im disse indignada ao vê-lo.- Eu já estava ficando preocupada!
- Nada, está tudo bem - respondeu evasivo. Depois daquilo, tentou prestar atenção na aula, mesmo que isso jamais fosse tirar seus pensamentos do que realmente o deixava preocupado naquele momento.
+++
Quando estava fora da faculdade, Jeon suspirou cansado. Todo aquele dia havia começado de forma péssima, e ele já não tinha mais ideia de como fazê-lo melhorar. Taehyung só havia aparecido uma vez pela manhã, naquela situação estranha e assustadora.
Precisava mesmo dele agora, mesmo que apenas para lembrar de como seus sentimentos que enchiam o peito talvez não fossem os mesmos do deus. Ele estava tão apaixonado que doía pensar que aquele amor teria que ser esquecido em certo momento.
Como para concretizar suas palavras, ele viu Taehyung surgindo aos poucos, como se a própria imagem começasse a se formar no caminho que ele fazia agora.
Suspirou, caminhando para longe do prédio. Não queria ir para casa agora, apesar de que sabia que os pais não estariam lá. Queria apenas... dar um tempo, saber o que realmente estava acontecendo com alguém que não era ele mesmo. Mas sim, Taehyung.
O deus continuou sério até estar na frente de Jeongguk, inclinando-se para deixar um singelo beijo em seus lábios vermelhos. Jeongguk estava frustrado, e o deus percebeu rapidamente.
- Algum problema? - Taehyung perguntou, agindo como se o acontecimento do início do dia não tivesse existido e Jeon percebeu isso. Resolveu que não iria entrar no assunto naquele momento, apenas assentindo, sem dizer uma palavra. Eles passaram a caminhar sem um rumo certo, apesar da direção que seguiam. - Você quer conversar comigo?
- Acho que sim. Desabafar com um deus as vezes ajuda - viu Taehyung deixar um riso escapar, e isso o deixou bem, como um bom remédio para suas dores. - Meus pais ainda estão com uma carranca impassível e... eu acho que estou sendo muito ignorante com eles.
- Ignorante no literal da palavra ou...?
- Os dois, sendo sincero. É como se eles soubessem de tanto e eu, como um ignorante, não os escutasse. E mais ignorante ainda, os trato com grosseria - Jeongguk murmurou.
Taehyung ficou calado por alguns segundos, e isso deu tempo para que Jeongguk notasse a direção que iam. Ele virou-se um pouco, segurando a mão de Taehyung com um sorriso pequeno enquanto os levava para outra rota. Para mais adentro do lugar em que vivia.
- Jeongguk, isso tem haver comigo? - o deus perguntou calmo, Jeon abriu a boca para falar, mas as palavras faltaram. Assentiu. - Você me acha ruim?
Jeongguk o olhou assustado, como se aquilo fosse algo horrendo para ser dito.
- Não fale isso, Tae. Você não é.
- Eu sou.
Jeongguk esperava que ele estivesse apenas sendo irônico, como parte da personalidade do deus era. Mas Taehyung não esboçou nenhum sorriso, nada. Apenas disse aquelas palavras como se fossem a mais pura verdade.
- Eu sou um deus, Jeongguk. Não é novidade alguma que eu saiba o que os humanos pensam de mim, ainda mais devotos de meus irmãos Justiça, Vida. A morte nunca será bem vista, porque ela toma. E para os humanos, apenas o que é dado, é bom - Taehyung falou com uma voz extremamente baixa e rouca. Aquilo não devia ser fácil para ele, dizer sobre o que pensava, mas o deus tentava naquele momento, assim como poucas vezes que percebera o tom mais baixo de voz vindo dele. - Para ser sincero, eu não me importo. Assim como Guerra não liga quando tantos começam a se matar por coisas insignificantes. Somos deuses, e nada que fazemos estar errado. É o que o Conselho dos deuses diz. E é no que temos que acreditar.
Jeongguk sentiu sua mão ser apertada com um pouco mais de força. Ele olhou para Taehyung, vendo os olhos do deus parecerem opacos ao falar daquela situação. Sentiu-se mal por fazê-lo dizer sobre aquelas coisas, e acabou mordendo o interior da bochecha com força por isso, em um martírio.
- Eles tem razão quando dizem a você que eu sou um monstro. Eu tentei exterminar a humanidade porque alguém me foi negado. Isso é tão... absurdo? - disse, como se o pensamento surgisse aos poucos. - Eu nunca tinha pensado desse modo até então.
- Mesmo assim... você apenas estava com raiva, certo? Vocês tem poderes e o usam quando é preciso. - Jeongguk disse com convicção. - Você acha que todos os humanos são bons? - perguntou com a voz embargada, mesmo que não estivesse querendo chorar. Taehyung o olhou pela primeira vez, como se achasse fofa a intenção do mais novo de defendê-lo. - Há monstros na terra em forma de pessoas. Eles realmente matam por que querem, não só por sentir raiva, mas por vontade. Ou abusam de inocentes, os subjugam, os machucam no coração e no corpo... - murmurou mordendo com força o lábio inferior. Olhou para Taehyung com os olhos brilhantes devido às lágrimas que passavam a acumular. - Então qual o problema de querer matar todo mundo? Acha que se os humanos tivessem poderes, eles já não teriam feito isso? Quer dizer, eles já tem meios para isso. Só fingem que tem um acordo de paz.
Taehyung parou de andar, as mãos unidas fazendo com que Jeongguk automaticamente parasse também. Jeongguk viu Taehyung abrir um sorriso pequeno, os olhos estavam tão diferentes agora, como se brilhassem de felicidade. Uma das mãos do deus tocou sua bochecha com carinho, o polegar deslizando pela pele alva com leveza.
- Você é realmente um anjo por fazer um deus como eu me sentir melhor. Imagino quantas pessoas no mundo devem ser como você... puras de alma.
Trouxe o mais novo para um beijo que misturava tristeza com alívio. Taehyung podia sentir o coração acelerar, as batidas frenéticas que ele se perguntou se era normal. Não entendia porque sentia tudo aquilo. Em sua forma original, nada acontecia, como se fosse proibido por uma força maior. Mas ali, como metade da sua forma sendo humana, imaginava que havia herdado aquilo dos humanos.
Suspirou quando sentiu o beijo se tornar mais intenso e carinhoso, sua mão ainda no rosto do mais novo enquanto tocava a pele clara. Apenas afastou-se devagar, olhando para o lado, quando ouviu passos cautelosos em sua direção.
Jeongguk viu uma mulher alta de longos cabelos negros parada agora, encarando fixamente Taehyung. Conhecia ela como Son Naeun, era uma das pessoas que o acompanharam na oferenda.
O procedimento exigia devotos do deus, e poucos por ali eram. Naeun era uma delas.
- Taehyung? - ouviu como a voz dela parecia quebrada. Ela havia reconhecido o deus, e se perguntava porque as pessoas de sua faculdade não conseguiram nada mais do que apenas admirá-lo. Talvez não fosse possível para qualquer um. Apenas devotos fiéis a ele. Seus pais e ele próprio eram apenas exceções por estarem diretamente ligados ao ato. - É realmente você... deus da morte?
- Eu mesmo, Son. Você parece desesperada. Como Soyoung está? - Taehyung falou como se também a conhecesse. Jeongguk sentiu o ar diferente, e imaginava que fosse devido ao quão devota a mulher a sua frente era.
- Os remédios estavam fazendo efeito mas... Ela piorou terrivelmente ontem... estou com medo - murmurou entre lágrimas que já escorriam de seus olhos. Jeongguk nunca havia visto aquela garota citada, provavelmente filha de Naeun. Entretanto, sentiu o coração apertar por imaginar a situação que ela estava.
- Posso vê-la? - Taehyung perguntou, a expressão da mulher tornando-se desacreditada. Ela limpou as lágrimas enquanto um sorriso triste tomava seus lábios.
- Por favor - ela falou tristemente. Logo após, seus passos pesados direcionavam para não muito longe dali, em direção a casa dela. Taehyung a seguiu com um Jeongguk calado e observador. - Eu estava indo no templo. Não consigo acreditar que você realmente está aqui... em carne e osso. - ela ditou com a voz embargada pelo choro recente, e Jeongguk viu Taehyung sorrir pequeno.
Ele havia sorrido. Isso o fez automaticamente sorrir também. Taehyung gostava dos seus devotos e se importava de verdade com eles. E, agora pensava que se ele tivesse concluído a exterminação dos humanos, seus devotos estariam a salvo.
Eles entraram em uma morada pequena, com apenas três cômodos, sendo a sala - onde estavam agora -, um quarto e uma cozinha.
- Ela está no quarto - Naeun disse. Taehyung foi em direção a uma porta mais a frente, abrindo-a. Ele não a fechou enquanto ia em direção a cama, e isso permitiu que Jeongguk se aproximasse, sem entrar no quarto, para observá-lo.
Taehyung se sentou na ponta da cama, o ato chamando a atenção da pequena Soyoung que virou o rosto em sua direção devagar. Ele ofereceu a mão, sentindo as duas mãos pequenas cercá-la com pouca força.
- Você é meu anjo da guarda, não é? - Taehyung a ouviu dizer baixo. Ela sorriu pequeno. - Sinto sua presença quando tudo dói demais e me sinto melhor.
Taehyung deixou um pequeno sorriso escapar, assentindo, apenas para si mesmo.
- Sim, sou eu, Soyoung. TaeTae, lembra? - ele disse baixo, sentindo o aperto de sua mão se intensificar. - Eu vim ver como você está.
- TaeTae... está aqui - as lágrimas escorreram do canto dos olhos fechados. Taehyung limpou gentilmente com a ponta dos dedos. - Eu me sentia bem mas... Tudo voltou a doer agora. Está doendo tanto. Eu só queria que parasse, mas a mamãe vai ficar triste.
Jeongguk sentiu o ar faltar, afastando-se sem notar da porta. Ele viu a mulher ao seu lado chorar silenciosamente, e isso o fez puxá-la para um abraço de lado, meio sem jeito, mas que ela aceitou sem receios. Jeon observou dentro do quarto de novo.
- Está doendo muito? Eu queria poder tirar essa dor de você, Soyoung, mas sua mãe ficaria triste - ele disse baixo, mesmo que não estivesse tentando fazer os dois além da porta não escutarem. - Vou tentar aliviar novamente, sim?
- TaeTae, você tem feito isso sempre... mas dói tanto saber que tudo vai voltar de novo. Por favor, convença a mamãe a me deixar ir com você - ela chorou de novo, de forma mais intensa. Jeongguk mordeu o lábio inferior ao perceber a tensão e dor que os cercavam. Os olhos dela não abriam momento algum, e imaginou que ela não pudesse enxergar. Abaixou o olhar, sem conseguir ver mais daquela cena. - Por favor, eu quero parar essa dor. Me deixe ir com você.
Jeongguk viu quando a mulher levantou o olhar, engolindo o choro, indo para dentro do quarto. Ela parou ao lado de sua filha na cama, ajoelhando-se para ficar próxima do rosto menor.
Soyoung pareceu notar, e sua face virou em direção a mais velha.
- Mamãe?
- Estou aqui, meu bem, estou aqui... - ela deslizou a mão pelos cabelos claros e sem vida da mais nova. Fungou. - Me perdoe por prendê-la aqui, eu... não queria te ver longe de mim.
- Eu nunca irei me afastar de você, mamãe, você sempre esteve comigo, e eu queria poder ficar ao seu lado também. Mas esse corpo... Ele não irá aguentar mais tempo, assim como eu só irei sofrer ainda mais - Soyoung dizia tudo com calma, apesar do peso de suas palavras. Ela parecia ter crescido em sua mente enquanto seu corpo a impedia de viver sua infância fora daquela cama. - Deixe TaeTae me levar com ele, só assim poderei descansar.
- Está tudo bem, filha. Mamãe não vai deixá-la sofrer mais... - ela inclinou-se, deixando um beijo demorado na testa da mais nova. Suas lágrimas caíram sobre o rosto pequeno antes que ela voltasse a posição inicial.
- Eu amo você, mamãe. Obrigada por me deixar ir.
Naeun sorriu entre lágrimas, deslizando os dedos com mais cuidado nas mexas da mais nova.
- Mamãe também ama você, Soyoung. Sempre vai amar. - ela disse com tristeza, mas seus olhos podiam ver o alívio de sua filha. E isso também aliviava seu coração. Seu olhar caiu em Taehyung, e ele também a encarava. - Por favor, Taehyung, faça minha filha descansar sem mais sofrimentos.
Ele assentiu, sem dizer nada. Naeun saiu do quarto, fechando a porta.
Taehyung olhou para Soyoung, levando a mão para cobrir as dela, assim como ela fazia na sua.
- Este é seu pedido, Soyoung? - perguntou novamente, vendo a mais nova assentir com veemência. - Se tivesse chance de retornar, iria desejar?
- Mamãe espera minha irmã em sua barriga. Ela me contou isso depois que papai foi embora para bem longe, no céu. Eu sei que minha irmã a fará bem, a fará esquecer de toda dor. Por isso eu não quero voltar. Quero descansar ao lado de meu pai, TaeTae. Por favor, eu posso? - ela pediu com a voz fraca, com um sorriso pequeno nos lábios.
Taehyung assentiu de novo, olhando-a com carinho.
- Você irá ver seu pai assim que abrir os olhos pela primeira vez, Soyoung. E não se preocupe, irei cuidar para que sua mãe e irmã sejam felizes aqui na terra. Agora descanse, farei questão de vê-la logo.
Soyoung assentiu com um sorriso aberto, agradecendo baixinho, e logo ela suspirou aliviada. Aos poucos, toda a dor que sentia sumia, assim como suas forças. Um sono a tomou em seguida, e logo, suas mãos soltaram a de Taehyung. Um último suspiro foi ouvido, e o deus enxergou o sorriso quase imperceptível da mais nova.
Ela já não estava entre eles agora.
Taehyung suspirou pesadamente. Ele esperava que Soyoung pudesse viver uma vida longa na terra. Entretanto, seu dever era conceder o desejo daqueles que acreditavam em si. E isso incluía não deixar que eles sofressem.
Deu um último olhar para Soyoung antes de sair do quarto. Encontrou apenas a mãe da mais nova, e imaginou que Jeongguk o esperasse do lado de fora.
- Eu queria poder ter feito mais, Naeun - disse, os olhos da mulher sobre os seus. - Cuidarei para que você tenha uma vida feliz na terra ao lado de sua futura filha. E como é alguém realmente devota a mim, irei lhe dar esse pequeno agrado: toda vez que estiver em orações no meu templo, você poderá pedir para ver a pequena Soyoung. Irei lhe permitir isso. Não serão muitas vezes porque o Conselho não permite ligações dos vivos com os mortos - disse por fim. O sorriso satisfeito de Naeun foi suficiente para deixá-lo um pouco mais tranquilo devido a toda situação.
- Sei que tentou de tudo para que ela ficasse ao meu lado, assim como ao pai dela. E fico feliz que tenha dado a eles o descanso que mereciam - ela falou com os olhos vermelhos devido ao choro intenso de outrora. - Jamais esquecerei do quão bom você é, Taehyung. Obrigada.
- Cuide-se, Naeun. E lembre-se: se precisar de algo, eu sempre irei ouvi-la.
Taehyung deixou a casa logo após, observando Jeongguk há alguns metros dela, olhando em sua direção agora. Não entendeu o porquê das lágrimas dele, assim como aquele abraço repentino e apertado que transmitia desespero e alívio ao mesmo tempo.
Seu coração estava a mil, e ele nem sabia definir aquilo direito. Entretanto, quando Jeongguk se afastou apenas para beijá-lo, ele definiu sem perceber.
Para eles, os deuses, sentimentos não existiam, e o máximo que conseguiria era se importar com um outro deus devido a ligação de divindades que tinham.
Mas os humanos... os humanos tinham aquela dimensão de sensações que poderiam definir exatamente o que sentia.
Correspondeu o beijo, as mãos na cintura de Jeongguk enquanto o trazia para mais perto.
Não sabia o que era, mas se importava com Jeongguk. Muito. Mais do que conseguiria sendo um deus. Talvez ser um meio humano o permitisse viver de verdade.
O abrisse novas portas para ficar com Jeongguk.
n/a: chorei escrevendo esse capítulo infelizmente a autora é muito fraca para aguentar
capítulo feito para refletir
deu para perceber um pouco do ponto de vista de cada um?
obrigada pelos comentários e votos! até logito :*
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