San Diego, 15 de outubro, 2019
       Mansão Faythom, antes do caos começar

Oxford. Um sonho para todos apaixonados por Harry Potter já que os filmes foram gravados lá.  Gostaria de dizer que aproveitei muito  Oxford e teria se mantido lá por meses se a mãe não exigisse a presença imediata deles para um jantar com  os mais chegados a família.
    A última vez que um isso aconteceu foi quando ele tinha cinco anos e segurou Aryen, sua irmã mais nova no colo, ela deveria ter dezesseis ou quinze anos agora.

     Fazia apenas três anos mas parecia séculos para ele. A estupidez que tinha com dezessete era mínima agora, fazia apenas um ano que tinha ido para a faculdade e três que tinha saido de casa. Então quando soltou para Axel e Mazen que estava voltando não foi surpresa eles dizeram o mesmo apesar de odiar o engomado de um terno ou ouvir sobre pretendentes à altura da família dele, por parte do pai, é claro.

       Não o levem mal, adorava os pais, não tinha do que reclamar. As vezes ser somente parecia sufocante, afinal ser neto do governador não era o melhor, ainda pior ser bisneto de um almirante e neto de médico conhecido por parte materna.

       Conflitos aconteceram por conta desses fatos, fatos que poderiam parecer inocentes no entanto não eram nem um pouco.

      Então em um piscar de olhos, ele estava num avião para San Diego pensando em mil coisas diferentes, como o fato de ter tatuagens agora, por quase todo o corpo. Uma pequena comemoração antes de ir para o aeroporto pegar o avião para Oxford três anos antes. Com sorte escondia a do pulso com um relógio e a manga comprida do terno.

     ── Sabia que não ia me negar isso. ── comemou Viviane, sua mãe, o abraçando e dando um beijo em minha bochecha.

   Não iria contrariar sua ideia de que só voltei por conta da urgência, poderia ter outros amigos em Oxford mas sentia falta principalmente dos meus melhores amigos, Mazen e Axel. Axel cursou dois anos em Oxford antes de voltar para administrar a parte da empresa do pai que pertencia ao Canadá como diretor já  Mazen estava num torneio competindo.

    ── Amor deixe nosso filho respirar. ── reclamou meu pai me abraçando logo em seguida.

Procurei por todos os cantos que imaginei ser possíveis de esconderijo no jardim não encontrando ninguém. Franzo o cenho para os meus pais que apenas sorriam um para o outro.

    ── E Aryen? ── pergunto confuso, se não estivesse enganado ela já teria saído da escola há muito tempo.

    ── Na casa da Valentina, ela é Jean ainda não se desgrudam. ── diz a mãe em um tom carinhoso, igual a quando você quer chegar perto de um gato arrisco.  ── As três ainda são boas amigas. ── complementa dando ênfase no "boas amigas".

      Nunca tive o melhor histórico quando se tratava da irmã de Axel, seu nome por si só já fazia um bolo subir por minha garganta. Para minha defesa não foi minha culpa no início, até claro, tudo mudar. Eu não a culparia por me odiar se não o fizesse dessa forma me sentiria pior.

       Foi um pacto mútuo entre nós dois, o nosso ódio que sentíamos um pelo o outro deveria ser a única coisa que tínhamos em comum, Axel é meu melhor amigo faz anos já a irmã dele poderia chamar de " pedra no sapato ", e não mudaria minha opinião sobre ela de nenhuma forma.

     ── Festa do pijama. ── explica meu pai vendo que não disse nada.

     ── Se quiser descansar já pedimos para arrumar as suas coisas no seu antigo quarto. ── minha mãe segurou a mão do meu pai se apoiando contra ele.

       A verdade era que não sentia qualquer pingo de cansaço, dormi durante todo o vôo, queria fazer qualquer coisa.

       ── Na verdade mãe, prefiro dar um passeio no meu antigo carro. Ele ainda existe aqui, não é? ── pergunto pois a probabilidade de ter sido vendido ou dado para minha irmã era absurdamente grande.

       ── Claro, na garagem, a chave está na segunda gaveta da minha penteadeira. ── respondeu divertida. ── Pode ir pegar se quiser.

      Confirmo com a cabeça, entrando para dentro da casa e subindo as escadas de maneira surpreendente. Algumas coisas nunca mudava,  entrei no quarto da minha mãe, vasculhando a gaveta da penteadeira até encontrar a chave. Quando enfim notei o porta-retrato em cima dela, a moldura dourada e a foto do aniversário de dez anos de Aryen e de.. Jean, Aryen exibia seu dente banguela na época com a irmã de Axel agarrada à si com um sorriso torto e a língua de fora enquanto cutucava o bolo, o vestido azul celeste de Aryen sujo de chocolate e o florido de Jean com um pouco de brigadeiro grudado (cortesia minha).

  As duas haviam nascido no mesmo mês, no mesmo dia porém não no mesmo horário como nossas famílias eram grandes amigas Jean e Aryen sempre comemoraram o aniversário juntas. Aquela foto representava tudo o que nunca sentimos um pelo o outro enquanto ela é Aryen eram como irmãs eu e ela éramos como cão e gato.

   Se tivéssemos trocado dez palavras durante todos esses anos poderia ser considerado um verdadeiro milagre. Balanço a cabeça empurrando qualquer pensamento sobre ela para longe.

    Não demoro mais em casa, pegando meu carro e indo para cidade não antes de me despedir dos meus prometendo que voltaria logo.  Passei o caminho inteiro com janela do carro aberta e um cigarro no meio dos lábios,  diferente de outros não fumava para me convencer de algo ou outras pessoas, o cigarro foi como uma válvula de escape de certa para toda a responsabilidade jogada em cima dele em pouca idade.
 
      Tinha mais três primos ao que parecia só existia eu. 

Fui diretamente à Preep se não tivesse enganado  Jake disse que haveria um encontro hoje para "animar" a galera. Estava mais para atormentar jogadores do time de Lacrosse. Assim que atravesso o campo que leva para a entrada não me preocupo com os olhares jogados em minha direção.

     Eu era um dos fundadores de Preep, não poderia ser como AvrilHilst fundada mas chegava muito perto disso, não faço questão de esconder minhas tatuagens ali, não precisava fingir ser quem eu não era. Passo as próximas duas horas tragando o que pudesse enquanto observava Jake e Gillian banhar com água os novos jogadores do time de lacrosse de Rosehill.

       Foi quando sinto os braços de alguém circundar a minha cintura, o cheiro doce e enjoativo do perfume conhecido me dava ânsia mas nada fiz.
   
       Seria como tentar colocar sal na ferida e pensar que iria melhorar.

      ── Carolina. ── resmungo ouvindo seu risinho.

     ── Finalmente voltou Liam. ── apertou ainda mais os braços ao meu redor. ── Precisa colocar ordem aqui.

    Arqueeio uma sobrancelha, ordem?

    ── Por qual motivo? ── a falta de interesse era palpável na minha voz, se ela notou não fez qualquer movimento.

    ── Jake convidou aquela garota. ── disse, o tom de falso carinho indo embora rapidamente, apenas o desprezo em sua voz. ── A irmã de Ax, aquela irritante de Jeanne, acho.

     Seguro a vontade de corrigir Carolina. Por mais que desgostasse de Jean, Carolina não entrava na lista das pessoas mais amadas da minha vida.
 
    ── O que quer dizer? ── questiono me largando de seus braços. Parecia que me segurava com chumbo.

     ── Ele a chamou para vim aqui hoje, deu a senha nunca usada, a dos fundadores. ── fez careta, indo para a minha frente. Fechei a cara para não dizer que os fundadores tinham senhas diferentes ou nunca usavam, Axel tinha feito questão de deixar em segredo Aryen, Jean, Melissa e Valentina suas duas primas, como co-fundadoras de Preep e Riverly.

    Uma casa de apostos e um posto policial comprado para corridas ou festas, o que você poderia imaginar de diversão.  Uma ideia arriscada que surgiu uma vez que Mazen descobriu que seu amigo de longa data de Montgomery, Scott Holker, tocava num lugar chamado AvrilHilst apenas para descobrir que foi o meio irmão de seu primo Aleksander que havia fundado.

    A família dele era realmente uma complicação se parasse para analisar a árvore genealógica deles de forma branda, se fosse muito detalhado descobriria que ele tem uma tia-avó egípcia ainda viva. Deixo escapar um suspiro alto, o que Carolina deve ter entendido de outra forma assim que estive perto o suficiente agarrou meu braço esquerdo apertando.

   ── Você vai resolver não Minnie boo? ── apertei os olhos com força na menção do apelido( obrigado Jean). Longa história.

    A senha de Aryen não era segredo já que ela não quis fazer parte quando soube porém ninguém além dela podia usá-la, e não era lá muito fácil alguém  não conhecer a Ariel. Bufei me afastando e criando ainda mais distância, Carolina não podia achar que podia proibir a irmã de Axel de ir até lá.

     ── Vou resolver. ── o sorriso açucarado que me lançou embrulhou meu estômago. Disse aquilo mais para me afastar do que qualquer outra coisa.

     Não que realmente vá fazer alguma coisa, se Jean fosse a Preep ela poderia no entanto duvidava muito que Axel a deixasse pelo menos uns quinze minutos ali antes de levá-la embora. N

       Peguei a carteira do bolso da minha calça, atravessando o gramado da mansão em direção ao meu carro. Se estivesse certo estaria nesse instante ocorrendo a famosa "seleção", os jogadores trazidos de Rosehill tinham que provar se tinham entendido o recado  se não haveria consequências.

       Devia isso a Mazen.

       O cara adorava qualquer tipo de adrenalina que pudesse ser presente em sua vida. Como se precisasse dela para simplesmente viver bem consigo mesmo, não importa o quão perigoso seja para os outros, o mesmo quase entrou em coma em uma das suas empreitadas.

       Agradecia constantemente por Mallena ter entrado em sua vida, ele levava muito a sério o título de atleta porém se ela estivesse perto ele esquecia completamente.

        A primeira coisa que notei que estava errada não foi somente a falta das consequências e sim o murmúrio em torno de algo na pista. Com o mar de pessoas foi impossível ver algo então me apressei em subir no posto para o motivo dos murmúrios e o que vejo me deixa chocado.

      No meio da confusão, uma garota estava largada no chão, cabelos ruivos, roupa azul super decotada com os olhos fechados. Empurrei um dos garotos um pouco para oi lado para ver melhor até que reconhece Kloe Johnson como a garota largada no chão. O mais estranho não era isso era as duas garotas ao redor  e a outra dentro de um jipe parado com um pijama? Não qualquer pijama, um pijama de unicórnio já que o adorno na cabeça passava para fora janela assim que tive um vislumbro do seu rosto.

     Um chifre brilhante roxo.

      Então me recordei do cara parado em frente às duas ao lado de Kloe, Jake, que naquele momento verificava a respiração de Kloe. Não esperei mais nada, descendo do posto em velocidade surpreendente.

      Atravessei a multidão empurrando um, pisei no pé de algumas pessoas mas não importei. Quando enfim cheguei a cena o que me deixou em choque foi às palavras da garota de vestido azul:

    ── Eu não matei ela Liam, ela que se meteu na frente do carro. ── a voz era familiar. ── Eu juro pela nossa mãe.

    Não podia ser, só podia ser  brincadeira.

    ── Aryen. ── solto por entre os dentes encarando ela, em seguida a garota do chifre de unicórnio e por último a que segurava uma escova de cabelo como material de defesa.

     Acompanhei o olhar da que segurava a escova, estava focado na multidão, que deveria ter pelo menos duzentas e trinta ou mais, ela ainda segurava a escova. Bufei tentando ao máximo não tirar a escova da sua mão e falar: É sério isso?

     Ela era muito familiar, o rosto oval, os olhos azuis cinzentos e o cabelo castanho claro. Mas era algo no olhar que a fazia mais familiar.

   ── Ela está bem, foi o susto. ── disse Jake a multidão. ── O carro nem encostou, alguém me traz álcool ou vinagre? Se cheirar ruim já serve.

     Balanço a cabeça.

    ── Explique - se. ── ordeno. Seu lábio inferior treme quando aponta para Jake que suspirou cansado.

    ── Sua irmã me seguiu. ── dá de ombros, tirando a jaqueta de couro e entregando para minha irmã.

  ── Por que? O que faria ela te seguir? ── os dois se olham, às bochechas da minha coram furiasamente. ── O namorado misterioso que você falou é ele?

     Ela assente, colocando a jaqueta de Jake sobre os ombros.

    Cruzo os braços, sentindo a fúria correr por meu sangue, Aryen é Jake, Kloe Johnson desmaiada, uma garota unicórnio e uma garota escova que percebo agora descalça. Aryen ainda me faria ter um ataque cardíaco a qualquer momento.

     ── E você? ── aponto para a garota unicórnio, que volta para dentro do jipe antes de abrir a porta e tentar sair dele, cambaleando.

     ── Liam! Quanto tempo, sou eu a Val. ── disse eufórica se escorando no carro como se fosse dormir e pulando quando quase caiu no chão.

     Sabia que era quase impossível dizer não a Aryen mas dentre as três ela parecia a que estava mais sóbria. A parte de cima da cabeça protegia completamente seu rosto então quem não estivesse perto não a reconhecia.

      Por fim me virei para a garota que segurava a escova, ela tropeçou indo para traz quando me aproximei. Sem pensar tirei a escova da sua mão atirando em qualquer canto do chão.

     ── Isso não serve para nada, Jean. ──  Ela deu um passo para trás, pois aquela só poderia ser a Jean.  Seguro o braço de Jean antes que dessa vez ela caia no chão me virando para Jake logo em seguida. ── No posto agora, todos os quatro.

    Jake suspira ajudando Kloe que acabou de acordar levantar.

    ── Alguém leve ela para casa, Jake as três no posto agora. ── Então me viro para a multidão, mais especificamente para aqueles que tinha confiança. ── Que a seleção comece.

      Não demoro muito na pista, ficando por alguns minutos antes de me encaminhar para o posto. Já não bastava o que tinha acontecido faz pouco tempo, agora havia duas adolescentes bêbedas.

       ── Há quanto tempo? ── flexiono meus dedos encarando as três, Jean quase caí para trás na cadeira, ela parecia estar à beira de um ataque que logo aconteceria.

    ── O que ? ── Quebrou o silêncio, olhando para os próprios pés com um renovado interesse. Parecia uma criança perdida dentro do shopping, suspiro.

   ── O que você bebeu? ── Ela ergue os olhos franzindo o cenho. ── As duas na verdade.

   Valentina que tinha tomado um café estava pouco mais sóbria. Ainda segurando a xícara de café como se temesse que ela quebrasse em sua mão.

    Em todo o tempo em que conhecia Valentina dentre ela é Jean, sempre foi a amiga da minha irmã com quem mais me dava podia dizer que ela era praticamente minha melhor amiga.

     ── Eu não sei o que era, ela desapareceu na multidão porque tinha perdido os sapatos quando voltou ainda estava descalça. ── Ela baixou o capuz do pijama, exibindo seus cachos, o cabelo de Valentina era um dos mais bonitos que já vi. ── Era como se fosse refrigerante ou um suco eu não sei, ela voltou com os dois e agora dá para ver o corte na testa dela.

Volto meu olhar para Jean, parecia tudo perfeitamente normal com ela até que afasto a mecha tosca colorida de vermelho do seu cabelo. Um corte lateral me cumprimentou junto com sangue seco.

     Se Axel soubesse, sabia melhor do que ninguém o quanto ele era protetor com ela, mais do que o próprio pai, e que se importava tanto ao ponto de fazer qualquer coisa para proteger a irmã, eu não diria que era diferente para mim em relação à Aryen.

     Suspirei, um curativo e levaria as três  para casa já não era suficiente o completo caos que criaram ali se sequer os pais de Valentina imaginassem que ela não estava em casa com as outras duas seria bem pior. Procurei um kit de primeiros socorros em qualquer uma das mesas bagunçadas daquele lugar, com copos descartáveis de bebida, embalagens de salgadinhos, plástico e papéis sujos que ele não queria saber do que se tratava.

      Enquanto Jake tentava manter distância de Aryen me perguntei de que maneira os dois se conheceram.

      Voltei em poucos minutos com a caixa me aproximando com cautela, era muito o estilo que daquela forma Jean começasse a correr  pelo posto. Nada disse quando me aproximei, empurrando seu cabelo para trás da orelha.

      ── É só um curativo. ── murmurei, observando ela estremecer quando toquei o machucado.

     De todas as formas que imaginava para reencontrar ela, essa não estava na lista. Muito menos a vontade de olhar para os olhos dela, não pareciam azuis, estava mais para cinzas naquele momento.
    
     Por um momento quis esquecer nossas desavenças, os nossos conflitos e tudo o que tinha acontecido no passado. Ela nada disse enquanto limpava o Corte e passava o remédio, nem a gritaria do lado de fora fez com que ela parasse de olhar para mim.

      A confusão nos olhos dela era muito mal disfarçada, talvez estranhasse meu comportamento não a culparia mas não ligava muito menos me importava.

      Faria o mesmo para qualquer outra pessoa sem me importar também.

     Uma vez que terminei olhei para um dos caras que estava escorado na parede, as olheiras profundas e o lábio cortado não faziam nada para melhorar a aparência dele. Se estivesse certo seria Nate Morgan.

    ── Cuide de tudo lá para baixo. ── gritei para ele que assentiu e me virei para Jake. ── Não saia daqui, vou levar as três para casa da Valentina.

     Valentina balançou a cabeça concordando, minha irmã se aproximou lentamente ainda agarrada a jaqueta de Jake. Então baixo e suave, um som chegou a mim. Um bocejo seguido de um suspiro longo daqueles que você dá quando está prestes a forma e cair no sono profundo.

      Jean estava com o pescoço torto de uma forma que você sequer imagina possível com os olhos fechados tentando desesperadamente se acomodar da melhor forma na cadeira típica de plástico azul, com um sorriso sereno nos lábios.

      Suspirei cansado.

     As amigas de Aryen algum dia iriam me levar a beira do colapso, a ideia de deixar as três trancadas em casa já me parecia uma boa opção.

       Seria uma longa noite.

Notas da Autora: Vocês preferem Aryen ou Désiree?