𝓲. we were supposed to be just friends.
Foi durante à noite de vinte e nove de setembro no ano de dois mil e cinco em que eles se falaram pela primeira vez.
Eles estavam coincidentemente no restaurante do MGM Grand, esperando Aegon oficializar alegremente seu noivado com Alicent Hightower, a filha do chefe de gabinete do seu avô, Jaehaerys. O restaurante do opulento hotel-cassino detinha paredes forradas com painéis de veludo em tons terrosos, candelabros cristalizados e elegantes despencando do teto e até o chão sob seus pés era de mármore polido. Era todo Aegon, sofisticado e clássico.
(Mas Daemon secretamente repudiava o meio no qual seu irmão mais novo estava se inserindo — e a única razão para não pegar a cabeleireira loura de Egg e bate-la numa parede até que a razão o acometesse outra vez, era que pelo menos Alicent parecia estar apaixonada por ele, ou foi como Daemon julgou os sorrisos brilhantes que ela lançava na direção de seu irmão.)
Daemon rapidamente depreciou toda a situação desde que chegou ali.
Para começar, ele não era a pessoa mais afeiçoada a sua nova cunhada e nem a cara franzida que ela mantinha o tempo todo pregada no rosto, como se nada pudesse agradá-la verdadeiramente, exceto por seu noivo. O pai dela era um sujeito ganancioso e ávido por dinheiro, embora tivesse a confiança do avô deles. E os irmãos de Alicent pareciam esfinges de guarda, estóicas e inumanas.
Toda sua família também estava presente e sua sobrinha Rhaenyra não parava de ser pirracenta para tentar atrair a atenção do tio caçula. Daemon duvidava que ela entendesse tão claramente o contexto da situação, mas parecia repudiar tenramente como seu tio orbitava Alicent com uma facilidade oprobriosa.
Entretanto, como sua vida se difundiu em duas naquele dia?. . . Bem, foi quando ele estava prestes a procurar uma saída para se distrair e a viu. Sozinha em um canto, com um drink na mão.
Ela tinha a postura ereta e o olhar observador, mas não estava sendo óbvia em seu desinteresse (embora ele reconhecesse nitidamente sua monotonia pois se portava igualmente, gesticulando os dedos com inquietude). Algo em seus traços, algo em como ela não se importava, era sedutor. Ela tinha os cabelos soltos que brilhavam como bronze, com ondas suaves caindo em volta de seu rosto.
Daemon conhecia Valya Caswell, é claro — ela e Egg estudaram Artes na Brown e tornaram-se inseparáveis, como unha e carne; Daemon a conhecia desde a colação de grau de seu irmão, mas jamais haviam trocado muitas palavras. Ela estava ali, longe da muvuca, não parecendo o tipo de pessoa que estivesse encantada com a pompa.
Com um meio sorriso, Daemon inclinou a cabeça ligeiramente ao se aproximar, avaliando-a meticulosamente.
Valya encarou-o com um olhar arrastado por alguns segundos, os lábios curvados em um sorriso discreto e nada convidativo.
— Você é o irmão do Egg. — Ela disse, a voz suave e baixa, mal elevada para que apenas ele a ouvisse, embora Daemon duvidasse que no canto onde estavam e com o barulho de burburinhos e música alguém pudesse escutá-los. Ele não reclamou, porém. Parecia mais intimista.
Daemon arqueou a sobrancelha, apreciando a ironia na fala dela.
— E você é Valya Caswell. — Ele saboreou o nome dela na ponta de sua língua, prolongando-se. Ergueu uma mão e a colocou na parede, bem do lado da cabeça de Valya. — Egg disse que tentará nos colocar como um par de padrinhos na cerimônia de casamento.
Ela riu.
— Ele me falou isso também. Disse que eu sou a única pessoa que aceitaria sua companhia sem enlouquecer. — Anuiu Valya com um timbre rouco vagamente divertida. — Sem ofensa.
Daemon não disfarçou o sorriso que se retraiu lentamente no canto de seus lábios.
— Será que realmente não enlouqueceria? — Daemon falou, insinuando-se sem vergonha alguma na cara. Suas sobrancelhas finas e claras se contraíram para cima, boca aprumada em um sorriso torto.
Valya inclinou a cabeça de leve, sem desviar o olhar dele. Seus dedos longos e delicados deslizavam pela borda do copo como se aquele movimento lhe fosse natural. Ela era dona de um ceticismo refinado, como se já tivesse visto todas as expressões e palavras que ele poderia usar para impressioná-la.
— Tente me surpreender, então — Respondeu, o tom mais ácido do que doce, embora os olhos brilhassem com uma curiosidade afiada. — Todo mundo tem algo que o faz suportável, não é?
Daemon não sabia se a provocação era um convite ou um desafio, mas para ele, parecia ser um pouco dos dois. Aproximou-se ligeiramente, ainda mantendo aquele ar de superioridade calculada e baixou a voz até um sussurro quase íntimo.
— Diga-me, Caswell, é isso o que acha de mim? Que sou alguém apenas "suportável"?
Ela deu de ombros, os olhos rindo por um segundo.
— Na verdade, Egg sempre disse que você é exatamente o oposto — Murmurou Valya. — Que você tem o dom especial de fazer as pessoas perderem o controle… e não no bom sentido.
Ele sorriu, mais cínico agora, reconhecendo a verdade e a ironia que Valya enunciava com tanta sutileza.
— Então meu irmãozinho está me maldizendo por aí? — Valya ergueu a sobrancelha direita. — Ela está se excedendo. Eu diria que ainda há uma margem para interpretações. Não acha, Caswell?
Ela se afastou dele, recostando-se levemente contra a parede com a postura de quem calculava cada gesto. Seu olhar percorreu Daemon de cima a baixo com uma despreocupação incomum.
— Bom, Daemon, não seria eu a testar seus limites. Aliás, este jantar todo não é para você, e eu gosto de honrar as convenções.
Ele soltou uma risada curta, quase imperceptível.
— Mas não gosta delas, isso é evidente. — Seus olhos a perscrutavam, intrigados. — Diga-me, Valya, o que exatamente faz você perder o controle?
Valya suspirou.
— Pessoas presunçosas — Respondeu finalmente, a voz soando grave e cortante. Seus lábios pintados de carmesim moveram-se languidamente. Daemon os encarou. — Elas sempre me fazem lembrar que existe algo pior do que perder o controle: perder o tempo.
Foi a vez de Daemon erguer uma sobrancelha.
— Então, que sorte a minha — Replicou ele, irônico e com a voz abafada. Subiu os olhos para o par de esmeraldas alocadas em cada lado de seu nariz retilíneo. — Porque, apesar de tudo, ainda estamos aqui, investindo alguns minutos de nossa noite nessa conversa.
Valya inclinou a cabeça, sorrindo de maneira quase imperceptível. Ela sabia que ele se orgulhava de ser difícil de agradar, mas parecia não se importar em corresponder ao jogo dele, ou talvez apenas quisesse mostrar que conseguia sair dele sem se perder.
— E você acha que isso é sorte? — Ela perguntou, o tom debochado.
Daemon suspirou e passou a mão pelos cabelos, rindo suavemente, mais para si do que para ela.
Eles fizeram sexo naquela noite — e no dia seguinte, quando acordaram, Daemon estava em êxtase. Mesmo quando seu próprio irmão partiu de volta para casa uma quinzena após o jantar de noivado, ele e Valya ainda permaneceram em Las Vegas.
(Ela porque participaria de uma exposição no Museu de Neon, mas Daemon achou propício disfarçar que gostaria de permanecer na cidade do pecado por um tempo a mais para ter a chance de se divertir com a adorável Valya.)
O que parecia ser apenas um impulso e uma transa casual logo se transformou numa compulsão. Ela surgia durante a madrugada na casa que tia Saera o permitiu ficar após o encerramento de sua reserva no hotel, sempre dizendo: “Você é a única pessoa que eu conheço aqui e está disponível para conversar”, era o que Valya assegurava porque se recusava a admitir que passou a gostar da companhia dele.
Mesmo quando não estavam juntos, Daemon notava que ela havia deixado marcas invisíveis por toda parte: no travesseiro ao lado, no copo de vinho pela metade, nas roupas de cama com o perfume dela.
Entretanto, Daemon precisava se livrar de Valya. Eles davam certo porque ela era tão inescrupulosa quanto ele — gostava de viver, viajar e aproveitar a vida. Nenhum dos dois queria se prender ao outro, mas o homem passou a se sentir confortável com a ideia de ter um espelho junto de si.
Ela iria para Itália no início de novembro — tentar pegar algumas artes renascentistas num leilão em Milão, onde o dinheiro seria direcionado para uma instituição de caridade. Ela o convidou e Daemon ficou tentado.
(Mas a aproximação precisava acabar).
Foram só férias valiosas.
Houve até um dia que um cheiro acre de fumaça pairava no ar de seu quarto, misturado à sua tentativa de afogar o rosto de Valya em uma bruma de entorpecentes.
Era um tormento absurdo.
Ele ficou grato quando a campainha tinha tocado, quebrando o silêncio pesado e cessando seus pensamentos bruscos. Ele demorou alguns segundos para se levantar, a mente embaçada, o corpo oscilando. Com passos desajeitados, havia ido até a porta e a abriu, sem se importar com a aparência descuidada que tinha.
Do outro lado, um entregador de pizza o encarava, vestindo uma fantasia de bruxo. O chapéu pontudo, a capa preta — ele nem sabia se o cara estava temático de Halloween ou era sua mente enervada pela maconha o traindo. Afinal, era trinta e um de outubro. Mas o que mais chamou a atenção de Daemon foi o vaso pequeno nas mãos do entregador.
Era para gorjetas? Ele piscou, de repente vendo folhas se projetando da superfície circular.
Daemon balançou a cabeça. Ele estava tão drogado.
Por um instante, podia ter jurado que havia uma planta ali o observando, suas folhas tremulando como uma boca que sussurrava.
Valya. Valya. Valya. Valya.
Seu delírio incessante.
Ele riu de nervoso. A droga em seu sistema desejava forçá-lo a admitir algo que ele se recusava ferrenhamente a encarar. Que puta ironia. Aquela mulher estava entranhada nele de uma forma que escapava a qualquer lógica, qualquer substância que tentasse apagar o sentimento.
O entregador, visivelmente desconfortável, deu um passo para atrás, balançando a cabeça.
— Aqui está sua pizza. . . cara, você tá bem? — Indagou enquanto Daemon pegava a caixa.
— Feliz Halloween. — Daemon desejou despretensioso e lascivo, fechando a porta antes que pudesse questionar sua sanidade.
E, ah, merda.
Ele se viu indo para o aeroporto com ela.
▊ 🍂 ー EU JURO QUE A CENA DA PLANTA TEM UM MOTIVO KKKKKKKKKKKKKK a ina me desafiou a escrever o meu pp vendo um entregador de pizza com um planta falante e eu tentei incluir isso da melhor maneira que fez sentido no enredo 🙈🙈
▊ 🍂 ー Inclusive, o Aegon existe no cânone, de certa forma; ele é o terceiro filho do Baelon e da Alyssa, mas morreu pouco antes de completar um ano. Eu tenho uma fic AU onde ele sobrevive e tem um relacionamento com a Alicent, então não consigo ver ela com mais ninguém que não seja ele. Espero que vocês não tenham ficado muito ?
ATUALIZADO 24/11/2024
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