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Capítulo 2

A primeira coisa que penso ao recobrar a consciência é que seja lá para onde fui mandada depois de morta é que eles recebem os seus muito bem. Prova disso é o local onde estou deitada, me sinto nas nuvens.

Tão macio.

E a segunda é que não fui atingida pelo caminhão e sim outra coisa, uma outra coisa bem cheirosa. Mas, não faz diferença saber o que foi, eu morri. Nunca irei descobrir mesmo. E a terceira é que não estou com um travesseiro em meus braços, amo dormir abraçada em um. Mas não custa nada procurar, não é? Passo a mão no local onde estou ainda de olhos fechados e acho um.

Sorrio.

Parece duro e quente, mas dá pro gasto. Tento puxar para mim, mas não consigo. Então, apenas me encosto, meu corpo se aninhando no grande travesseiro de cheiro espetacular.

Humm, tão bom.
Durmo.

****

Sou despertada com carícias em meus cabelos.
Por que acordei mesmo? Estava tão bom.

Suspiro e durmo novamente.

***
Me remexo na cama a procura do meu travesseiro, mas não acho. Gemo de frustração. Ele é tão bom, mesmo sendo duro. Ouço um barulho e paraliso. Achei que no mundo dos mortos fosse tudo silencioso e vazio.

— Bom que acordou, já estava preocupado.

Sento na cama rapidamente e arregalo os olhos ao ver um homem muito lindo próximo ao local onde estou sentada 

ou seria anjo?

—  Érrr...desculpe? —  minha voz sai fraca e repentinamente sinto uma enorme sede. Olho para o lado a procura de água e vejo no criado. Tento alcançar, mas acabo me desequilibrando e quase caindo da cama, penso está caindo do céu de tão alta que a cama é. Porém, antes que eu atinja o chão... o anjo me segura.

Mesmo morta sigo desastrada.

Sinto meu rosto pegar fogo por está tão próxima do mesmo.

— Cuidado. — sussurra tão próximo do meu rosto que sinto seu delicioso hálito. Olho para o olhos dele e me vejo hipnotizada. Minha mão involuntariamente levanta e acaricia a pele macia do seu rosto. Sua quentura em minha palma faz com que me sinta estranhamente bem. A barba loira e macia faz cócegas em minha mão e sorrio.

Então é essa a paz que os anjos nos transmite.

Sorrio boba e continuo minha exploração em seu rosto. O anjo me olha parecendo um tanto quanto curioso e talvez fascinado por minha curiosidade genuína. Sorrio mais ainda e levo minhas mãos para seus cabelos loiros escuro.

Tão macio.

Então, me assusto ao ver os lindos olhos esverdeados se tornarem laranjas com tons amarelos. Pulo da cama e me afasto uma distância que eu considere segura. Graças a Deus, dessa vez não me desequilibrei.

Faço uma careta dolorosa. Estou no inferno? Deus não me quis também?

—  Você não está morta. —  sua voz sai suave e acho engraçado um homem tão absurdamente grande,  usar esse tom.—  Está segura aqui.

Diz se aproximando e a única coisa que consegui registrar é: Você não está morta.

—  Não estou morta? —  olho confusa e o mesmo para quando está perto de mim. Pisco os olhos e quando vejo ele está em minha frente estendendo um copo de água.

Como?

Bebo a água sentindo minha garganta agradecer.

— Obrigada.

O anjo dos olhos alaranjados- que agora estão novamente naquele tom desconcertante de verde- assenti. E é então que percebo o quão perto estamos.

—  Minha. —  sua voz sai diferente e cerro as sobrancelhas. O que é dele? Olho para meu corpo e percebo está em uma camiseta, que me parece ser masculina. Talvez ele se refira a isso. Minha alma não é já que estou viva.

Ou é?

Arregalo os olhos.

Será que fiquei entre a vida e a morte e este ser a minha frente é um demônio que barganhou minha alma sem o meu consentimento?

Deus é mais!

Começo a dar passos para trás, colocando uma distância entre a gente. O anjônio faz um barulho estranho e isso só me assusta mais. Respiro fundo. Não posso me dá o luxo de tremer toda e chorar, como já fiz muitas vezes no lar. Preciso entender o que está acontecendo aqui.

Então, se acalme!

Paro quando topo na parede e o ser começa a dar passos lentos em minha direção, por um momento me sinto um filhote de gazela que será refeição de um grande animal feroz. Estremeço.

—  Pare. —  faço sinal com minha mão. Anjônio estanca no lugar. E agradeço a Deus por isso. —  Pode passar minhas roupas? Então, te devolvo sua camisa. 

Proponho e o ser a minha frente apenas me olha intrigado.

Céus, ele não estava falando da camiseta.

Então, finalmente me dou ao luxo de cair em desespero. Levo minhas mãos ao rosto e as primeiras lagrimas caem, quando vejo já estou soluçando.

Oh, Deus!

Um par de mãos quentes me pegam no colo e por mais que eu esteja assustada com o que vai acontecer comigo agora, não me passa despercebido a sensação de finalmente está completa. A famosa sensação que procurei a minha vida toda.

Finalmente encontrei.

Choro mais por isso também.

—  Por favor, não chore pequena. —  sua voz é um bálsamo juntamente com suas mão em meus cabelos. E é aí que desidrato mesmo. Ninguém, além de Gina já se preocupou comigo.

—  Desculpe.—  soluço já mais calma. Tento sair de seu colo, porém ele não permite. Meu rosto esquenta, porque nunca estive perto de outro homem além do reverendo e do rapaz que ia sempre arrumar algumas coisas no orfanato.

O anjônio cheira tão bem. Um cheiro de coco com algo mais que não consigo identificar, mas que faz com que eu sinta vontade de pegar seu cheiro e pôr em um pote. Apenas para que eu passe o dia sentindo.

E ele é tão confortável, também. Gostaria que fosse meu travesseiro. Abraço seu grande corpo e seus músculos endurecem para logo em seguida relaxarem. Não sei porque o abracei, apenas senti vontade e segui o impulso.

Levanto meus olhos para observar o lindo rosto a cima da minha cabeça. Traços marcantes, cabelo loiros rente as orelhas e lindos olhos indefinidos - que se olhar rapidamente da a impressão de serem azuis, mas daqui olhando tão de pertinho e levando o meu tempo tenho certeza que são verdes- com poucas linhas de expressões. Na verdade quase nada, elas se acentuam mais quando ele fanze as sobrancelhas e quando rir, creio eu. Pois, ainda não o vi rir.

—  Você é muito bonito.  declaro inesperadamente e ele se surpreende. 

—  Não mais que você. —  sorrio deliciada com seu jeito de falar. É a primeira vez que recebo um elogio que não seja dos meus pequeninos ou da Gina. Sinto meus olhos arderam ao lembrar deles. Prometi ajudar meus pequenos e as meninas e farei isso, apenas tenho que entender o que está acontecendo aqui. — Por que essa carinha triste?

Me olha parecendo contrariado e não entendo.

—  Não é nada.—  sorrio doce e ganho um suspiro frustrado. —  O senhor poderia me soltar, por favor?

O anjônio arquea as marcantes sobrancelhas douradas e me libera. Levanto com cautela, pois não quero cair em sua frente.
Quando vou levantar a barra da camisa que visto, mãos grandes me param.

—  O que pensa está fazendo? —  seu semblante denota confusão e talvez um pouquinho de incredulidade.

—  Vou devolver sua camisa, senhor! — respondo prontamente. O que mais eu faria? Observo seu rosto em busca de algo e o que encontro é apenas seus olhos estreitos me analisando. Dou de ombros e tento soltar meus pulsos de suas mãos. O que claramente não funciona.

—  Em minha frente?  —  a voz de barítono sai um tanto trêmula me fazendo piscar confusa, chego mais perto do grande corpo sentado na beirada da cama.

—  O senhor está bem? — observo o peito do anjônio subir e descer rapidamente e fico preocupada.

—  Sim.—  solta meus pulsos, passa as mãos nos cabelos e então levanta parecendo desnorteado. Ele se afasta de mim como se eu fosse fazer algo de muito ruim com ele.

O olho curiosa. Ele está estranho e não acho que esteja bem. Dou alguns passos em sua direção.

—  Pare.

Estanco.

— Estou bem, já disse. Suas roupas estão naquela porta, tome um banho. — aponta para a porta marrom estreita do lado esquerdo.

E então ele se vai me deixando faminta por respostas, confusa e preocupada com seu estado.

Continuo parada, incapaz de me mexer.

Os olhos dele ficaram mesmo laranja?

Frustada, levo minha mão direita a boca e a esquerda em uma mexa do meu cabelo. Puxo com força e gemo.

Isso dói.

A porta se abre me assustando e anjônio vem a passas largos até mim. Ele parece está bravo. Os olhos intercalando entre verdes e aquele tom estranho.

Nossa.

—  O que pensa está fazendo? —  parece que essa é sua pergunta favorita, penso entre achar graça e sentir medo da sua carinha brava.
Uma de suas mãos enormes tira a minha que ainda continuava em meu cabelo. 

—  Não sei, achei que aqui nesse mundo não existisse dor. —  revelo fazendo careta. 

Me enganei.

Do nada começo a dar risada, porque é tudo muito louco e já não sei o que é realidade ou não. Dou mais risada ainda ao ver a cara de menino perdido do anjônio, mas nesse momento ele me parece um anjinho.

Tadinho.

Minhas mãos vão para minha barriga e me curvo ainda dando risada, porém agora com acréscimos de lágrimas. O anjinho me pega no colo novamente e nem reclamo. Porque o colo dele é bom demais!
O grandão caminha para a cama e se senta comigo ainda em seu colo, seus braços formando um casulo ao meu redor.

—   Eu sei que você deve está confusa, mas prometo tirar todas tuas dúvidas.— diz e sinto confiança em suas palavras.

—  Promete?— sussurro. 

— Sim, anjo. —  beija minha cabeça e me arrepio. —  Agora vou te levar para o banheiro e então tu podes fazer tua higiene e depois conversamos enquanto come.

—  Mas, pode me esclarecer uma coisinha antes? —  peço baixinho de olhos fechados aproveitando suas carícias em minha cabeça.

—  Ei. —  cutuca minha cintura e dou risada. — Não vai dormir, mocinha.

Abro os olhos e levanto o rosto para o olhar novamente. Puxo uma respiração quando o ar me falta.

O que está acontecendo comigo?

Porque somente olhar para ele me dá paz, vontade de chorar, rir e nunca mais sair de seus braços? É uma sensação estranha, meu peito fica apertadinho e sinto que o meu coração já não é mais meu.

O que me leva a crer que teve alguma barganha aqui, sim. Não é possível.

—  Não estou dormindo. —  enrugo a testa e respiro fundo. — Eu não estou mesmo morta?

—  Não.—  rosna e arregalo os olhos. Eu sei o que é um rosnado porque uma vez um cachorro entrou no orfanato e pareceu bem bravo, ele ficava mostrando os dentes ao fazer um barulho estranho. Perguntei para Gina o porquê do cachorro fazer aquilo e ela disse que os cachorros ao estarem bravos rosnavam. Nunca mais o vi.

—  Você está bravo?

Entendam, não o estou chamando de cachorro. Mas, ele rosnou. Rosnou, caramba!

O anjônio respira fundo.

—  Não. —  beija minha testa, já que continuo com a cabeça jogada para trás o olhando. — Continue.

—  Você barganhou minha alma ou até mesmo meu coração para que eu continuasse viva?


Sinceramente, eu achei que fosse a louca das paranóias, mas a Luna tá de parabéns ein 😂

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