When we were young
It's hard to admit that
Everything just takes me back
To when you were there
To when you were there
And a part of me keeps holding on
Just in case it hasn't gone
I guess I still care
Do you still care?
When We Were Young - Adele
Catherine Greenwood
Eu me lembro de sempre viajar para New York com mamãe, papai e meus irmãos quando criança.
Lembro que em uma das nossas viagens nós estávamos no carro alugado e estava rolando uma passeata bem colorida pela Fifth Avenue, papai e mamãe ficaram chocados e bem raivosos com todas aquelas pessoas e fizeram meus irmãos e eu fecharmos os olhos enquanto papai procurava sem sucesso alguma rua para entrar e ficar bem longe de todo movimento. Eu obviamente desobedeci e secretamente observei todas aquelas pessoas coloridas passando e achei aquilo um máximo.
Havia o mais diverso tipo de pessoas, brancos, asiáticos, latinos, negros e por aí vai. Lembro de ter visto vários casais do mesmo sexo e aquilo me deixou ainda mais curiosa, pois papai e mamãe nunca nos permitia falar sobre esse tipo de casais.
Toda vez que o assunto "tia Roselyn" era mencionado em alguma ocasião, papai nos repreendia e nos fazia mudar de assunto. Naquela época eu não entendia o motivo de não podermos olhar aquela passeata, não sabia o que ela era, o que ela representava e não sabia o motivo de não podermos falar de nossa tia Roselyn e nem entendia o motivo de não podermos falar com ela.
Hoje, vários anos depois, eu entendo o que aquilo representava.
Aquela passeata era na verdade a Gay Pride. Aquelas pessoas todas eram homens e mulheres que estavam apenas celebrando o amor. Tia Roselyn era uma dessas pessoas e bem, aqueles eram meus pais preconceituosos.
Hoje, anos depois eu entendo que tudo aquilo que papai e mamãe faziam eram coisas horríveis e sabe como eu entendo? Hoje eles reproduzem todos aqueles discursos para mim, me olham como olhavam para aquelas pessoas e tentam me controlar assim como faziam com tia Rose antes de conseguir se libertar das garras de nossa família.
Bem, na verdade eles não me controlam mais como antes, mas é porque assim como tia Rose, eu arrumei uma maneira de estar longe deles por bastante tempo. Eu finalmente consegui me manter o mais longe possível e tem sido muito bom assim. Mesmo que às vezes eu tenha que falar com eles no telefone ou que receba notícias através de meu irmão do meio, eu tento ser o mais breve possível para não ter que lidar com meus detestáveis pais.
Eu vim para a California um ano depois de Christian e toda essa distância de casa tem sido incrível porque tenho conseguido coisas muito boas por aqui. Logo quando cheguei, fiz duas amizades incríveis na irmandade que me acolheu. Irene e Bailey são pessoas incríveis e eu sou muito grata por as ter conhecido. Arrumei um emprego super legal em uma livraria e amo o meu curso. E ah… Eu comecei a fazer terapia para lidar com meu problema com relações afetivas.
Esse problema me acompanha faz um tempão e finalmente estou aprendendo aos poucos a lidar com ele, tanto é que Bailey e eu estamos nos envolvendo de uma maneira incrível.
Inclusive a minha relação com Bailey foi o que causou a nossa saída da irmandade. Bailey foi a primeira garota que eu conheci por aqui e apesar do meu certo distanciamento, ela conseguiu se aproximar aos poucos.
Nós duas dividiamos nosso dormitório com mais duas garotas, Irene e Martina. Acontece que, aos poucos, a minha amizade com BJay deixou de ser apenas uma amizade e passou a ser algo mais. Claro que tentamos esconder das garotas da irmandade, mas elas nos descobriram e desde então o clima foi ficando cada vez mais insustentável. Algumas garotas nos julgaram de uma maneira bem ruim, mas outras entenderam nosso lado e nos apoiaram, foi então que BJay e eu decidimos sair.
Inicialmente nosso plano era encontrar um apartamento para nós duas, mas percebemos que não daria certo porque para mim soava como um baita compromisso alugar um apartamento com a garota com quem estou ficando, mesmo que a gente já seja amiga há alguns bons meses.
Como eu disse que não poderia dar esse passo e nossa relação era sempre cheia de sinceridade, Bailey Jay entendeu o meu lado e deu o primeiro passo para lidar com o seu maior problema pessoal que é seu irmão. BJay foi dividir um apartamento com seu meio irmão e eu fui dividir um com o meu.
As coisas tem sido bem legais para mim desde então. É claro que eu fico triste por saber e ver como é a relação de BJay com Aaron e mesmo que ela não me conte muito sobre tudo que acontece, eu sei. Aaron e eu também somos amigos, não tão amigos quanto Bailey e eu, mas somos.
Mas voltando um pouco, eu disse que estava fazendo terapia, certo? Eu faço terapia porque tenho um bloqueio emocional com pessoas.
Toda a minha relação conturbada com meus pais e tudo que aconteceu entre James e eu resultou em um bloqueio emocional que faz com que eu não consiga lidar com relações afetivas no geral. Eu não tenho muitas amizades, na verdade meus únicos amigos são BJay, Irene, meu irmão Chris e o Aaron que eu tenho deixado se aproximar agora.
Em toda a minha adolescência eu nunca fui muito boa em fazer amigos e depois que James e Lily foram embora, eu não conseguia me aproximar de verdade de mais ninguém Depois que ELE se foi eu não deixei mais que meu coração bobo se apaixonasse por ninguém até Bailey chegar.
James Artur Wolfhard foi o cara que fodeu a minha vida da pior maneira possível e por mais que eu queira deixá-lo cem por cento no passado, seu fantasma me assombra dia após dia.
James e eu nos conhecemos quando ainda éramos crianças, ele era o melhor amigo do Chris e vivia na minha casa. Sua irmã mais nova era minha melhor amiga e eu também vivia em sua casa. Nós todos crescemos juntos e eu secretamente era apaixonada por James desde sempre.
Eu não sei se ele sempre soube, mas ele às vezes dava um jeito de me provocar e sempre ficava com outras garotas nas festas em que a gente frequentava. Ele as beijava e olhava para mim sorrindo como se quisesse dizer "eu sei que você gostaria de ser uma delas e sei que agora está morrendo de ciúme".
Lily sabia que eu era apaixonada por seu irmão e um dia enquanto nós duas estávamos conversando ao telefone, James escutou a conversa pela extensão do telefone. Ele escondeu isso por dias e eu nem percebi, mas aos poucos ele foi parando de ficar com as garotas pra me provocar, até que o improvável aconteceu.
Certo dia, James entrou em meu quarto enquanto meu irmão tinha ido ao mercado com meus pais. James tocou no assunto e eu neguei, mas foi então que ele confessou ter ouvido a conversa do telefone e eu desesperada continuei negando porque tinha medo de que ele usasse isso para me machucar, mas para minha surpresa, ele me beijou. James Artur Wolfhard me beijou e aquele foi um dos dias mais incríveis da minha vida. Logo após aquele beijo ele me fez prometer que não contaria para ninguém porque não queria estragar a amizade que ele tinha com meu irmão e eu boba, fiz o que ele pediu.
Depois daquele dia, James e eu nos beijamos várias outras vezes e em todas elas era sempre escondido. James e eu construímos uma relação secreta, um namoro escondido de todos. Claro que ele não me pediu em namoro, mas eu chamava o que a gente tinha assim. James nunca chegou a dizer que me amava, mas ele demonstrava isso quando estávamos juntos.
Com o passar do tempo, todos da escola começaram a estranhar o fato de o garanhão não ficar mais com nenhuma garota e James então propôs que continuássemos juntos, mas ele teria que ficar com outras garotas para que ninguém mais desconfiasse. Eu sempre muito boba e sempre muito apaixonada aceitei e ele prometeu que nunca beijaria ninguém na minha frente, não transaria com nenhuma delas e não se apaixonaria e estava tudo indo muito bem, até o dia que eu o vi beijando Samantha Hills.
Eu chorei sem parar a noite toda e ninguém entendeu o que estava acontecendo comigo. Chris tentou conversar, mas eu inventei uma desculpa qualquer porque eu tinha certeza que meu irmão quebraria a cara de James se soubesse o que tava acontecendo.
Durante a madrugada daquele mesmo dia, James foi me ver escondido e subiu pela sacada do meu quarto. Nós conversamos, ele tentou se explicar, nós discutimos e eu pedi que ele fosse embora, mas antes de ir ele me beijou. O beijo tornou uma proporção ainda maior e naquela noite eu perdi a minha virgindade com ele. James Artur foi muito paciente e teve todo o cuidado do mundo porque sabia que eu não tinha experiência nenhuma e aquela noite foi mágica para mim.
Dias se passaram, nossa relação ficava cada vez mais forte e era cada vez mais difícil esconder de todo mundo. James passou a dizer que além de ter receio de estragar a amizade com meu irmão, tinha medo da reação de meus pais porque ele não era um exemplo de garoto que meus pais queriam para mim, a única garota da família e eu tinha medo, morria de medo de James me largar por causa dos meus pais. Eu sabia que sem ele não aguentaria a barra de conviver com meus pais conservadores demais. James era o único além do meu irmão que sabia sobre a minha bissexualidade. Ele e meu irmão foram as únicas pessoas que presenciaram enquanto eu me aventurava a ficar com garotas antes de todo meu rolo com James.
Artur me tinha na palma de sua mão e sabia disso.
Foi então que assim como nossa relação esquentou, ela esfriou de vez. James começou a se afastar do nada, sempre tinha desculpas para desmarcar nossos encontros escondidos, sempre tinha algo importante para fazer. Eu estava cada vez mais triste e receosa e sempre que tentava falar com ele sobre o assunto, James dizia que era coisa da minha cabeça e fazia eu achar que era até eu parar de tocar no assunto.
E eu realmente parei, mas parei até ver James e Samantha juntos novamente. Dessa vez doeu mais, porque James e ela estavam transando no quarto do meu irmão e eu os peguei juntos.
Foi assim, da forma mais triste possível que James Artur Wolfhard quebrou o meu coração.
Foi assim que eu criei a barreira em meu coração e comecei a bloquear qualquer tipo de relacionamento com qualquer outra pessoa. Eu estava cansada de sofrer pela minha família que pensava totalmente diferente de mim, estava cansada de sofrer pelo cara que tinha um relacionamento comigo, mas não me assumia para ninguém e que no fim me apunhalou pelas costas.
Eu simplesmente não aguentava mais me machucar e eu chorei. Como eu chorei naquele dia. Eu chorei tanto que meu irmão ouviu e assim como eu, ele viu Samantha e James juntos. Meu irmão perguntou o que estava acontecendo e por qual motivo eu chorava, James ficou mudo e eu também, Samantha ria porque ela tinha entendido tudo, ela entendeu que eu era apaixonada por James e que vê-los juntos foi insuportável para mim.
Quando James finalmente criou coragem para se explicar, meu irmão partiu para cima dele e lhe deu uma surra e jurou que se James tentasse se aproximar de mim outra vez, ele o mataria. James riu, Samantha riu e eu? Eu não conseguia fazer nada além de chorar. James e Samantha foram embora juntos e eu não os vi por semanas. James não me mandou sequer uma mensagem se desculpando por tudo que ele fez e não me ligou.
Ele simplesmente evaporou do mapa e quando voltou, quebrou o que sobrou do meu coração dizendo que nunca sentiu nada por mim. Que eu era apenas um passatempo, uma conquista, um jogo. Dias depois seu pai foi preso e ele, sua mãe e Lily foram embora e eu nunca mais tive nenhuma notícia deles.
Com a partida de James e sua irmã, eu não tinha mais com quem contar além de Chris. Eu me fechei cada vez mais para todo mundo, passei a ir em festas e mais festas pra tentar esquecer o furacão James e todo o seu desastre em mim, comecei a beber escondido e a consequência disso foi ter a minha cara estampada em um jornal como a filha delinquente do xerife.
Papai ficou possesso e quis até me mandar para um colégio interno e isso se concretizou quando novamente eu apareci no jornal, dessa vez beijando uma garota. Na semana seguinte eu estava matriculada em um colégio interno para cursar meus dois últimos anos escolares.
Os primeiros dias naquele lugar foram infernais e eu prometi para mim mesma que daria um jeito de me libertar das garras da minha família. Eu faria de tudo para me manter bem longe de seus preconceitos, do seu controle sufocante. Terminei os dois anos sendo a melhor aluna do colégio e no ano seguinte eu consegui entrar na mesma faculdade que meu irmão. E bom, hoje estou aqui um ano depois de ter entrado na faculdade.
James nunca saiu do meu pensamento por uma noite sequer durante esses anos todos.
Ele esteve me assombrando por esse tempo todo e faz isso mesmo quando estou com Bailey que é alguém que consegue fazer com que eu esteja finalmente em paz. Pensar que eu nunca consegui me livrar de verdade de James, faz com que eu me sinta culpada. Bailey é uma ótima garota, mas eu não sei se consigo ser para ela o que ela tem sido para mim.
James sempre vai estar aqui me desestabilizado e hoje eu tive a certeza disso quando o vi.
Ver James hoje foi como se eu tivesse voltado lá no passado e tivesse voltado a ser aquela garota medrosa e isso acaba comigo. Eu fugi, eu não tive coragem de falar com ele e nem sei se ele me viu, não sei se vou conseguir me esconder por muito tempo e nem sei como vai ser quando a gente se ver. Eu tenho medo, medo de perder todo o avanço que tive na terapia. E eu não sei o que vai acontecer e estou morrendo de medo de descobrir.
James sempre vai ser a minha ruína.
Se tem alguém que sempre vai tirar o meu chão e fazer tudo ficar de cabeça para baixo, essa pessoa será eternamente James Artur Wolfhard, o furacão.
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