1 - Bright lights
A new day, a new age, a new face, a new lay,
A new love, a new drug, a new me, a new you.
Bright Lights - 30 Seconds To Mars
Catherine
Se um dia eu pudesse não levantar da cama e esquecer da própria existência, com certeza seria aquele.
Sabe aquele dia em que você acorda e tem a certeza de que tudo, absolutamente tudo vai dar errado e você procura motivos que faça você permanecer na cama e no fim das contas infelizmente não encontra nenhum? Aquele era o dia e eu sabia disso.
Eu não sabia ainda o que me esperava, mas sentia que seria um dia difícil, então enrolei o quanto pude na cama e só saí dela quando não tinha mais como continuar ali. Levantei, tomei um banho rápido e tomei café da manhã correndo para conseguir chegar a tempo de pegar a primeira aula. Meu irmão já tinha saído de casa e como eu neguei sua carona, tive que ir sozinha para a faculdade. Eu não estava com a menor vontade de dirigir, então pedi um táxi porque ainda era um dia do mês que eu podia me dar ao luxo de gastar com algo que não fosse contas de casa.
O caminho para faculdade foi um pouco estressante porque infelizmente tinha trânsito e eu obviamente me atrasei para a primeira aula e isso fez com que eu decidisse matar um tempo na cafeteria até que a segunda aula tivesse início.
E foi aí que as tragédias começaram.
Eu estava sentada no mesmo lugar de sempre e apesar de incomum, a cafeteria estava movimentada demais para aquele horário. Eu lia meu livro novo enquanto pensava o quanto era péssimo me atrasar para o primeiro dia de aula e me sentia horrível por isso.
A música tocava alta nas caixas de som, Jimmy com certeza estava de bom humor naquela manhã, bem diferente de mim.
Em um momento de distração enquanto trocava a página do livro, eu olhei para a porta de entrada da cafeteria e esse foi o meu quarto erro do dia que mal havia começado.
Eu jurava que fosse uma miragem, mas infelizmente não era. Ele estava bem ali, bem no meio da minha zona de conforto.
Eu jurava que nunca mais na minha vida fosse ver James e bem, o destino deu um jeitinho de foder a minha cabeça outra vez.
Não foi tão fácil assim reconhecê-lo porque bons anos se passaram e ele mudou bastante.
James estava com uma calça preta, botas de combate e uma camiseta branca que evidenciava seus braços e pescoço cobertos de tatuagens. Seus cabelos estavam um pouco mais curtos do que a última vez que o vi e claro, eu o reconheci por causa daqueles malditos olhos.
Nós não estávamos há uma distância considerável e ele não me notou porque estava distraído demais mexendo em seu celular enquanto aguardava na fila de pedidos da cafeteria.
Eu ainda jurando que aquilo era coisa da minha cabeça obviamente não consegui desviar os olhos, minhas mãos começaram a tremer e quando eu senti que estava muito perto de ter um ataque de pânico, levantei e saí o mais rápido que pude, mas não sem antes cometer o ato desastroso de esbarrar em alguém com um copo de café.
Isso resultou em uma camisa completamente manchada e eu correndo o mais rápido possível para não ser reconhecida.
Eu me escondi no banheiro feminino mais próximo que encontrei e foi ali que desabei. Minhas mãos tremiam ainda mais e lágrimas saltavam descontroladas de dentro dos meus olhos enquanto eu tentava tirar a mancha da minha camisa.
Meu celular tocava e vibrava dentro do bolso da calça jeans, mas eu não podia e nem queria falar com alguém. Pelo toque eu sabia de quem se tratava e com certeza era a última pessoa com quem eu queria falar.
Depois de tirar um pouco da mancha da camisa, eu me sentei ali mesmo no chão e comecei a chorar.
Eu tinha construído um muro, eu tinha finalmente me dado a oportunidade de seguir em frente e quando estava finalmente conseguindo ser feliz, ele veio como uma onda gigantesca para derrubar todas as paredes do meu frágil castelinho de areia.
James sempre foi a minha ruína.
Vários minutos depois eu consegui me acalmar um pouco e decidi ignorar toda e qualquer chamada no celular, peguei o aparelho e disquei o único número que eu sabia de cor. Após três toques a senhora Felicity atendeu e eu perguntei se Felix estava disponível para uma sessão de emergência e para meu alívio ele tinha um único horário vago e era justamente de manhã.
Sei que faltar a aula era algo que eu não estava planejando, mas eu sabia que se tentasse enfrentar o dia sem nem ao menos desabafar com alguém, eu teria uma síncope. E sobre o que eu precisava desabafar, só havia uma única pessoa com quem eu conseguia me abrir.
Lavei o rosto e dei um jeito no cabelo que estava todo bagunçado, respirei fundo e saí do banheiro. Eu precisava ter toda cautela do mundo para não dar de cara com ele outra vez, então saí correndo até a rua, chamei um táxi e fui até o consultório do meu psicólogo.
O caminho inteiro eu passei refazendo mentalmente toda a história que eu tentava todos os dias esquecer.
James me assombrava em meus sonhos e agora ele passou a me assombrar pessoalmente também.
×××
Felix estava sentado em sua poltrona habitual quando cheguei em sua sala.
Essa manhã ele vestia uma camisa branca de botões e uma calça social verde oliva. Seus óculos como sempre estavam na ponta de seu nariz e seu rosto ossudo sempre com o semblante mais sereno do mundo.
Ele esperou que eu me acomodasse no lugar de sempre e pacientemente me analisava até que eu começasse a falar.
- Ele está aqui.
- Ele quem?
- Ora, James. James está aqui.
- Certo, vamos começar pelo começo. Como sabe que James está aqui?
E então eu respirei fundo, me acomodei melhor na poltrona e contei a ele todo o ocorrido na cafeteria, sobre a crise de pânico e sobre como eu me sentia receosa com a volta de James.
- Cath, eu sei que você tem medo do que te espera daqui pra frente já que agora terá que ver James, mas não acha que está na hora de confrontar seu passado para que finalmente possa seguir em frente? - ele diz e sorri ternamente quando termina.
Eu arregalei os olhos com o que ele disse e Felix apenas suspirou antes de continuar.
- Veja bem, todos nós temos alguma cicatriz, algum trauma profundo que em algum momento da vida nos paraliza e nos impede de agir em diversas situações que possam ocorrer. Nós estamos fazendo um tratamento juntos e eu vejo melhora em você toda semana que vem aqui, mas agora temos algo que possa te impedir seu avanço. E eu sei que você tem medo por não saber como vai agir, é normal ter medo, mas você não acha que se ao menos tentar enfrentar pode finalmente colocar uma pedra em cima disso e poder continuar avançando no seu tratamento?
- É difícil pra mim, eu não o vejo há anos e eu não sei como vou agir quando a gente realmente se ver. Eu tenho medo de ter alguma crise.
- Eu sei que é difícil e que você tem medo das crises. Todos nós temos medo de perder o controle, mas se lembra de todas as soluções que encontramos juntos para tentar conter ou amenizar os ataques de ansiedade? Lembra de toda nossa evolução sobre a sua dificuldade de lidar com relacionamentos? Nós chegamos até aqui e você tem se saído muito bem.
Felix junta as mãos magras e sorri.
- Não se esconda daquilo que mais te machuca. Enfrente a dor, enfrente o que te afeta até não te afetar mais.
Sorri de canto para ele guardando especialmente aquele seu conselho que talvez tenha sido o melhor desde que nós começamos o meu tratamento.
Meu terapeuta e eu continuamos conversando e eu ainda questionei várias coisas até o fim da sessão de emergência, ele respondeu pacientemente todos os meus questionamentos até dar nosso horário e ao final dele eu já me sentia um pouco melhor.
Claro que eu ainda tinha receio de como seria dar de cara com James.
E se a gente tivesse que voltar a conviver? E se ele tentasse se aproximar? Como eu reagiria? Como Bailey reagiria quando soubesse que James reapareceu?
Eram tantos questionamentos que eu realmente me sentia perdida, mas ao menos eu podia contar com Felix para me reencontrar.
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