4. Estou te ligando, você pode estar sozinha.

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ALESSIA CARA
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Deixo meu violão de lado assim que meu celular começa a apitar, indicando uma chamada. Estou tentando retomar a minha vida e com a cabeça cheia, compôr é o que tem me ajudado a pensar melhor.

Viro a tela pra cima, arregalando os olhos ao ver a foto de Calum me ligando, isso é estranho e eu juro que se não estivesse tão preocupada talvez não atenderia.

－Cal?－Chamo ele preocupada assim que atendo, nervosa pelo barulho de festa no fundo. Onde ele anda se metendo?－Cal, você está bem? Precisa de ajuda? Onde os garotos estão?

－Ale.－Ele fala baixo e o suspiro no fim me deixa saber que ele está sorrindo－Eu estava com saudade da sua voz.

－O que?－Arregalo os olhos com sua frase e então começo a raciocinar que ele deve estar bêbado－Cal, onde você está?

－Ah, eu não sei bem..－Sua frase sai meio embolada, o que me faz rir da confusão na sua voz－É cinco da manhã, me desculpa ligar essa hora pra você. Você deve estar com alguém, no seu encontro..

－Você não está falando coisas com sentido nenhum.－Digo rindo, caramba, como é que eu esqueço alguém que me liga uma hora dessas da noite?－O que está fazendo tão tarde em uma festa, Cal? Por que não está na sua casa?

－Porque você não está lá.－Ele responde direto, me fazendo suspirar.

－Volta pra casa, Cal.－Peço depois de alguns minutos onde só consigo ouvir sua respiração.

－Você vai estar lá?－Ele pergunta manhoso e eu fecho os olhos, me segurando pra não chorar.

－Eu não posso querido, você sabe disso.－Respondo com a voz falhando.

－Então eu não volto.－Ele fala como uma criança birrenta, fazendo um sorriso pequeno brotar nos meus lábios－Eu não consigo, charming. Suas coisas estão lá, cada vez que eu entro sinto seu cheiro e é impossível te esquecer, eu sinto sua falta.

－Eu também sinto sua falta, Cal.－Respondo, deixando minhas lágrimas escorrerem e fungo balançando a cabeça, sabendo que não adianta, ele está bêbado, provavelmente sequer vai lembrar que me disse essas coisas.

－Eu queria te ver agora.－Ele fala baixo e quase não escuto.

－Estamos a quinze mil quilômetros de distância Cal, não dá.－Brinco rindo forçado, tentando não demonstrar que se eu não estivesse sentada provavelmente já estaria no chão, pois minhas pernas e mãos tremem－Algum dos garotos estão ai?

－Não, estou sozinho.－Ele fala triste e aquilo me parte o coração.

－Chame um carro Cal, vá pra casa, por favor.－Peço de novo.

－Eu estou de carro, mas não quero ir pra casa.

－Você não pode dirigir, por favor Cal, chame um carro e vá pra casa.－Eu tento novamente.

－Você vai ficar comigo lá, se eu fizer isso?－Pergunta, me deixando nervosa.

－Não vou desligar até você estar seguro, mezzo.－O apelido escapa da minha boca, me fazendo quase soluçar depois.

－Ok.－Ele fala baixo e então a ligação fica muda, até eu perceber que ele desligou, me deixando chorar ainda mais.

Passei alguns minutos encolhida na minha cama, até cansar de chorar e permanecer daquele jeito mesmo por algum tempo. Pelo menos até meu celular tocar novamente.

－Cal? Onde você está?－Aperto meus olhos, tentando parar a dor de cabeça.

－Você está esperando o Calum te ligar?－Ouço a voz de Debby, minha amiga e a pessoa que cuida da minha agenda basicamente.

－O que foi Debby?－Pergunto, ignorando o que ela falou.

－Queria saber se você está bem, mas você estava esperando o Calum te ligar? Alessia!－Seu tom de repreensão me faz quase rir, se minha cabeça não estivesse doendo－Você nunca vai superá-lo se continuar esperando por ele.

－Ele está com problemas Debby, eu ainda amo ele, não pode esperar que eu ignore enquanto ele pode estar sofrendo por alguma coisa.

－Você está sofrendo, amiga. Sofrendo por ele, então eu espero que você ignore sim.－Ela fala exasperada－E já fazem dois meses, uma hora você vai ter que seguir em frente.

－Podemos conversar amanhã, minha cabeça está explodindo.－Peço, querendo ignorar o sermão no meio da tarde.

－Ainda vamos falar sobre isso Alessia.

Ela desligou em seguida, então eu suspiro levantando e andando até o banheiro, vendo Cleo deitada ao lado da minha cama, dormindo tranquila.

Minutos depois, quando eu estou arrumando meu cabelo e tomando um remédio pra minha dor de cabeça, escuto meu celular vibrar mais uma vez em menos de duas horas e vou até a cama, vendo que é Calum me ligando novo.

－Ale?－Ele diz de novo, me fazendo fechar os olhos.

－Está em casa?－Pergunto, tentando não demonstrar meu nervosismo.

－Estou na porta.－Ele diz me fazendo rir.

－Entre na casa, Calum.－Digo sorrindo, ouvindo barulho de chaves.

－Você não está aqui.－Ele diz triste e eu tento não pensar no que estamos fazendo.

－Eu não estou ai.－Confirmo suspirando e sorrio fraco, quando Cleo levanta seus olhos até mim－Tome um banho e descanse, Cal.

－Sua câmera ainda está aqui.－Ele me diz, com a voz trêmula－Seus girassóis ainda estão vivos, eu não sei como, acho que esqueci de regar eles de novo, me desculpe.

－Está tudo bem, Cal. Tome um banho, tome um remédio pra não acordar com dor de cabeça e durma, amanhã você estará melhor.

－Vai estar aqui amanhã?－Ele pergunta, me fazendo fechar os olhos mais uma vez.

Mesmo que sua voz não esteja tão lenta, sei que Calum tem uma resistência ao álcool e apesar de não parecer bêbado, duvido que ele se lembre disso depois.

Mas eu vou me lembrar. Me lembrar de tudo.

－Descanse Cal, durma e fique bem, por favor.

－Obrigado, Alessia.－Ele fala baixo fungando－Me desculpe por ser um péssimo namorado.

－Você não era um péssimo namorado Cal, se fosse eu não te amaria tanto quanto amo.－Digo sofrendo, é difícil pensar que eu o amo tanto assim.

－Eu amo você, Alessia.－Ele fala e eu choro de novo－Você deve estar melhor sem mim, não é? Foi até pra um encontro.

－O que?－Pergunto confusa e dou risada da sua fala－Você está imaginando coisas Calum, vá dormir.

－Adeus, Alessia.－Ele fala, me deixando estática por alguns minutos até eu perceber que ele já havia desligado.

Balanço a cabeça, tentando desviar meus pensamentos dele e pego Cleo do chão, a deixando deitada na minha barriga quando deito na cama, acariciando seu pelo.

Fico pensando na sensação de solidão que sinto agora e suspiro, depois de tanto tempo sem notícias dele, Calum me liga bêbado, apenas espero que não se torne frequente.

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16 de setembro de 2020
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