Veneno e fada azul
Uma voz chata chamada razão lhe disse que havia chegado sua hora.
Uma outra voz mandou essa ir se foder, não ia morrer nas mãos de três pirralhos.
Sua mente trabalhou rápido em uma maneira de sair dali. Passou a mão de modo disfarçado no coldre sentindo sua arma. Duas pistolas, uma faca para lançar, contra três seres estranhos, que a julgar os olhos frios, deviam ser como Naruto.
E isso sim seria um problema.
Isso e sua perna machucada. Se sentou devagar e ao levantar os olhos, um deles havia sumido.
Foram segundos e sentiu que era jogado contra o chão de asfalto com força. Puxou a arma, mirou ainda caído e atingiu o gordinho que vinha em sua direção o atingindo com precisão no estomago. Ele recuou com o impacto, e continuou a investida como se não fosse nada.
– Sua gordura amortece balas? – provocou não tendo nenhuma reação do outro. Atirou de novo, dessa vez na perna e o outro caiu em um joelho. Ia atirar uma terceira vez quando teve que desviar de uma lamina que passou muito perto de seu rosto. Era uma situação bem ruim, não importasse o ângulo de análise.
– Que se dane. – falou para si mesmo se levantando mancado e encarando os três pares de olhos gelados que o cercavam. – Não vou morrer no meio do nada.
Atirou no primeiro que entrou em seu campo, mas a desgraçada desviou. Parecia um mini demônio.
– Eu te pego sementinha do mal. – rosnou e atirou novamente mirando nos joelhos, mas ela se movimentava muito rapidamente. E o outro já estava em sua cola. Resistiu por minutos até não ter mais balas, e notou que eles pareciam estar brincando com a presa.
No caso, ele.
– Me sinto um novelo de lã.
– Kakashi Hatake. – a garota falou segurando o braço que ele ferira com a faca. – Temos ordens para mata-lo e enviar seu corpo para 445. Temos um recado para ele.
– Estou ouvindo.
Não teve tempo de se surpreender com a voz que surgira do nada.
Não quando o raio loiro atingia a garota a jogando longe e se postava a sua frente de modo despojado, com o rosto virado de lado como se olhasse os outros com curiosidade.
– Então meus caros, qual é o recado?
A luta foi rápida demais, até para Kakashi. Os movimentos de Naruto eram violentos e certeiros. Kakashi foi atingido violentamente e sua cabeça bateu no asfalto com força. Ouviu o grito do loiro e o peso foi arrancado de si. O resto que viu, foram flashes estranhos. Quando voltou a si, chovia.
– Kakashi. – recebeu um tapa no rosto e xingou. Encontrou os olhos azuis frios o fitando de cima. Sentou devagar xingando mais forte ao sentir uma dor forte na cabeça, passou a mão e viu que estava sangrando.
– Merda!
– Não é grave, ferimentos na cabeça sangram muito por conta da alta vascularização.
Kakashi resmungou e olhou bem para o garoto.
– Não diga Doutor? – falou se levantando e então olhou o cenário sangrento na estrada. Os corpos caídos enquanto a chuva lavava o sangue. Kunais, lâminas e destruição por toda parte. A luta parecia ter sido intensa. – Eles estão...
– Mortos. – o garoto rebateu . – Temos que sair daqui agor...
Não notou até que fosse tarde. Um deles estava vivo. A garota lançara algo em sua direção que o atingiria em cheio se o loiro não lhe tomasse a frente. Ele recebeu o impacto da kunai na barriga, arrancou e jogou de volta, atingindo a testa da garota que caiu.
– Naruto! – o garoto recuou um passo e caiu sendo segurado pelo homem.
– O que...
– Está envenenada. – ouviu o rosnado do loiro com o som da voz em meio a chuva que ficava mais forte. Era um homem estranho de cabelo roxo com uma arma estranha que tomava suas costas. Kakashi viu que a situação podia piorar, agora que nenhum dos dois estava em condições de lutar. – Não o conheci distraído 445.
O loiro tentou se firmar se livrando do abraço de Kakashi: - Corra. – ordenou.
– Idiota, mal pode com o próprio peso. – rebateu em desespero. Mas o loiro não o ouviu e já se preparava para atacar o outro quando gemeu com a mão no ferimento e caiu. Kakashi correu para ampara-lo, mas o outro fora mais rápido e em um segundo estava segurando a criança e encarando Kakashi em meio a chuva.
– Não vou deixar que o leve.
O outro riu com essa frase: - Você é engraçado, Kakashi Hatake. Mas para sua sorte. – o homem ajeitou a criança em um ombro e lhe estendeu a mão. – Eu já escolhi o meu lado, quero entender o que há em vocês que geram reações tão peculiares nessa criança.
Kakashi encarou o outro de modo desconfiado. Viu os olhos azuis enquanto Naruto erguia a cabeça de leve e assentia.
Aceitou a mão.
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Era um motel barato de meio de estrada. A chuva já caia de forma torrencial lá fora. O dono do lugar, um gordinho os olhara de forma maliciosa quando pediram um quarto entrando ambos com Naruto nos braços. Só perguntara se o garoto era maior de idade, mas disse que fecharia os olhos com uma gorjeta.
Ignorando um homem ferido e outro com um objeto estranho nas costas, que claramente podia matar alguém, levando uma criança desacordada.
Pervertido dos infernos.
O menino se recusara a procurar Minato, que era médico. Segundo ele e o de cabelo roxo diziam, o próprio sistema do garoto combateria o veneno, a droga faria isso. Mesmo que o processo fosse doloroso, não ia mata-lo e pela manhã ele já estaria completamente recuperado de tudo, incluindo dos ferimentos.
Enquanto isso, estaria vulnerável. Kakashi não gostava nada da forma como o outro o olhava. Havia curiosidade, mas também era algo...luxurioso.
– Não vai cuidar da cabeça quebrada? – o de cabelo roxo perguntou sentado em uma poltrona suja no quarto, olhando enquanto Kakashi ajeitava o loiro desacordado na cama.
– E deixar você sozinho com ele? – rebateu irônico. – Acho que não.
– Se eu quisesse fazer alguma coisa não era você que me impediria Kakashi Hatake. – o outro riu. – Não vou machucar o pirralho, ou obriga-la a fazer algo que não queira, se é isso que lhe preocupa. Não fodo ninguém sem permissão.
O grisalho não respondeu. Sentou no colchão encarando o outro que o olhava de forma curiosa. O homem estava quebrado, com sangue seco na cabeça e nas roupas, ensopado e ainda tentava intimida-lo. Era realmente um homem engraçado, esse Kakashi Hatake.
– Quem é você?
– Número dois, ou Hidan.
– Por que está nos ajudando, supostamente?
Deus de ombros: - Tenho a porra de uma natureza curiosa. Quero ver o boneco de madeira tentando ser menino.
– Hein? – o grisalho franziu a testa confuso e gemeu com o gesto.
O homem balançou a cabeça se levantou: - Não saia do lado dele. Espere.
E sumiu pela janela. Mania feia daquela gente não usar a porta.
Kakashi olhou de forma abandonada a situação. Tinha que confiar em um maluco boca suja. Se virou para Naruto. O veneno tirara toda a sua cor, estava tão pálido que parecia morto, e a pele estava fervendo apesar das roupas ensopadas. Foi no armário no quarto em busca de trocar aqueles lençóis podres e encontrou um conjunto, por sorte. Levantou a criança e a levou para a poltrona onde o estranho estivera, trocou os lençóis, removeu a roupa encharcada e o cobriu com a colcha. Em nenhum momento ele acordara. Gemia hora ou outra algo incoerente, mas não acordava e o homem começou a se preocupar.
Olhou o rosto desacordado. Daquele jeito, ele até parecia realmente o Naruto inocente, e não a máquina de matar que vira essa tarde.
– Eu sei que você está em algum lugar ai sabia? – falou com um suspiro. – O moleque que me enchia a paciência com perguntas, que lia como se fosse morrer no outro dia. Eu sei que vocês são a mesma pessoa, então você está ai também. Eu não estaria se esforçando tanto para salvar todo mundo, mesmo bancando o assassino-não-sou-gentil-nem-de-longe.
Os olhos azuis se abriram de leve, e Kakashi não sabia se era a febre, o veneno, mas não havia a frieza habitual, ou a raiva homicida. O que viu ali foi um poço profundo de tristeza, de dor. Segurou a mão quente e ele não a retirou.
– V.você é um tolo... – o loiro murmurou baixo.
– E você também. Se jogar na frente de uma kunai não é a coisa mais inteligente do mundo garoto. Por que fez aquilo?
O outro fechou os olhos com força. Kakashi removeu as mechas loiras molhadas de suor do rosto quente, não precisava ser médico para ver que ele não ia bem. Olhou ao redor e pegou um pano, rasgando um pedaço do lençol e correu para molhar no banheiro, colocando na sua testa. Teriam que suportar aquilo até a manhã?
– Você e Minato... E Hinata... Não entendo vocês... – o outro murmurou. Kakashi sabia que ele estava delirando, ainda assim incentivou. Era a chance de entender aquela cabeça confusa.
– O que não entende? Por que queremos salvar você?
Ele murmurou algo muito baixo. Kakashi aproximou a cabeça e tudo o que entendeu foi "Peão de sacrifício."
– Espero que você que não seja o pervertido. – ouviu uma voz ameaçadora atrás de si enquanto o ruivo retornava pela janela com duas sacolas.
– Idiota. – revirou os olhos se afastando do rosto do garoto que continuava falando. – Não há uma maneira de baixar a febre?
– Mantenha o rosto úmido, eu acho. – deu de ombros. – Eu não entendo dessas merdas, não sou médico, sou assassino. Opostos, saca?
– Não diga. Onde andou?
– Removendo os corpos da estrada antes que a polícia visse. Mas encontraram sua moto, vão dar você como desaparecido. E também. – Jogou uma das sacolas. – Essas frescuras de vocês.
Kakashi abriu e viu curativos e roupas secas.
– Você me intriga cabelo roxo. Não que não esteja emocionado com os cuidados. – ironizou.
– Ele procurou seu cheiro pela cidade inteira até te encontrar, lutou mesmo que estivesse ferrado depois de uma briga comigo e com a falta da droga e se jogou na frente de uma kunai que não podia desviar. Quero mesmo saber o que você é para ele, Kakashi Hatake. Eu disse, tenho a porra de uma natureza curiosa.
Encarou o sorriso falso do outro, mas acreditou na explicação. Primeiro vestiu Naruto, ainda incomodado com o olhar do outro no garoto. Que ótimo, um assassino maluco, boca suja, gay e que arrastava um caminhão por Naruto, ao que parecia. Tinha que ter olhos nas costas, nem pensar em tirar as vistas do loiro essa noite com esse tarado por perto.
Depois cuidou dos ferimentos, com a porta do banheiro aberta para olhar o quarto. Trocou de roupa e depois olhou os ferimentos do garoto, mas eles pareciam se curar rapidamente, como haviam falado. Apenas onde fora atingido pela kunai ainda sangrava e estava com uma coloração esverdeada estranha por onde saia pús. Limpou e fez um curativo, era o máximo que podia com o que tinha ali.
Mesmo que o outro falasse que não serviria de nada, fez o garoto tomar um antitérmico. Na outra sacola que o estranho trouxera havia comida. Cheirou, provou de leve para ver se estava envenenada (por mais que aquela voz racional dissesse que se aquele pirado o quisesse morto, ele já estaria. E bem morto. Mandou ela se foder de novo.) e serviu Naruto primeiro. Ou tentou. Não dá para alimentar um garoto ardendo em febre e delirando.
No fim comeu sem vontade e sentou em vigília.
O silêncio reinava, apenas quebrado pelos murmúrios do garoto.
– Há algo diferente nele. – o outro falou de repente, em um tom de curiosidade.
– Como ele era? – perguntou. Se tinha que passar a noite ali preso com aquele maluco, ao menos tentaria entender a mente do loiro.
– Um demônio. – o outro pareceu pensativo por trás dos olhos frios. –Um demônio na hora de matar, uma criança teimosa para seguir ordens, uma fortaleza quando era torturado, e um jogador para fugir. Um maluco suicida, o tesouro de Madara. Ninguém podia toca-lo, falar com a criança sem a permissão dele.
– Madara... – Kakashi cuspiu o nome com raiva. O quanto aquele homem machucara Naruto? Notou que o homem o olhava curiosamente. Pela primeira vez olhou direito as feições do outro, por trás dos olhos frios. Era um rosto jovem. – Qual a sua idade?
– Não sei. 20, 21, 22 talvez... – deu de ombros. – A mesma de Gaara e Temari, provavelmente.
– Temari?
– A três. Uma pirada. Somos os primeiros que Madara fodeu com a droga. Pelo menos os primeiros que ficaram vivos para contar a história. Todos os outros foram substituídos a medida que morriam, nós ficamos inteiros. Mais alguma pergunta, Kakashi Hatake? – o homem perguntou com ironia. – Não vai conseguir entender a mente doente do loiro me interrogando.
– A mente dele não é doente. – rosnou. Só um tanto estranha. Um pouco complexa. Ok, a criança podia ter algo como psicótico, esquizofrênico, talvez... Que ótimo, estava conversando demais com Shizune, precisava de Itachi de volta ou ia acabar analisando todo mundo como a mulher. Ou talvez precisasse de mais amigos.
– Ninguém que cresceu como a gente se manteve são, Kakashi Hatake. – o homem o encarou com um sorriso maníaco que o fez acreditar nisso.
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Devia ser cinco da manhã quando a febre baixou e o loiro parou de tremer. Os olhos se abriram confusos para o ambiente, e quando Kakashi tocou em seu braço foi arremessado longe e caiu sobre uma mesinha de canto falando palavras nada puras que Hidan guardou mentalmente com interesse. Até isso acontecer, os dois haviam conversado, de um modo estranho, se entendiam bem. Talvez fosse o linguajar, o jeito impaciente do grisalho, ou a mania de defender 445 como se ele fosse uma criancinha desprotegida, e não um assassino que podia arrancar sua cabeça. A verdade é que Hidan divertia-se com as reações humanas do outro, totalmente despropositadas.
– Eu fui atingido por uma kunai envenenada. – o loiro falou de repente, se levantando e sentando depressa.
– Não diga? – Kakashi falou se levantando dos restos da mesinha com uma careta de dor. – Ninguém aqui sabia disso.
– Kakashi. – o loiro se levantou de um pulo rosnando para o homem com raiva. – Por que saiu sozinho sabendo que podia ser atacado? E como saiu sem Gaara vê-lo...
O homem revirou os olhos.
– Não preciso de babá. E sou um policial de elite, imbecil. Se não pudesse fugir desses esquisitos, tinha que voltar para a academia.
– Hum, 445. Não querendo defender o de cabelo branco aí, mas acho que você ter pirado e me atacado foi que meio que começou tudo isso, então...
O loiro parou com isso e ajeitou a postura, como se só então tivesse lembrado disso. Olhou Hidan de modo frio, encarando-o: - E você?
– Eu o quê? – o outro provocou.
– Então decidiu seu lado de vez ou vou ter que proteger minhas costas? Não quero ter que matar você dois.
– Então admite que quer transar comigo? – o outro falou sério. O garoto fez cara de desgosto. – Decidi, idiota.
– Você vai morrer. Vou matar Madara, vai ficar sem a droga e vai morrer. – o loiro falou devagar. – Ainda assim vai querer me ajudar?
O outro suspirou e se levantou andando felinamente até o garoto, parando na sua frente. Kakashi notou que apesar da pose relaxada de ambos, pareciam prontos para se matar a qualquer movimento em falso. Apesar de todos dizerem, e ter visto, que Naruto era fodão e tudo mais, se sentiu desconfortável quando o outro parou na frente do menor. Ele era da altura do peito de Hidan, e seu corpo era mais esguio. Parecia bem mais vulnerável. Como uma criança daquelas podia ser um assassino?
Hidan se curvou para ficar cara a cara com o garoto, e o grisalho por um instante pensou que ele fosse beijar Naruto, mas ele apenas sorriu do seu jeito maníaco: - Faça com que isso seja divertido.
Naruto assentiu sem sorrir de volta.
– Além do mais. – o outro continuou. – Se Madara mandou me vigiar, provavelmente não é uma boa ideia voltar.
Ele terminou já virando de costas e se encaminhando para a janela. Parou quando subiu no parapeito: - E cuidado com Temari. Se vai mete-la nessa história, como acho que vai, pense se não é um passo arriscado.
– Eu sei. – o outro respondeu sem mudar sua expressão.
– Não vou ganhar um beijo por ter te salvado? – o homem zombou com o sorriso maníaco irritante.
– Não fale esse tipo de coisa absurda. – o garoto rebateu com desgosto.
– Um dia 445. Um dia! – ouviu a risada baixa e ele havia pulado.
O grisalho e o loiro se encararam ao cabo de alguns segundos, até que o homem falou:
– Seus amigos são todos estranhos assim?
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Minato e Itachi já pensavam que Kakashi e Naruto haviam sido mortos, ou levados por Madara. Tudo que souberam fora a moto encontrado em meio a um cenário de luta.
Estavam na base médica, onde as mulheres foram levadas por Gaara que explicou a situação desastrosa. Minato já acionara todos para os procurarem, o homem loiro estava uma pilha de nervos insuportável.
Já amanhecia quando eles surgiram do nada, Naruto trazendo o grisalho que resmungava em seus braços e entrou pela janela, seguidos por um homem estranho de cabelo roxo com um sorriso maníaco no rosto. Por um momento todos que estavam na sala ficaram chocados em silêncio.
– Idiota! Não me carregue como se fosse uma noiva! – Kakashi gritou. – E não sabe mesmo usar a porra da porta?
Em resposta Naruto o soltou no chão e o grisalho o xingou até a sua quarta geração.
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Ela dormia na mesma cama da irmã, abraçada a ela de forma protetora, quase sufocante. Entrou de forma silenciosa e notou os olhos claros da pequena fitando o teto entre os braços da irmã mais velha, que ressonava de leve.
Ao vê-lo, Hanabi tirou com esforço os braços da outra ao redor de si e se sentou o encarando. Não sabia qual seria a reação dela ao certo. Afinal, ela sofrera duas tentativas de assassinato seguidas. O loiro sustentou o olhar com cautela enquanto a menina se levantava da cama.
– Está com medo de mim? – perguntou sério.
Ela ainda o olhava. Não entendia o olhar dela, mas a menina negou devagar, caminhou até ele e o abraçou com força, o pegando de surpresa. Sentiu ímpeto de afasta-la, mas não conseguiu. Havia uma parte do outro garoto, o que gostava tanto daquela menina, que impedia isso.
Ela não chorava, ou tinha nenhuma atitude de pânico ou choque, como deveria ter. só o abraçou com a cabeça na sua barriga e murmurou: - Obrigada.
– Criança, eu não sou...
– O Naruto. Não sou burra, já percebi. – ela resmungou o soltando. – Mas Hina gosta de você, é o Naruto dela. Não se preocupe, só deram remédio para ela dormir, ela estava me sufocando já.
Ela o olhou de forma triste: - Por que essas pessoas estão tentando tanto machucar a gente? Eles iam matar você não iam? E atiraram em Sasuke... em mim... eu não... – ela desviou os olhos se afastando e limpando os olhos.
Não era como a criança que via com o outro Naruto. Ela não parecia mais tão... infantil.
– Ninguém vai machucar mais vocês duas, logo isso vai acabar.
Ela assentiu e voltou a olha-lo: - Mas e você? E o Naru?
Não respondeu. Caminhou até a cama onde a outra ressonava, e a pequena o seguiu, ambos sentando no colchão olhando a morena. Ela possuía muitos machucados pequenos, mas ia ficar bem.
– Cuide da sua irmã. – murmurou.
Ela o olhou confusa: - Vai se cuidar também? – perguntou de forma aflita. – Vamos voltar a brincar de novo? Vai ficar com a gente? As coisas vão voltar a ser como antes né?
Ele não desviou os olhos da morena. Podia dizer coisas confortantes agora, mas optou por dizer a verdade.
– Não, Hanabi. Não vão.
Ela absorveu isso com um rosto triste: - Queria voltar uma semana atrás.
Ele não respondeu. Por que não sabia como, ou como se sentia, e por que a morena mais velha abria os olhos e os encarava de cima. Ela parecia atordoada, ainda alerta. Então se deu conta do ambiente, se sentou rapidamente enrolando um braço no pescoço de cada um e os puxando para si com força.
– Hei, Hina! Tá me sufocando! – Hanabi protestou.
– Cala a boca! – a outra falou com a voz embargada. O garoto estava paralisado, quase sem respirar contendo o ímpeto de afasta-la em reação reflexa. A garota beijou a cabeça da irmã menor várias vezes, mesmo sob protestos, e então o beijou, o rosto, a testa, o cabelo loiro e a boca, se demorando mais ali, e isso o fez relaxar. Depois o abraçou, prendendo Hanabi no abraço que parou de protestar.
O garoto sentiu os braços de ambas ao redor de si. Não era ruim, mas naquele momento aquilo doeu de uma forma estranha. Não era uma coisa que podia ter, por mais que quisesse.
Doeu por que sabia que quem deveria estar ali, era Naruto. Aquilo pertencia a ele. E pela primeira vez entendeu por que aquela personalidade tola apagara o passado.
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Os dois números olharam a cena de forma curiosa. O 445 que conheciam, teriam jogado alguém longe ao receber um toque daqueles. Ele nunca parecera ceder a esse tipo de anseio, mesmo quando bem criança. Abraços, demonstrações de carinho, eles não conheciam esse tipo de coisa, não se podia ter esse tipo de coisa.
– Precisamos conversar. – o grisalho murmurou atrás deles, também olhando a cena com uma expressão nostálgica.
Na sala, estavam reunidos Minato, Anko, Tobirama, Shizune, Itachi e agora os três.
A conversa não seria a das mais normais, com certeza.
Ficaram se encarando em silêncio, sem saber por onde conversar, o de cabelo roxo recebendo olhares desconfiados.
E foi justo ele que quebrou o gelo.
– Esse tipo de troço é estranho, 445 abraçando alguém sem a pessoa quebrar o pescoço. Da última vez que tentei isso ele quebrou meu braço. – falou sentando sem cerimônia e mexendo de forma curiosa no abajur.
– Se chama amor. – Shizune falou curiosa com a figura estranha. Quando ela disse isso os dois números trocaram um olhar estranho, e até mesmo Gaara, que nunca trocava a cara de nada franziu a testa.
–É impossível para pessoas como nós. – o ruivo falou.
– Você tem amor tatuada na sua testa. – Kakashi rebateu com zombaria. – Estranho falar isso.
– Na verdade amor nada mais é do que uma resposta corporal, fomos condicionados a não tê-la. Os que a tinham eram considerados armas falhas, e por tanto, deviam ser consertadas. – respondeu sem explicar a tatuagem, mas antes que pudesse rearbodar Kakashi foi interrompido.
– Amizade também é amor, vocês devem amar meu filho, ou não estariam o ajudando. Mesmo sabendo que podem morrer sem a droga.
– Ele me intriga. – o ruivo respondeu sem se alterar, ainda de pé no mesmo canto em que chegara recostado na parede.
– E eu só quero fodê-lo. – o outro falou ainda analisando o abajur, desmontando-o.
– Não devia dizer isso aqui. – Itachi riu e o homem levantou o olhar da tarefa e viu os olhares mortais de Minato e Kakashi com divertimento. Tobirama também bufou algo com uma expressão perigosa e calculista.
– Você falou consertar. – Shizune falou depressa antes que houvesse uma tragédia ali. – Como?
– Não sabemos os detalhes. – o de cabelo roxo deu de ombros soltando o abajur quebrado. – Mas Temari recebeu o "tratamento". Ela quase bateu o recorde de 445 na sala de punição. Não sei o que fizeram com ela, mas a mulher é uma puta pirada, ele mexeram tanto naquela cabeça que deu pane. – ele falou e deu um sorriso. – Ela faz 445, eu e Gaara parecermos anjinhos.
Todos se calaram com isso por alguns instantes.
– Ninguém pode dar as costas a ela. – o outro continuou, como se não falasse nada. – Principalmente 445, na verdade.
– Por que principalmente meu filho? – Minato perguntou intrigado.
– Porque o defeito de comportamento dela era referente a ele. – foi Gaara que respondeu.
– Ela queria pegar ele também. –Hidan sentenciou.
Minato deu um longo suspiro: - E eu falei para Kushina que menina daria trabalho, engulo minha língua.
– Todo mundo quer pegar seu filho. – Anko deu um sorriso que muito se parecia com o de Hidan. – Se quiser, a gente explode eles.
– Sem explosões aqui. – Itachi retrucou. – Primeiro, saber o que aconteceu.
– Três sementes do mal me atacaram, Naruto chegou com seu jeito maníaco e matou todo mundo, mas foi envenenado. O tarado chegou e ficamos presos no motel até que o garoto acordasse. O tarado é o número dois, tem a boca suja e uma perversão por Naruto, mas diz ele que está do nosso lado.
– Do lado dele. – o outro rebateu com um olhar frio e se levantou se esticando. – Bom, Gaara, me chamem quando o negócio ficar bom. Decidi ser a fada azul.
Os outros os olharam confusos. O ruivo não respondeu mas quando o outro se encaminhava para a saída ele estava parado na sua frente antes que os outros percebessem.
– Se trai-lo, vou matar você. – falou sem emoção alguma.
O outro sorriu e sumiu sem responder. Por um momento todos olhavam o ruivo, mas antes que tivessem oportunidade de perguntar qualquer coisa, ele também saltou pela janela deixando todos no vácuo.
– Naruto tem uns amigos legais. – Kakashi falou com um suspiro e então encarou Itachi com raiva. – Precisamos conversar Uchiha.
– Sem drama. – o outro revirou os olhos. – Vou ver Sasuke, venha despejar suas lágrimas de abandono.
– Idiota, desgraçado. – o outro praguejou, mas o seguiu.
– E eu vou ver meu filho antes que ele suma de novo. Da última vez que eu o vi ele quase arrancou minha cabeça. Coisas de adolescentes.
– Vou dar apoio, caso ele tente de novo. – Tobirama falou entediado.
Shizune, e Anko, as últimas na sala se encararam em silêncio. Foi a morena de cabelo roxo que falou, afiando uma de suas facas: - Shizune né? Você é psicóloga. Quero te contar, ando tendo uns sonhos estranhos, acho que tem algo com minha infância, minha mãe era uma mulher muito ausente, meu pai gostava de explodir as coisas, então quando eu tinha cinco anos eu...
Ela falou sem parar durante quatro horas, brincando de alvo com os quadros da sala.
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