Raposa sangrenta
12 anos atrás
– Tio Madara!
O moreno se virou quando ouviu a voz infantil nos corredores da universidade a caminho do laboratório. Um sorriso involuntário se abriu em seus lábios, sempre sérios, ao ver a coisinha loira correndo em sua direção com um sorriso brilhante. O rodou nos braços e colocou no colo enquanto o garotinho ria muito.
– Oi garotão. – puxou o garoto para longe nos braços para ver seu rosto. Os olhos muito azuis brilhantes e perspicazes. – Próxima semana alguém faz três anos?
–Quatro! – o menino fez um bico. – Não sou um bebê.
O homem riu.
–Hei, Menma, não perturbe seu tio Madara. – Um homem loiro, a cópia adulta do menor vinha andando com um sorriso sereno nos lábios, colado no braço de uma mulher linda e ruiva, que tinha um sorriso tão igual a criança que se debateu e se soltou correndo para o pai com os braços estendidos, e sendo prontamente atendido.
–Minato! – O homem sorriu. – É uma surpresa vê-lo aqui. Não estava de férias?
– Só dei uma passada para uma visita e pegar uns documentos. – o homem falou depositando um beijo estralado no filho e o colocando no chão com a mãe. Os dois homens adultos deram um breve abraço.
– Kushina, linda como sempre.
– Olá. Madara. – a mulher sorriu lhe dando um beijo no rosto. – Hei, Menma, volte aqui!
Ela correu irada atrás do menino que já havia fugido. Sempre com a mesma personalidade forte, Madara se surpreendia em como ela e Minato puderam ficar juntos.
–Vamos tomar um café, Madara, preciso conversar mesmo com você.
Os homens se sentaram nas poltrona confortáveis da reitoria. Madara havia assumido há um ano esse posto e o de chefe do laboratório de pesquisa ao lado de Minato, apesar do loiro ser tão jovem. Estendeu o café que o outro aceitou de prontidão.
–Ele está crescendo. Como vai o aprendizado?
–Acelerado, como sempre. – Minato sorriu.
–Tem que começar a estimulá-lo a sério, Minato. Há alguns programas que trabalham com isso, com 15 anos ele já pode começar a lecionar na universidade.
O loiro riu alto: -Vamos com calma. Prefiro que ele tenha uma infância normal não pule as etapas. Ele tem uma cabeça boa, mas é uma criança.
– Um desperdício. – Madara resmungou. – Adoraria fazer uns testes com ele, alguns amigos ficaram bem interessados no caso. Seu filho é um prodígio.
Minato sorriu e suspirou: - Se ele deixar de quebrar a casa inteira e ficar quieto um pouco já fico mais tranquilo. É só uma criança.
Madara não retorquiu mais, mas colocou uma cara fechada. Não entendia Minato e seu pensamento tão simples e pequeno as vezes.
–Mas o que queria falar comigo?
Minato colocou o café na mesa e suspirou. Seu sorriso apagou, o que deixou o moreno curioso.
– É em relação aos roedores. A droga apresentou falhas a longo prazo. – o rosto do moreno se fechou.
–Você disse que estavam indo bem. Estamos há dois anos nisso, e os resultados foram surpreendentes. A percepção aumentou, a força, a rapidez, audição. Já havíamos falado sobre isso, e feito o pedido para testes em primatas...
O homem o parou com um gesto.
–Inviável, Madara. Temos que cancelar até descobrir a falha na formula. Os ratos apresentaram forte dependência, os efeitos caem com rapidez e há aumento do metabolismo, criando toxinas perigosas. Eles se envenenam aos poucos com os produtos do metabolismo que não conseguem ser processados no fígado. Se não recebem outra dose que cancele os efeitos, a crise de abstinência produz febre, sangramentos e morte. Não podemos continuar com os testes até descobrir o que causa isso.
–E o teste em humanos? – o homem perguntou sem emoção.
– Está brincando? Não me ouviu? Serão anos para que comecemos esse tipo de teste, se conseguirmos descobrir essas falhas e corrigi-las, se não, iremos abandonar o projeto e começamos outro. É um risco muito grande.
Madara ficou calado, fervendo por dentro: -Você é covarde Minato.
O outro o encarou surpreso enquanto o moreno falou calmamente: - Essa falha será corrigida. Os efeitos são superiores a esses detalhes. Os testes com humanos estão se saindo com perfeição.
O loiro abriu a boca e se levantou depressa: - Você não fez isso...
Madara sorriu: -Alguém teria que dar o próximo passo. Os orfanatos estão cheios de produtos para nós. Só tive que movimentar as peças certas.
O soco veio sem aviso. Madara foi jogado no chão com força pego de surpresa: - Estou fora, o comitê de ética vai saber disso, seu canalha!
Madara se ergueu com um gemido rindo: - Ninguém sai disso assim.
– Tenho certeza que Fugaku e Hiashi também...
–Eles sabem. – o homem se divertiu com o rosto horrorizado do outro. – Você é o único tolo aqui, Minato.
Minato o pegou pela gola deu um novo soco forte. Logo começaram a brigar, quebrando coisas pela sala. Por fim Minato o soltou com força: - Você vai ser preso, acabou tudo. Madara.
– Tente, não tem provas contra mim além da sua palavra. – o homem gemeu cuspindo sangue no chão. – E tenho certeza que ama sua linda família.
Minato abriu mais os olhos: -Não ouse.
– Então não bata de frente comigo. Sua linda esposa, sua adorável criança...
Minato ia partir para cima do homem novamente mais foi seguro por dois seguranças que entravam e o arrastaram para prova aos gritos.
O moreno estapeou uma mão que tentou ajuda-lo e mandou todos para fora, irado. Sentou em seu gabinete sentido cada parte do corpo doer. Nunca vencera uma briga contra Minato fisicamente. Sempre vencera com a cabeça. Minato não ousaria se mexer, sabendo que o alvo estava sobre a cabeça da família.
Ele amava Minato. Provavelmente, era a única pessoa que amou. Seu pequeno irmão de coração, mas não o deixaria atrapalhar sua subida. Se ele se metesse em seu caminho, seria esmagado.
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Passou as mãos nos cabelos loiros, frustrado. Haviam o demitido da faculdade, perderia seu laboratório, e suas acusações foram totalmente esmagadas.
Madara era poderoso, mas não indestrutível, tinha que haver uma maneira. Todos os outros se acovardaram. Era como lutar contra uma tempestade sozinho. Correu as mãos sobre a bancada quebrando tubos de ensaio no processo e esmurrando o balcão em desespero.
Cobaias humanas. Como eles podiam concordar com aquilo? A droga era perigosa! Caiu na cadeira e recostou a cabeça no balcão metálico, a culpa era sua, metade da formula fora construída por ele. Pensou que seria um passo para uma cura milagrosa. Um sistema imunológico poderoso, cicatrização forte, aumento da percepção. Ele queria ajudar, e acabou metido no meio do lixo. Era tão pecador como os outros. As crianças usadas eram tão vítimas dele como de Madara.
O moreno lhe dera um ultimato para entregar a papelada com sua formula para ele para a descoberta das falhas. Ultimato que incluía ameaças. Nunca pensou que chegariam a isso, sempre foram a família um do outro. Minato fora criado pelos pais de Madara desde criança, eles se protegiam. Como puderam chegar até o ponto de tentarem se destruir? O que acontecera com Madara para fazer aquela loucura?
Esmurrou mais algumas vezes a mesa, abriu os olhos cansados. Não iria ter participação nisso. Embora não pudesse lutar contra Madara diretamente, não ia facilitar as coisas. Caminhou até o cofre do laboratório e tirou os papéis tão meticulosamente guardados. Uma pesquisa de quase uma vida inteira.
Incinerou tudo, folha por folha.
Depois quebrou cada frasco, até não restar nada mais do que cacos pelo chão. Como se sentia por dentro.
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Era uma casa pequena e confortável, um pouco isolada. Minato sempre gostara de tranquilidade, desde criança. Madara ria ao lembrar da criança loira se perdendo na mansão enorme de seus pais. Ali tinha um ar de amor e aconchego. O viu sair de casa, dando beijos nada castos na esposa e apertando a criança loira que se esperneava para sair da babação. Madara sempre quisera uma família assim, mas teve que escolher entre isso, e a vida que levava, o sucesso, o status... Sempre foi mais atrativo do que um calor ao chegar em casa. Mas as vezes pensava em como seria ser recebido por sorrisos e abraços em sua mansão gelada. Só as vezes.
O loiro saia. Sempre com o mesmo andar sereno, desde criança, o mesmo andar altivo e tranquilo. Ficou admirando o irmão se afastando, sempre tão bonito. Houve uma época que ele morreria e mataria por Minato...
Esperou, ouvindo ao longe as vozes dentro da casa, as risadas. Pegou a arma e saiu do carro ajeitando o paletó e as luvas. Caminhou tranquilo e bateu. Ouviu uma música clássica tocando. Claro, os discos de Kushina. A mulher tocava tudo, com maestria, e a casa era sempre cheia de música, lembrava de todos os almoços ali nos fins de semana. Sentiu um cheiro de café quando ela abriu a porta surpresa, e depois sorriu.
Ele não havia contado a ela. Claro, nunca a preocuparia. Minato sempre levou o peso do mundo nas costas sozinho.
–Madara! Que prazer, mas Minato acabou de sair, eu sinto muito...
–Eu vim ver vocês na verdade, uma visita rápida, estava aqui por perto.
Ela deu espaço para que entrasse, ainda sorrindo.
–Onde está Menma? – perguntou olhando ao redor da casa já tão conhecida, procurando o furacão loiro vir correndo e se jogar nele. Kushina seguiu para o cozinha com ele atrás.
– Brincando de esconde-esconde comigo. Finjo que não sei onde ele se esconde toda vida. – ela gargalhou. – Vou passar nosso café.
Madara sentou na cadeira da cozinha vendo a ruiva se mexer no fogão e galpão conversando com alegria. Sempre foram próximos, a conversa fluía bem. Na verdade, houve uma época, quando a viu pela primeira vez que acreditou estar apaixonado. Mas nunca tocaria na mulher que Minato amava.
Tomaram café juntos, e quando ela se levantou para pegar as xicaras, soube que não podia adiar mais. Quando a ruiva se virou, encontrou o cano da arma. Seus olhos se abriram surpresos.
–Lamento Kushina. – O disparo foi direto no peito. Ela caiu se segurando na mesa, levando a toalha ao chão. Se agachou e encontrou seus olhos confusos.
–Menma... Não...
Madara passou os dedos no rosto, e deu o segundo tiro.
Não demorou a ouvir os passos leves na escada. Foi para de trás do galpão e esperou. Os passos estavam mais rápidos.
–Mamãe? Que barulho foi esse?
A voz infantil lhe tomou. Odiava estar fazendo isso. Um desperdício de genialidade. Minato o obrigara a tanto, a tal ponto...
Viu a cabeça loira, que não o viu. Estava descalço, carregando o ursinho que o próprio Madara lhe dera há alguns anos, uma raposa que ele não largava nunca. O garoto correu os olhos por todo o local e percebeu quando a viu. O corpo parou, os olhos azuis se abriram muito e ele correu para a mulher.
–Mamãe? Por que está dormindo no chão? – a voz morreu aos poucos, notara o sangue. Ouviu um arfar forte. Não prolongaria aquilo.
O fez notar sua presença. Viu o garotinho sentado no chão ao lado da mulher, a sacudindo.
–Menma?
Os olhos azuis o fitaram assustados, cheios de lágrimas. E ele correu para ele e se jogou nos braços chorando.
–Ajuda ela. – a voz pediu chorosa em seu ouvido. O colocou no chão com dificuldade, se agarrava a ele. Se agachou e limpou o rosto molhado com os dedos enluvados. Os olhos muito azuis o olhavam confusos, assustados. Tão parecido com Minato.
–Vai ficar tudo bem, Menma. Não chore.
As mãos no rosto infantil desceram devagar, rodeando o pescoço delicado. Seria rápido, o mais rápido possível, os olhos azuis o olhavam sem perceber sua intenção, apenas chorando. Madara tremeu e abaixou as mãos. Deu um suspiro e acariciou a cabeça loira que limpava o rosto com a mão, sem parar de soluçar. O puxou para seu colo com cuidado, prendeu a cabeça pequena em seu peito. Ele tremia todo o tempo em seu abraço enquanto era levado para fora da casa, deixando o corpo de Kushina no chão.
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Minato estava arrumando suas coisas, encaixotando o que restara no laboratório vendido. Já conseguira um novo emprego, apesar da reputação destruída por Madara. Um antigo amigo dos pais biológicos, Tobirama, estendera a mão e prometera ajuda-lo, inclusive contra Madara.
Alguém bateu na porta, entregando uma encomenda. Pegou a caixa de papelão simples, confuso vendo o entregador partir. Fechou a porta e sacudiu, velha mania.
Cortou a fita e abriu. Ao ver o conteúdo sentiu seu mundo se destruir naquele instante, as pernas falharam, caiu de joelhos.
Era um ursinho de pelúcia, uma raposa tão conhecida.
Coberta de sangue.
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Foi jogado no chão com força e gemeu apertando os olhos. Algo estava quebrado, não conseguia identificar onde. Quando abriu ele pairava sobre ele com um sorriso de serenidade. Não desviou o olhar, não daria esse gosto. Ouviu os passos dos outros saindo da sala sem nada dizer.
O homem se agachou a seu lado, enquanto estava jogado de lado no chão de madeira. As cordas muito bem presas cortavam o fluxo sanguíneo dos pulsos de tão apertadas. Totalmente imobilizado, e mesmo que não estivesse, não conseguiria se mover. Era o último estágio da abstinência, era sempre nessa que era pego, com a fraqueza extrema, o próximo seria o coma e em seguida a morte.
O homem ainda o encarava com um sorriso, como se o houvesse pego em uma travessura.
– Você deu um grande trabalho dessa vez. É mesmo um suicida.
Olho no olho, negro no azul. Serenidade e frieza.
– Como estava meu velho amigo Minato? Passaram bons momentos juntos? Eu soube que ficaram bem próximos nas últimas semanas da sua pequena fuga. – Acariciou o rosto do caído – Eu queria que ele morresse vendo seus olhos. A morte pelas mãos da pessoa que se ama. O amor é a maior fraqueza e ruína dos humanos, 445. Essa foi a humanidade que tanto quis?
Sentiu as mãos removendo a mordaça. O homem passou o pano devagar em seu rosto limpando o sangue que saia de seu nariz e descia por sua boca lentamente.
– O que ele está planejando? O que ele tem em mente e contra mim? Como estava ajudando ele? Não vai falar?
Puxou o cabelo loiro para levantar o rosto para mais perto. Os olhos do garoto estavam frios. O rosto do homem perdeu a máscara de serenidade e se crispou de raiva. Agarrou o queixo do garoto com força o encarando bem de perto, nariz em nariz: - Se acha muito esperto. Tudo que viveu até agora não é nada comparado ao que espera você. Vou aproveitar cada segundo, fazer você pedir para morrer.
O rosto do loiro se contorceu em um pequeno sorriso: - Boa sorte.
Caiu no chão com força novamente e gemeu. A perna voou para seu rosto e tudo escureceu.
Abriu os olhos com água quente descendo sobre suas costas causando um relaxamento quase imediato dos músculos doloridos. Naruto recostou a testa no ladrilho da parede do banheiro enquanto o chuveiro castigava seu corpo. Estava se sentindo tão cansado, que dormia em qualquer lugar. Há cinco dias Hinata havia contado a história dos dois, e desde então não dormia mais que duas horas por noite sem acordar com os próprios gritos. Por fim, evitou o sono por completo.
Não falava mais com Shizune, não queria mais lembrar de nada. Mas sua mente não concordava, e os pesadelos triplicaram de uma hora para outra, assim que fechava os olhos. Não lembrava de todos ao despertar, mas o pavor permanecia palpável.
Estava confuso. Com Hinata, com toda aquela história, com a voz em sua cabeça que não o deixava em paz. Parecia uma bomba prestes a explodir.
Fechou os olhos, quase resvalando para o sono de novo.
Gritos...
Cheiro de café e música no ar.
Tiro...
Sangue...
Passos...
Abriu os olhos tremendo apesar da água quente e esmurrou a parede quebrando um dos ladrilhos.
Quanto tempo vai ficar fugindo da verdade?
Fechou os olhos com força e apertou os punhos na parede. Estava exausto com tudo isso.
Fugindo da garota, fugindo de você mesmo. É um covarde completo.
Foi quando olhou para baixo que notou o redemoinho rosa no ralo do piso branco. Sangue misturado com a água. Procurou um corte na mão com o soco, mas não havia nada. Continuava pingando. Fungou assustado e passou a mão no rosto. Era seu nariz que sangrava
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