Peão de sacrifício
O homem tinha o mesmo semblante arrogante do filho mais novo, o loiro não tinha como não pensar assim. Então, aquele era Fugaku Uchiha?
– O que quer de mim? – O homem perguntou a ele, lhe olhando com olhos derrotados.
Ele queria muitas coisas. Há algum tempo atrás, o torturaria devagar, o mataria. Mas estranhamente, e não só pelo plano, se sentiria estranho, ele sendo tão parecido com os irmãos Uchiha. Aquele pensamento o incomodou e o baniu da mente. Seu lado tolo o estava influenciando demais ainda.
Além de tudo precisava de Fugaku Uchiha. Refinara o plano criado em meio a dor, enquanto sofria nas mãos de Madara, tudo o que pensava é que teria que destruí-lo de forma dolorosa. Lhe tirar tudo: controle, poder, sanidade.
Foi pelo último ato de humilhação, de tentativa de submete-lo. Na covardia em si.
Ele odiava Madara ao ponto de não se importar nenhum pouco se morreria ou não, contanto que conseguisse faze-lo sofrer.
E precisava, no momento, de Fugaku Uchiha para conseguir isso. O encarou, ali, um dos responsáveis por aquilo que corria em suas veias em seu sangue. Sou força, sua fraqueza. O ópio e o veneno.
– Redima-se.
O homem tremeu os olhos negros, desviou o rosto, e quando o ergueu, havia um fogo surpreendente ali, que o deixou curioso.
– Eu faço qualquer coisa, se envolver destruir Madara.
O loiro sorriu com isso e sentou à sua frente, pegando um globo de vidro e rodando nas mãos.
– Por partes. Você tem documentos que o incriminam, como todos os outros. Estou errado?
– Como sabe deles? – o homem o perguntou, confuso.
– Minato está os reunindo. Sim, desfaça a cara incrédula, o homem está vivo. E seu amigo, Inoichi, me falou deles quando fui enviado para mata-lo. – Fugaku arregalou os olhos e o garoto quase riu. – Eu não o matei, Uchiha. Não sigo ordens de ninguém. Ele me entregou seus papéis. Lhe dei chances de fugir com a família, infelizmente ele foi pego por outros como eu no caminho. E claro que paguei por mais essa travessura, mas escondi as provas antes disso. Ele me contou que todos tinham suas partes da formula, e cartas e toda a documentação para destruir Madara, planejavam junta-las e denuncia-lo, e por isso ele começou a mata-los. Hyuuga as entregou a filha, antes de morrer, sua parte, e amostras da droga que tinha em seu poder, para usa-las como provas.
O homem não respondeu e o garoto sorriu de canto.
– Como posso saber se você não trabalha para ele e só quer esses papéis?
– Astucioso, como Itachi. – falou ainda sorrindo. – Não tem como saber. Mas...
O garoto se levantou e levantou, para espanto do homem, sua blusa escura revelando o corpo repleto de marcas: - A maioria cicatrizou por conta a droga, essas foram muito profundas. – se cobriu e voltou a sentar. – Ele me roubou do meu pai, matou minha mãe, me torturou de todas as formas, me usou como cobaia, tentou me induzir a matar Minato, abusou de mim, e por fim aplicou a nova droga que VOCÊ o ajudou a criar e me jogou em um galpão abandonado para morrer.
O homem abaixou o olhar: - Ele a usou, realmente...Isso é... Eu sinto muito. Mas... – ele voltou a olha-lo. – Como não está morto?
Deu de ombros: - Talvez eu quisesse tanto mata-lo, sou teimoso demais para morrer sem fazer o que quero. E o que quero, Fugaku Uchiha, é destruir Madara. Quero seus papeis para incrimina-lo, e quero a formula da nova droga, preciso dela para o que vou fazer. E quero que me ajude a reproduzi-la em um novo veículo, nos meus termos. E quero os mapas dos laboratórios, as bases que souber que existem.
O homem sorriu, para sua surpresa: - Vai destruí-lo, realmente?
– Sim.
Fugaku balançou a cabeça.
– Tenho algo melhor então. Tenho a droga comigo. Não sei onde ficam todas as bases de Madara, ele nunca diria essa informação a mim, mas posso lhe mostrar algumas que eu conheço, você precisa de alguém de dentro para lhe dar os mapas. E isso, talvez eu consiga, com sorte ainda tenho pessoas lá dentro que o odeiam tanto como eu, afinal, a maioria das pessoas que trabalha para ele lá dentro estão sob ameaça. – o homem encarou o garoto. – Afinal, Menma Uzumaki Namikaze, eu lhe devo.
O loiro assentiu e sorriu de canto: - Então, Fugaku Uchiha, você vai entrar no jogo.
– Porém... – o homem se levantou e suspirou. – tenho que proteger minha família primeiro, eles não podem ser atingidos pelos meus pecados.
– Eu já pensei nisso, para sua sorte.
Isso atraiu o olhar do homem de volta. Havia um ar astucioso no garoto que o intrigou. Ali, sentado, com o globo entre os dedos ele pareceu só uma criança travessa. Se não fosse aqueles olhos vazios, provavelmente disfarçando tanta dor que não podia acreditar.
– E?
– E – o garoto se ergueu e aproximou seu rosto do dele. – Quero saber se ama sua família acima da sua própria vida.
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O loiro olhava pensativo para a cidade abaixo de si. Era um dos prédios mais altos da cidade, central, onde podia ver o sol se pondo em meio a bagunça de carros. Quando a noite caísse, chegaria a hora da verdade, tudo poderia acontecer. No outro dia, nesse mesmo horário, provavelmente tudo estaria acabado, de uma maneira ou de outra.
E de uma maneira ou de outra, provavelmente não estaria vivo.
Madara vencendo, ou ele vencendo. E era bem melhor assim.
Um e Dois surgiram no telhado a suas costas de maneira silenciosa, o olhando perdido em pensamentos sem nada dizer por longos minutos. Mesmo que sobrevivessem a essa noite, não viveriam muito tempo sem a droga. E mesmo que Minato a terminasse, os dois, no fundo, estavam decididos a deixar as coisas seguirem o rumo natural, ao invés de passar o resto da vida dependentes aquilo.
Já estava mesmo na hora de se livrar daquele fardo. Não comentaram nada entre si, mas no fundo os três sabiam das decisões uns dos outros. Se conheciam a bastante tempo. Já haviam lutado juntos, e contra uns aos outros.
– Entregou os papéis? – o ruivo perguntou e o loiro assentiu ainda olhando o sol. Naquele momento, os três pareciam quase irreais ali.
O loiro virou devagar para os dois números: - Ele não pode entregar diretamente, já se envolveu em muitas coisas ilegais para se vingar de Madara, mas sei que vai dar um jeito. Provavelmente agora já o fez. Os bens serão bloqueados, ele não terá como fugir, nem saberá de onde veio o golpe. E estará muito ocupado para reagir.
– Pretende golpeá-lo de todos os lados. – o de cabelo roxo falou com um de seus sorrisos maníacos.
– Sua reputação, seu controle, sua sanidade, sua vida. – o loiro falou baixo e devagar.
O ruivo continuava encarando o olhar inexpressivo do outro. Ele parecia cansado, como se quisesse acabar logo com isso.
– E a puta pirada? – Hidan perguntou com uma cara de desgosto.
– Ela vai tomar a decisão dela.
– Ela pode trair você.
– Eu sei.
– Não é o culpado pelo o que aconteceu com ela, sabe disso não é?
– Chega Hidan. – o ruivo o interrompeu e o outro lhe lançou um olhar raivoso. O loiro parecia alheio, ainda pensando nas coisas deixadas para trás, talvez.
Ainda assim fechou os olhos por breves instantes: - Vamos lá.
Estendeu a mão e Gaara lhe lançou uma das mochilas escuras que trazia, entregando a outra a Hidan.
– Foram em todas as bases? – o loiro perguntou em tom frio.
– Todas. – o ruivo falou calmo. – Exceto a central e os dois anexos, estão mais fortemente vigiados
Assentiu e abriu a mochila, pegando as esferas pequenas e prateadas entre as mãos. Eram do tamanho de bolinhas de gude, mas ali estava tudo. Estava a morte. A morte de Madara, o fim de tudo aquilo, e provavelmente, a sua também.
Os outros dois acompanharam com o olhar seus gestos. Não olharam suas bolsas, sabiam bem o que havia ali. O loiro deu um suspiro pesado, tossiu cuspindo sangue no chão. Se antes havia demorado, essa segunda abstinência estava rápida demais. A febre era quase constante, sua respiração se tornava difícil. Mas na situação, isso vinha bem a calhar.
– Vou distrai-los para vocês. Sincronizaram os detonadores?
Gaara assentiu.
Então os três se encaram em silêncio. Podiam dizer muita coisa naquele momento, podiam muito bem estar mortos no fim da noite.
Mas apenas se olharam friamente.
– Vamos companheiros, acabar com o Gepeto. – Hidan deu um sorriso maníaco.
Em resposta o loiro sorriu de canto e assentiu. Foi o bastante.
Afinal, já haviam dito tudo.
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Mikoto Uchiha estava sonhando com o marido e os filhos. Era mais uma lembrança do que um sonho, de férias na praia, há muitos anos. Fugaku estava sempre falando com orgulho dos meninos, na época. Do quanto Itachi era um prodígio, e Sasuke estava no mesmo caminho, sempre tentando imitar o irmão mais velho.
Eles haviam se descuidado por meros segundos, e o caçula sumira. Itachi, que havia ficado responsável pelo pequeno se distraíra ao conversar com um amigo, e agora o procurava em pânico. Foram minutos terríveis, em que pensaram o pior, que ele se afogara.
Quando o encontraram, finalmente, ele havia entrado em um dos barcos encalhados e não conseguia sair. Não pedira por ajuda, apenas tentava sair teimosamente, suado. E mesmo quando o acharam ali, recusou a ajuda e continuou até sair sozinho. Sempre teimoso.
– Estou bem, mãe. – resmungara quando ela o abraçou.
Acordou do sonho, e por um breve instante imaginou que ainda estivesse mesmo dormindo. Os olhos do caçula a fitavam deitados na cama. Abertos, finalmente abertos.
Se ergueu da poltrona devagar, imaginando que seria apenas o reflexo de seu desejo por dias.
Mas não era.
Correu e o abraçou com força, e novamente, o mesmo resmungo, agora fraco e rouco: - Estou bem, mãe.
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Itachi havia entregue os documentos a pedido de Minato a Shikamaru, a pessoa mais confiável, que levara a Tsunade Senju.
Naquele momento, todos estavam em polvorosa. Madara Uchiha, um dos homens mais influentes do país, reitor de uma famosa universidade, um benfeitor conhecido. Mas as provas eram irrevogáveis. Logo ele seria intimado, os bens já haviam sido bloqueados para verificações. Sua imagem, estava acabada.
Não sabia como o homem reagiria, mas tinha certeza que não seria de forma limpa.
No meio dos documentos haviam mapas que indicavam supostas bases internacionais, uma na França, outra na Inglaterra, e duas em algum lugar no Oriente Médio. Minato mesmo enviara pessoas suas para verificarem e se já tinha ideia de como era a verificação de Minato, elas estariam em ruinas antes do fim da noite. Ainda mais por que ele mandara Anko para uma delas.
Naruto, quando conversaram na sua casa dias atrás, havia dito que bloquearia seus movimentos de alguma forma, para que ele não pudesse reagir quando esse momento chegasse, quando finalmente tivessem todos os papéis. Na época, ele já devia tê-los e omitira. Não queria pensar na possibilidade de que o loiro estava diretamente envolvido com a morte do pai, afinal, Fugaku havia entregue a papelada ao garoto loiro, antes de jogar o carro em uma mureta e morrer. O quanto Naruto estava envolvido nesse fato?
Não entendia qual era o jogo do garoto, mas ele simplesmente havia sumido, depois do que parecera ter se despedido de todos. Isso, com certeza significava que ele achava que não voltaria. Minato e Kakashi haviam entrado em desespero e estavam loucos a sua procura.
Itachi só conseguia pensar que havia algo que não se encaixava em toda aquela história. Teria Naruto matado Fugaku de alguma forma?
Não parecia algo que ele faria, mas o quanto conhecia o garoto? E pior, o quanto conhecia seu pai também? A morte de Fugaku não fazia o menor sentido no meio daquela história.
E o sumiço do loiro, a seu ver, deixava bem claro sua intenção. Itachi jogara com ele várias vezes, e sabia de forma razoável seu tipo de movimento. Frustrar o adversário, atordoa-lo com armadilhas, fazê-lo pensar que venceria e então dar a reviravolta no último instante, o golpeando de todos os lados e rapidamente o distraindo do real objetivo. E para tanto, usava o peão de sacrifício. Uma peça a ser sacrificada e que o fazia vencer o jogo.
– Naruto, o que está fazendo? – murmurou entrando no quarto onde o irmão estava.
E nesse momento, tudo foi esquecido no turbilhão da sua mente, ao encontra-lo sentado na cama, discutindo com Hanabi enquanto Mikoto ria. Ao vê-lo todos se calaram. Ele ficou paralisado, com a mão ainda na maçaneta encarando o garoto moreno sem acreditar.
– Demorou Itachi. – o irmão mais novo resmungou com um sorriso fechado.
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– Itachi, irmão idiota, sério, está me sufocando. – Sasuke empurrou o outro que recuperou a compostura e largou o mais novo que prendera em um abraço de urso.
– Sasuke...eu...
– Ok, tudo bem. – o outro o impediu de falar com um gesto de mão. – Você me ama, eu sei, sou seu irmão favorito e tudo mais.
– Você é o único irmão dele idiota. – Hanabi retrucou se divertindo com a cena com Mikoto a seu lado extasiada.
– Ninguém perguntou nada a você, projeto de pessoa. – o outro resmungou e então balançou a cabeça. – Chega disso, tenho algo sério a dizer. Vaza, Hanabi.
– Nem pensar. – a menina rebateu, mas diante do olhar do mais novo, sério, Itachi fez sinal para Mikoto que levou a menina sob protestos.
– Então? – perguntou curioso.
– Eu ouvi tudo, esse tempo todo. Ouvi uma conversa do Dobe com o ruivo psicopata.
De todas as coisas, essa era a que menos esperava ouvir.
– Do que está falando?
– Estou falando, que se não o impedirmos, vai acontecer uma merda das grandes com ele.
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Itachi desligou o celular, Kakashi estava a caminho. Falara com Minato há poucos minutos, mas infelizmente estavam a cegas no momento.
Como um baque, algo lhe chamou a atenção. Um detalhe, a sensação que algo faltava naquela história, um grande buraco ali.
Foi então que Itachi lembrou da estranha conversa com Naruto. Colocou a mão no bolso, onde ainda estava o livro de mão de xadrez.
"Foi bom jogar com você, Itachi."
Abriu o livro, folheando e estava ali, justamente na página de sua jogada favorita. Estava rabiscado um número de telefone.
Pegou o celular e discou, depressa.
No segundo toque alguém atendeu.
– Alô?
– Itachi.
A voz o fez cair sentado na cama, atordoado. Respirou algumas vezes, ofegante. De repente um monte de coisas começaram a fazer sentido, se encaixando.
Ele jogara, até o fim.
– Itachi? – a voz falou de novo, vinda, se acreditasse nisso, do mundo dos mortos.
Era Fugaku Uchiha.
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O loiro pulou do telhado do prédio diretamente para o chão no galpão abandonado. Sentiu os cheiros no lugar antes mesmo de sentir o impacto doloroso nas costas.
Sentiu que perdia comando de seu corpo antes mesmo de cair no chão. Conhecia a sensação letárgica, e o enjoo forte que vinha depois. Do escuro veio o golpe forte na lateral de seu corpo e sentiu que algo se partiu ficando sem ar. Seu corpo foi virado, e mesmo no escuro total sabia que olhos escuros o fitavam. Podia vê-los sobre si, podia sentir o cheiro conhecido próximo a seu rosto.
– Alvo capturado.
Era a três.
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