Marionete de madeira
–Nii-san, suas marionetes podem se tornar humanas, como no Pinóquio?
A criança ruiva perguntou brincando com os bonecos de madeira do outro no chão do quarto. Tinha os olhos verdes com uma expressão estranha para uma criança de oito anos, era distante. Fria.
O outro menino mais velho sorriu com a pergunta inocente . Na maior parte do tempo, seu irmão se comportava como o gênio que era, raramente tinha algum momento infantil, exceto quando ouvia atento ele ler para ele, sempre o mesmo livro, o favorito dos dois. Ou quando permitia que ele manipulasse suas marionetes.
– Se você chamar a fada azul, talvez. – Brincou. Mais o outro franziu a testa pensativo e então ficou triste.
– Fadas não existem Nii-san.
– E como você sabe? – o outro perguntou mais sereno, queria tirar a expressão triste do irmãozinho. Era sempre frio e distante, mas com o irmão menor agia diferente. Afinal, só tinham um ao outro.
– Cientificamente, é impossível.
– Besteira! – bufou. – Ciência não explica tudo.
– Papai diz que sim. – o menino falou e então sua expressão caiu mais. – Se fadas existissem... você acha que se elas atenderiam um pedido...hipoteticamente.
– Hipoteticamente? – riu com o uso da palavra do irmão caçula. – Para minhas marionetes falarem?
– Não, para papai gostar de mim.
Ficou surpreso com a pergunta. Queria replicar, dizer que o homem não sabia demonstrar apenas, mas o amava. No entanto, sabia que não era bem verdade, e não mentiria. O pai realmente detestava do irmão menor, desde a morte da mãe deles no nascimento do garoto. Não era algo normal, era doentio. A simples visão da pequena criança ruiva o fazia arder de ódio, e todos sabiam disso.
– Eu gosto de você, não é o suficiente? - perguntou, sincero.
O outro levantou a cabeça surpreso, e então corou e assentiu com um leve sorriso. Tão raro, mas suficiente.
– Vamos ficar juntos sempre? – perguntou o pequeno. – Não vai me abandonar né?
Riu com a pergunta inocente e carente do outro.
– Claro que não, sou seu irmão não sou?
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As lembranças estavam embaralhadas de uma forma dolorosa. Há quanto tempo estivera trancado naquele lugar, recebendo aquela droga nas veias? Toda sua sanidade estava sendo sugada, e só restava um vazio, mas havia aquela lembrança que não queria ir embora. Era uma criança ruiva, de olhos verdes, e uma história de um boneco de madeira.
Seu irmão mais novo, o motivo de estar naquele lugar, pela promessa que havia feito.
– Quem é você? – uma voz prática perguntou em sua mente.
– Sasori. – murmurou.
Nova onda de dor.
Se apegou a quem era. Não havia esquecido, mesmo estando anos naquele lugar, ele não esquecia de nada. Não esquecera de seu pai, e do que ele fizera. Seu pai que havia dado o próprio filho mais novo como cobaia em troca de participar daquela pesquisa. Não esquecera da escolha que fizera, se oferecendo para os testes, para cumprir sua promessa, mesmo que seu irmão não o reconhecesse mais. Mas ele estaria ali, a seu lado. Não esquecera sua promessa, o vigiando do escuro, matando quem lhe ordenassem, mesmo sem gostar. Madara pensara que havia extirpado qualquer sentimento seu, mas ele e 445 tinham isso em comum: eles sabiam quem eles eram.
Mas isso seria por pouco tempo.
– Aumentem a dose.
Sentiu uma nova onda de dor poderosa. Foram dias assim, aos poucos, foi esquecendo quem era, caindo num abismo branco, sem nada. E tudo foi se apagando na sua mente, até mesmo a criança ruiva, até mesmo sua promessa.
Ele não existia mais.
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O estrondo foi espantoso, e logo toda a estrutura ruiu tão facilmente, que se não fosse pela grande nuvem de fumaça branca poderia se duvidar que um dia havia existido. Ouviu-se o barulho das sirenes, e tudo havia se tornado caos.
Tsunade Senju agia frenética, gritando ordens. Por pouco escapara da destruição, mas alguns de seus homens não tiveram a mesma sorte e desapareceram dentro da nuvem destruidora.
– Não há mais nada que possa fazer general, se alguém entrar no que sobrou vai morrer no desabamento.
Mordeu o lábio irada. Pegou o comunicador quando ouviu o barulho da chamada.
– Senju.
– General, aqui é Nara. Estamos evacuando do prédio 3.
– Por quê? – perguntou atordoada.
– Vai explodir em 20 minutos ou menos.
– Como você...
– Acredite, quando um estranho de cabelos vermelhos vem de dentro sujo de sangue carregando uma porção de crianças atordoadas e machucadas e dizendo que vai explodir tudo, é um caso a se pensar.
Ela ouviu incrédula: - Por que cargas d'água você acreditaria em um sujeito desses?
– Apenas confie em mim. Evacue os homens das outras bases nesse meio tempo.
– Não, a menos que você...
Foi interrompida pelo barulho de uma voz conhecida do outro lado. Shikamaru entregou o comunicador a outra pessoa.
Ela quase não acreditou na voz que ouviu.
– Uchiha falando.
– ONDE DIABOS VOCÊ E O HATAKE ESTAVAM METIDOS?!
– Longa história, apenas confie em nós General Senju, evacue os homens.
Mordeu o lábio e suspirou irritada. Seus homens mais inteligentes estavam falando.
– Ok. Mas depois quero uma boa explicação.
– Terá.
Ele desligou em seguida. A loira olhou longamente para o aparelho e começou a dar as ordens.
Seus homens podiam ser barulhentos, indiscretos e ter maneiras incomuns de realizar o trabalho. Mas ela reconhecia quando eles sabiam o que estavam fazendo.
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Kakashi parou a moto e tirou o capacete olhando em direção a explosão. Fez uma prece interna para que não fosse aquele o prédio onde Naruto estava. Tinham uma chance em cinco, segundo o mapa de Fugaku, Madara poderia estar em qualquer base de suas vinte e seis, mas se sua obsessão pelo garoto falasse mais alto, ele se manteria perto, na cidade, que haviam cinco. Uma delas havia acabado de explodir. Outra estava vazia, e uma terceira havia sido invadida por Minato há alguns minutos, e não havia rastro do garoto por lá, ou de Madara. E em minutos, tudo iria pelos ares.
Balançou a cabeça e colocou o capacete. Resgataria Naruto e o arrastaria consigo, nem que fosse a força. Não o deixaria morrer, se destruir. Era uma promessa.
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– Sabe, você deveria ter cuidado em quem confia. – começou alisando o cabelo loiro enquanto estava sentado no chão da cela com o outro desacordado em seus braços como uma criança pequena. – Eu entendo sua mente bem melhor do que imagina. Sei bem que toda essa bagunça é coisa sua, que a esse momento, um e dois devem estar nas bases plantando o caos... Mas eles vão morrer, Menma. Tenho surpresas para eles, e isso você não pensou não é? Ninguém que invade uma base minha sai vivo, mesmo sendo os melhores, eles só vão sair se eu permitir você entende? Você é a melhor arma, um o melhor assassino, dois o melhor espião. Mas não são os melhores monstros. – riu. – Não se preocupe. É melhor assim não é? Vamos recomeçar do nada, tudo isso, em outro lugar. Somos iguais no fim das contas. Usamos as pessoas, jogamos com elas. Vivemos como se tudo não passasse de um tabuleiro, e o outros fossem peças. No fim, tudo se tratou desse momento. Não era isso que sempre pensou? Você queria me destruir acima de tudo, não importando quem levasse junto no buraco negro?
Riu da própria piada.
– Nós traímos e somos traídos. Nós somos iguais.
– Não são não.
Ergueu o rosto confuso e se deparou com três parada na porta o olhando friamente. As roupas dela estavam sujas de sangue e ela tinha um ferimento no braço. Mas ainda assim sorriu de lado.
Não teve tempo de mais nada. Sentiu uma mão em sua garganta e foi jogado contra a parede com força descomunal. Fechou os olhos com o impacto e quando abriu encontrou dois olhos azuis e um sorriso cínico nos lábios.
– Você também deveria ter cuidado em quem confia, Madara Uchiha.
Tossiu sem ar quando se corpo foi erguido pela mão em seu pescoço.
Entendeu tudo. Olhou para a loira que o encarava da porta, sorrindo de modo sádico.
– Mal...di...ta...
Ela riu alto e se aproximou devagar.
– Quero brincar um pouco com ele. – falou sem parar de sorrir.
O garoto não fez qualquer expressão identificável. O largou no chão e ele tossiu por ar.
– Guardas!
Recebeu um chute na barriga forte dela.
– Não, não. Mortos seu bobo. Somos só nós três nessa longa ala. – ela falou animada. – Posso? – ela olhou para o loiro de uma maneira infantil.
– Sabe que me machucou de verdade não foi? – ele falou com desgosto.
– Você merecia. – ela rebateu colocando os pés sobre Madara - Me pediu para trazê-lo para dentro da base, foi o que fiz. Só tornei sua captura real, você não sabe mentir mesmo.
– Sádica. – o garoto murmurou pegando a bolsa que ela lhe estendia.
– Estamos quites, você merecia aquilo, repito. Mas agora... – Ela olhou para Madara e se agachou encarando o homem ainda atordoado. – Me deixe brincar um pouco.
Ela se agachou perto do homem e o obrigou a olhá-la enquanto sorria docemente. Diante de seus olhos, sacou uma seringa com rapidez do bolso e aplicou na jugular do homem que gritou.
– Isso, foi a droga com que me torturou lembra? – ela perguntou enquanto o outro a olhava, suas pupilas dilataram e ele tremeu. – Transforma seus piores pesadelos em realidade, trás de volta suas piores dores, multiplicadas. Esse é meu presente. Aproveite.
O homem gritou alto arqueando o corpo no chão. Em um minuto, uma baba espumosa saia por sua boca e ele se contorcia em convulsões e gritos em um pesadelo desconhecido.
O loiro olhou o relógio 15 minutos, 20 segundos antes de tudo terminar. Ele, em outros tempos, poderia estar lá, o torturando, queria fazer isso, no fundo. Mas apenas observou parado.
Estava cansado demais de tudo aquilo.
Só queria que toda aquela história terminasse e ficasse logo em paz.
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– Não está aqui também! – Minato gritou socando a parede em desespero.
– Calma, Namikaze... – Anko tentou tocar seu ombro mais foi repelida.
– Meu filho vai morrer se não o encontrarmos, como posso ficar calmo? Me responda!
– Se perder o controle, não vai ajudar em nada idiota! – a mulher respondeu sem paciência.
O loiro ainda tremendo balançou a cabeça e respirou várias vezes antes de se acalmar. Tinham que encontrar Menma logo. Dera a cada um do grupo que o procurava uma dose do soro, não havia terminado, não sabia se funcionaria bem, mas se o garoto fosse atingido pelo gás que fizera, aquilo poderia ser a única chance de ser salvo, a contra-formula. Se desse errado, ele morreria.
– Droga! – gritou ao pensar nisso. Estava em um labirinto. – Eu posso acabar matando-o.
– Primeiro se preocupe em achá-lo. – a morena falou batendo em suas costas. – Ele não vai morrer, é seu filho e amigo do grisalho estressado, parece com os dois, não vai morrer fácil assim.
Minato suspirou e assentiu. Então levantou o olhar para a base destruída ao seu redor. Havia conseguido resgatar cinco adolescentes apenas, a maioria havia lutado até a morte contra eles. Não possuíam autonomia, ou pensavam por si mesmos, apenas atacavam, como animais adestrados. Só pararam quando foram mortos, depois de várias baixas entre o pessoal do loiro. Seus olhos caíram em um garoto, devia ter uns 15 anos, no máximo. Estava de olhos abertos e estáticos, com a mesma expressão vazia que tivera em vida, e o encarava na morte. Minato podia bem ver o filho ali, naqueles olhos. E não podia não pensar que a culpa daquilo era sua também.
– Vamos sair daqui, Anko. – pediu baixo.
Assim fizeram, deixando corpos para trás.
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– Chega, Temari. – o loiro a afastou do moreno com força. – Não temos tempo para isso.
– Não é o bastante! – a loira gritou o empurrando, mas o loiro a segurou com força e ela soltou Madara.
Suspirou e viu o corpo machucado do outro no chão. Ele havia desmaiado há alguns minutos. Esperava por aquilo ha muito tempo, mas não conseguia sentir o prazer que imaginou.
– Vamos acabar logo com isso. Liberte as cobaias das celas, tenho o mapa, depois os leve para fora e afaste-se do local. Em sete minutos, tudo isso vai explodir e a entrada para o subterrâneo vai fechar, então não perca tempo.
– E você?
– Vou ter certeza que todos que trabalharam nessa droga não possam mais fazer algo do tipo. – falou de forma evasiva.
– Tem algo haver com o gás na sua bolsa, 445? – ela perguntou mais séria, menos instável. Tão parecida como era antigamente que o loiro se espantou. – Não me contou todo o plano, contou?
– Contei o que devia saber. Agora vá! Eu cuido de Madara e do resto.
Ela ia falar algo, mas não teve tempo o suficiente para tanto. As sirenes começaram a dar o alarme por todo o lugar e ouviram um estrondo tremendo e um tremor que os jogou no chão. Foi uma grande explosão, o chão cedeu sobre seus pés e eles foram sugados para baixo rapidamente.
O loiro acordou em meio a fumaça branca dos escombros. Gaara explodira fora da hora? Não, havia sido outra coisa, as sirenes... Alguém invadira a base. Tentou se mover, empurrando o pedaço grande de escombro sobre suas pernas. A dor foi angustiante. Sua capacidade de cura diminuíra, mesmo que ainda estivesse bem acima do normal, mesmo para os experimentos. Só esperava não ter danificado nada internamente.
Procurou ao redor, não via Temari, ou Madara. Mancou alguns passos, e quando viu que não estava sozinho era tarde demais. Desviou apenas o suficiente para a lamina não atravessar seu coração, mas ela passou por seu corpo penetrando profundamente e parando em suas costas. Por entre as luzes piscantes e o barulho de gritos e alarmes ele abriu bem os olhos, ainda em choque e viu os olhos castanhos frios, vazios no rosto tão sem vida que parecia de um brinquedo desenhado.
– Sa...so...ri.
Tinha que ser ele? Um dos que não queria lutar, que não queria matar. Não podia fazer isso, não podia mata-lo. Não Sasori.
Não o irmão de Gaara.
Não teve tempo de pensar direito nisso. A lamina foi puxada de seu corpo de uma vez e seu sangue começou a sujar o chão em uma rapidez preocupante.
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Gaara se irritou com a estupidez daquelas pessoas. Havia acabado de entrar no prédio quando a estrutura explodiu, e só tivera tempo de retirar a mulher louca dos explosivos. Ela jogara um explosivo em direção aos guardas que atacavam quando eles invadiram, ao que parecia, mas ignorara que haviam bombas que Temari provavelmente armara por todo o lugar, e uma delas foi atingida gerando uma reação em cadeia que quase levara o prédio inteiro 7 minutos antes do combinado. Só esperava que aquela estupidez não houvesse matado 445.
– Anko! Eu avisei que poderia haver explosivos! – o loiro progenitor de 445 gritou com ela assim que o ruivo a colocou no chão. – Era só para entrar e trazer informações sobre o inimigo!
– Eu esqueci. – ela deu de ombros. – Eles me atacaram, o que eu ia fazer?
O Ruivo pensou que aquelas pessoas eram mesmo estranhas. Mas não tinha tempo para aquilo.
Virou as costas para os dois na frente do prédio em ruínas e tentou encontrar uma entrada para aquele inferno.
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Madara foi jogado longe pela explosão, quando voltou a consciência, as luzes piscavam e tossiu a fumaça, o corpo dolorido.
Ele mataria aquela garota lentamente. Se arrependia de não ter feito isso antes. Se ergueu com dificuldade e caminhou pelo corredor mancando em direção as celas . Era hora de revidar, e libertar seus monstros.
445 jogara bem, tinha que admitir. Mas agora aquela brincadeira chegava ao fim.
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Não era o mesmo Sasori. Era alguém totalmente diferente. A incapacidade de sentir, o transformara em uma arma de matar. Então era aquilo que Madara falava sobre seus melhores monstros? Se alguém não tinha como discernir o certo do errado, ela se tornava realmente perigoso.
Talvez, se não hesitasse tanto em matar o garoto ruivo, poderia derrotá-lo, mas agora era tarde para isso. Já estava muito ferido. Embora já sentisse o ferimento começar a se fechar, era mais lento, seu corpo tentando curar o estrago que a lamina havia feito internamente primeiro. Não conseguia mais desviar dos golpes, e perdera muito sangue.
Aguentou um impacto quando o outro lançou um escombro sobre si, mas ao fazer isso, baixou a guarda.
E Sasori não erraria o coração dessa vez.
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