Ingenuidade e malicia
Hinata estava impaciente, frustrada, irritada, triste. Prestes a jogar Naruto na parede e tentar arrancar o garoto que ela conhecera a força lá de dentro. Sempre que tentava se aproximar, ele recuava. Parecia uma dança. Se sentia um predador atrás de uma presa inocente e odiava isso. Por fim, deu um tempo nas visitas. Não suportava ver aqueles olhos perdidos se desviando sempre que tentava uma aproximação.
Por um breve instante, começou a pensar que tudo o que vivera, não passara de alucinação. Aquela pessoa ali não podia ser a mesma, os papéis estavam totalmente invertidos entre os dois. Ao mesmo tempo se sentia muito atraída por aquele outro Naruto também. Os olhos inocentes, a timidez, os gestos descoordenados e as palavras ingênuas. E o sorriso. Aqueles sorrisos fáceis quando o via com sua irmãzinha. Não existia nenhum sorriso como o dele, e lembrava o quanto era raro vê-lo assim. Antes escondia cada emoção, ela tinha que ler seus gestos nos olhos frios. E aprendera muito sobre os olhos frios daquele garoto, os sorrisos raros e as palavras curtas (e o corpo também).
Corou ao pensar nisso e continuou a correr com Biscuit. Estava na rua de sua casa, acordara cedo. Levava sempre um comunicador consigo para avisar Itachi sobre qualquer movimentação durante a corrida matinal, para que pudesse ter permissão para esse simples gesto. Hinata não era boba, ela sabia que era mantida constantemente vigiada pelo moreno. Achara antes que eram seus inimigos, mas nunca atacavam, então de algum modo sabia que era Itachi ali, sempre com os olhos em todos os lugares.
A música tocava nos fones e continuava tentando desviar os pensamentos de um certo loiro, confusa entre olhos frios ou confusos. Como seria se apaixonar por Naruto, e não pelo garoto misterioso que nem sabia o nome?
Passava pela casa dele, de volta, e voltou o olhar para a janela do quarto, como sempre fazia. Itachi disse que o rapaz tinha febre quase todos os dias, e suspeitava de algumas manchas de sangue no quarto, mas quando pressionado recuava como uma ostra. Suspeitava que estava entrando em depressão, e definitivamente, a pessoa que ela conheceu era a última que entraria em depressão. Era confiante demais para isso, chegava a ser irritante e ela adorava. Ia vê-lo nesses momentos, quando não podia lhe olhar com aqueles olhos assustados fugindo. O via dormindo febril, com a boca entreaberto, como uma criança. Engraçado como no sono, eram a mesma pessoa. Vê-lo dormir sempre fora um prazer. Vê-lo perder a aura agressiva, e se tornar tão... vulnerável, infantil.
Suspirou com os pensamentos quando entrava em sua casa. Queria esquecer por um tempo toda essa história confusa.
Mas a história não queria esquecê-la.
A primeira coisa que ouviu ao entrar em casa foi a risada dele com Hanabi. Se apressou e os encontrou na sala, estava sentado no braço do sofá, a irmã esparramada e espaçosa como sempre, enquanto assistiam algum filme de ação.
– Assim que sai a teia então. – ele falou divertido. – Mas ele não tem oito patas.
– Detalhes, meros detalhes. – a pequena falou com um resmungo. – Não estrague a história com esse tipo de comentário, fica parecendo o Sasuke. Ele conta o final do filme só pra irritar.
Ficou olhando sem se mover. Parecia tão relaxado perto de Hanabi, sentia inveja da irmãzinha. Não fugia dela, parecia tranquilo, conversando como velhos amigos.
Esbarrou na mesinha e os dois se viraram. Hinata corou de imediato.
– Hina! – Hanabi sorriu. – Olha quem pulou o nosso muro.
Naruto corou também e olhou para o chão, a olhando através da cortina da franja loira.
– Naruto. – cumprimentou constrangida.
– B.bom-dia.
Suspirou e fugiu dali antes que dissesse besteira. Durante toda a manhã ouviu os risos (quase sempre de Hanabi) no andar de baixo. Depois no quintal. Empurrou de leve a cortina e os viu sentados na grama brincando com o cachorro, e sorriu ao vê-lo tão infantil e relaxado. Esqueceu de se martirizar pela situação e foi estudar e depois preparar o almoço. Hanabi o convidou e ele aceitou (surpreendendo a morena com isso).
Ouviu o barulho de Hanabi no banheiro e foi preparar o alimento fluindo pela cozinha. Adorava cozinhar. Lavava os legumes quando se virou e o viu olhando ali da porta. Se assustou tanto com a aparição repentina que derrubou tudo.
– Você sempre faz isso. – resmungou se abaixando. Logo as mãos dele estavam ali ajudando.
– Faço? – perguntou de modo tímido.
–Fazia. – ela suspirou e colocou os legumes na bancada o encarando. Via que fazia um esforço enorme para estar ali perto, mas sustentava seu olhar, como só uma criança faria. Eram os mesmo azuis incomuns, mas agora um poço de inocência tão grande. Ele não desviava e tentou sustentar, parecia analisa-la com curiosidade e começou a corar com isso. Por fim suspirou e colocou a bacia na bancada.
–Quer me ajudar a fazer o almoço?
Naruto abriu um sorriso e assentiu. Não havia fugido como se ela fosse o vilão mal e estivesse tentando tirar sua virtude (como disse, invertendo os papéis), era um avanço.
Começaram a se movimentar pela cozinha, cortando legumes, preparando carne e sobremesa. Ele perguntava sobre qualquer coisa, qualquer objeto, exatamente como lembrava. Como uma criança de sete anos de idade. Em dado instante, tentando pegar o mesmo objeto tocaram as mãos e sentiu a mesma corrente elétrica de antes. Ele segurou sua mão e ela o encarou surpresa. Estava corado, os olhos bem abertos, o cabelo loiro bagunçado, a boca entreaberta. Hinata olhou para esse lugar em especial, depois para os olhos perdidos.
Antes que perdesse a coragem o empurrou contra a pia, agarrou o rosto de olhos arregalados com o gesto e o beijou. Ele não sabia onde colocar as mãos e a colocou na pia. Definitivamente, não sabia o que estava fazendo. Hinata riu consigo mesma e o puxou para mais perto, o vergando com a mão que puxava a nuca loira. Com a outra pegou a mão dele e colocou em sua cintura. Ele imitou com a outra.
Quando perdeu o ar o soltou. Os dois ofegavam. Ele a olhava espantado, a boca vermelha, bochechas corados, olhos azuis brilhantes.
Tentador. Meu Deus, Hinata Hyuuga estava se tornando uma pervertida.
Para sua surpresa ele se curvou e tocou os lábios no dela de forma rápido, em um gesto casto. As mãos ainda estavam onde ela colocou. Abraçou o garoto e sentiu o queixo dele em sua cabeça. Não fazia mínima ideia do que dizer. E não queria falar nada mesmo. O beijou de novo, dessa vez ele imitava melhor seus gestos. Sentiu uma mão tímida em seu rosto. O prensou mais forte, colando o corpo no dele. Queria arrancar tudo naquele beijo, fazê-lo lembrar de tudo entre os dois.
Um pigarreou na porta o fez solta-lo.
Virou para trás e viu Hanabi vermelha e constrangida. O soltou devagar, ele não saiu do lugar.
–D.desculpe. – a menor gaguejou. – Mas senti um cheiro de queimado.
Os dois olharam para o forno saindo fumaça. Correu o soltando tirando de lá o almoço carbonizado.
–Queimou. – Naruto murmurou decepcionado.
Hinata suspirou. Dane-se o frango. Valeu a pena.
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Depois do almoço (e de trocas de olhares constrangidas) ele saltou (literalmente) para a casa vizinha deixando o vazio incomodo. Hinata fugiu do sorriso malicioso da irmã com um "cale-se" e foi estudar. Estava negligenciando a universidade com aquela história, desde que trocara o nome e pudera frequentar a universidade se sentia outra pessoa.
Passou a tarde nisso, tentando não passar as mãos nos lábios constantemente ou imaginar o que o vizinho estaria fazendo. Até a noite, ficou nessa. Não conseguia dormir, agitada. Tocou violão depois de dias sem nem olhar para o violão pegando poeira. Hanabi havia dito que Naruto gostava do som, e sorriu ao pensar que estava ouvindo.
Passava da meia-noite quando foi dormir.
Ou tentou.
Se sentia vigiada, e era irritante. Levantou e foi fechar a janela quando notou uma sombra em seu muro. Guardou um grito e correu saltando por cima da cama para pegar o comunicador. Foi puxada durante o gesto por mãos e caiu no colchão sem fôlego. Se preparou para dar um belo grito mas foi impedida por uma mão. Sentiu raiva intensa por isso.
Agora saberiam por que ela treinou durante dois meses. Soltou um braço com agilidade e pegou aquela mão fazendo um gesto para gira-la e quebra-la. O agressor foi pego de surpresa e ela riu vitoriosa. Mas a surpresa durou pouco, ele girou com o gesto impedindo de ela terminar o intento. Mas lhe deu espaço o bastante para usar o pés e desferiu um chute, que foi seguro, virou e usou o cotovelo, e dessa vez acertou a lateral de um corpo e se levantou. Ouviu um suspiro raivoso, mãos voaram para sua cintura e foi jogada ali novamente, e imobilizada com as costas no colchão. Tentou nova investida, mas não conseguiu.
– Eu juro que minha paciência está no limite Hyuuga.
Parou no instante espantada. Conhecia aquela voz. Pela primeira vez olhou com cuidado através da luz da lua pela janela. Viu cabelos loiro e olhos azuis e gelados nela, contornados por um sorriso irônico.
–N.naruto. – gaguejou ofegante pela luta.
–Até você me chama assim agora. – o tom dele era de desgosto. – Vai tentar me atacar se eu te soltar? – completou pingando ironia.
Ela negou devagar e sentiu o peso saindo de cima dela.
Estava sentado de pernas cruzadas no colchão, com a calça frouxa de um pijama e camisa do mesmo desabotoada . Hinata tentou desviar os olhos do corpo e corou nervosa. Se sustentou com os braços, ainda ofegando, e se encararam. Era ele. Aquele era seu Naruto. Ia se jogar em cima , mas encontrou seu olhar assassino. A cotovelada havia doído tanto assim?
– Por que beijou aquele imbecil?
A frase, o tom raivoso. Hinata foi pega de surpresa e ficou confusa. Quem imbecil?
– Eu não beijei ninguém. – se defendeu franzindo a testa. – Só você. – Entendeu de imediato ao ver ele desviar o olhar gelado. Ela não conteve uma gargalhada. – Não pode estar falando sério! Ele é você!
Ele a encarou com raiva e saltou sobre ela a beijando de forma intensa. Hinata perdeu o fôlego pelo beijo e pelo susto. Sentiu as mãos segurando seu rosto, os joelhos um de cada lado do seu corpo, a imobilizando. Quando a soltou ele mordeu seu lábio. Hinata abriu os olhos atordoada e encontrou o olhar, frio, amedrontador. E incrivelmente um sorriso de canto.
– Tem certeza que ele sou eu agora? – resmungou.
Hinata negou com a cabeça ofegante.
Com certeza não eram a mesma pessoa. Voltaram a se beijar, passou os dedos no corpo seminu puxando a camisa já aberta e sentiu a mão dele subindo por sua roupa de dormir frouxa.
– Suas coisas... – falou se separando de leve. – Eu guardei o que você ped...
–Depois Hyuuga. – Ele replicou voltando a beija-la.
Ela que não iria reclamar. Em segundas esquecera tudo, até seu próprio nome.
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Estavam sentados no chão, recostados na parede no escuro. Já estava quase amanhecendo. Hinata estava entre os braços dele, e olhavam a luz do sol que nascia entrando pela janela. Eles dormiram por breves instantes na posição, ou ela imaginou que ele houvesse dormido também, de tão imóvel que ficava. Abriu os olhos e virou o rosto para cima encontrando os azuis a encarando com um sorriso leve, quase imperceptível. Incrivelmente ele beijou sua testa, um gesto casto que a confundia sobre quem estava lá. A resposta logo veio.
– As coisas que entreguei estão seguras?
Ela tentou afasta-lo para olha-lo de frente, mas os braços a prendiam e desistiu com um resmungo.
–Sim. Voc...
– Guarde-as por um tempo ainda. Estão mais seguras com você por enquanto. Os frascos?
– Refrigerados. Vai me dizer o que é aquilo?
– Uma forma de me manter lutando. – ele murmurou. – Mas posso aguentar um pouco mais sem aquilo. Vou esperar um pouco.
– Não faço ideia do que fala, me confunde.
–Espero que sim. – ele falou sério.
Silêncio. Ela o apertou e sussurrou: - O que aconteceu?
Ele não falou de imediato. E ela não achou que ele falaria. Mas foi surpreendida.
–Encontrei alguém para me ajudar a derrota-lo. Juntamos provas, faltava pouco, mas fui descuidado e pego.
– Então, isso que guardei...
–São provas. Preciso reencontrar essa pessoa e juntar o que tenho com o que ela tem. Mas agora nem sei se ele ainda está vivo. Tenho que esperar. Não quero ser descuidado de novo.
– Disseram que você estava morto. – murmurou.
– Eu quase morri. – Ele acariciou o braço branco e macio. – As coisas vão ficar bem difíceis daqui pra frente. Se prepare.
Assentiu sem vontade. Ele deu um suspiro e afastou: - Tenho que ir, logo o idiota vai assumir de novo. – Ele falou com desgosto.
Hinata riu: - Sério que tem ciúmes de você mesmo?
O olhar sobre ela foi assassino, mas ignorou e riu mais.
Ele levantou e procurou a camisa no chão. O viu colocar, a luz do sol batendo em cheio na pele levemente morena, filtrando pelos cabelos. Era uma cena que nunca iria esquecer.
– Vou para a casa do cabelo branco hoje, Kakashi, ficar uns tempos por lá. – Ele falou frio. – Se quiser pode ir ver o idiota e a mim.
Hinata o olhou surpresa.
– E leve a sua pirralha, não é bom deixa-la sozinha, não quero ter que vir resgatar vocês de novo. –falou sem emoção.
Hinata assentiu com um sorriso. Parece que não era somente o Naruto ingênuo que gostava de Hanabi afinal.
Ele se virou, agachou-se na frente dela que continuava deitada e deu um beijo de leve. Fechou os olhos para receber o carinho e quando abriu, ele sumira.
–Maldito, sempre faz isso. – resmungou com uma risada leve.
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Itachi pegou novamente a lista. Já havia a analisado com Shikamaru, era o mesmo padrão: médicos, trabalharam na mesma universidade 12 anos atrás. Exceto sete deles, todos haviam pedido demissão no mesmo ano. Dos que se demitiram, alguns cometeram suicídio, outros morreram em acidentes sem explicação, e um deles desapareceu por completo.
Dos sete que permaneceram mais tempo, foram pedindo afastamento aos poucos, até se desligarem totalmente da universidade e irem para outras. Nos últimos dois anos, seis foram mortos, incluindo Hyuuga. Em todos os casos, as famílias também foram, exceto a de Hiashi, por interferência de Naruto. Só restava um deles: Fugaku Uchiha.
O que desaparecera teve a mulher morta e o filho desaparecido na mesma época que se afastou da universidade. A criança foi dada como morta, e não se teve mais noticia dele desde então. Seu sobrenome, Namikaze. Itachi guardou a informação, era a única coisa fora do padrão em tudo isso. Havia algo ali.
E havia algo no reitor da universidade que chamara a atenção de Shikamaru, ele disse que iria dar um aolhada, mas Itachi não conseguiu entender o pensamento do outro. Só sabia que o nome do reitor na época era Madara. E era um Uchiha, mas nunca ouvira falar dele, o que despertou ainda mais interesse no moreno de rabo de cavalo.
Itachi guardou os papéis e olhou para o sol nascendo. Logo Kakashi viria buscar Naruto. Era só parte do acordo que nenhum dos dois queria quebrar por teimosia. Mas iria colocar vigília no apartamento do grisalho de qualquer forma, e ir lá sempre, não mudava nada. Precisava vigiar Naruto, não entendia o que estava acontecendo. O vira com o ruivo que tentara matar Sasuke, e não gostou daquilo. Seria tudo mais fácil se pudesse falar com a personalidade violenta do loiro, perguntar-lhe logo o que acontecia, mas algo lhe dizia que não seria fácil o fazer falar, nem mesmo aparecer. Eles não tinham o mino controle sobre ele.
E agora ele pulava para a janela de Hinata a noite.
Mas não pensaria nisso agora. Esperava ao menos que ele saísse da aura depressiva, as coisas estavam saindo do controle, Tsunade os pressionava por respostas, as que eles tinham não poderiam compartilhar sem correr o risco de Naruto ser preso na central. E o garoto tinha mudanças de humor tão bruscas que temia qualquer hora tentar matar todos.
Melhor ficar com o Kakashi mesmo, não poderia não pensar, o grisalho era o único que mantinha algum controle sobre o garoto.
E Itachi pensava que não demoraria para quem quer que estivesse tentando intimidar Fugaku viesse atrás de Sasuke ou dele de novo. Teria que estar preparado.
Algo lhe dizia que logo as coisas iam começar a se agitar de forma irreversível.
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Madara sorriu. Um sorriso de verdade, largo que se transformou em gargalhado. Número 2 continuava parado na sua frente, de pé. Hidan. Não entendia a risada do outro, mas sorria também, imitando, tentando ver o que aquele gesto causava no rosto, mas não via nada de bom, só doía a face e parou.
– Então é isso. – Madara falou mais recomposto. – Irônico. Uchiha? Com um Uchiha? – O outro confirmou. – E Hatake. Então o filho mais velho de Fugaku é um dos que protege o garoto.
Logo mais três homens entraram na sala. Os dois assassinos de Hiashi e um terceiro homem pálido.
Madara fez sinal para que Hidan se retirasse: - Continue com o disfarce e reporte qualquer mudança.
Ele assentiu e saiu. O moreno se virou para os outros três: -Número 4, 5 e 6, vocês iram trazer um rato fujão de volta para a minha gaiola.
Sorriu torto.
As coisas que são de Madara, sempre voltam para ele. Dessa vez ele extrairia até a última gota de humanidade que ainda estivesse naquele garoto, até não sobrar nada além do que queria ali. Até transforma-lo na tela em branco para sua obra prima perfeita.
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