Epílogo. No fim, são apenas escolhas
Oito meses depois.
Kakashi parou a sua moto de frente aos grandes portões antigos. Era manhã de sábado, e haviam algumas pessoas no local, caminhando por entre os túmulos e a grama verde.
Olhou seu relógio de pulso, ainda tinha algum tempo.
Desceu do veiculo com uma sacola e bolsa térmica e entrou no local, sentindo a desconforto de sempre ao entrar em lugares como aqueles. Caminhou em direção certa. Algumas crianças corriam pelo local, e pensou como a vida era engraçada, ela sempre seguia, e em meio aquele lugar de morte, a vida pulsava em todos os lugares, na grama verde, nas flores, e até naquelas crianças.
Sim, Kakashi Hatake estava filosofando.
Talvez.
Havia acontecido coisas demais afinal, a vida de muitas pessoas havia mudado.
Por causa dele. Nada seria como antes, no fim, ele havia sido mesmo como um vento forte que jogara tudo de pernas para o ar.
Haviam muitos túmulos recentes no lugar, e era para a direção que seguia em primeiro lugar. Naquela noite, onde tudo acontecera em seu desenrolar final, foi considerado um dos incidentes com mais mortes dos últimos cinco anos, e foi noticiado no mundo inteiro, principalmente pelos fatos não terem sido totalmente divulgados. Saldo: 356 mortes, 32 desaparecidos. Das onze bases destruídas, houveram apenas 34 sobreviventes das cobaias, mas estes começaram a morrer semanas depois com sintomas de abstinência, e com toda a droga destruída, não restaria nada para salva-los. Até que um dia no hospital, apareceu um lote da droga, de alguém anônimo através de um representante. Tudo ficou sobre sigilo, e onze conseguiram suportar, até que meses depois, o mesmo representante trouxe algo que limpou seus organismos. Eles se salvaram, os mais novos talvez um dia tenham uma vida normal. Talvez...
Dos corpos encontrados, os que conseguiram ser identificados, a maioria nunca foi reclamada pelas famílias e foram enterrados em covas anônimas. Exceto três deles, que tiveram seu enterro pago por alguém que se intitulou um benfeitor. E era ali que Kakashi se encontrava. Eram três túmulos iguais, um ao lado do outro, a grama bem-cuidada outrora, começava a crescer, provando que seus visitantes já não vinham mais com frequência.
Olhou os túmulos de pedra e mármore branca, com grama verde e sem fotos, ou nomes, mas havia algo que os identificava e não era só a distância dos demais, mas os números. No do lado esquerdo, havia um três, e foi lá onde o grisalho colocou as rosas amarelas. No próximo, havia um quatro. Ele não era tão visitado há algum tempo, mas o visitante anterior havia deixado coisas interessantes ali: bonequinhos de madeira, marionetes. Estavam já desgastadas pelas chuvas e exposição, mas estavam ali, como um aviso para somente aqueles que entendessem o significado. Kakashi depositou um flor ali também, se sentiu impelido a isso.
E lá estava o terceiro, com um dois bem trabalhado, de resto, estava limpo, sem flores, sem nada. Lembrou do maniaco de cabelos roxos e sorriu de canto, escondido pela gola do casaco na manhã fria. Tinha que deixar um presente para ele também, e de algum modo, flores não eram a cara dele. Dos três, foi o que conheceu, e sabia disso. Colocou a mão no bolso de trás, tendo uma ideia. Tirou de lá um de seus livros pervertidos, que levava consigo, e colocou no túmulo. Sabia que aquele desgraçado gostaria disso.
Passou algum tempo olhando e pensando em como a vida poderia ser uma bosta. Desde que soubera do que eles foram, as vezes pensava em como teria sido a vida de cada um deles, se as coisas houvessem tomado rumos diferentes. Nada naquela história era realmente feliz. Claro que haviam tentando descobrir parentes deles. Shikamaru e Itachi se encarregaram. A mãe da garota foi uma prostituta , o pai, desconhecido. Ela havia vivido nas ruas até ser "resgatada" para os testes. Quando se estar na lama e alguém lhe estende a mão, você não olha a cara, só quer sair.
Não encontraram o pai de Gaara e Sasori. Ele havia sido assassinato sob circunstâncias estranhas anos antes. Itachi escavara mais a fundo, e descobrira que foi uma criança ruiva que havia sido vista nos arredores da casa antes do empresário ser encontrado morto no banheiro com perfurações no peito. Gaara não sabia, provavelmente, quem ele era, não lembrava do rosto do pai. E se dependesse deles, nunca iria saber. Mas não podia não pensar, que se as coisas não houvessem tomado rumos estranhos, aquele teria sido o fim de Minato. Madara gostava mesmo de brincar com a vida das pessoas.
Não haviam encontrado muita coisa sobre Hidan, ele fora tirado do orfanato com 8 anos, como muitos outros. Os pais haviam morrido em um acidente. Diferentes, mas com algo em comum: jovens talentosos e sem ninguém que os reclamasse.
Pensava isso enquanto caminhava para outra área. Eram os túmulos dos mausoléus de famílias e clãs. Parou em um que tanto conhecia. Lá estava um túmulo, antigo, mas bem cuidado. Minato, afinal, pensara que o filho estivesse morto há mais de dez anos, o túmulo havia sido feito há muito tempo.
Kakashi sentou no gramado olhando a estrutura bem construída, e agora com a grama limpa e flores frescas.
Menma Uzumaki Namikaze
Amado filho.
A data havia sido recentemente reescrita para meses atrás, e havia umas inscrição no mármore.
"A morte não faz nenhum sentido."
Ficou encarando o túmulo, como se pudesse encontrar uma resposta para tudo ali. De como a vida brincava com as pessoas, as ligando, as fazendo criar laços e os destruindo. Talvez, o grande ponto de tudo estivesse na perda. Perder era a merda do mundo. Perder dinheiro, esperança, objetivo, a vida, e pessoas importantes. Kakashi já era um calejado. Com trinta anos, já havia apanhado muito, perdido muito.
Fizera muitas escolhas, e sempre pensara que se seguisse A ou C, e não B, teria tido uma vida melhor. Mas isso era besteira. No fim, não havia nada certo, ou errado. Nada que fizessem teria tornado aquilo diferente, e quando enfim Kakashi percebera isso, começara a se perdoar. Livre arbítrio.
– Ok, chega. Acho que estou conversando demais com a Shizune .
Abriu a bolsa térmica, ele sempre se preparava para vir ali, em todos os sentido. Tirou o pote quente e pegou os rashis, tirando o outro e o abrindo ainda fumegante depositando na mureta do túmulo. Então levantou o seu próprio pote de ramen, voltando a se sentar.
– Desculpe, não tinha Menma dessa vez, só Naruto. - falou para o túmulo com o copo levantado em brinde. - Itadakimasu.
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Acordou dos pensamentos algum tempo depois ao sentir uma mão em seu ombro o assustando. Encontrou os olhos negros de Itachi que o fitava de uma forma calma.
– Sabia que te encontrava aqui. - o Uchiha falou enquanto o grisalho se levantava e se espreguiçava, limpando a grama da roupa meio molhada do orvalho. Pegou a bolsa térmica e seguiu o amigo por entre os túmulos, ambos em silêncio.
Parou quando passava em frente ao túmulo da família, hesitante. Podia sentir Itachi o olhando três passos a frente, onde parara também.
Se decidindo, Kakashi pegou a última flor que restara, seguira até o túmulo do pai e a depositara lá. Depois passou pelo Uchiha, mais rápido, ignorando leve sorriso do amigo.
Não perdoara o pai, mas era um começo. Ele também estava aceitando suas escolhas.
Desceram por entre os túmulos e perto do portão avistou o carro de Itachi parado ao lado da sua moto. Recostado nele estava Sasuke, e ao lado dele, uma garota de cabelos rosa que o Uchiha mais novo abraçava pela cintura.
– Voltou moleque?- falou sorrindo ao chegar perto o suficiente. O Uchiha mais novo continuou com sua cara de paisagem, mas a garota sorriu e acenou.
– Só vim me despedir, agradeça, nem todo mundo tem minha atenção. -cuspiu em seu humor de sempre enquanto entrava no carro segurando a mão da garota que lhe deu um cascudo sussurrando um " Olha a educação Sasuke!"
Kakashi riu e Itachi suspirou, aquela deveria ser uma cena comum para ele.
– Quando ele voltou?-Kakashi perguntou ainda rindo.
– Ontem a noite.
Desde que se acertara com o pai, Sasuke voltara para sua cidade. Por meses Kakashi ouvira as reclamações de Itachi que sentia falta do irmão e blá blá blá, sendo que quando estava por perto o garoto só dava trabalho. Coisa de irmãos. Ele nunca entenderia esses doidices mesmo.
– Nunca vai admitir, mas veio se despedir de você. - Itachi confidenciou.
– Vim ter certeza que ia para Londres mesmo, para dar uma festa! - o garoto gritou do carro e Kakashi ouviu mais um som de cascudo e um xingamento baixo.
Kakashi riu de novo: - Sakura, parabéns por domar o estressadinho.
Ouviu a risada. Mulheres. Assustadoras.
– Não vi você na base hoje, Shikamaru disse que pareceu um furacão. - Itachi falou parando ao lado do grisalho enquanto ele ia subindo na moto.
– Não queria me despedir de ninguém. Odeio isso. E Tsunade quase me esmagou.
Havia ido bem cedo a base para assinar de vez a transferência para Londres, depois de muito trabalho, a Senju permitiu. E o obrigou a tomar uma rodada de saquê com ela depois. Kakashi saíra rápido da base, sem falar com mais ninguém. Mas sabia que Itachi viria atrás dele. Eles se conhecia bem o suficiente. E não havia como ir embora sem ver os únicos amigos que fizera ali, ou mesmo, na vida.
– E Shizune?- Kakashi perguntou. O Uchiha sorriu encabulado. Ele desabava mais a face fria sempre que se falava na psicóloga. Estavam morando juntos há um tempo, motivo de muita zoação do grisalho com os dois, mas ficava feliz pelos dois. Itachi, vivera com peso demais a vida inteira: seu nome, seu pai. Se afogara tantas vezes no lado obscuro que Kakashi o via na fina linha entre os dois mundos. Ele merecia ser feliz, e que fosse com Shizune.
– Ela vai nos encontrar no aeroporto.
– Eu já disse que não...
– Ela disse que iria cortar seus testículos se você fosse embora sem despedir da gente.
Engoliu em seco e assentiu subindo na moto.
– Só vou passar para pegar a mala.
– Bom garoto. - Itachi riu e foi para o carro, para seguir o amigo.
Sim, mulheres podiam mesmo ser assustadoras.
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– Meu voo.
Kakashi anunciou pegando a mala e se levantando da cadeira de espera do grande aeroporto. Os outros o seguiram e se encararam, mudos, até Shizune agarrar em seu pescoço e começar a fazer escândalo.
– Não acredito! - Ela chorava. -Promete que vai escrever? Seu bastardo, sei que não vai! E vê se como algo verde por lá, nada das suas porcarias! E, oh Meu Deus, você vai...
– Me larga mulher! - Kakashi tentou se livrar dela em quanto os outros riam. Sakura gargalhava, e os Uchihas davam seus risos Uchihas, ou seja, um tremelique de lábio.
– Insensível! - ela fez um bico o soltando.
– Sério Itachi, não sei como vai casar com essa doida. - provocou desamarrotando a roupa.
– Ham, e você, que fica de rolo com a terrorista de cabelo roxo? Ela deve te fazer de tiro ao alvo com as facas. - a mulher soltou de modo triunfante.
O grisalho ficou vermelho e se calou. Como ela havia descoberto? Olhou para Itachi que disfarçava assobiando. Maldito Uchiha.
– Bom, agora que nos despedimos de um jeito tão feliz e normal, vamos logo para casa. - Sasuke anunciou entediado.
– Sasuke! - a rosada repreendeu. - Desculpe Kakashi-san. Ele só não sabe bem como mostrar o quanto vai sentir sua falta. Ontem ele me disse que a vida não seria a mesma, que você era como um outro irmão e...
O moreno calou a namorada com um beijo, apavorado. Kakashi riu da vergonha dele.
– Quem diria Sasuke! - zombou. - Mas vou indo, se não perco o voo.
Ele e Itachi se encararam, e o Uchiha bateu em seu ombro, para então, soltar um dane-se e abraça-lo.
– Sensível. - riu.
– Calado. - Itachi o cortou e se separou ainda segurando seu ombro. - Ligue quando chegar. Shisui vai estar te esperando no aeroporto, e vai te mostrar a base de lá. Estará em boas mãos.
– Não consigo me livrar dos Uchihas. -suspirou dramático.
Pegou a mala, mas Sasuke o interrompeu a dois passos.
– Kakashi!
Virou-se com a face interrogativa, e o moreno sorria, coisa rara.
– Diga oi por mim.
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Ao descer no aeroporto de Londres, avistou uma placa que dizia.
"BaKakashi Hatake"
"Eu mato o Itachi." Pensou dando um sorriso falso para o moreno de cabelos cacheados que lhe acenava atrás da placa. Era um Uchiha diferente. Um Uchiha sorridente.
Puta que pariu, ia ser parceiro do doido do clã?
– Você deve ser o Bakakashi! Sou Shisui! - Lhe estendeu a mão que o grisalho aceitou enquanto ele falava em um sotaque enrolado pelo inglês de anos. O aperto era firme, apesar de ele ser menor que Itachi. O físico lembrava bem o outro Uchiha, mas as roupas eram menos formais, jeans e camisa, com uma jaqueta caramelo por cima.
E o sorriso de besta não era nada Uchiha.
– Kakashi. - corrigiu. - Sou eu.
– Mas Sasuke e Itachi falaram que seu nome era...
– Seus primos são uns imbecis. - resmungou e o outro riu concordando.
– Tudo bem, KAKASHI. - falou. - Quer ir ver sua casa, a base ou...
–Se puder me deixar em um endereço, eu preciso visitar umas pessoas.
– Sim, Itachi me avisou. - ele sorriu pegando sua mala enquanto saiam para a rua fria, em direção ao estacionamento. Kakashi gostou do outro homem, ele conversava de forma animada enquanto seguiam pelas ruas. Ele já sabia o endereço e de tudo, Itachi disse que era de confiança. Previa que as coisas dariam certo.
Ele só se calou quando estacionou em frente a uma das mansões de aspecto vitoriano que ficava na zona litorânea, depois de algum tempo de viagem se afastando de Londres. Era uma daquelas casas onde os donos tinham acesso privado a parte da praia. Ele o deixou de frente ao grande portão.
– Vou levar suas malas para seu apartamento, pode deixar, fica no mesmo prédio que o meu. Eu posso vir buscar você, se quiser. Itachi disse que se te deixasse na mão iria divulgar um vídeo meu da universidade, de uma época não muito santa minha. - riu coçando a cabeça.
– Tudo bem, eu pego um táxi. Obrigado, Uchiha. - falou saltando do carro.
– De nada, Bakakashi.
Xingou enquanto o outro ria saindo cantando pneu. Uchihas são Uchihas mesmo.
– Retiro o que pensei, não vamos nos dar bem. - murmurou enquanto apertava o interfone.
Foi recebido por uma faca que passou zunindo pelas grades e passou por sua cabeça cortando alguns fios. Ouviu uma risada e a voz.
– Está atrasado!
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Kakashi suspirou enquanto seguia o seu rolo-possível-namorada-psicopata-atiradora-de-facas pela casa. Sério, não sabia como havia se metido naquele rolo. Se encontrara com ela em Tokyo há alguns meses, e o que devia ser uma semana dela na cidade, se tornou um mês em que ficaram juntos. Quase se matando, mas também tendo, ham, noites bem interessantes.
A seguiu pela casa, e desceram pelo batente de trás depois de passar, ele jurava, uns 20 minutos para atravessar a extensão. Pela casa ser grande, e por, hum, alguns imprevistos com Anko no caminho.
Desceram as escadas e caíram os pés na areia fofa e branca da praia, na parte de trás da casa. Era uma manhã fria, mas agradável. Ouviu o barulho das gaivotas e das risadas.
– Olha quem vem chegando!
O loiro mais velho se levantou da areia onde estava sentado limpando as calças. Kakashi nunca havia visto o Namikaze a vontade. De bermuda e camisa branca, ele veio até ele com um grande sorriso e Kakashi retribuiu. Ainda eram meio rivais, mas há meses haviam feito uma trégua muda, e meio que ainda permaneciam, apesar de se cutucarem sempre que tinham oportunidade. Ele não o via há seis meses, e de resto, apenas tivera contato com Anko que intermediara as informações entre ele, Itachi e Kakashi.
Tsunade também sabia, mas dizia que fingia não saber. E Shikamaru, preferia não saber. Afinal, Minato era meio que procurado.
Mesmo assim aceitou o abraço do homem, meio desajeitado enquanto Anko bufava para não rir dos dois.
– Não estávamos mais acreditando que viria. - o loiro falou. O vento frio passava pelos dois, balançando os cabelos. - Atrasado, como sempre.
Iria retrucar, mas uma figura lhe chamou atenção vinda de longe na praia. Procurou com o olhar se afastando dos outros dois que sorriram de leve.
Continuou caminhando, passando por outros dois homens sentados na areia olhando o mar. O de cabelos vermelhos estava lendo um livro, e o de cabelos brancos conversava a seu lado. Tobirama e Gaara lhe acenaram de leve com a cabeça quando passou por eles. Minato havia falado que os dois haviam se dado bem. O homem tinha talento com gente problemática. Ficara feliz ao saber que o outro havia encontrado um lugar no mundo, mesmo que os motivos iniciais para ficar ali tivessem sido outros.
Ou mais exatamente, alguém.
E foi então que viu a silhueta, que vinha do lado esquerdo, ao longe. Ouviu os latidos. Hanabi vinha correndo na frente, brincando com um cachorro. Quando lhe viu a moreninha virou para trás, chamando atenção do casal que vinha a distância, de mãos dadas perto do mar.
Foi quando eles lhe viram. Kakashi empacou no lugar, enquanto eles diminuíam a distância, caminhando. Já podia distinguir os cabelos negros e os olhos pérolas da garota, e o sorriso meigo.
E então viu o cabelo loiro, estava maior desde a última vez que o tinha visto. Kakashi finalmente saiu do torpor e deixando o orgulho de lado, correu, a cena sendo observado pelos outros, alguns sorrindo amenos.
Foi bem a tempo de abraçar forte o garoto. O corpo do outro reagiu ficando tenso por reflexo, mas em segundos relaxou. Ao lado deles, Hinata sorriu, soltando a mão dele e se afastando alguns passos. Hanabi abriu um sorriso de rasgar o rosto ao seu lado.
– Não me esmague, Kakashi. - o garoto resmungou, mas o abraçou de volta.
Se soltaram, e ambos tinham um leve sorriso. Kakashi colocou a mão no cabelo loiro, medindo-o em questão de segundos.
Tê-lo ali, era um milagre.
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Gaara saiu do túnel e as vozes que vinham se intensificaram. Foi quando percebeu que o coração do garoto havia parado. O colocou no chão, mais que depressa. Kakashi vinha correndo, foi o primeiro a ver o cabelo ruivo, e ao ver oque ela carregava sua respiração faltou. Correu com um dos homens de Minato em seu encalço.
– Ele....
– Parou de respirar. - a voz do ruivo estava embargada. Ele parecia em choque, sentou no chão tremendo, sacudindo o loiro. - Não... não... Vamos, reaja...
Kakashi foi o primeiro a sair do torpor. Empurrou o ruivo que estava atordoado demais para reagir e praticamente se jogou em cima do garoto, fazendo a lama os sujar ao escorregar, chovia forte, mas o água caia com menos força onde estavam na cobertura da floresta.
Atrás deles o outro homem falava com Minato no comunicador.
– Sinto muito, senhor, eu acho ele...
– Não vou deixar! - Kakashi gritou, puxou a seringa e enfiou no coração do loiro. - Ruivo! Ajude!
Gaara saiu do torpor com os gritos. Começaram a fazer como podiam o trabalho para fazer o coração do loiro voltar a bater. Gaara soprava o ar de volta a seus pulmões, forçando, enquanto Kakashi fazia a massagem cardíaca. Mas não estavam tendo nenhuma resposta.
Ainda assim, continuavam. O outro homem olhava sem entender, como teimavam. O menino claramente estava morto.
– Não... vou....DEIXAR!- nessa parte, Kakashi já esmurrava seu peito. - Quem pensa que é?- gritou, arfante com o trabalho. - Entra na vida de todo mundo, faz bagunça, e sai de mansinho? -falou tremendo, as mãos diminuindo o trabalho.
– Droga Naruto!- Kakashi deixou a cabeça no peito do outro enquanto chorava como uma criança. - DROGA!
Esmurrou o coração do outro, com as duas mãos.
E foi nesse momento que ele reagiu. Com uma tosse engasgada, mas respirando. O coração batendo fraco. Mas batendo.
Ele estava vivo.
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Minato, ao lado de Tobirama e Gaara, olhava a interação de seu filho com o Hatake. Estavam sentados na areia, conversando enquanto Hinata e Hanabi brincavam com Anko perto do mar.
Quase todo o tempo o garoto estava com seu rosto sem expressão, mas as vezes ele sorria, e isso, por mais que sentisse uma pontada de ciúmes, era bom.
Depois que o haviam salvo no túnel, Minato o levou consigo. Ficaram na cidade dois dias ainda, enquanto o estado dele estava muito grave, mas logo o levou para outro pais. Para o mundo, Menma havia morrido naquele dia.
E de certa forma, ele morrera. Agora, era Naruto, como queria se chamar.
Foram meses tensos. Ele não acordou por um mês inteiro, seu corpo entrou em estado de coma enquanto lutava para se recuperar. Nesse meio tempo, conseguiram mantê-lo com pequenas doses da droga que Minato reproduzira, mas antes disso de completá-la, Gaara havia o salvo. Ele havia mantido consigo a injeção com a droga que o loiro lhe dera, não a usando, e naquele momento, com a droga incompleta, foi o que manteve o garoto vivo ate que concluísse seu trabalho. Isso quase matara Gaara, e seu sistema definhou ate a beira do coma, mas Minato conseguiu reverter a tempo.
Ele nunca entenderia ao certo a profundidade da relação entre os dois garotos. Mas no fundo sabia que apenas o estranho ruivo poderia entender a dor do seu filho. Quando o loiro despertou, entrara em um estado de letargia profundo, de total desistência. Nem mesmo Hinata, que os acompanhara, conseguira tirá-lo. Mas Gaara o fizera, com palavras que para Minato haviam sido cruéis.
– Se quer tanto se sentir culpado, fique vivo e aceite como punição. Você é obrigado a isso.
Minato nunca entenderia o sentido daquelas palavras, mas aquilo foi o suficiente para arrancar o garoto de onde se prendera. E ele passou a aceitar, que apesar de ser pai de Naruto, talvez ninguém fosse entendê-lo tanto como Gaara. Teria que viver com isso.
E foi o próprio ruivo que o ajudou a reproduzir o antidoto. Quando tinham em mãos, este e a droga, os enviara sob supervisão para os sobreviventes. Era o minimo que podia fazer.
Ele conseguira limpar o organismo de Gaara e dos demais, mas Naruto havia sido mais complicado. De algum modo, a segunda droga que Madara aplicara para matá-lo, estava intrínseca em seu organismo de tal forma que nada a removia. Ele teria que conviver com ela em si, talvez, para o resto de sua vida. Minato não havia descoberto ao certo o que ela modificava no garoto em sua totalidade, e o que era causado pelo treinamento de anos a que fora submetido. E talvez, nunca soubesse.
Ele estava vivo, e isso era um milagre. Mas não inteiro, talvez nunca estivessem, ele ou Gaara. Haviam marcas piores do que a droga neles.
As vezes, pensava como era uma sorte ter Hinata e Hanabi por perto. Elas moravam em Londres, mas sempre estavam com ele. Conseguiam o arrancar de um lugar obscuro onde ele se trancava as vezes, assim, como ele parecia arrancar Gaara. E assim, aos tropeços, iam todos se curando como podiam.
Mas ainda era comum acordar com os gritos dele a noite. Os primeiros meses foram os mais difíceis, e manter contato com o Hatake e os Uchiha foi essencial. Era muito sigiloso, se mudaram algumas vezes, por Minato ser procurado, e por não saberem se ainda restava alguém de Madara vivo. E ainda ficariam assim, quem sabe para sempre. Nomes mudados, pessoas os protegendo.
Nunca mais perderia seu filho. Moveria o mundo, mataria quem fosse, mas o protegeria. E ficava feliz de que tantos outros também estavam ali para fazê-lo. Mesmo que ele estivesse tão quebrado por dentro, ele tinha uma chance, e, se conhecia sua cria, ele a agarraria. Ele era teimoso como o diabo.
– Eles se dão mesmo bem. - Tobirama falou de seu jeito desinteressado, Gaara lia seu livro, mas algo dizia a Minato que estava de olho nos outros dois também. De um jeito meio estranho, ele se tornara parte da família torta que eram. Sabia que o ruivo havia passado a Naruto a figura do irmão que tivera, de forma inconsciente ao longo dos anos. Era um laço feito no inferno, para a vida toda.
– Ele gosta muito dele. - Minato bufou.
O grisalho riu com o tom ciumento do amigo.
Minato demorara muito para conseguir a confiança do filho. Na verdade, a relação dos dois havia sido muito tensa até certa noite, em que o garoto estivera preso a um de seus pesadelos.
Minato foi até ele, e o pegou gritando no sono. Muitas vezes ele o acordava, mas ao tentar consolá-lo, sentia o corpo tenso do menor ao toque. Ele sentia uma aversão a contato intensa, que talvez nunca sumisse.
Mas nessa noite, ao acordar o garoto, ele abrira os olhos assustado e o abraçou com força, como se fosse um corda que o puxasse. E as palavras foram claras, em meio aos tremores, ao soluço que ele finalmente soltava depois de meses. Ele escondeu a cabeça em seu ombro e falou um sôfrego "Me ajude Pai."
Minato ficou segundos em choque ao ouvir isso, mas então acariciou os cabelos suados do garoto, e ficou com ele até ele dormir de novo, agarrado com sua mão em seu peito, como quando tinha 3 anos.
Não tinha uma relação perfeita, e talvez nunca entendesse a profundidade da dor de seu filho, mas era um começo, uma chance. E Minato a agarraria e não a soltaria jamais.
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Kakashi reparou em como ele havia mudado. Não o via desde que Minato o levara embora, ainda em coma. Mesmo que não falasse muito, algo havia mudado. Ele não parecia mais tão sarcástico todo o tempo, ou tinha o olhar gelado. Era como se 445 e Naruto houvessem se fundindo em um. Havia algo perdido em seus olhos, que podia ser comparado a certa inocência.
Toda a raiva havia sumido dos seus gestos, ou a arrogância, mas o que restara foi algo que Kakashi pode ver como tristeza profunda.
– Gaara disse que você socou o meu peito. - o loiro comentou casualmente lhe tirando de seus pensamentos enquanto lançava uma pedra no mar, o grisalho riu do tom do garoto.
– Algumas vezes. - confessou.
– Eu podia te matar por isso.
Demorou para perceber que estava sendo zoado, uma tentativa fraca de humor.
– Não conseguiria. - zombou e viu um sorriso leve de canto do outro, disfarçado.
– Com as mãos nas costas.
– Então. -Kakashi provocou. - Gostou mesmo do nome Naruto.
O outro fechou a cara, mas Kakashi riu ao perceber que ficou meio corado.
– Era o único que tinha.
– Mentira que gostou. Anko me falou que come ramen todo dia, estava morrendo de saudades de mim, que eu sei. - zombou recebendo um olhar 445, que logo se suavizou e para sua surpresa o garoto riu.
– Ela me falou que você chorou no dia dos pais falando de mim!
Não sabia se matava o garoto ou Anko. Ordinária!
Fechou a cara, e o garoto abriu um sorriso cínico de triunfo, que foi morrendo aos poucos.
Ficaram em silêncio, por um tempo. Até que o loiro parou de caminhar e ele foi obrigado a parar também. O garoto pegou algumas pedras entre os dedos e ficou jogando longe no mar. Ele continuava com uma força anormal.
– Entregou as flores? - ele perguntou de repente.
Por intermédio de Anko, ele havia feito o pedido para que Kakashi visitasse o túmulo dos outros três que Minato mandara fazer.
– Eu os vi antes de vir.
Silêncio, novamente. O garoto parou e ficou olhando o nada sem expressão alguma. Kakashi suspirou.
– Ok, vamos parar com isso. - resmungou.
O outro ergueu uma sobrancelha intrigado com a frase desconexa.
– Eu consigo ouvir as lamentações daqui nessa sua cabeça afogada na culpa. - o grisalho revirou os olhos, e como o outro não respondeu ou voltou a olhá-lo, se descobriu certo. - Você não os matou.
– Não é quem puxa o gatilho. - ele falou em tom inexpressivo. - Sasuke me falou isso uma vez.
– Tenho certeza que ele não encaixou você nisso.
– Eu os matei. - o garoto rosnou, já perdendo a expressão indiferente e mostrando finalmente o que sentia. - Não pense que sou tolo e não sei disso! Como todas as pessoas que estavam nos prédios. Eu aceitei as escolhas que eu fiz, sabia o que estava fazendo. - Ele soltou de uma vez, a voz calma não transparecendo em nada o que estava sentindo, e o grisalho reparou no quanto ele parecia mais velho, cansado. - Você tem algumas escolhas na vida Kakashi, Você pode ser o algoz ou a vítima, e o mundo continua girando. Mas você ainda tem escolhas, e pode as aceitar, ou não. Eu fui vítima, fui algoz . E aceitei meu preço. Fui usado, e usei. Eu, no fundo...- ele apertou as sobrancelhas, perdendo a serenidade e lutando com as palavras que vinha guardando há muito tempo, e que, por alguma razão, só conseguia falar agora, para Kakashi. - Não sou diferente de Madara.
– Idiota! - Kakashi o interrompeu segurando seu braços e o virando para si de modo brusco. - Então era nessa porcaria que estava se remoendo? - falou irritado. O garoto o fitava inexpressivo, o que irritou ainda mais o grisalho. Odiava quando ele fazia isso.
– Você não sabe de nada...- ele murmurou soltando seu braço com agilidade.
– Sei que está pensando merda, eu tenho radar para isso. - o grisalho resmungou - Acha que se fosse como Madara teria tantas pessoas com você? Olhe ao redor. O irmão do psicopata ruivo morreu, mas ele está aqui com você. Acha que ele estaria se a culpa fosse sua?
Para surpresa do grisalho, o garoto não rebateu.
– Tem que escolher entre se perdoar, ou desperdiçar a vida que muitos deram por você, por que confiavam em você e no que estava fazendo. Não pensa em quantas pessoas salvou? Como acha que Madara iria continuar? Nada disso nunca fui sua culpa, então abra os olhos idiota, e aceita a chance que você recebeu! - suspirou e sorriu. - Seu coração voltou a bater por algum motivo, honre isso e faça algo que valha a pena. Tenho certeza que eles não morreram para você ficar se remoendo em tristeza e culpa.
Naruto mordeu o lábio, considerando as palavras por algum tempo.
– Nem parece o assassino que eu conheço. - Kakashi resmungou tentando fazer o outro rir, e funcionou, se aquele tremelique foi um riso.
– Eu sei que não vais ser fácil. - falou mais serio. - Mas a vida não é, você sabe mais do que ninguém.
Ele não respondeu mais. Desviou os olhos e encontrou os de Hinata que o olhava de longe. A garota tinha um sexto sentido para quando ele tinha certos pensamentos. No início, pensara que ia acabar a afundando com ele, mas ela se mostrou mais forte do que pensava, e aos poucos, o puxava do fundo.
Sem ela e Gaara, ele poderia ter enlouquecido. Gaara, por que era o único que podia ter uma dimensão do inferno em que sua mente mergulhava, ela, por conseguir tirá-lo de lá. Não fora a toa, que se aproximara dela como 445, e como Naruto. Se aproximaria dela, agora sabia, mesmo que sua mente se quebrasse em mil pedaços...
Ela lhe lançou um olhar cheio de ternura e sorriu, correspondida logo antes de ele desviar os azuis para o mar. O vento bagunçando seus cabelos, entrando pela camisa branca que escondia suas cicatrizes.
Ele tinha muitas. E podia mesmo começar a se perdoar. A deixar as coisas se moverem a seus devidos lugares. Suas feridas estariam sempre lá, mas restava agora saber se ficariam abertas ou seriam cicatrizes. Essas, nunca sumiriam.
Ainda havia tanta dor quando fechava os olhos. E se sentia perdido no meio daquele furacão. Sentia-se cair no escuro, mas haviam muitas mãos para tirá-lo de lá. Haviam dias que ainda era a mesma criança assustada, e lugares apertados e escuros o faziam lembrar de seu passado, mas não estava mais tão sozinho.
Ele fizera escolhas, com o que a vida lhe deu. Se foram boas, ou ruins, nunca saberia ao certo. Talvez Kakashi estivesse certo. Ele tinha cartas, as usou, mas suas escolhas mudaram a vida de muitas pessoas.
E ele sempre carregaria esse peso nas costas. Sempre seria um lago cheio de pedras dentro. Por mais que por fora, um dia, parecesse calmo, elas estaria sempre no fundo. As consequências de suas escolhas. E tinha que aceitá-las, aprender a conviver com seus monstros, seus anjos, seus demônios. Ficar pensando em e "ses" era seu maior pecado.
E não seria fácil, nunca seria. Não era uma daquelas histórias com final feliz, porque ele nunca seria realmente por completo, inteiro. Pensara que seus monstros estariam mortos, mas o único inimigo que restara era o pior, e era ele mesmo. E era com esse monstro que teria que lidar todos os dias para se curar.
Tinha que aceitar que sua vida estaria para sempre conectada com a de várias pessoas. Talvez, todas estivessem. A vida parecia uma teia de aranha gigante, e todos estavam ligados, a seus sentimentos, mesmo sua dor. E ele a dos demais. A dor de Minato que perdera tudo, recuperara o filho, mas ele nunca seria inteiro. A dor de Gaara, por ter seus sentimentos confinados, e os ter recuperado justo por conta da dor de perder a pessoa que mais o amou no mundo, amor que ele inconscientemente ou não, sempre buscou e o tatuara em si. Ainda sentia a dor de Temari, Hidan e Sasori.
E agora, tinha uma chance de fazer tudo valer a pena.
Cada batimento de seu coração era a prova disso.
Por entre as nuvens, uma nesga de luz surgiu, perto de si, e foi como um sinal. Sempre havia uma fiapo a se agarrar quando estivesse escuro de mais.
De longe, Gaara, Tobirama e Minato olhavam a cena quando o loirinho parou, seguindo a luz com os olhos. Hanabi cutucou Hinata e Anko, que também olharam com sorrisos amenos a criatura peculiar que era igualmente observada por um certo grisalho que cruzou os braços e sorriu, já conhecia aquela cena.
E foi ele que viu de perto o sorriso leve, e meio bobo, tão Naruto, que o garoto abriu enquanto estendia as mãos para ser tocado pela luz, brincando com ela entre os dedos, como uma criança inocente. A criança inocente que era Naruto, que era Menma, antes de ser jogado no inferno.
Mesmo que ele não fosse mais tão inocente, que ele agora estampasse as suas marcas, as suas lembranças, mas Naruto não era uma mera personalidade sua, era ele também. Eles eram o mesmo, como Kakashi tanto insistiu em dizer.
E em pensar nisso, ao seguir com os olhos o outro brincar com a luz, parado, os olhos menos tristes, mais inocentes. Genuínos.
Não resistiu e tocou na cabeça loira, bagunçando os fios.
O garotonão recuou. Apenas fechou os olhos.
Aceitar escolhas. Pegar o fio de luz e se agarrar a ele.
– Kakashi?
– Hum?- o grisalho o olhou curioso.
– Obrigado.
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Notas finais
Obrigada para quem acompanhou Genuíno <3
No próximo, teremos um extra que se passa alguns anos depois do final.
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