Conectados
– Não quero fazer mais isso. É muito chato!
O garotinho loiro reclamava balançando os pés pendurados na cadeira. Ele não parava quieto um segundo. O homem suspirou.
– Só mais um pouco Menma.
O menino negou teimosamente e fez um bico muito fofo.
– Vamos fazer assim. - Madara rodeou a mesa do laboratório e se agachou de frente ao garoto que ainda olhava para a janela emburrado. Estavam há duas horas no laboratório onde o homem passava combinações do sistema para o garoto olhar rapidamente, e depois repeti-las. E ele os fazia com perfeição.
Isso quando queria colaborar.
– Quando o papai vem me buscar? - o menino choramingou.
– Seu pai está no trabalho, como eu dizia, vamos fazer assim. - o homem colocou as mãos na cadeira que o garoto rodava e ela parou, ouviu um resmungo. - Mais meia hora, te levo para casa, e de noite vou ao festival com você e seu pai e compro um presente. O que acha?
A ouvi-lo mencionar as palavras festival e presente o menininho virou o rosto para si com os olhos azuis brilhando. O homem riu.
– Interesseiro. - falou malicioso, um tom que o garotinho não entendia.- E então? - colocou a mão na cabeça do pequeno, sentindo os fios loiros macios por entre os dedos.
– Hum! - o menino concordou com a cabeça e pulou da cadeira com um lindo sorriso.
.......
– Menma! Espere! - o loiro mais velho corria atrás do pequeno em meio a multidão. Tinha que ser rápido para acompanha-lo, e ter cuidado redobrado quando Kushina não estava por perto.
Se perdesse o filho tinha que lidar com os cabelos que arrancaria da cabeça de preocupação e ainda uma possível surra da Kushina. Riu com o pensamento e puxou o loirinho sob protestos.
– Eu quero jogar! - o menino resmungou choroso.
– As barracas não vão fugir. E temos que esperar seu tio. Não estava todo animado por ele vir com a gente?
– Ele vai demorar.
O menino fez um bico que o pai achou adorável e cruzou os bracos. Como ele conseguia ser tão adulto e tão infantil ao mesmo tempo?
Espalhou o cabelo loiro e o menino riu segurando sua mão e a puxando. Entendendo o recado Minato o ergueu e o colocou nos ombros, sentindo as mãos segurando seu cabelo. A risada de Menma era tão bonita, contagiante. Podia passar o dia a ouvindo sem parar. Tinha um timbre quase musical, e algumas pessoas, ao ouvi-la, viraram e sorriram.
Começaram a andar por entre as pessoas, a jogar nas barracas. Menma conversava com todo mundo, não era dessas crianças caladas, e todos riam com suas brincadeiras e queriam conversar com aquela criança esperta com resposta e pergunta para tudo. Ao mesmo tempo que as deixava desconcertadas de vez em quando, as encantava. O menininho de olhos azuis tinha um dom para lidar com as pessoas que o pai nunca entenderia.
– Olha papai! - o menino puxou sua mão que ele segurava e apontou para a multidão.
Madara viu o menino lhe avistar de longe e puxar Minato apontando. Sentiu um calor lhe subir no peito quando ele se desprendeu de Minato e correu em sua direção sorrindo, atraindo olhares. Era uma criança verdadeiramente linda.
Sentado em um barraca com um grupo, um homem seguiu o garotinho com os olhos, como se pudesse o devorar, Madara avisara a Minato muitas vezes para ter cuidado com isso.
Não podia exatamente acusar outros, ele mesmo se pegava as vezes pensando coisas e se odiando depois em relação ao pequeno. Mas como não pensar? Com três anos de idade o diabinho conseguia ter as pessoas na palma das mãos. Tinha beleza, charme, genialidade e um jeito totalmente inocente.
Ele o fascinava.
Balançou a cabeça.
"Acho que estou trabalhando demais, deve ser isso."
Disfarçou o pensamento lançando olhares mortais ao que encarava o seu pequeno de forma maliciosa, que nem percebia.
Mudou o foco do pensamento ao ouvir a vozinha e o corpo se chocar ao seu. O ergueu no ar, tentando afastá-lo do seu corpo. Com esses pensamentos confusos, era o que menos precisava.
Alheio a isso, o pequeno ficou em seu colo.
– Meu presente! - exigiu radiante.
– Safadinho interesseiro. - brincou, com certa malicia e o colocou no chão se agachando na sua frente. Ficou tentado a dizer que só daria o presente se ele lhe fizesse algo depois, mas se conteve, porque Minato vinha, e por sua mente ainda se recriminava.
Puxou o pacote e mostrou a coisinha loira que pegou sorrindo e rasgou tudo.
– Calma Menma. - Minato riu já a seu lado. Madara sorriu ao ver o irmão e melhor amigo.- Não deveria mimar meu filho, Nii-san. Depois eu e Kushina que o aguentamos.
– Fizemos um acordo. - "De muitos, espero."
– Uma raposinha! - o menino riu abraçando a pelúcia.
– É uma kyuubi, da história japonesa dos bijuus. Lembra que eu ensinei você? Achei parecido com você, raposinha esperta - o menino assentiu ainda abraçado ao presente de olhos fechados. - Como se chama raposa em japonês?
– Kitsune!
– Em inglês?
– Fox!
– Em russo?
– Chega Madara. - Minato o cortou rindo. - Não o interrogue.
O homem bufou, Minato pensava tão pequeno ás vezes.
– Vou chamar Kurama. - o loirinho falou.
– Lindo nome. - elogiou o pai. - E como se diz?
O loirinho olhou o pai e então abraçou Madara, que ainda estava agachado, passando os braços pelo pescoço e beijando seu rosto inocentemente.
– Obrigado Tio Madara!
Deixou-se sentir aquele calor e abraço, sentindo seu corpo reagir, de vários modos, e sem que Minato percebesse beijou o pescoço do menino que riu sentindo cócegas.
– De nada. - falou com a voz um pouco rouca e perdida.
O pequeno largou dele com dificuldade, não queria soltá-lo nunca mais.
– Vamos brincar! - falou animado correndo, com Minato em seu encalço praguejando um "de novo."
Madara ficou ali, se ergueu e ficou olhando o pequeno correr pela multidão, sentindo ainda o cheiro, o calor, e um incômodo no corpo, como um enorme vazio de estar longe dele, deslizando os dedos no local onde havia recebido o carinho do seu menino.
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Perdeu a consciência segundos depois de sentir a lamina entrando em seu flanco. Ele havia o esfaqueado.
Abriu os olhos e gemeu forte. Tocou o local, e o objeto ainda estava lá.
Então percebeu várias coisas. A primeira, que não ouvia nada, esse sentido havia sumido. Sua visão também estava difícil, e chorava sangue. Tentou se mover e ver onde estava, avistando no teto o buraco por onde caíra e onde pendia concreto que ameaçava esmagá-lo, havia também vidro por todo o lado, e as luzes piscavam, ainda teimando em ficarem acessas.
Tocou a faca presa em si, cerrou os lábios e arrancou com um gemido, segurando o sangue em vão.O metal bateu no chão.
Tentou se virar, não conseguia se erguer, e ao virar de lado, gritou de dor, quebrara algo.
Foi quando avistou Madara, caído há dois metros ao menos. Estavam em um lugar plano, e o homem parecia voltar a si aos poucos. Tentou se erguer novamente, antes dele, mas tudo o que conseguiu foi gritar de dor.
– Impossível. - gemeu.
Então era isso? Era assim que terminava?
Ouviu o gemido, o moreno se erguia. Como ele podia estar inteiro ainda? Ele o torturaria até o fim.
Praguejou baixo, e fechou os olhos.
No fim, era apenas uma criança assustada.
Abriu novamente os olhos, e foi quando olhou de verdade ao redor, por onde permitia sua visão falha.
Reconhecia aquele lugar, aquela jaula de vidro, que agora se quebrava. Reconhecia aquelas grades, e o que havia por trás delas.
Sabia o que precisava fazer.
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Madara abriu os olhos, ainda com a lembrança viva da criança loira na mente. Seu corpo doía e tossiu forte, virando para o lado e vomitando sangue. Era irônico, a droga que criara estava o matando.
Procurou com os olhos e o viu caído há alguns metros, virado de lado e arrancando a faca que ele havia estocado. No último momento, não tivera coragem de acertá-lo mortalmente. A maldita visão da criança pequena o impedira.
Sempre fora sua ruína. Não matá-lo, o querer para si, tão perto que nenhuma distância era suficiente. Queria ser a unica pessoa para ele.
Em algum momento de toda aquela história, foi o rumo que tudo tomou. E talvez fosse desde o começo, ele, e apenas ele.
A beleza e a ingenuidade de Minato. A personalidade e o carisma de Kushina, as duas pessoas que já amou. E ainda a mente brilhante, que não reconhecia em mais ninguém além de si mesmo. Menma. O que nunca domaria. Nunca teria sob seu total controle.
– Ainda temos tempo. - falou se erguendo com dificuldade. O outro parecia não ouvi-lo, talvez houvesse perdido os sentidos, audição, visão. Logo ele morreria, Sentiu um aperto. - Idiota, se ao menos houvesse feito o que pedi. - gritou irritado.
Viu os olhos azuis o encarando. Ele se arrastava, se afastando. Tentativa tão pueril que o fez rir.
– Para onde vai? - riu.
O garoto gemeu e se recostou na parede de vidro, ou o que restara dela. Os olhos se encararam, e Madara franziu a testa. Não era o que esperara. Os olhos de medo e desespero haviam sumido. No lugar, havia uma expressão vazia.
O viu puxar a faca, que antes estivera em seu corpo e que trazia na mão.
– Não vai me acertar com isso. - zombou. Estava certo sobre a audição, viu os olhos em seus lábios, ele os estava lendo. - Pretende me matar? Vai errar, está acabado.
Se aproximou mais um passo, devagar.
– Não é para você. - o garoto falou baixo, mas ouviu. Viu um sorriso nos lábios bonitos e ele lançou a faca para o lado. Não entendeu e franziu a testa. Olhou enquanto o objeto seguia a linha, passando pela parede de vidro que fora quebrada pelo concreto e cravando em um painel do outro lado.
No teto luzes vermelhas piscaram e ouviu um barulho de celas se abrindo e rosnados.
Só então percebeu onde estava e arregalou os olhos. Deu um passo para trás.
– Xeque-mate. - o garoto sorriu cansado enquanto das celas saiam os lobos famintos.
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Minato tossiu. Havia despertado com Kakashi estapeando sua cara.
– Temos que achá-lo - o grisalho falou urgente. Não sabiam quantos haviam sobrevivido ao desabamento. Anko estava nocauteada, e a maioria dos homens, sumira. Não havia nenhum adolescente também.
Minato deu ao grisalho e a cada homem uma das seringas com o liquido que anularia a droga. Quem encontrasse Menma, teria que aplicá-la.
Só rezava para que tivessem tempo ainda.
– Se encontrarem Madara e ele estiver vivo. - ordenou. - O deixem para mim.
– Não se eu puder evitar. - o grisalho rebateu.
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Não eram como lembrava. O loiro olhou, eram cinco vezes maiores, monstruosos, diferentes dos que era obrigado a matar nos treinos ali. Eles andaram fazendo experiências com a animais, sem duvida.
E sem dúvidas eram mais espertos. Eles rodearam as presas, fixando o olhar em Madara, que estava em evidência, no centro da jaula, como o garoto estivera anos atrás. Então rosnaram e se aproximaram, o encurralando.
Um deles rosnou alto, era o líder, pedindo passagem. E foi esse que atacou.
Segundos antes Madara fixou os olhos no de Menma, em uma mistura de sentimentos, e logo fora jogado ao chão por uma das feras. Ela arrancara seu braço, logo outros vieram e começaram a brincar com a comida, arrancando pedaços, pele, enquanto o homem gritava, mesmo sem ouvir, sabia que gritava.
O garoto não conseguiu manter os olhos na cena. Os fechou apertado sentindo algo estranho no peito.
Quem o culparia?
Era muito humano, afinal.
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Quando abriu os olhos, só havia sangue e pedaços. Eles apenas brincaram, o despedaçando demoradamente. E agora o olhavam. Era a sua vez. Mas estranhamente não sentiu medo, um certo alívio.
Se pudesse mostrar-lhes o quanto eram iguais, talvez fossem rápidos.
Ficava feliz daquele inferno estar acabando. Madara estava morto, as drogas, destruídas. Não sabia quem havia sobrevivido.
Desde o começo, sabia que ele não seria um dos sobreviventes. Afinal, estava morto já há muito tempo. Morreu ali, no meio da podridão em que crescera. Ele não existia mais, não havia como, tudo dentro de si já fora destruído.
Quando alguém em quem confiara o machucou tanto, como Madara havia feito.
Encarou os olhos da fera que vinha em sua direção, e podia imaginar seus rosnados.
No momento que ia fechar os olhos, o lobo mais próximo foi jogado longe. Olhou confuso e viu o líder repelir os outros de perto dele, se mantendo a sua frente. Os outros se afastaram obedientes. Não entendeu, até perceber o pelo branco.
Seria possível?
O lobo gigante se aproximou mais, e então viu que era realmente o mesmo, o filhote de anos atrás. Ergueu a mão com dificuldade, ele já estava perto e tocou no pelo da cabeça.
– Me reconheceu. - falou de modo fraco sorrindo. - Te pegaram também?
O animal encostou a cabeça em seu peito e sentiu o calor, perto daquela criatura que poderia destroça-lo a qualquer momento. O focinho tocou seu rosto e fechou os olhos. Ele ficou ali, por alguns momentos, sentindo o calor e o conforto.
– Eu sei e você sabe o que estou sentindo. - se deixou tremer falando baixinho. - Mas já acabou, acabou tudo.
Seu coração batia fraco, começou a chorar, e mais sangue saia em meio as lágrimas.
– Acabou... - repetiu. O lobo deu um ultimo carinho no garoto antes de sair correndo por entre os túneis da galeria seguido da matilha. O garoto abriu os olhos, mas tudo ainda estava escuro.
Perdera a visão.
Sentiu o coração falhar nas batidas e teve alguns vislumbres de inconsciência.
Morrendo, estava morrendo.
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Sem ouvir, sem ver, só podia se entregar ao nada das lembranças.
"– Gaara? Ele te deu um nome?
– Você quer um também?
– Sou a 3.
– Números não são nomes, é estranho. Temari é um nome bonito, pode ser Temari. "
"– E eu pequeno? Não vai me dar um nome? "
"– Escute, só escute. Sabe o que pensei durante anos? Em como você seria grande. O que seria. Me imaginei recebendo você e sua namorada em casa, que teríamos a constrangedora conversa sobre sexo, e que beberíamos juntos quando você entrasse na universidade ou algo assim. Pensei em tanta coisa que queria falar para você! Menma... Você é o que tenho de mais importante, e te ver de novo, vivo, me fez viver de novo também. "
"– Eu sei que é egoísta Naruto. Mas eu quero lutar pra isso, de alguma forma... Você já é meu filho... E eu amo você. "
Eles estariam vivos ainda?
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Foi como uma luz forte. A porta se abriu e encarou, do escuro, arredio o estranho que estrava no quarto. Estava sujo e machucado. Muito machucado. Não tinha forças mais para se defender, então apenas fechou os olhos e abraçou os joelhos tremendo. Se sentia atordoado, aplicaram alguma coisa nele, e seu corpo estava quente, e ainda assim tremia.
Ele estava ouvindo tudo muito alto, e vendo tudo muito bem o assustava.
O estranho se aproximou mais e se encolheu, o corpo pequeno e magro quase se fundindo a parede.
Mas não houve dor. Ao contrário, sentiu um alivio quando tiraram a corrente da sua perna. Levantou a cabeça abrindo os olhos arregalados e azuis, e encontrou cabelos vermelhos a sua frente. Era um garoto maior, de face fria e olhos verdes, agachado a sua frente o analisando.
Cabelos vermelhos.
Aquilo o aqueceu, aquela cor. Gostava. Era boa.
– Sou o Um.Vou treiná–lo. Se falhar, vou matá–lo.
As palavras não o assustaram. Abriu um sorriso involuntário e o outro o olhou confuso. O loirinho ergueu a mão e este a pegou com violência, mas aliviou o aperto quando o outro gemeu baixinho. O pulso estava roxo, como muito do seu corpo. Não havia uma parte que não parecia machucada, e algumas falanges pareciam fora do lugar.
Por curiosidade, soltou a mão para ver o que ele faria, e o viu tocar seu cabelo vermelho, olhar os fios, ainda com um sorriso no rosto.
E involuntariamente, fez algo que nunca fazia, abriu um leve sorriso de canto. Era como uma doença contagiosa, ele o infectava e ele sorria também.
Que garoto estranho, mas lhe lembrava algo... bom? Alguém. Sua cabeça doeu ao pensar e a balançou com brusquidão. O menino se assustou e afastou a mão se encostando mais a parede. Pensava que ele iria machucá–lo, talvez.
– Está tudo bem. - colocou a mão na cabeça loira, e ele parou de tremer. Sentiu um estranho alivio.
Ele parecia um animal ferido e indefeso.
– Vou limpá-lo. - falou de modo frio. O outro assentiu e permitiu que ele o pegasse nos braços. Era muito leve. Ele gritou abafado ao ter o contato dos machucados com a pele do ruivo. Não havia um só lugar livre, não tinha outro jeito.
O garoto soluçou baixinho. O levou rapidamente, sentindo uma ânsia incomoda de livrá-lo daquela expressão sofrida.
O levou para o quarto que seria dele, e ao colocá–lo na água, ele soluçou mais e abriu os olhos desesperado. Eram muito azuis, agora podia ver claramente. Assustados no rosto pequeno. Ele devia ter nove anos, mas parecia bem menor, frágil, quebrável.
Deveria chamar alguém, uma das enfermeiras para banhá–lo, mas hesitou ao sentir a mão agarrar a sua roupa, ficando de pé na banheira e quase caindo. O amparou e suspirou resignado.
– Tudo bem. Mas não grite mais.
O garoto prendeu o soluço durante o banho, mas ainda gemia baixo de vez em quando. Gaara sentiu um aperto estranho, e para distraí-lo da dor começou a conversar.
– Havia um homem, chamado Geppeto... - falou, a primeira coisa que pensara. O garoto o olhou atento e continuou a história, e em algum momento, quando viu, o pequeno estranho dormia na banheira.
O secou, colocou umas das roupas, grandes demais, e o colocou na cama. Ficou o olhando algum tempo e quando iria sair, sentiu novamente a mão segurar sua roupas, agora meio molhadas.
Encarou os olhos azuis sonolentos e sentou no chão ao lado da cama, encarando-o. Era estranho, uma hora ele parecia pequeno, infantil, e naquele momento, nos olhos dele, parecia maior que todos, como se toda a dor do mundo, a tristeza e mais uma gama de sentimentos que naquele momento Gaara não entendia, estavam ali, tão fundo e intrínseco.
E de alguma forma, a partir daquele momento, sabia que estava conectado aquela criança de uma maneira que não conseguia, mesmo em sua mente genial, entender.
O loiro puxou a mão do outro garoto deitando de lado, a encostando no peito. Ele lembrava vagamente de fazer isso, de outra pessoa que o vigiava no sono, mas isso foi há tanto tempo... Talvez um sonho. As vezes tinha vislumbres de olhos azuis do lado da sua cama e de uma voz calma. E mesmo que o garoto ruivo não falasse nada, aquilo o acalmou, permitiu que se peito batesse mais devagar e dormisse sob a vigília.
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Estava sendo carregado. Sentiu suas mãos sendo seguras para que ficasse preso a um pescoço. Estava nas costas de alguém, e com um dos únicos sentidos que lhe restava, o olfato, pode saber quem era. E por reconhecer essa sensação conhecida. Deixou se embalar, o queixo pousado no ombro conhecido, como fizeram tantas vezes ao longo dos anos depois dos treinos em que ele tinha que carregá-lo.
Foi se acalmando, entorpecido pela dor.
– Gaara. - murmurou.
O ruivo notou que o outro havia acordado e apertou o passo no túnel. Tinha que achar a saída dali, tinha que salvá-lo, de alguma maneira. O encontrara quase morto, agonizando em meio a sangue e pedaços de um corpo que não sabia de quem era, mas desconfiava.
– Eu estava sonhando. - a voz do outro era baixa, e um tom calmo. - Gaara...
– Estou aqui.
O outro não respondeu. Parecia não ouvi-lo. Apertou mais seus braços e ouviu uma risada baixa.
– Ei Gaara, naquele dia, você ficou me vendo dormir... - ele falou, a voz cada vez mais fraca. Gaara sentiu o coração fraco as suas costas, batidas irregulares.
– Não fale, não faça isso...
– Gaara... obrigado por ter ficado...
Eles nunca pediam obrigado!Não precisavam de palavras entre si. Gaara sem perceber, estava chorando. O outro percebeu pelo balançar dos ombros. Fechou os olhos devagar.
– Eu acho... que vou dormir um pouco agora... de novo...
Seus olhos ardiam. Ouviu gritos, a luz estava se aproximando. Podia ver do lado de fora, o túnel dava para um bosque e o sol nascia, um novo dia. Ouviu mais gritos.
Chamavam por 445, não, por Naruto. Eles os avistaram, mas o garoto estava silencioso.
Não ouvia mais a batida fraca do seu coração.
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Estava com medo. Sua mente parecia dividida, e se perdia aos poucos. Acordara no galpão, ouviu as risadas, estavam o despindo, pensavam que estava quase morto. Sentiu que o tocavam. Os matou, a todos. Mas agora estava ferido, sozinho, e prestes a enlouquecer. Foi quando viu os dois homens estranhos entrando. Eles o olharam, e falavam coisas que não ouvia bem. O mais estranho era o grisalho que se aproximava. Tentou se defender, mas não sabia, seu corpo não respondia.
E tinha um moreno que lembrava um pouco um corvo, era estranho pensar isso.
Algo na face do homem grisalho também o impedia de tentar o matar. O tranquilizava. Quase como Gaara fazia as vezes quando tinha um ataque de fúria.
Sentiu aversão quando ele se aproximou, mas seus olhos o prenderam.
–Não precisa ter medo. Não vamos te machucar.
E por algum motivo que não entendia, confiou nas palavras e caiu no escuro. Ele falava firme, olhando-o nos olhos. Naquele momento, quase acreditou que era verdade, e que tudo terminaria bem.
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