Capítulo 34 - "Amar não é uma fraqueza." (FERNANDO) parte 3.
O mundo girou quando me levantei, completamente aturdido com tudo. Tentei me sentar, mas uma pontada forte fez com que eu me desequilibrasse, e batesse com a cara no chão de novo.
_ Calma, você levou uma pancada extremamente forte._ Louis disse, segurando o meu braço. Ela me ajudou a me firmar no chão, a mente ainda girando.
_ Isso realmente aconteceu...?_ Perguntei, massageando a cabeça com as duas mãos. A floresta se encontrava em completo silêncio, e algo estava estranho no ar... Estava pesado, difícil de respirar, diferente de quando estávamos com a máscara. Isso, só me deu a certeza de que existia algo no ar. E isso me deixava com medo, muito medo.
_ Aconteceu._ Louis bufou baixinho._ Eles levaram Delanay._ A garota me olhou, os olhos tristes, as mãos levemente tremendo._ E Devon ainda está desmaiado...
_ Nem tão desmaiado assim..._ Ele resmungou, os olhos fechados, a cara enfiada dentro da terra. Suas mãos estavam em punho, e ele parecia suar um pouco.
_ Ok, ele não está mais desmaiado._ Se corrigiu, correndo pra ajuda-lo também. Devon se sentou entre o mato, as sobrancelhas franzidas.
_ Louis..._ Murmurei, me sentando._ Porque... Porque Delanay fez aquilo? Sabe que precisamos dela, por que se deixou levar assim?
_ Ela fez isso pra me proteger._ Louis respondeu, colocando os cabelos atrás da orelha._ Mas que fique claro que não concordo com o que ela fez... Não mereço tudo isso...
_ Mas, porque você acha que ela ficou tão fora do eixo?_ Continuei pressionando, vendo que Louis não parecia nada feliz._ Ela não é assim, pelo que vi, e pelo que Daniel me contava...
Louis concordou com a cabeça levemente. Sua expressão transbordava indignação, medo, tristeza, e ela tremia como vara verde. A garota se ajoelhou no meio de nós dois, que ainda não conseguimos nos levantar, colocando as mãos no joelho.
_ A gente nunca disse nada... Na verdade, não é normal alguém ficar sabendo disso, mas.._ Ela fez uma pausa, fechando os olhos e dando um longo suspiro._ Delanay é a minha avó materna, deve ter sido por isso... Que ela quis fazer aquela troca.
Ficamos em silêncio, apenas o estranho silêncio da floresta ecoando. As ultimas explosões das bombas ecoaram subitamente, um lembrete e vestígios do que fizemos ainda no ar. Louis continuou, interpretando nosso silêncio como a pergunta que realmente nos fazíamos.
_ Minha mãe engravidou durante o primeiro apocalipse, de um cara aleatório, e me teve dentro da floresta. Ela morreu dois dias depois, porque durante o parto ela teve hemorragia._ Coloquei uma das mãos no ombro de Louis, vendo que a semi ruiva ficava abalada contando de sua história._ Eu fui criada por Delanay, que é a minha avó, e ela sempre me protegeu. Delanay é uma mulher forte, determinada, e a unica coisa que é capaz de abalar ela, é a família. É a unica fraqueza dela. E me sinto mal por saber que sou eu.
_ Não se sinta mal por isso!_ A repreendi, querendo abraçar e ao mesmo tempo socar Louis, por dizer algo daquele tipo._ Amar não é uma fraqueza! Ela estava tentando te proteger e não tem nada de errado com isso!
_ Acho que descobrirmos que a marra de vocês é mal de família..._ Devon começou. Eu achei que ele ia parar por aí, e já estava pronto pra dar esporo, quando ele continuou._ E família se protege. Você conhece a Delanay melhor do que nós. E mesmo assim eu tenho certeza que ela tem total capacidade de se proteger sozinha.
O baixinho conseguiu arrancar uma gargalhada tímida de Louis, que sei lá por que achou o comentário engraçado. E já fiquei feliz por isso, e mesmo com a cabeça doendo, acompanhei ela na risada.
_ Você tem razão, Delanay é o menor dos nossos problemas agora._ Ela mudou de assunto, se levantando, e me ajudando a levantar também._ Temos uma equipe desfalcada, e amigos que não fazemos ideia de onde possam estar. Precisamos dar uma olhada nos escombros, pode ter algo ou alguém importante por lá.
Já em pé, ajudei Devon a se levantar também. Ele capengou com as pernas moles, e se apoiou em mim, balançando a cabeça pra conseguir ver melhor em volta. Eu mesmo estava com a visão embaçada, mas conseguia olhar em volta, e tudo parecia estupidamente bem.
_ Pode ser que alguém esteja enterrado lá._ Devon sugeriu, me olhando._ Se tiver, cada segundo é precioso pra salva-lo.
_ Não me oponho, temos que ir rápido._ Peguei minha mochila, que por sorte não tinham levado, e verifiquei o cinto. Sem arma, sem balas. Tinham nos desarmado. Porque esta surpreso...?_ Pegaram nossas armas, cuidado redobrado.
_ Temos que ter cuidado redobrado pelo simples fato de saberem que estamos vivos, e aqui fora._ Ela rebateu.
_ Essa é outra coisa que não entendo..._ Comecei._ Acreditaram nela bem facilmente...
_ É claro que acreditaram nela._ Louis trincou os dentes levemente, tirando um elástico de cabelo não sei de onde, e amarrado o dela em um rabo de cavalo meio solto._ Ela é a porra de uma marechal, e acabou de jurar sem razão por sua patente. Se fosse outra época, e não estivéssemos em um apocalipse, isso seria motivo pra ela ser MORTA! É claro que acreditaram nela, sempre se acredita em uma jura de patente.
_ Mas... Ela mentiu no juramento?_ Murmurei, franzindo as sobrancelha curiosamente.
_ É claro que ela mentiu!_ Um sorriso sádico apareceu em seus lábios._ Porque nós somos uma ameaça.
A noite havia caído a algum tempo, estava estranhamente fria e úmida. A floresta voltou a fazer barulhos normais, e pássaros piavam aleatoriamente, fazendo arrepios subirem pela minha espinha. Caminhávamos por cima dos escombros do que antes foi aquela base, vendo que aquilo parecia maravilhosamente mórbido. Para o propósito que viemos fazer, estava perfeito...
Os vestígios que sobraram, foram principalmente paredes avulsas, poeira no ar e soleiras de portas. O teto, não existia mais vestígio algum dele, mas se via que estavam todo no chão, sobrepostos por camadas de vidros, quadros quebrados, mascaras de gás destruídas e um cheiro estranhamente parecido com mofo e desodorante vencido no ar. A poeira deixava tudo ainda mais estranho, o ar estava mais pesado e difícil de respirar. A cada passo que dávamos, nuvens de poeira e serragem subiam, deixando o ar pós apocalíptico, ainda mais do que já era. E o fato dos escombros estarem completamente as moscas, ajudava em nos deixar apreensivos.
_ Não dá pra ver quase nada com essa poeira..._ Devon murmurou, reclamando enquanto contornava uma pilha de vidro e escombros.
_ Para de reclamar, imagine você estar aqui, quando tudo isso caiu._ Respondi, passando por entre um batente onde antes havia uma porta, e agora, se encontrava apenas uma parede.
_ Estamos muito expostos aqui, sem arvores ou um teto sobre nossas cabeças._ Louis resmungou, passando ao meu lado, em direção a uma pilha enorme de escombros.
_ Ok mãe, eu ponho o casaco antes de sair._ Ele debochou.
"Louis..." Uma voz, baixinha, parecida com o som do vento, chegou até mim, quase como um sussurro. Não prestei muita atenção, achando ser coisa da minha cabeça, mas a voz chamou de novo, dessa vez mais alto. "Devon!". Agora, eu tinha certeza que tinha alguém por ali.
_ Vocês ouviram isso?_ Perguntei, começando a me animar.
_ Ouvi!_ Louis respondeu, também se animando.
_ O que vocês estão dizendo?_ Devon começou._ Não ouvi nada...
_ Nando!_ Ouvimos uma vozinha fina, feminina e infantil gritar, tão rouca que quase não entendi. A voz veio de uma pilha de escombros, por perto.
_ ELOISE!!!_ Berrei, reconhecendo a voz da menina, e correndo como um raio pra desenterra-la._ Você ta aqui!!! POR FAVOR, FALA COM A GENTE!!!
_ Eu... Eu to... Aqui..._ Ela murmurou, vindo de dentro da pilha de escombros.
_ Gente, me ajuda! Ela ta aqui!_ Gritei, fazendo com que Devon e Louis me ajudassem, tirando as pedras e vidros dos escombros.
Entre vidros, pedaços de parede, teto, gesso e molduras quebradas de quadros, todos jogados e em pedaços, tentávamos desenterrar Eloise. Tirei com dificuldade, um grande bloco de gesso e teto, e consegui ver o rosto da pequena garota, lotado de pó branco, inchado e com manchas de sangue... O rostinho angelical que ela sempre teve, agora estava deformado, sangrando e roxo.
_ Aguenta Eloise! Vamos te tirar daí!_ Disse, praticamente entrando em desespero.
_ Não, Nando... Me escuta..._ Ela sussurrou, os olhos entreabertos, tentando me ver._ Dan... Daniel foi levado...
_ Levado? Levado por quem..?_ Murmurei, segurando o rosto da menina entre as mãos.
_Ve-Veronika... Pa-Page...
_ Veronika Page? É esse o nome dela?!_ A menina fez que sim com a cabeça.
_ Nando... E-eu... Não tenho mais... Chances..._ Fiz que não com a cabeça, as lagrimas explodindo em meus olhos, quentes, doídas._ Eu já... Aceitei isso... Mas precisa..._ Ela tomou mais folego, se esforçando pra dizer._ Precisa saber que... Seu irmão está vivo... Que... Pode salvar ele...
_ Eloise, por favor, você precisa resistir..._ Tentei, mas a menina continuou, me cortando.
_ Robert... Está morto..._ Arfei, o coração se apertando ainda mais._ O corpo... Foi-foi levado, sem... Coração... Eu, vou... Pelo mesmo ca-caminho..._ Tentei contestar, mas ela continuou, e tive que ficar em silencio, tentando ouvi-la._ Só... Saiba que, Daniel... Está vivo... Salve ele... Por mim... É-é meu... Ultimo pedido...
_ Eloise..._ Murmurei, chamando-a, como um lunático._ Eloise!!!_ Berrei, como se isso pudesse deixa-la bem...
Minhas lagrimas molharam o rosto dela, quando seus olhos se fecharam, para não se abrir nunca mais. Não era eu que tinha que ter feito aquilo. Não era eu a ter o direito de ouvir o ultimo pedido de Eloise... Os gritos e suplicas de Louis deixavam minhas lagrimas mais duras, espessas. Nada do que dissermos funcionaria.
Eloise se foi. Pra sempre.
Sim gente... É isso o que vocês leram... Todos de luto. Coloquem suas opiniões e teorias nos comentários e não se esqueçam da estrelinha linda pra me ajudar!!!
Cap 17 do mês de festas!!! Até amanhã negada!
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