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Parte 04: Espelhos Quebrados

Horas já tinham se passado. Meu almoço provavelmente já tinha até sido digerido. Nos primeiros dez ou quinze minutos eu fiquei com medo de colocar tudo para fora. Não porque a comida de Rosane fosse ruim (ainda que ela não fosse também particularmente boa), mas porque meu estomago não parava de revirar com a ansiedade. Ben ainda era um gato. A culpa era minha. Ele ficaria assim para sempre, a não ser que eu acertasse que raios o maldito espírito do gato queria que eu confessasse.

— Quando eu tinha quinze anos eu colei na prova de álgebra — eu confessei.

O gato tinha que ficar satisfeito com isso. Para uma nerd como eu, confessar que colei na prova era algo que tocava o fundo do meu coração e de todo meu orgulho de boa aluna conquistado a duras penas, durante todos esses anos. Mas não... nada.

— Eu esvaziei o pneu da bicicleta de um garoto lá da escola — Ben, na versão gato, tentou. — Tipo, semana passada.

— Benjamin! — sua avó berrou, em represália.

— Ele mereceu — Ben, ainda na sua versão gato, respondeu. Aposto que ele daria de ombros, se pudesse. — Era o maior babaca.

— Foi você que esvaziou o pneu do Juan! — eu comecei a rir. Acho que só Ben para me fazer rir, mesmo nas circunstancias atuais.

— Eu não queria que ele acabasse se estabacando no meio da rua — eu pensei se estava imaginando ou se Ben-gato estava sorrindo. — Mas mesmo assim foi bem feito!

Estávamos ferrados. O gato seria um serial killer, com certeza. Precisaríamos matar alguém e nos livrar do corpo e das evidências antes do pôr-do-sol. Tudo bem que eu era especialista em como se livrar de um assassinato, formada em 2 temporadas e meia de How To Get Away With Murder.

Mas mesmo assim.

Eu não queria matar alguém.

— Que horror — Rosane interrompeu meus pensamentos e eu fiquei na dúvida se eu tinha falado algo em voz alta. — Você não pode fazer mal para as pessoas assim, Ben.

Ufa.

O assunto ainda era o pneu.

— Quando eu tinha nove anos disse para minha melhor amiga que não ia dormir na casa dela porque minha mãe não deixou — eu comecei. — Mas na verdade eu não fui porque ela soltava puns muito fedorentos de noite.

Rosane caiu na gargalhada. Eu fiquei até com medo do chá quente que ela tomava delicadamente cair em cima dela. O gato (Ben!) soltou um grunhindo esquisito e se deitou no chão, de barriga para cima.

— Não é nada disso que o gato quer, mas eu estou me divertindo horrores — Rosane disse, bebericando o chá novamente.

Não era divertido.

Ben corria o risco de nunca mais voltar à forma humana.

Isso não era engraçado.

— O que raios o gato quer? — Ben voltou a se sentar, esticando-se como se estivesse se espreguiçando. — Estou de saco cheio dele.

— Você está dividindo o corpo com ele — eu apontei, já exasperada. — Não era para você conseguir ouvi-lo, ou algo assim? — suspirei. — Você devia conseguir saber o que ele está querendo.

— Não me lembra disso! — o gato se encolheu. — Toda vez que eu lembro que ele está aqui em algum lugar me sinto em um filme de terror. Imagino como se o gato estivesse me espreitando...

— E ele está! — Rosane concluiu, dando um sorriso.

— Viu? — Ben disse, num choramingo gatuno. — Pelo amor de Deus, Chris, pensa em alguma confissão melhor aí.

— Eu? — eu puxei as pernas para cima da poltrona, mortificada. — Aposto que é você que tem um segredo oculto bizarro. Eu sou só a menina nerd.

— Por que eu teria um segredo oculto bizarro? — ele girou a cabeça de gato para me encarar. — Eu também sou só o menino nerd.

— Há! — eu não contive. — Me poupe.

— Não sou nerd? — ele perguntou, girando a cabeça para o outro lado.

— Você faz parte da galera popular — eu disse, como se a palavra fosse capaz de me contaminar. — Pode até tirar boas notas e ser boa pessoa, mas isso não muda o fato de que você é popular e eu sou a menina nerd, que ninguém perde tempo olhando por mais de dois segundos.

O gato abriu a boca para retrucar, mas Rosane levantou da sua poltrona e andou até a cozinha, cruzando a sala e passando entre nós dois.

— Estamos perdendo tempo — ela disse. — Não é assim que funciona.

— E como funciona? — eu girei a cabeça para tentar encará-la.

Ela tinha se enfiado na cozinha, mas nós ouvimos sua voz respondendo, mesmo da sala.

— Não tenho certeza, mas acho que vocês precisam encontrar uma confissão em comum — Rosane explicou. — Algo que vocês dois tenham feito juntos, sintam juntos ou, sei lá, sonhem juntos.

Eu voltei a encarar o gato, sem ter a menor ideia do que fazer. Tudo que eu e Ben já tínhamos feito juntos tinha sido uma longa prova de Geografia, na qual eu fiquei o mais longe possível dele, para não o contaminar com meu azar. Não fazia ideia de quais eram os sonhos dele e, para ser sincera, nem tinha certeza dos meus. E sentir? Sabe lá Deus o que Benjamin sentia! Sabe lá Deus o que eu sentia! Como nós conseguiríamos descobrir dentro do prazo? Era um caso perdido.

— E ah — Rosane continuou, como se tivesse lembrado de algo muito importante. — Provavelmente é algo místico. Ou espiritual. Ou sentimental. Vocês entenderam.

Eu girei as mãos, gesticulando como quem está em dúvida. O que fazer? O que falar? O que esse gato queria ouvir? Tentei passar pelos episódios místicos, espirituais e sentimentais da minha vida...

— Quando eu tinha 8 anos brinquei com o jogo do copo — Ben confessou.

— Eu nunca fiz nada disso — tentei forçar uma conexão. — Medrosa demais.

— Quando eu tinha 13 anos dei meu primeiro beijo — Ben continuou confessando. Provavelmente o medo de virar gato permanentemente estava piorando. — É isso que você quer dizer com sentimental, vó?

Eu não — ela corrigiu, voltando para sala. — É o gato.

— Pelo jeito não é isso — eu dei de ombros, considerando que nada do que havíamos dito tinha surtido o mínimo efeito.

— Você não compartilhou comigo — Ben apontou.

O beijo ou a confissão? Nenhum deles, realmente.

— Não acho que temos que confessar sobre as mesmas coisas — eu me esquivei de responder novamente. — Temos que confessar sobre coisas que fizemos juntos.

— Ou sentiram. Ou sonharam — Rosane repetiu.

Eu não queria contar para meu crush e para avó do meu crush que só tinha beijado três garotos na vida. O primeiro, num jogo de verdade e desafio. O segundo, numa festa em que batizaram minha bebida e eu mal me lembro. O terceiro, em uma das férias que passei na praia, na casa da minha amiga (que hoje não solta mais puns fedorentos) e nunca mais vi de novo. Todos eles em um espaço de tempo de 2 anos. Ou seja, bem depois dos 13 anos de Ben. Seria humilhante demais. E eu já tinha que conviver com a humilhação de tê-lo transformado em um gato. Não tinha mais cota para humilhação disponível.

— Eu não faço ideia do que fazer na faculdade — eu confessei. — Será que isso conta?

— Tem alguém que faz ideia do que quer fazer da vida com dezessete anos? — Ben questionou.

— Acho que sim? — eu perguntei, em dúvida. — Eu achei que você sabia o que queria fazer da vida.

— Não — ele balançou sua cabeça de gato para um lado e para o outro. — Se você ficasse do meu lado mais de cinco minutos provavelmente já teríamos falado disso.

— Eu não quero contami... — eu comecei, mas me detive. Era muita idiotice dizer que eu não queria contaminá-lo com meu azar, né? Corrigi. — Eu não quero atrapalhar.

— Você nunca perguntou se atrapalhava — Ben continuou sacudindo a cabeça. — Se tivesse perguntado, eu teria dito que não.

— Eu não sei lidar muito bem com seres humanos! — eu me encolhi, tentando rir e fingir que era uma piada.

— Ótimo, Chris, porque agora eu sou a droga de um gato — ele levantou uma patinha, apontando para mim. — De repente assim você não tem horror à minha companhia.

— Eu não tenho horror a sua companhia — eu retruquei, presa em uma sinuca de bico. Se contasse a verdade, pareceria louca. Se mantivesse a mentira, parecia desinteressada. — Eu só... Eu só...

— Você só? — Rosane disse, cruzando as pernas, interessada na discussão.

— Eu só tenho medo de contaminar as pessoas que eu gos... — engasguei, trocando a palavra. — convivo com meu azar.

Eu acho que Ben riria novamente, se ele estivesse apto a rir. O gato me encarou como se tivesse ouvido a coisa mais ridícula do mundo. Pelo menos ridícula é pior que louca.

— Que azar, Chris? — ele sacudiu a cabeça de novo.

— Eu te transformei num gato — eu apontei.

— Não, esse é o meu azar — ele corrigiu. — Quando eu tinha onze anos, quebrei um espelho.

Eu estava com a boca aberta para retrucar, quando realmente ouvi o que ele tinha dito. O quê? Quebrou um espelho? Com onze anos? Ele também?

— E mesmo assim não ficou me privando de conviver com as pessoas — ele continuou.

— Espera — eu interrompi. — Você quebrou um espelho?

— Eu acabei de falar isso.

— Com onze anos? — eu quis confirmar.

— Você está com algum problema de surdez, Chris?

— Não, espera — eu insisti. — Eu quebrei um espelho quando eu tinha onze anos. No meu aniversário de onze anos, para ser mais precisa.

O queixo do gatinho se deslocou.

— O aniversário era seu? — ele perguntou, chocado.

— Ah há — Rosane bateu palmas. — Acho que achamos nosso ponto em comum.

Você era o menino idiota que estava jogando futebol bem na frente do espelho da recepção? — eu queria gritar.

Eu achava que tinha sido um desconhecido qualquer, não Benjamin. Nós nem estudávamos juntos na época, por que ele estava na minha festa? Como ele podia ter sido a pessoa que quebrou meu espelho, pelo amor de Deus? O meu não. O da casa de festa. Mas o que culminou no meu azar plus.

— Eu estava na casa de um amigo e ele tinha sua festa, então me chamou para ir junto — Ben levantou e começou a andar de um lado para o outro. — Eu fui e a gente acabou quebrando o espelho juntos.

Juntos nada! — eu retruquei. — Você chutou a bola em mim e me empurrou contra o espelho!

— Foi sem querer — ele parou de andar para me encarar. — Morri de vergonha pelo resto da festa.

— E eu morri de medo do meu azar pelo resto da minha vida! — eu reclamei.

— Ei, eu também morri de medo do meu azar — ele também reclamou.

— Você não tem azar, Benjamin — eu revirei os olhos, me levantando da cadeira.

Que se dane, talvez ele devesse ser um gato para sempre. Assim não chutaria mais bolas em meninas indefesas e transformaria a vida delas em um inferno pelos próximos sete anos.

— Se você passasse mais de cinco minutos comigo saberia que eu tenho, sim — ele reclamou, me seguindo.

— Que bom que eu não passei, então! — Reclamei, jogando os braços para o alto. — Se isso é verdade, imagina o desalinhamento cósmico que nós dois causaríamos? Dois azarados andando juntos por aí? Talvez um de nós nem estivesse mais vivo!

— Claro que não, Chris — ele passou entre minhas pernas, esfregando seu pelo nelas. Eu contive um espirro. — Talvez a gente se anulasse de alguma forma.

Eu sacudi a cabeça de um lado para o outro, andando até a porta. Enfiei a mão na maçaneta e olhei pela janela. O sol já estava baixo, prestes a se por. Benjamin seria gato pelo resto da vida e não tinha nada que eu podia fazer sobre o assunto. Já tinha tentado de tudo. Ele não merecia ser gato para sempre, mesmo sendo o menino que me ocasionou sete anos de profundo sofrimento. Mas o que fazer? Não tinha mais nada para fazer.

— Podia ser isso, né — eu senti as lágrimas nos cantinhos dos olhos pela culpa. — O gato podia estar interessado nessa nossa confissão mútua, de termos sido os responsáveis pelo espelho.

— Chris — Benjamin disse, cutucando minha perna com a patinha.

Era fofo, mas eu espirrei. Ainda por cima, eu nunca mais poderia vê-lo, porque espirraria feito uma condenada só dele estar por perto. Meu nariz já estava doendo depois de uma única tarde.

— Desculpa, Ben — eu disse, dando de ombros. — Não entendi o que esse gato quer e agora você vai se tornar um animal que me dá alergia para sempre.

— Parecia que eu te dava alergia mesmo quando era garoto — ele recolheu a patinha.

— Eu só tinha horror a te fazer mal, entende? — Eu encolhi os ombros, desviando os olhos do gato. — Porque eu gostava de você.

As palavras saíram da minha boca, sem controle. Eu ouvi uma pequena gargalha de Rosane, mas não olhei para ela por cima do ombro. Pelo contrário, olhei de volta para maçaneta, pronta para ir embora: eu e toda minha bagagem de culpa e humilhação. O garoto que eu gostava seria um gato para sempre. Pior: um gato ciente de que eu era apaixonada por ele, quando humano, e nunca tive coragem para dizer nada. Pior: nunca tive coragem nem para ficar cinco minutos do lado dele.

— Você gostava de mim? — Ben esticou a pata para tocar minha perna de novo. Dessa vez não espirrei.

Eu não olhei para baixo. Sacudi a cabeça para cima e para baixo, apertando os lábios. Seria muito esquisito ouvir "mas eu só te vejo como amiga. E mesmo assim uma amiga muito esquisita" de um gato. Mas era muito esquisito ouvir qualquer coisa de um gato, então tudo bem. Eu sobreviveria.

Puta que pariu — o gato disse e eu olhei para baixo, surpresa. — Não acredito que era isso que você queria, seu filho da puta.

— BEN! — Rosane reclamou da boca suja do neto, lá da poltrona.

— Eu também gosto de você, Chris — Ben disse, apoiando as duas patas na minha perna e se esticando para me encarar. — Só que eu achei que você me odiava.

Eu encolhi as mãos, sem saber como reagir. Era uma piada? Fazia parte para cumprir a cota de humilhação do dia? Será que tudo tinha sido uma grande pegadinha e essa era a cereja da vergonha? Estava ficando um fardo muito grande para carregar. Eu fechei os olhos e toquei o cantinho deles com as mãos, apertando-as sobre o nariz. Para completar só faltava eu abrir o berreiro mesmo...

— BENJAMIN! — Eu ouvi Rosane gritar.

Eu virei, sobressaltada. Sentado na poltrona, como se sempre estivesse estado lá, estava Benjamin. A versão humana dele. Ele também estava alarmado, tateando a si mesmo como se não acreditasse que, realmente, era humano. Levei minha mão até a boca, tentando conter um novo berro.

Eu olhei para baixo. O gato ainda estava esticado nos meus joelhos. Dessa vez eu tenho certeza que ele estava sorrindo.

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VOLTAMOS COM NOSSO GATINHO PRETO FAVORITO! <3
E na próxima segunda-feira já teremos o capítulo final - afinal, já será Halloween!
Mas bem, o desfecho já está encaminhado! Espero que vocês gostem do que estou preparando para o fim desses dois.

Um recadinho: eu terminei de postar Tiete! na quarta-feira (ainda chorando de saudades). Então, quem gostar de ler livros ~completos~ já pode correr lá e aproveitar. Amanhã vou postar um vídeo especial respondendo as perguntas que os leitores fizeram e na outra terça-feira, dia 1º/11, vou começar um livro novo! Ele vai se chamar Chinelo e Salto Alto e vai contar a história de Rafael (personagem de Acampamento) e Bárbara (personagem de Mocassins e All Stars), colidindo os mundos, mas sem dar spoiler :P. Vou adorar vocês por lá! O livro já está disponível para vocês adicionarem na biblioteca!

E GENTE, muito obrigada!!!! Passamos de 3 mil leituras nesse gatinho :D

Feliz? Claro que sim!!! Vocês sempre me fazem sorrir.

Aguardando os comentários e chutes para o desfecho ;)
Beijos grandes e até amanhã! Ou até segunda.

PS: Cuidado com os espelhos.

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