"NÃO SUBESTIME O DEAFIO DA ARMADILHA MIRA, ELE FOI PROJETADO PARA TESTAR SEU EQUILÍBRIO, FORÇA E AGILIDADE. OS TEMPOS NÃO IMPORTAM MERDA NENHUMA, APENAS QUE VOCÊ CHEGUE AO TOPO. ALCANCE AS CORDAS QUANDO FOR NECESSÁRIO. CHEGAR POR ÚLTIMO É MELHOR DO QUE CHEGAR MORTO."

— Página quarenta e seis, o livro
de Brennan.

VISHA OLHA PARA CIMA, e para cima, e para cima, o medo se enrolando em seu interior como uma cobra pronta para atacar.

—— Bem, isso é... — Rhiannon engole, sua cabeça inclinada tão para trás quanto as das amigas enquanto olham para a ameaçadora pista de obstáculos que é esculpida na frente de uma cordilheira tão íngreme que poderia muito bem ser um penhasco.

A armadilha mortal em ziguezague de uma trilha se eleva, subindo em cinco ziguezagues distintos de curvas de 180 graus, cada uma aumentando em dificuldade no caminho para o topo do penhasco que divide a cidadela do campo de vôo e do Vale.

—— Incrível. — Aurélie suspira.

Rhiannon, Visha e Violet se  viram, ambas olhando para ela como se ela tivesse batido a cabeça.

—— Você acha que essa paisagem infernal parece incrível? — Rhiannon pergunta.

—— Eu esperei anos por isso! — Aurelie sorri, seus olhos negros normalmente sérios
dançando no sol da manhã enquanto ela esfrega as mãos, mudando de uma perna tonificada para a outra em alegria. —— Meu pai era um cavaleiro até se aposentar no ano passado, ele costumava criar pistas de obstáculos como esta o tempo todo para que pudéssemos praticar, e Chase, meu irmão, disse que é a melhor parte de estar aqui antes da Ceifa. É uma verdadeira adrenalina.

—— Ele está com a Asa Sul, certo? — Violet pergunta, concentrada na pista de obstáculos que sobe a porra de um penhasco. Parece mais uma armadilha mortal do que uma descarga de adrenalina.

—— Sim. Praticamente dever de escritório por toda a ação que eles veem perto da fronteira de Krovlan. — Ela encolhe os ombros e aponta para cerca de dois terços do percurso. —— Ele disse para tomar cuidado com aqueles postes gigantes que se projetam do lado do penhasco. Eles giram e você pode ser esmagado entre eles se não for rápido o suficiente.

—— Oh, bom, eu estava me perguntando quando isso ficaria difícil. — resmunga Rhiannon.

—— Obrigado, Aurelie. — Visha segue o olhar até a série de troncos quase tocantes de quase um metro de largura que se projetam do terreno rochoso como um conjunto de degraus redondos subindo do chão até o ziguezague acima dele e aceno.

—— Ainda não sei por que eles chamam de armadilha. — diz Ridoc, soprando em suas mãos em concha para afastar o frio da manhã.

—— Para garantir que os dragões continuem vindo e eliminando os fracos. — Tynan zomba do outro lado de Ridoc, cruzando os braços sobre o peito enquanto lança um olhar aguçado para ela.

—— Pare com isso. — Ridoc estala, ganhando a atenção de todo o esquadrão.

Visha o encara. Ela nunca havia visto Ridoc perder a paciência ou usar qualquer coisa além do humor para neutralizar uma situação antes.

—— Qual é o seu problema? — Tynan empurra uma mecha de cabelo grosso e escuro de seus olhos e gira como se fosse encarar alguma intimidação em Ridoc, mas realmente não funciona, visto que Ridoc é duas vezes mais largo e meio pé mais alto.

—— Meu problema? — Você acha que, por ter feito amizade com Barlowe e Siefert, tem o direito de ser um idiota com seu próprios companheiros de esquadrão? Desafia Ridoc.

—— Exatamente. Companheiro de esquadrão.— Tynan aponta para a pista de obstáculos.
—— Nossos tempos não são apenas classificados individualmente, Ridoc. Também somos pontuados como esquadrão, e é assim que a ordem da apresentação é decidida. Você realmente acha que algum dragão quer se unir a um cadete que entra depois de todos os outros esquadrões na procissão?

—— Eles não estão nos cronometrando para a Apresentação hoje, idiota. — Ridoc dá um passo à frente.

—— Parem. — Sawyer se arrasta entre os dois, empurrando o peito de Tynan com força suficiente para fazê-lo cambalear de volta para a garota atrás dele. —— Acredite em alguém que passou pela Apresentação no ano passado: seu tempo não significa nada. O último cadete a entrar no ano passado se adaptou muito bem, e alguns dos cadetes do primeiro esquadrão em campo foram mortos.

—— Um pouco amargo sobre isso, não é?— Tynan sorri. Sawyer ignora a farpa.

—— Além disso, não é chamado de armadilha porque elimina os cadetes. Chama-se armadilha porque este é o penhasco que protege o Vale. — diz o professor Emetterio, caminhando atrás do esquadrão, a cabeça raspada brilhando à luz do sol. Ele ergue uma sobrancelha para Tynan e Sawyer. —— Vocês dois terminaram de discutir? Porque todos vocês nove têm exatamente uma hora para chegar ao topo antes que seja a chance de outro esquadrão treinar e, pelo que vi de sua agilidade no tatame, vocês vão precisar de cada segundo.

Há um murmúrio de concordância pelo grupo.

—— Como você sabe, os desafios corpo a corpo estão suspensos pelas próximas duas semanas e meia antes da Apresentação, então você pode se concentrar aqui. — O professor Emetterio vira uma página do caderninho que carrega.
—— Sawyer, você vai mostrar a eles como se faz, já que você já conhece o terreno. Depois Pryor, Trina, Visha, Tynan, Rhiannon, Ridoc, Violet, Aurelie e Luca. — Um sorriso curva a linha áspera de sua boca quando ele termina de chamar todos os nomes do esquadrão. —— Vocês são o único esquadrão a permanecer intacto desde Parapeito. É incrível. O líder do seu esquadrão deve estar muito orgulhoso. Espere aqui um segundo.

—— O Aetos está especialmente orgulhoso da  Sorrengail, e nada de atenção para a irmã.

——Olha, se você quer falar merda sobre mim, isso é uma coisa, mas deixe Dain e Visha fora disso.

—— Te vejo lá em cima Tynan. — Visha lança um sorriso de escárnio para o outro que a olha em fúria.

[...]

—— Vamos lá, Aetos! — alguém grita lá de baixo. Provavelmente Ridoc.

Com um salto ágil, Visha agarrou a primeira corda, sentindo a tensão percorrer seu corpo enquanto puxava seu peso para cima, cada músculo de seu braço se esticando ao limite. A madeira sob seus pés rangeu, e o desafio inicial já se fazia claro, era escorregadia, e cada movimento exigia cuidado. Ela se impulsionou para a próxima plataforma, usando as pernas para estabilizar seu corpo.

Visha estava na quarta escalada, suas mãos doíam e seu corpo implorava por descanso depois de ter batido contra a madeira do nível de baixo pelo menos dez vezes. 

Suas mãos rapidamente encontraram o próximo apoio, e ela usa o impulso para alcançar outra corda. As pranchas ficavam mais espaçadas conforme ela subia, e a distância entre elas tornava cada salto mais traiçoeiro. A cada vez que seus pés ou mãos tocavam uma nova base, o impacto parecia reverberar por todo o seu corpo. Visha está quase lá quando um grito faz seus joelhos travarem, ela arrisca o olhar para baixo, vendo Violet no nível das "escadas" de madeira, alguém caiu, e ela se sente terrivelmente egoista quando suspira aliviada ao perceber que não havia sido Violet.

[...]

O sol queima os olhos de Visha enquanto todos estavam em formação matinal.

—— Calvin Atwater. — diz o capitão Fitzgibbons, sua voz solene como sempre.

Primeiro Esquadrão, Seção Garra, Quarta Asa. Ele se senta duas fileiras atrás de Violet no
Preparo de batalha. Ele sentava.

Não há nada de especial nesta manhã. O primeiro teste na armadilha tornou a lista de nomes mais longa, mas é apenas mais uma lista em apenas mais um dia... exceto que não é.

—— Newland Jahvon. — continua ele.

Segundo Esquadrão, Seção Flamejante, Quarta Asa. Ele tomou café da manhã com elas.

Já devemos estar na casa dos vinte. Como isso pode ser tudo o que existe? Apenas diziam os nomes uma vez e depois seguir como se nunca tivessem existido?

Rhiannon muda seu peso ao lado de Visha, e ela funga abruptamente, o movimento sacudindo seus ombros uma vez.

—— Aurelie Donans.

Uma única lágrima escapa dos olhos de Violet, Visha encosta seus ombros com os da amiga, na tentativa de a confortar.

[...]

As próximas sessões de treinos na armadilha não são mais bem-sucedidas do que a primeira, mas pelo menos o esquadrão não perdeu outro
cadete. Tynan parou de falar demais, já que também não consegue se recuperar totalmente.
As bolas de bóia são sua ruína. A chaminé é a de Violet.

—— Talvez você possa subir nos meus ombros e então... — Rhiannon balança a cabeça

—— Então eu ainda estou preso no meio do caminho. — Violet responde, enxugando o suor da testa.

—— Não importa. Você não pode tocar em outro cadete na rota. — Visha cruza os braços, a ponta do nariz agora vermelha por causa do sol alto.

—— Você está aqui para esmagar esperanças e sonhos ou tem alguma sugestão? — Rhiannon retruca. —— Porque a apresentação é amanhã, então se você tem alguma ideia brilhante, agora é a hora.

—— O caminho certo não é o único caminho. — Visha diz calmamente.

[...]

Visha estava tentando ignorar a presença de Xaden atrás dela, mas era como tentar ignorar uma tempestade se aproximando rápido demais. Ela não deveria ter saído tarde, depois do toque de recolher para treinar arco e flecha, mas ela estava ficando sem prática, e não poderia deixar que isso acontecesse, ela só não sabia que iria dar de cara com Xaden Riorson na volta para o dormitório.

Ele estava quieto, como sempre, seus passos ecoando baixos. Visha acelerou o próprio passo, as unhas cravando-se nas palmas das mãos, tentando acalmar a sensação incômoda de que ele a observava.

—— Se vai continuar fugindo assim, é melhor correr de verdade, Visha — a voz dele cortou o silêncio, baixa e afiada. Ele parou ao lado dela, tão próximo que ela quase sentiu o calor dele.

Ela parou, inspirando fundo, tentando conter o impulso de olhar para ele com o mesmo desprezo que sentia em cada palavra que sai dos lábios dele. Mas sua curiosidade era maior. Ela se virou, encarando-o. Os olhos com pontos douradas de Xaden a avaliavam, como se estivesse calculando cada centímetro de quem ela era.

—— Eu não estou fugindo.

Ele deu um passo à frente, invadindo seu espaço pessoal, forçando-a a erguer o queixo para encará-lo de perto. O corredor parecia menor agora, as paredes parecendo fechar-se ao redor deles.

—— Sabe o que me incomoda mais? — ele murmurou, tão baixo que sua nunca se arrepia, sua voz uma ameaça velada. —— É que você acha que tem qualquer ideia do que eu penso.

Ela sustentou o olhar, seu coração batendo rápido, as palavras dele cortando como adagas. Ele estava tão perto que o perfume dele era quase uma distração, mas ela não queria que ele visse que estava abalada. Não queria que soubesse o quanto aquelas palavras haviam a afetado, o quanto ele a afetava.

Antes que ela pudesse responder, ele se afastou, deixando-a ali, com a certeza de que ela estava errada sobre muitas coisas... e, ainda assim, sem nenhuma certeza sobre ele.

ੈ✩‧₊˚ Peço perdão desde já por qualquer erro ortográfico, eu tento ao máximo revisar, mas sempre escapa um ou outro, caso achem, me avisem para que eu possa arrumar. Não se esqueçam de deixarem suas opiniões sobre o capítulo. Eu amo ler os comentários. Beijos da Thay.