Capítulo 5 - O Terceiro Dragão
Pov Moira
Não fazia sentido ficar a manhã toda no quarto, precisava sair e encontrar algo decente para comer.
A rua na vila estava iluminada e o sol tentava, inutilmente, passar entre as nuvens.
- Bom dia, senhora - um homem de aparência rude e visivelmente bêbado se apoiava na cerca de sua casa.
- Seu velho safado - a esposa gritou da janela.
Não era o tipo de lugar que eu andaria, com certeza, mas as crianças correndo despreocupadas na rua, davam mais alegria á vista.
Avistei uma casa com uma placa onde se lia "Ristorante" e comecei a salivar enquanto andava decidida até lá.
- Não comeria ali, se fosse você.
Me virei bruscamente já com a varinha em mãos apontada no pescoço do indivíduo.
- Hei, hei... calma, docinho.
- Mordaque - eu bufei.
- Surpresa em me ver tão cedo?
- Na verdade, sim. Não tem mais dragões para encinerar?
- Vim com Charles.
- Ele já chegou?
- Como assim? esperava por ele? Não, achamos que você podia querer o couro da asa do segundo dragão.
- Sim, eu quero.
- Mas esqueceu, não é tão experiente assim. Não é, docinho.
- Eu tenho nome, Moira Scringeour ou Srta. Scringeour para você.
- Não fica tão na defensiva, acho que podemos ser bons... amigos - ele deu uma piscadinha de lado - além do mais, não sei pronunciar esse nome.
- Duvido. Agora, se me der licença eu preciso comer.
- Vou aconselhá-la mais uma vez a não comer ali.
- Eles servem comida italiana, é melhor que a hospedaria.
Mordaque ficou sério por um segundo, com os olhos sombrios enquanto olhava rápido para a estalagem no começo da rua, mas logo voltou com seu ar cafajeste.
- Italiana?
- Sim, está escrito Ristaurante.
- O velho Wathe é quase analfabeto - ele riu - eles servem carne de baleia quando elas chegam mortas à margem.
- Repugnante - eu ajeitei meu blazer puxando a barra com força - melhor eu seguir meu caminho, com licença.
- Espera.
Eu continuei em em frente sem dar atenção até pisar em algo mole e viscoso. Eu não queria olhar, sabia onde havia pisado.
- As ruas não são assim tão limpas como no ministério, docinho.
- Acha isso engraçado?
- Não, mas devia considerar mudar de roupas. Aliás, se tiver dificuldade com isso, eu me ofereço para ajudar.
- Não há problema nenhum com as minhas roupas.
- Concordo, blazer e salto alto são realmente sexy, mas essa é uma cidade montanhosa, botas seriam mais confortáveis.
- Você é tão intrometido - e bonito.
- Só estou preocupado com seu bem estar - ele deu alguns passos para trás, balançando o corpo de um lado para outro - docinho.
Meu estômago roncava, bati os sapatos sujos no chão de terra e tomei o caminho de volta.
Pov Carlinhos
- Meio cruel fazer a moça andar da reserva até aqui ontem a noite, se temos a carroça.
- Não ia tirar os cavalos naquele frio, estavam dormindo - pulei no chão e desamarrei as cordas que prendiam o rolo de couro - além do mais, a Srta. Scringeour precisa entender como as coisas funcionam por aqui.
- E acha que ter os pés maltratados naqueles sapatos vai mudar alguma coisa? - Mordaque virou o corpo na carroça apoiando o cotovelo na coxa - ela é uma garota rica.
- Eu sei, mas é um começo. Anda, me ajuda com isso.
Ele levantou o couro enrolado e jogou sobre meus ombros.
- Quer que eu entre? - a relutância na sua voz era nítida.
- Não, compre algumas cenouras para os cavalos - enfiei a mão no bolso da jaqueta e joguei moedas para ele.
- Te espero aqui?
- É, vai ser rápido.
Seria difícil subir as escadas carregando duas asas de dragão mas não podia pedir que Mordaque me ajudasse, ele já se sentia mal o suficiente de ver a hospedaria de fora, não queria que a visse por dentro.
Assim que passei pela porta fui recebido pelo proprietário que estava tão feliz em me ver quanto eu em vê-lo.
Homenzinho detestável.
- Weasley, espero que esteja com meu dinheiro.
- Na próxima semana.
- Disse isso o mês todo.
- Vou pagar duas prestações juntas, está bem?! Agora, preciso falar com Moira Scringeour.
- Não tem ninguém com esse nome aqui.
- A auror, talvez a reserva seja no nome do estagiário, Dominic Ioannou.
- Terceiro andar á esquerda - ele resmungou enquanto voltava para o bar.
- Idiota.
Como eu pensei, cheguei ao terceiro andar já ofegante e parei para tomar um ar, encostado na parede eu pude ver o quadro que tanto me incomodava.
A pintura em cores quentes dos pais e um filho, o cabelo amarelo do menino, tão vivo como se fosse real.
- Weasley?
Dominic subia a escada de onde eu tinha vindo.
- Ioannou? Estou procurando a Moira.
- Ela devia estar aqui, eu acabei de mandar uma coruja pra você.
Ele fez sinal para que eu o seguisse e fiz isso mantendo alguma distância.
- Porque me mandou uma coruja? - entrei no quarto carregando o couro e o joguei em cima da cama que despencou no chão com os quatro pés quebrados e uma nuvem de poeira.
Olhei para Ioannou já me preparando pra me explicar mas ele deu de ombros.
- Essa é da Moira.
- Ela não vai gostar - ele ficou olhando com indiferença para o móvel no chão - então?
- Ah, sim. Não conseguimos os livros mas Moira tem um palpite, soubemos de uma catedral, queremos que nos leve até lá.
- Não.
- Não?
- Não está acostumado com essa palavra?
- A Moira é uma auror em exercício da função - ele tomou um ar autoritário e nada simpático enquanto se mantinha pomposo, era engraçado - e você um especialista ao serviço dela.
- Em dragões, não em expedições.
Ele torceu o nariz e ficou ainda mais nervoso, se continuasse se segurando poderia facilmente explodir. A porta atrás de mim se abriu e minha atenção se voltou para ela.
Moira entrou no quarto bravejando e arrancando as roupas.
- O que eles pensam que eu sou - blazer.
- Moira? - Ioannou levantou a mão tentando chamar sua atenção, em vão.
- Se eles querem que eu me vista como uma camponesa - a camisa branca.
- Moira, espera.
- É exatamente o que vou fazer - o fecho do sutiã.
Ela era bonita, as poucas mulheres na reserva eram mais brutas que eu mas Moira era delicada, feminina e eu pensava em como ela poderia ser doce em baixo daquela pose de auror.
Mesmo assim seria errado olhar o corpo dela dessa maneira sem que ela ao menos soubesse, limpei a garganta em duas tossidas rápidas.
Ela se virou assustada cobrindo os seios com as mãos e tentou falar alguma coisa várias vezes mas acabou desistindo quando viu que as palavras não saíam.
- O Sr. Weasley está aqui.
- Eu estou vendo, Dom. Obrigada.
Ela me encarou, dei alguns passos lentos em sua direção até ficar lado a lado com ela e me abaixei para perto de seu ouvido.
- No seu lugar, eu teria continuado o show.
Saí para o corredor me sentindo provocado, as roupas apertando na virilha. Lá embaixo, Mordaque dava cenouras aos cavalos.
- Missão cumprida?
- Sim, e espero que essa seja a última asa de dragão que temos que retirar.
- Weasley? Weasley? - Moira corria para a rua agora usando um suéter mesmo que ainda fosse possível ver que não usava sutiã.
- Em que posso ajudá-la?
- Meus olhos são aqui em cima - ela bravejou chamando minha atenção - Dominic me contou da sua recusa em me servir e devo dizer que é inaceitável.
- Você goste ou não, Srta. Scringeour. Eu não vou fazer uma expedição perigosa pela montanha, ainda mais com pessoas inexperientes.
- Não sou inexperiente.
- E aprendeu sobre exploração e escalagem na sua escola de aurores ou nas aulas de etiqueta?
- Porque acha que fiz aulas de etiqueta? - Moira estava na defensiva e a conversa se tornou quase uma discussão.
- É filha do ministro, não é?!
- Vejo que fez sua lição de casa, no entanto, não pense que me conhece.
- Que seja - dei de ombros enquanto arrumava o interior da carroça - mas não há nada na caredral. Seria inútil.
- Eu tenho uma intuição.
- É vidente?
- Não.
- Anote isso - eu disse para o garoto atrás dela que trazia uma prancheta e uma pena - Não vou levar vocês por um palpite. Encontre outra pessoa.
Um estrondo alto como uma explosão seguido de gritos foi ouvido de uma rua próxima, corri junto a Mordaque até o local.
No meio da rua um dragão repousava, me aproximei a tempo de sentir o vapor quente da sua última respiração, meu peito apertou.
Um grito ensurdecedor fez os curiosos cobriram os ouvidos e correrem desesperados mas eu estava habituado com esse som.
- O que é isso? - Moira gritou com as mãos sobre as orelhas.
- É um filhote - eu apontei para o céu onde um dragão enorme circulava e berrava - e aquela é a mãe, está furiosa.
- O que faremos?
- Eu não sei, Mordaque - olhei para o rosto impassível de Moira - estejam prontos ao anoitecer, no cais.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro