Capítulo 19 - Finalmente a Catedral
Pov Moira
A partir daquele ponto teríamos que escalar, cerca de trinta metros ou um pouco mais, ia atrás de Charles que levava Brutus na mochila, o cão mantinha apenas a cabeça para fora de um jeito que ficava cômico.
- Ele te deixou com o diário?
- Sim - peguei em uma pedra dando impulso para subir - convenci que seria importante para a investigação.
- Conhece esse Snow?
- Parece um nome falso mas porque acha que eu conheço?
- Inglês e cheio da grana. Parece o tipo que você encontra nas festas.
- Tem razão, mas nada no diário dá uma pista concreta.
Charles ficou em silêncio, avaliando uma possível rota, fiz sinal para os outros pararem.
- Algum problema? - Mordaque gritou, ele era o ultimo da fila e estava ainda mais tenso depois de encontrar o acampamento.
- Não, Charles só está estudando o caminho.
- Aqui, Moira? - Charles me estendeu a mão - vou te jogar e você agarra aquela pedra.
Assenti, segurei sua mão e fui impulsionada para cima, agarrei a pedra me pendurando com as duas mãos por alguns segundos antes de apoiar os pés.
- Seguro.
- Consegue seguir?
Depois disso era eu quem abria caminho, concentrada na tarefa.
- No que está pensando? - Charles perguntou pouco depois.
- Preocupada com o que vou dizer a Mordaque quando ele perceber que não havia corpo.
- Pensei nisso também. Alguma pista do que aconteceu?
- Não pode ter sido animal ou teria sangue, o acampamento estava organizado, também não acho que ele tenha saído por vontade própria já que estava descalço e machucado.
- Isso está pior do que eu imaginei.
- Eu sei, Charlie. Mas espero encontrar resposta na catedral.
Ao mesmo tempo que terminei a última palavra, cheguei ao topo. Mesmo com os braços ardendo consegui me projetar para cima e ficar em pé na parte plana.
Charles apareceu logo depois e livrou o cão que se animou em mijar por todo o canto, as mãos do Weasley apoiaram na minha cintura.
- Tudo bem?
- É aqui? - meus olhos estavam fixos na construção a frente, que se erguia vários metros do chão, feita de pedra tão clara que parecia pintada de branco, em ruínas mas o que estava em pé ainda era lindo.
- Meu Deus, que lugar deprimente.
Me afastei rápido de Charles ao ouvir a voz de Dom, não que eu me envergonhasse de qualquer coisa mas não estava pronta para perder meu profissionalismo.
- Prontos para explorar, rapazes?
- Na verdade, Vivien - Charles respondeu de imediato, seus olhos fixos em Mordaque - vamos acampar por hoje. Foi um dia intenso e amanhã vemos o que pode ser feito.
Eu assenti, mesmo ansiosa sabia que era necessário, estávamos doloridos e exaustos. Além disso a tensão do diário não nos deixaria pensar direito.
Do lado de dentro a construção era ainda mais surpreendente, apesar da ação do tempo, muitos vitrais ainda estavam no lugar, a luz do sol atravessava iluminando até o chão com luzes coloridas o que chamou muito a minha atenção.
Me sentei de frente pro altar em um banco de pedra parcialmente destruído, ansiosa para que minha tenda estivesse montada e voltar a trabalhar.
Ouvi vozes e olhei por cima do ombro, Charles e Mordaque pareciam discordar de algo mas o Weasley venceu a discussão, a forma como ele tratava o garoto mesmo a diferença de idade sendo apenas quatro anos me fazia pensar que ele era um ótimo irmão mais velho.
Ou pai.
Me virei rápido para frente quando ele notou que eu o encarava mas já era tarde, um minuto depois Charlie estava sentado do meu lado.
- Ele está bem? - perguntei depois de um longo silêncio.
- Vai ficar.
- Qual o propósito dessa catedral? Aqui, em um lugar inacessível.
- Nem sempre foi assim. Séculos atrás a ilha era baixa e plana, a catedral foi construída para exibir toda a prosperidade da vila, mas não eram bons cidadãos - ele deu um riso fraco, me senti obrigada a olhar pra ele enquanto o ouvia, fascinada com a luz dourada iluminando seu cabelo - daí pra frente é lenda.
- Me conta, quero saber - e olhar você.
Ele se virou pra mim e começou a brincar com meu cabelo, olhando distraído as mechas que passavam por seus dedos.
- Diz a lenda que o povo só era próspero por conta do dragão dourado que era comandado pelo sacerdote e trazia tesouros das aldeias que queimava.
- Isso parece horrível - eu me sentia uma menininha ouvindo uma história para dormir.
- É, parece horrível. Mas o sacerdote foi derrotado pelo guardião que queria proteger o seu cavalo dos dentes afiados do dragão. Então ele fez com que o dragão de duas cabeças dormisse, a fera se afundou na terra elevando o solo ao ponto de se partir, a vila foi engolida pela fenda sobrando apenas a catedral no topo.
Senti Brutus se acomodar em meus pés mas estava cansada demais para reclamar.
Pov Charles
Moira deitou o rosto em meu ombro e senti sua respiração quente na minha pele suada, mesmo acostumado com o fogo e o calor, seu hálito me deixava tonto.
- O cavalo sobreviveu?
- Não, ele e o guardião morreram junto com a vila.
- Não é uma história bonita.
- Lendas nunca são.
- Você é.
- Eu sou o quê, Moira?
Ela não respondeu, sua respiração ficou mais longa. Me levantei com cuidado e tirei a jaqueta, a fazendo de travesseiro para a auror.
Eu estava cansado também, precisava alongar os músculos na cama mas ao me levantar percebi que a barraca nem havia sido montada.
- Porque não levantou acampamento? - perguntei a Mordaque que deu de ombros.
- Ela não deixou.
- Agora que cuidou da namorada, podemos ir?
- Ir? Não, Vivien. Nós vamos ficar.
- Não temos que ficar aqui dentro. Vamos acampar do lado de fora e quando elea terminarem o guiamos para baixo.
- O quê? Nem pensar, quero entrar na câmara mortuária. Meu pai disse no diário que tem algo lá.
- Bentley tem razão, é perigoso. Não vamos deixar Moira lá sozinha.
- Ela tem o Dom.
- Não confio nele - admiti em voz alto o que tornou a sensação ainda maior.
- Ele só é nervosinho - Mordaque riu, não dando atenção a minha desconfiança - mas concordo com você. Vamos acampar aqui dentro.
- Você não precisa ir, Vivien. Mas não faz sentido ficar no vento e no frio.
Bentley já começava a montar a barraca, me detive por um momento, Dominic havia acabado a tenda de Moira e descansava apoiado em um pilar, suas mãos tremiam e ele parecia extremamente cansado como se sua energia tivesse sido drenada. Quanto mais eu o olhava mais certeza tinha que estava escondendo alguma coisa.
Alguma coisa perigosa.
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