Capítulo 17 - Até o Topo da Montanha
Pov Charles
Acordei com Moira nos meus braços, o rosto contra o meu peito nú fazia cócegas enquanto ela respirava, passei meus dedos pelo seu cabelo embaraçado e ela se assustou. Meu braço em torno do seu corpo a manteve presa a mim.
Moira piscou algumas vezes até que conseguisse manter os olhos abertos. Lindos olhos enormes.
-Como se sente?-Parece que fui pisoteada por uma manada de erumpente.
-Consegue se levantar?
-Claro que consigo - respondeu indignada - temos que aproveitar as horas de luz.
-Sim, está quase amanhecendo.
Moira se levantou, seu corpo a meia luz me causou um calor fora do comum, mas não havia tempo, a escalada era árdua e precisava poupar energia. Me vesti e calcei minhas botas.
-Acorde os outros, Charles. Por favor.
Ouvir meu primeiro nome e um por favor na mesma frase vinda da boca dela foi um avanço, não consegui desmanchar o sorriso até estar sacudindo Mordaque na outra barraca.
Dom desmontou o acampamento com um movimento rápido da varinha e antes do Sol subir totalmente já estávamos subindo a montanha.
Não tão íngreme no começo, muitas árvores que iam se abrindo durante a subida e dando lugar a pedras. Moira andava ao meu lado, não falava muito mas era bom saber que não estava me evitando.
-Por esse caminho vamos ter que atravessar a bifurcação.
Moira tinha razão, a montanha tinha duas partes como se tivesse sido partida por um raio, de longe era possível ver duas pontas afiadas no topo.
-Tem uma ponte, é mais rápido que contornar a montanha e subir do outro lado.
-Olhem isso aqui.
Corremos na direção de Dominic que estava ajoelhado no chão. Mordaque passou por nós como um tiro e se atirou no chão.
-Eu sabia, é do meu pai. Ele veio por aqui.
-É só uma bússola, Bentley - Vivien tentou acalmá-lo esfregando seus ombros devagar.
-Não, eu sei que é dele.
-Mas não faz diferença, Mordaque - peguei a bússola da sua mão e a coloquei no bolso - foi há dois anos.
-Temos que andar mais depressa, fiquem atentos - ele apertou o passo, Vivien lançou um olhar de fuzilamento para Dom que deu uma tremidinha com o queixo mas resolveu deixar pra lá.
-O que eu fiz?
-Talvez seja melhor não fazer alarde se encontrar mais alguma coisa.
Dominic assentiu e acabou ficando para trás, a subida foi ainda mais difícil com Mordaque correndo a frente, as pedras se tornaram rochas imensas e passar por entre elas precisava de habilidade.
Não me surpreendeu que Moira tivesse mais facilidade do que eu, meus braços e tronco largo não passavam em qualquer abertura e vez ou outra precisei ser criativo, escalando e saltando por cima ao invés de passar entre as rochas. Dom que levava a maior parte da bagagem dele e de moira me acompanhava.
-Porque ele está tão ansioso? Achei que era certo que o pai estava morto.
-Ninguém sobreviveria aqui, ainda mais nos invernos - respondi ao escudeiro enquanto circulava um granito - mas acredito que cada um nessa expedição tenha algo para provar. Eu que tratadores de dragão não são apenas bons samaritanos que vê bondade até na criatura mais mortal, Stonewall que mesmo sendo uma mulher com uma perna mecânica ainda pode fazer qualquer coisa, Bentley que o pai não era um mercenário e morreu com honra, Moira que é capaz de impressionar o pai.
-Acha que a conhece? - ele ficou na defensiva, mudando sua expressão de assustada para em pânico o que me deixou muito desconfiado.
-O que me leva a pensar, Sr. Ioannou. Que não faço ideia qual é sua motivação.
-Isso não lhe diz respeito.
-Desde quando conhece a Moira? - ele não respondeu - deixe-me adivinhar, não conhece, não antes de embarcar nessa missão.
Dominic passou a se espremer nas passagens estreitas depois disso, ao invés de me seguir. A subida se tornou mais íngreme, ao ponto de ficar impossível ir em frente e ter que circular a montanha em fila indiana.
Lancei um breve olhar para Moira que assentiu e então apressei o passo para ficar na frente.
-Já estão conversando com o olhar?
-Vou ficar com Bentley, você está bem?
-Não se preocupe comigo.
Deixei Vivien para trás e segui Mordaque de perto, ele estava obstinado, sério como eu nunca vi e em silêncio, apenas quando mencionei onde havia passado a noite que ele me deu um breve sorriso por cima do ombro.
-Devo parar de chamá-la de docinho?
-Não, secretamente acho que ela gosta.
-Chamou ela assim?
-Esse é o seu lance, não meu.
Ele riu mas assim que se lembrou da sua busca o rosto se fechou. Atrás os outros mantinham o mesmo silêncio deixando o caminho mais tedioso.
Depois do que pareceu muitas horas, finalmente vi a ponte. O bom do meu tamanho é que bloqueava quase toda a visão de Moira ela tinha ganhado confiança em mim então não estava tão afastada, assim ela só veria o estado da madeira e das cordas quando tivesse que atravessar.
Antes de chegar perto demais vi uma pequena depressão, tive medo das pedras terem se deslocado e com isso estaríamos presos, mas para minha sorte era apenas uma caverna rasa, o suficiente para um acampamento rápido e era possível ver uma lona sacudindo contra o vento.
-Pai! - Bentley gritou e correu fazendo pequenas pedras e poeira escorregarem.
-Espera.
Ele me ignorou, eu pude jurar que senti uma vibração na montanha como uma respiração que de repente perdeu o compasso, ignorando a sensação, corri para alcançar o garoto.
Pov Moira
Só percebi o motivo do alvoroço quando cheguei a abertura da caverna, não tinha mais que seis metros de profundidade e havia um acampamento improvisado ali. Uma mesa alta cheia de papéis e uma tenda coberta por couro.
-Pele de Dragão.
-Esta marcada, Dom?
-Nao, mas não parece da asa, é mais maleável.
-Vamos, querido - Vivien chamou com a voz doce - temos que aproveitar as horas de luz.
Mordaque vasculhava entre os papéis, a veia saltada na testa e no pescoço, ele levantou os olhos para mim como se suplicasse.
-Acho que podemos olhar, talvez tenha algo útil para a investigação. Nada será ignorado - me aproximei dele - vamos ser rápidos, na volta ficamos o tempo que precisar.
-Obrigado, Docinho.
-Moira? - Charles segurou meu braço me levando para um canto, meu corpo respondeu com um pequeno tremor de excitação mas o Weasley pareceu não notar - é melhor não, veja - ele apontou para o outro lado da montanha - percebe?
-Pareidolia.
-Como? - sua expressão confusa o deixava ainda mais atraente.
-Você está sob estresse e seu cérebro está vendo rostos em tudo para se manter alerta.
-Não acho que seja isso.
-Vamos só dar uma olhada e podemos ir, pelo Mordaque.
-Eu acho que encontrei alguma coisa - Dom disse em voz alta chamando a atenção para si, deu um breve olhar para Charles e curvou os lábios - aqui Moira.
Peguei o caderno de couro e abri as tiras, Mordaque estava tão perto de mim que sentia sua respiração quente na minha nuca. Encostei na mesa e abri o caderno sobre a mesma.
-Isso é?
-Nao sei. Dom, a asa.
Ele pegou o couro do dragão da mochila expandida e com a ajuda de Charles estivou sobre a mesa.
-São os mesmos símbolos, Moira.
-Sim, é um tipo de vocabulário.
-Consegue traduzir? - Mordaque parecia mais apreensivo que todos.
-Com algum tempo - olhei do couro para o caderno várias vezes - mas parece ser sobre um ritual.
Senti um tremor sob meus pés e Brutus, que tinha me seguido desde que saímos do acampamento, começou a rosnar baixo.
-Temos que ir - Charles enrolou o couro habilmente o enfiando na bolsa enquanto saía.
Dom olhava perplexo para o outro lado da montanha, o rosto que Charles havia apontado era mais que seu cérebro pregando peças.
-Isso são..-Gigantes de pedra.
-Mas é lenda, Moira.
-Conhece alguma que não seja real?
Minha resposta me chocou mais que a ele, o Dragão Dourado, a lenda que Charlie me contou talvez não fosse apenas uma história. Agarrei tudo o que podia de cima da mesa, torcendo para que o acampamento estivesse ali na volta.
Ilusão, enquanto saia da caverna senti outro tremor bem mais forte e notei que estava correndo pelo joelho de um dos gigantes, ele se levantava agarrando uma grande rocha, do outro lado um segundo gigante arremessava uma pedra que estilhaçou bem acima da minha cabeça.
Gigantes de pedra eram assim, dormiam por décadas, então acordavam e lutavam para depois dormir de novo. Não foi sorte ou coincidência, Charles disse que as criaturas estavam mais hostis, agitadas e essa era mais uma prova.
Charles foi o primeiro a alcançar a ponte, ela chacoalhava com o vento e várias ripas de madeira haviam se quebrado com os pedaços de pedra que voavam.
-Rápido, não podemos parar - ele deu espaço para Vivien passar primeiro e depois Mordaque mas a loira prendeu o pé em uma tábua solta.
-Vai - gritei para o Weasley que atendeu.
Dom passou em seguida e eu por último, soltei a respiração que estava prendendo sentindo uma pitada de alívio mas não tinha acabado.
-Brutus - Charles gritou, o cão estava no meio da ponte, deitado com a barriga na madeira e chorando copiosamente.
-Esta machucado?
-Não, só assustado - Charles colocou um pé na ponte mas essa balançou mais, não aguentaria o peso dele de novo.
-Espera, eu vou.
Charlie protestou mas eu já estava a caminho, alcancei o cão com facilidade, sua pata estava presa, um pedaço quebrado de madeira cortava a coxa do animal.
-Vou te tirar daí, não se preocupe.
-Moira, cuidado - a voz amedrontada de Dom chamou minha atenção para o lado oposto da ponte, o androide que atacou a taverna flutuava com os jatos de fogo em seus pés, as mãos espalmadas lançando feitiços na minha direção.
Um duelo intenso começou entre o grupo e a criatura de metal, um dos gigantes caiu e o androide lançou mais um feitiço antes de sumir na nuvem de poeira, o que fez a ponte ser atingida arrebentando as amarras.
Eu caí, meus olhos ainda fixo no cachorro que também caía.
-Arresto Momentum - era a voz de Charles. Meu corpo deu um tranco parando de repente, segurei por pouco a coleira de Brutus e o puxei para mim abraçando seu corpo.
-Peguei você.
Minutos depois Dominic montava acampamento, mesmo que o dia ainda tivesse algumas horas todos concordaram que um descanso não faria mal.
Me aproximei de Mordaque e Charles que cochichavam. Ao contrário do que pensei, eles não se calaram.
-O que está havendo?
-O código que traduz os hieróglifos não tinha a letra do meu pai, ele estava escondendo de alguém.
-Porque acha isso?-Encontrei este diário, com a letra do meu pai - Mordaque me entregou um caderno velho, na capa tinha o mesmo dragão de duas cabeças.
Charles mantinha os braços cruzados e os lábios apertados.
-Leia a última página.
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