Capítulo 12 - Preparativos
Pov Moira
Charlie tentou bancar o engraçadinho por duas vezes naquela manhã mas o ignorei, ele tinha que parar de explodir e se desculpar depois como se apagasse tudo. Claro que eu não diria isso a ele, não estava ali para educar ninguém e ainda tinha que resolver o problema com a água.
Por sorte, um dos moradores da cidade nos cedeu a casa para servir de central de operações, o que me deu uma cama minimamente confortável e comida decente.
Me servi de café e um pedaço de pão. O cachorro, Bruto ou sei lá o que, circulou a mesa e se colocou do meu lado.
Eu gostava de cães, filhotes eram fofos e engraçados e já tive mais de um quando criança. Apesar de nunca saber o que acontecia com eles quando eu me cansava.
Mas esse era velho, enrugado e deixava um rastro de mijo por onde passava. Ele ficou ali com aqueles olhos caídos que até pareciam bonitos de tão feios.
Pareciam implorar.
- Você quer? - peguei uma das salsichas de cima da mesa e entreguei a ele. A forma como mastigou usando as gengivas banguelas foi engraçado, não pude deixar de sorrir.
- Moira? - Dominic abriu a porta de correr que dava pra sala com urgência e pânico na voz - é o Sr. Philostrade. E não está feliz.
Finalmente Dom conseguiu concertar a chave de portal, não seria possível atravessar de tão danificada mas seria suficiente para um tipo de 'ligação'.
Atravessei a porta e ele estava bem ali, exceto pela leve transparência e cores apagadas eu quase podia jurar que era de corpo presente.
Acho que mencionei como ele era bonito mesmo tendo quase a idade do meu pai e as luzes coloridas na face dele davam um ar romântico a sua figura, mesmo sem saber de onde essas cores vinham.
Rycroft estava virado para a lareira apagada e não me olhou quando entrei.
- O que está fazendo, Moira?
- Padrinho, eu sei que me instruiu a fazer um relatório e voltar, mas o que eu encontrei aqui não foi tão simples quanto parecia.
- Eu sei, Ioannou me passou o relatório mas tem que entender, departamento de controle de criaturas mágicas está me pressionando.
- Um departamento menor está pressionando o chefe dos aurores?
- Com o que houve com o menino no torneio, o Ministério está enfrentando um momento de crise, todos querem mostrar serviço, finalizar pendências. Até o arquivo andou cobrando documentos antigos.
- Então é isso.
- Isso? Não vejo como as duas coisas se ligam. Voldemort nunca escondeu suas ações não acho que começaria agora.
- Não acho que é Voldemort mas seja quem for que está por trás desses ataques, escolheu esse momento porque sabia que o ministério estaria no limite.
- Entendo e vamos investigar mas agora eu preciso que volte. Preciso de todos os meus aurores a postos caso estoure uma guerra e futuramente enviarei alguém mais experiente.
- Mas essa situação é urgente.
- Acredito nisso, Moira. Porém, são alguns animais mortos perto do possível retorno de Voldemort. Quero você e Dominic aqui e logo.
Ele se virou para mim pela primeira vez, vi bolsas arroxeadas sob seus olhos e uma expressão cansada. A preocupação também estava ali me fazendo sentir estranhamente satisfeita.
- Padrinho - me aproximei alguns passos mantendo uma pose confiante - eu agradeço por sua preocupação mas estou bem, vou descobrir tudo o que posso e dar um jeito de relatar. Além do mais, estamos presos aqui.
- Por Deus, Moira - ele suspirou pesadamente - tome cuidado, está bem?
Eu assenti. A excitação queimando no peito quando deixei a sala, Rycroft sempre foi a figura paterna que eu não tive, aquela forma de me manter perto diante do perigo me dizia exatamente o quanto ele me amava.
O deixaria orgulhoso.
Deixei a casa e dei de cara com Vivien Stonewall, quase trombando com ela, seu espartilho exageradamente apertado e sorriso aberto me irritavam profundamente.
- Veio se despedir do cliente da última noite?
- Bom dia, auror. Bem - ela mantinha as mãos juntas num gesto falso de inocência - eu estarei com você na expedição.
- Nem pensar.
Passei por ela andando a passos pesados, descendo pela rua de paralelepípedos, ouvi suas botas tilintarem cheias de fivelas atrás de mim.
- Espera, auror. Espera - ela insistiria - eu posso lhe ser muito útil.
- Não vejo como isso é possível.
- Eu tenho informação. Sobre o Bardo.
Parei bruscamente e me virei para ela a olhando de perto.
- Fale.
- Um acordo. Você me leva com você e eu falo tudo o que sei.
- Sabe que pode ser presa por atrapalhar uma investigação oficial.
- Também sei que não é oficial. Nunca mandariam uma auror para resolver problemas com dragões.
Além de linda é esperta.
- Porque uma meretriz quer tanto entrar na montanha?
- Não sou prostituta, quer dizer, nem sempre fui.
- Está bem, diga o que sabe e se valer a pena eu a deixo vir comigo.
Ela respirou profundamente fazendo os seios estufarem ainda mais.
- Aquele livro, o que foi roubado, era repleto de canções sobre caçadores e exploradores que contratavam o bardo para cantar as vitorias contra animais selvagens e criaturas místicas. A maioria o bardo aumentava mas acredito que em uma dessas expedições ele viu algo e fez uma canção sobre isso e agora alguém precisa.
- Você não disse nada que eu não sei.
- Ele não aceita mais trabalhos a dois anos.
- Dois anos? Sabe quem foi o último?
- Não mas...
- Desculpe, não ajudou.
Tomei meu caminho mais uma vez mesmo com os protestos delas, aconteceu algo dois anos atrás nesse lugar, esse era o marco e talvez eu devesse partir daí.
Ouvi um barulho alto de algo batendo com força e me virei bruscamente para ver Vivien com o vestido levantado até as coxas e uma perna mecânica apoiada sobre vários caixotes na calçada, mais uma vez fiquei sem palavras, ela respirou fundo várias vezes antes de falar.
- Eu era tratadora de dragões, tão boa quanto o Weasley e o salvei mais de uma vez - sua voz estava carregada de emoção - mas bastou um acidente pra acabar com tudo. Mulher e aleijada, sem serventia, eles disseram. Mas eu ainda posso entrar naquela montanha e subir tão alto quanto qualquer um desses homens e se sua vida tiver em risco eu sou a melhor pessoa para salvá-la, não duvide disso.
- Vivien? - eu não sei quando Charles chegou mas agora ele estava a segurando pelo braço e a afastando de mim - volte, conversamos quando eu descer a montanha.
- Weasley? A Srta. Stonewall não vai a lugar nenhum - claro que eu sabia que não devia fazer isso mas acho que todos já ouvimos "você não é capaz" em algum momento de nossas vidas, eu não me deixei abalar quando me disseram isso mas entendia o desespero dela em mostrar que podia - ela fará parte da equipe.
Não esperei resposta, mais uma vez tomei o caminho de pedra já me aproximando de onde Mordaque e Dom conferiam o equipamento.
- Moira - Charles teria me segurado pelo pulso se eu não me esquivasse.
- Eu só quero chegar no fim da rua.
- Não vai levar Vivien.
- Não, você vai. A tarefa de nos fazer chegar na catedral é sua, Vivien está indo como - busquei uma palavra mas nada me ocorria, ela não tinha serventia - especialista.
- Em quê? - ele levantou uma sobrancelha me desafiando.
- Você quem se trancou em um quarto com ela, talvez possa me dizer.
Ele balançou a cabeça mas não respondeu diretamente para mim, abaixou os olhos para o cachorro e puxou levemente a guia.
- É, Brutus. Dê uma boa olhada nessa rua, nunca mais vamos passar por ela, vamos todos morrer na floresta.
A raiva queimava nas minhas veias, principalmente porque sabia da minha imprudência, tentei me convencer de que se algo desse errado não seria minha culpa, afinal, todos ali eram maiores e estavam indo por conta própria.
- Auror? Vai embora sem se despedir?
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