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Garoto

O mundo tem dois andares. Três, se você contar o sótão. 

Mamãe nunca deixa a gente subir lá, mas sei que ele existe. É apenas uma portinha de madeira no teto ao fim da escada. Possui uma argola dourada, pronta para ser puxada e revelar todos os seus segredos.

Não devemos entrar lá. 

Mamãe diz que aquele é o lugar mais seguro da casa e que é o lugar mais perigoso também. Só iremos até o sótão se houver alguma emergência. 

Uma emergência, diz ela, é o sinônimo de uma Criatura entrar na casa. 

Eu não sei o que é essa Criatura. Será que ela tem nome ou é apenas Criatura, assim como eu sou Garoto? Mamãe diz que não podemos olhar para ela, que ela é má. Que pode nos machucar. 

Às vezes me pergunto se ela está certa. 

O mundo tem um Lado de Fora. O Lado de Fora é a casa das Criaturas (já não sei se é apenas uma ou se existem várias). Nós podemos sair, desde que mantenhamos as vendas nos olhos e não deixemos o gramado. 

Eu e a Garota vamos pegar água no poço. E jogar os restos de cocô na latrina. E respirar um pouco de ar fresco (longe da latrina, é claro). 

Eu sei o que é o poço, a latrina e o céu, mas nunca vi nada disso. Sei para que servem, onde estão e como funcionam. Mas não consigo imaginar suas cores e formatos exatos. 

Mamãe tenta nos explicar. Ela desenha em um papel amarelado e mostra coisas como peixes, nuvens e carros. Mas será que eu conseguiria distinguir cada uma dessas coisas? Ou acharia que são todas Criaturas?

— Vocês não precisam dos olhos para enxergar — mamãe diz. Para ela, nossos ouvidos bastam. 

Eu sou muito bom em ouvir. Sei quando alguém está pisando em folhas secas com medo ou despreocupação apenas ao escutar. Aprendi a identificar as emoções da mamãe e da Garota somente com os ouvidos. Sei quando elas estão tristes, felizes ou irritadas, apenas pelo som de suas respirações. 

Consigo criar imagens e referências em minha mente, mas não sei dizer se estão certas, porque não vi muita coisa. 

Eu não sei muitas coisas. 

Mas como o mundo tem apenas dois andares (três, se você contar o sótão), acho que não preciso saber de mais nada. Pelo menos mais nada além do que aconteça aqui. Porque ainda há alguma coisa lá fora

Não podemos tirar os cobertores das janelas. É difícil saber quando é dia ou quando é noite. Mamãe diz que dia é quando o sol está no céu e então penso no círculo cercado por riscos que ela desenhou certa vez. 

Já a lua é apenas um círculo, sem as linhas. Mas ela pode mudar de forma e virar um sorriso. 

Eu queria ver o céu sorrindo.

Eu queria ver muitas coisas. 

Mas não posso tirar a venda quando vou no Lado de Fora. E é lá que estão as coisas que eu nunca vi. 

As Criaturas devem saber de muita coisa, ver muita coisa.

Mamãe diz que, se elas nos encontrarem, nós três - eu, mamãe e a Garota - não iríamos nos ver nunca mais, que as Criaturas iriam nos separar. Eu sei que sentiria saudades delas, mas será que mamãe está falando a verdade? 

— E se as criaturas morarem no sótão e não no Lado de Fora? — perguntei uma vez durante o jantar. 

Mamãe deixou o garfo cair no prato com um barulho estridente. A Garota se encolheu na cadeira. Ela escutava tão bem quanto eu, por isso aquele som alto a incomodou.

— Coma, Garoto — foi o que mamãe respondeu.

Mas fiquei pensando naquilo durante um bom tempo. Se não podíamos subir lá, como iríamos saber se elas moravam no sótão ou não? E se não podíamos ver o Lado de Fora, como tínhamos certeza de que elas estavam

Penso nisso enquanto me esgueiro da cama. Mamãe nos prende dentro de um cercado de arame encoberto por uma manta para dormir, pois é aqui que estamos seguros, ela diz. Mas eu aprendi a soltar a fechadura quando ainda era um bebê. Nunca gostei de espaços pequenos.

Faço a mesma coisa hoje, cutucando a fechadura nos lugares certos até que, com um click baixo, ela se abre. A Garota se remexe, mas continua a dormir enquanto saio para fora do quarto e sigo até o topo da escada. Estico o pescoço para trás. Mesmo no escuro, a alça dourada brilha. Será fácil descobrir o que existe no terceiro andar do mundo. Se houver mesmo uma Criatura ali, estou convencido de que poderia conversar com ela e pedir para ela ir embora, para que a mamãe não sentisse mais medo. Quem sabe assim eu poderia ver o que há do Lado de Fora?

Mamãe dorme no outro lado do corredor. Escuto ela se revirar em sua cama. Outro pesadelo. Seus lábios se abrem e formam um murmurio: Tom

Não conheço o Tom, mas mamãe diz que ele foi uma pessoa muito boa, muito importante, que ajudou a cuidar dela quando eu ainda estava em sua barriga. 

Então ouço quando mamãe se senta na cama, ofegante. Ela está acordada.

Lanço um último olhar para o sótão. Amanhã, penso.

Volto rapidamente para minha caixa, trancando o fecho novamente. Fecho os olhos, escutando. Penso em como estive perto de puxar a alça e em descobrir o que havia lá em cima. Parece que eu poderia encontrar todas as respostas do mundo naquele terceiro andar. 

Os passos de mamãe ecoam no piso de madeira do nosso quarto. A Garota se remexe ao meu lado novamente. O véu preto que cobre nossa caixa é retirado. E então mamãe diz:

— Garoto, Garota. Acordem. Vamos embora. 

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