
ESPECIAL - NATÁLIA
Eita que eu voltei! Como vocês estão gente? Saudades!
Como especial de 10K, eu vou estar postando cinco capítulos especiais, cada um focado em uma das protagonistas.
Agradeço ao Dissipadobr e a outro leitor que meio que me deram essa idéia. Obrigada! E obrigada a todos vocês que estão aqui ;3
Espero que gostem desse capítulo especial da Nat!
***
A garota estava acanhada, as suas costas encostavam ligeiramente na quina da parede e seus olhos mais pareciam um rio, carregado de águas que desciam pelo seu rosto com velocidade.
Seu pulmão buscava incessantemente pelo ar que lhe fugia e seu coração batia incontrolável. Suas mãos tremiam e um suor frio descia de sua testa. A ansiedade dolorosa corria em Natália naquele instante, e tudo parecia tão destorcido e estranho.
Seus olhos encararam a mão pálida e macia de Ária que tocou e segurou a sua. Como se a garota de mechas azuis quisesse mostrar que ela estava ali, e sempre estaria. Natália deixou que as lágrimas derramassem ainda mais, e num rompante, Ária envolveu seus braços pelo corpo da loira, num abraço carregado de sentimento, enquanto ela tentava ao máximo não chorar também, pois precisava ser forte, por Natália.
As duas ficaram abraçadas por minutos, que mais pareceram horas, até que o coração de Nat achasse um ritmo calmo e leve que pudesse seguir.
Era estranho para ela, ver Ária ali. Mas, diferente da primeira vez que suas amigas a viram num ataque, não se sentia constrangida, ou com vergonha por Ária tê-la visto daquele jeito.
Ainda estava com um mal estar e uma tristeza que sempre a rondava no fim de suas crises de ansiedade. Queria não ficar assim nunca mais, mas nada era tão simples como ela queria que fosse.
- Levanta. - Ária pediu, estendo a mão para a loira.
Nat se levantou e a garota baixinha a guiou com a mão para fora daquele quarto rosa. Como a menina ainda estava calada, Ária decidiu continuar:
- Lembra quando você me mostrou aquele lugar secreto na escola? Então, eu também tenho um lugar secreto para te mostrar.
***
As duas subiram no ônibus e se sentaram em um dos bancos vazios. Natália, que estava do lado da janela, encarou a paisagem tranquila da cidade naquele domingo. Ária segurou sua mão e Natália apertou mais o toque, sentindo que precisava daquilo.
- Aonde estamos indo? - Foi a primeira coisa que a loira falou depois de tanto tempo em silêncio.
- Você já vai ver. - Ária disse sorrindo. Ela largou a mão de Natália para procurar algo dentro de sua bolsa. De lá, tirou seu celular e seu fone de ouvido. Natália sorriu ao se lembrar do quanto a sua namorada era fascinada por sons e melodias. - Nat, eu tenho uma música para te mostrar. Chama-se Be myself, da why don't we. - Ela colocou os fones de ouvido na loira e apertou o play no seu celular.
Natália não era fluente no inglês, mas pelo seu conhecimento intermediário, conseguiu compreender os versos bonitos da música. Quando ela chegou em seu refrão, Natália sentiu-se tão identificada naquela letra, que seu coração parecia bater conforme o ritmo da música.
"Estamos dançando no limite da borda da ansiedade"
"E eu posso cair de novo, eu posso cair de novo"
Natália se sentia tão envolta naqueles versos que pareciam tão verdadeiros e significativos, que deixou-se derramar algumas lágrimas, enquanto olhava a paisagem pela janela meio suja do ônibus.
"Estamos caminhando numa estrada de preocupação e eu espero..."
"...Que eu não caia de novo, que eu não caia."
"Me leve a algum lugar que eu possa ser, eu possa ser eu mesmo"
Natália fungou seu nariz e olhou para sua mão, que estava envolta na mão de Ária. Aquela música parecia até um pouco familiar, talvez ela já tivesse escutado a namorada a escutar antes. O que sabia, era que quando os próximos versos chegaram, ela começou a cantar baixinho, junto da música.
"Oh, me leve a algum lugar que eu possa ser livre"
"Livre para ser eu mesmo"
"E nada mais."
Ária olhou em seus olhos quando ela começou a cantar, e ambas deixaram as lágrimas decorarem seus rostos num choro baixinho. Natália ainda não havia contado isso para ela, mas ao lado de sua baixinha de mechas azuis, se sentia livre para ser quem era, Natália Mendes Carvalho, e nada mais.
***
As duas andavam de mãos dadas pelo bairro, que era do outro lado da cidade, comparado à sua casa. Enquanto caminhavam, Nat começou a pensar e se perder em memórias. Pensou em todas as pessoas que amava, em todas as pessoas que ela podia contar, em qualquer hora, a qualquer momento.
De alguma forma bem louca, ela sabia, que independentemente de quantos problemas aparecessem em sua vida, ou quantas pedras surgissem em seu caminho, ela ficaria bem, mesmo que demorasse alguns dias, meses ou até anos, ela ficaria bem.
- Chegamos. - Ária disse, parando de frente a um muro de tijolinhos. Atrás desse muro, Natália conseguiu ver, parcialmente, o que parecia um velho casarão. - Vem, me ajuda a pular o muro.
- O quê? - Natália levantou suas sobrancelhas, surpresa com a atitude meio vândala de sua namorada. - Você é doida? A gente não pode simplesmente invadir uma casa.
Ária começou a rir e Natália cruzou os braços.
- Fica tranquila, essa casa pertence a minha família, era da minha avó, para ser mais exata, mas está meio abandonada há alguns anos, e o portão está emperrado, por isso eu preciso pular o muro. - Ela explicou.
- E o que me garante que você não está mentindo para me fazer pular junto com você sem saber que estou praticando uma atitude criminosa? - Natália perguntou, em um tom doce de brincadeira, arrancando risadas de Ária.
- Vem logo!
Natália ajudou Ária a pular o muro, e lá de cima, a garota ajudou a loira a pular também. O quintal da casa era amplo e a grama verde tinha crescido e se tornado uma grama muito alta. Natália via que a casa, ou melhor, o casarão, estava mal cuidado, mas mesmo assim, não deixou de admirar a bela e velha construção.
As duas não adentraram a casa, passaram por ela até chegarem no fim do quintal, onde havia uma grande e bela árvore que nela, havia uma linda e cuidada casinha de madeira. Do lado dessa árvore, Natália também conseguiu identificar dois pés de goiabas muito bonitos e com os frutos.
Ária correu até chegar perto da árvore, e Natália a acompanhou, carregadas de uma doce e pura felicidade. As duas subiram uma escada de madeira, até já estarem lá em cima.
A casa era bonita, feita toda de madeira. Abrigava de duas janelas enormes e uma porta charmosa. O telhado era em forma de um "v" e a casa tinha uma bonita varandinha pintada de branco. Na varanda, alguns bancos e plantas a decoravam.
- Meu avô construiu essa casa quando meu pai e meus tios eram bem pequenos, mas depois que eles ficaram mais velhos essa casa ficou muito parada. Alguns anos atrás, meu pai a reparou e deu para mim. Desde então, eu venho aqui de vez em quando para ver se eu consigo manter ela limpa e organizada, e também me sinto bem aqui, calma. - Ária contou.
- Como eu me sinto calma no jardim. - Natália comparou.
- É.
Ária abriu a porta e foi como se Natália estivesse vendo um portal ser aberto, um portal para um universo colorido e artístico. Vários quadros estavam espelhados por todo o lugar, juntamente com pincéis e tintas muito bem organizadas. Também havia um pequeno sofá vermelho num canto, com uma mesinha de centro, algumas embalagens ainda lacradas de biscoitos e uma caixinha de som azul em cima da mesinha.
- Você que fez esses quadros?
- Sim... - Ária respondeu timidamente.
- Uau! São obras de arte, Ária!
- Obrigada. - Ela abriu um sorriso.
Natália admirou por mais algum tempo as lindas pinturas de Ária, até que a puxou pela cintura e depositou em seus lábios um beijo calmo e apaixonado. Diferente dos beijos quentes que estavam acostumadas a dar, esse era apenas carregado de uma calma e conforto que as duas tanto precisavam naquele momento.
Quando se afastaram, a loira encostou seu nariz no de Ária e assim ficaram. Natália acreditava que algumas coisas não precisavam ser ditas, apenas sentidas, e ela não precisou falar aquelas três palavras para que Ária soubesse que Natália a amava, e ela a amava também.
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