20 - Todos tem seus charmes e suas jogadas.
- Bom dia, mãe. - Desejou para Sandra assim que entrou na cozinha, pegando um achocolatado na geladeira.
A manhã tinha um clima morno naquele dia em Beija-Flor. Os raios de sol entravam na casa pelas grandes janelas da cozinha, proporcionando uma bela iluminação natural. O brilho do sol não era nada comparado ao amor incondicional de Sandra pela filha. Observando a garota, que já era mais alta que ela agora, sentiu uma leve e doce felicidade. Ana era o maior orgulho de sua vida, e ela merecia dias tão radiantes quanto o sol.
- Bom dia, filha. Como está?
- Bem. - Ela respondeu, bebericando de sua bebida gelada.
- Eu estava pensando em irmos visitar seu pai amanhã, o que acha?
- Sério? - Ana não conseguiu evitar sua surpresa e engasgou um pouco. Tossiu algumas vezes tentando se recompor, antes de continuar. - Por que isso?
- Eu pensei bastante sobre aquilo que disse, e é verdade. Eu e seu pai andamos afastados, e não quero que seja assim, não quero mesmo.
Ana ficou alguns segundos calada, apenas olhando para a mãe com os olhos vagos em algum canto qualquer. Os olhos marejaram e as lágrimas começaram a descer sem que ela percebesse. Pensou naquele dia em que os pais a levaram para um campo aberto que tinha na cidade, para que ela aprendesse a andar de bicicleta sem as rodinhas. Ela caiu tantas vezes, que seu joelho ganhou uma nova cicatriz, mas a cada tentativa, seus pais a incentivavam a continuar e a não desistir. Por fim conseguiu, e andou de bicicleta sem as rodinhas muitas vezes depois.
Pensou também nas vezes que tinha pesadelos, quando mais nova, e se aconchegava entre os pais. Lá, no meio deles, sentia-se segura. Como se todos aqueles sonhos assombrosos, ali, não tivessem o mesmo efeito.
Aqueles momentos nunca aconteceriam de novo. Sandra e Renato não ficariam mais juntos, Ana nunca mais se aconchegaria entre os dois quando tivesse pesadelos.
Mas ainda assim, sabia que quando caísse, teria os dois para a incentivar a não desistir.
Olhou para a mãe, ainda com os olhos molhados e a abraçou, o mais forte que conseguiu.
- Obrigada, mãe. Eu te amo.
***
- Então... Animadas para a prova, semana que vem? - Perguntou Natália. As mãos da garota brincavam com a colher vazia em seu prato e seus olhos encaravam as outras quatro garotas, sentadas naquela mesa de refeitório.
- Nem me lembre disso. - Reclamou Nicole e Victória deixou escapar uma baixa risada.
- Só de pensar em prova me desanima. - Maria disse.
- Ah... Mas bem que nós poderíamos estudar juntas, o que acham? - Sugeriu a loira.
- Gostei. - Vick se pronunciou. - Mas aonde? Porque a biblioteca da escola está mais barulhenta que show de carnaval com aqueles meninos do primeiro ano.
- Pode ser lá em casa, se quiserem. Meus pais vão viajar amanhã mesmo. - As garotas levantaram as sobrancelhas surpresas. Há um tempo, nunca pensariam que um dia Raquel as convidaria para ir em sua casa. Se alguém as dissesse que isso aconteceria, elas de certo que não acreditariam.
Raquel era uma garota, que apesar de agora serem amigas, elas nunca saberiam sobre ela por completo, ou quase isso. Parecia que sempre Raquel tinha algo novo para mostrar, como se a cada minuto uma parte dela fosse desvendada, mas sempre tinha mais e mais.
As meninas gostavam disso nela, ela era imprevisível, surpreendente, contraditória. Ela era a garota gótica dos vestidos floridos. Ela era uma versão única.
***
Victória achou que o quarto de Raquel seria um quarto simples. Ana Nicole achou que o quarto de Raquel seria bem escuro, com vários pôsteres de bandas de rock nas paredes pretas do local. Natália achou que o quarto de Raquel seria bem organizado e harmonioso. Maria Eduarda achou que o quarto de Raquel seria a coisa mais fofa do universo.
No fim, não era nada disso, ou talvez um pouco de tudo.
O quarto de Raquel tinha paredes amarelas, e não pretas. A cama era forrada por um lençol preto e branco. As prateleiras eram repletas de HQs e livros de investigação criminal. Perto da janela, tinha a escrivaninha com um computador muito bonito e uma cadeira gamer profissional preta. O quarto também tinha um espelho em um canto e uma mesinha repleta de lápis de olho, colares. Perto da janela havia algumas flores muito bem cuidadas, deixando o ambiente mais florido, e nas paredes amarelas alguns pôsteres de séries. Natália observou bem os pôsteres, tinham desde séries engraçadas como How I Met Your Mother, até algumas mais sérias como Dark. Perto da cama, no chão, também haviam as chuteiras que Raquel havia comprado e uma bola de futebol.
Aquele era o mundo de Raquel, observou Nat. E se ela tivesse só o quarto, sobreviveria muito bem, já que era uma suíte e também tinha um pequeno frigobar com algumas comidas.
Toda aquela confusão de cores, toda a diversidade de objetos, toda a "desarmonia", era Raquel. Aquele quarto de alguma maneira, refletia o interior da garota estranha de franjinha.
E o interior de Raquel era uma bagunça bonita.
***
- Eu não vou passar mais que um dia lá, Bia. Não precisa desse tanto de coisas. - Reprovou Nat, olhando a mochila lotada com desdenho.
Bia estava ajudando a irmã caçula a arrumar suas coisas para o passeio em Estrela, onde o Grande Jogo aconteceria. Parecia mais que ela estava arrumando as malas para um mês do que apenas um mero dia. Mas para Bia aquilo não era nada mais, nada menos, que o necessário.
Ela tinha que rever o significado de necessário.
- Olha, faltou o protetor solar. Você se queima fácil.
- O jogo vai acontecer em uma quadra fechada, não em um campo. Não precisa de protetor solar.
- Do jeito que você é, com um teto acima de ti ou não, vai sair queimada. Então me espera aí, que só vou pegar o protetor solar. - Nat revirou os olhos e riu do exagero da irmã enquanto ela saía de seu quarto.
Natália amava Bia demais. Com seu drama todo, pensava às vezes, que Beatriz que era a mais nova.
Bia era fofa, animada e a frase "Melhor prevenir do que remediar" em pessoa. A mochila cheia de Nat provava isso. Ela fora a pessoa que mais apoiou Natália na vida, inclusive quando a loira assumiu sua sexualidade com a família. Apesar de seu pai ter parecido um pouco desconfortável, e sua mãe com medo, quando ela contou, Bia parecia ter ficado muito animada com a novidade. Nat até achava que ela tinha preferido que sua irmã fosse lésbica do que heterossexual, pois ficou tão animada que até a apresentou para suas amigas.
Mas apesar de ter achado todas lindas garotas, na época Nat ainda só tinha uma pessoa na cabeça. Amanda.
E não que agora não tivesse, mas aos poucos, sentia que tudo aquilo ia passar.
- Pronto, seu protetor solar. - Bia entregou-o para Natália e se deitou na cama rosa da irmã, enquanto a loira fechava, ou tentava, sua mochila. - Não esquece de tirar fotos, e também de me contar tudo.
- Está bem, irei lotar a sua galeria com as fotos de nós vencendo.
- Você é convencida demais.
- É meu charme.
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