Capítulo 3 : Lilian
Em cada despedida existe a imagem da morte.
- Bom dia senhor Evans! - Uma linda menina pronuncia enquanto aparece na frente de um homem concentrado em um caça palavras.
Leonardo Evans é o pai distraído da Lilian, médico oncologista e clínico pediatra muito inteligente e sagaz, moreno, alto e forte, com um jeito nerd atleta.
Seu cabelo curto claro junto de seus olhos castanhos carismáticos e protetores sempre foi seu charme.
- Bom dia Lindse. - Leo retira os olhos rapidamente do jogo para cumprimentar a adolescente que lhe esboça um lindo sorriso.
Lindse é a melhor amiga de sua filha desde que foram morar em Londres, ela é bem diferente da Lilian, porém sempre tem o melhor arrancado pela amiga.
- A hiper atleta já acordou?
_ Já sim, imaginei que estaria por trás da Lilian acordando cedo. O que vão aprontar?
- Nada, marcamos de ir ao shopping hoje, para fazermos um trabalho.
- Shopping? Será em dupla?
- Sim, mas infelizmente ela não saiu comigo, mas vamos encontrar a parceira dela lá.
- Claro, no shopping!
- É sério, será apenas trabalho, estou como testemunha. - Lindse levanta a mão esquerda como forma de juramento.
- Isso que me assusta. - O mais velho sorri. - Bom, minha princesa está no quarto terminando de se arrumar, mas disse que era para te pedir para subir assim que chegasse.
- Tá bom, obrigada senhor Evans.
- Disponha. Eu espero que tudo fique bem. - Ele continua meio distraído, tenta se concentrar em seu jogo, mas vê a esposa chegando na sala com o celular na mão.
- Bom dia meu amor! - Ela o cumprimenta com um beijo apaixonado, se sentando ao seu lado.
- Bom dia! A Lindse já chegou.
- Que bom, conversamos por um bom tempo, ela já sabe como contar.
- Espero que as duas fiquem bem, principalmente Lilian, ela não lida muito bem com perdas. - Ao falar aquilo, Leo se lembra de tudo que aconteceu com sua família, sente um aperto no peito, mas tenta contornar esse sentimento ao ver que sua esposa parecia distante e confusa. - Lia, meu amor, está tudo bem? Parece distraída.
- Estou, desculpe.
- O que houve? É o trabalho?
- Como sabe? - Ela se surpreende vendo o marido sorrir.
- Você reserva essa carinha de pensativa só quando está com um caso muito complicado.
- Você realmente me conhece.
- Como não conhecer a mulher que amo. - Leo admite dando um beijo apaixonado em sua esposa que o recebe bem. Ao se distanciarem ele continua. - Caso não tenha problema, o que acha de me contar? Talvez possa te ajudar a desestressar. - Ele se vira de lado se colocando atras da Lia, coloca suas mãos em seu ombro começando uma massagem constante e firme.
- Pelo o que Caroline me disse é a respeito de uma menina. - A mulher começa a falar sentindo as mãos do marido. - Ela tem dezesseis anos, a babá não disse muito, preferiu falar pessoalmente o que eu particularmente concordo, mas o pouco que compartilhou me deixou...intrigada.
- O que foi? - O homem continua firme na massagem.
- Resumindo, ela perdeu seus pais em um acidente de carro que por sorte sobreviveu, é sociável, mas parece que está sempre escondendo algo.
- Bom, eu não psicólogo nem psiquiatra, mas acho que ela precisa conversar com alguém, talvez não saiba o que sente.
- Também acho, mas tem mais uma coisa. - Lia se vira para o marido o impedindo de continuar a massagem. - Parece que essa menina, a criança que tem a idade de nossa filha é soberana de um país e não há ninguém além dela para herdar.
- Princesa? De verdade? Como a ...Lilian? - Essa última pergunta Leo faz sussurrando, apenas para Lia ouvir que confirma com a cabeça. - Uau! Isso é meio complicado, ela deve se sentir pressionada, quer dizer, ainda é uma criança.
- Sim, e para piorar, está em um tratamento. Deve estar se sentindo confusa, perdida e assustada.
- Nossa! Boa sorte meu amor. Vai precisar, já marcou uma consulta?
- Ainda não, vou a casa dela para falar com a senhora Córdoba primeiro, quero me inteirar de tudo, ela disse que hoje depois do almoço seria ótimo.
- Bom, eu não tenho pacientes hoje, quer que te leve? - Os olhos da Lia brilham e ela confirma dando um beijo no marido.
- Lily, posso entrar?
- Pode, claro.
Lindse abre a porta tendo a visão da amiga em frente a seu espelho de corpo todo, não consegue deixar de ver o adesivo com a evolução do humano com o fim sendo jogador de vôlei e sorri.
Lilian tenta, sem êxito, fechar o zíper da saia que fica na parte de trás.
- Amei a saia. - Ela vai até a anfitriã a ajudando com o zíper. - Você sempre precisa de ajuda.
- Obrigada. Você está linda. - Lilian vê sua amiga com um vestido xadrez, amarelo e preto curto por cima de uma blusa branca de frio.
- Valeu, você já combinou com a menina?
- Sim, vamos nos encontrar depois do almoço, então resolvi que nós duas iremos passar a manhã no shopping comprando roupas, depois vamos a um restaurante muito legal que conheci com meus pais e depois vamos encontrar a menina, falando nisso você combinou com Margô?
- Não. - Lind se senta no balanço oval com as almofadas de sol radiante preferidas da amiga enquanto a olha reunindo coragem. - Não vou fazer o trabalho.
- O que? - A morena franze a sobrancelha arqueada indo para perto da amiga. - Mas porquê?
- Lily, podemos conversar? - Respirando fundo e segurando a mão da Lily, Lind a leva para seu banco acolchoado ao fim da cama de frente para o balanço. - Ta olha, meus pais aceitaram um trabalho de ambientalistas.
- Isso é ótimo, seus pais amam essas coisas. - A princesa sorri feliz, porém sente que algo não está certo.
- É no Brasil.
- O que? - Ela se levanta rápido se afastando um pouco.
- Desculpa te contar agora não sabia como dizer, sua mãe me ajudou, mas, ainda assim não sabia... - A britânica fala muito rápido, sente seu coração parar por alguns segundos.
- Calma. - Lilian pega a mão da amiga sentindo tremer. - Calma Lind, quando você vai?
- Eles estão me esperando lá fora.
- Mas Lind... - Ela se levanta virando para a amiga, continua falando com a voz tremendo, sente sua cabeça cheia, respira esperando assimilar tudo aquilo, os pais da Lind não estão em uma condição financeira muito boa, aquele emprego seria maravilhoso. - Tá, como aconteceu?
- Eu não sei ao certo. - As lágrimas tomam conta das lindas bochechas da britânica sem mesmo ela conseguir controlar, seus soluços dificultam a fala. - ...semana passada eles me contaram quando cheguei do colégio, parece que já estavam pensando nisso há muito tempo, a viagem que fizeram no mês passado, foi a entrevista de emprego e eles conseguiram.
- Você poderia ter me dito antes...quer dizer... - A californiana tenta argumentar, reclamar, mas o estado da amiga a deixa ainda mais incomodada, então respira fundo indo até a mesma lhe dando um abraço. - Quando você voltará?
- Em cinco anos. - Lind olha para os olhos verdes da Lilian. - Promete ser minha amiga para sempre? Nunca me esquecer.
- Lind, você foi a pessoa que me ajudou a superar a morte do meu irmão, eu devo muita coisa a você, sem contar que sempre seremos amigas, eu te amo demais.
- Muito obrigada, Lilian.
O celular da britânica vibra a alertando da hora, mas ignora esperando que aquele momento perdurasse, tão bom, não queria ter que deixar sua melhor amiga. Ele vibrou novamente e desta vez a Lilian notou.
- Seus pais devem estar apressados.
- Estamos meio atrasados, fiquei um bom tempo fazendo as malas. - Lind levanta fazendo a morena levantar. - Ligo para você assim que chegar lá, tenho certeza que odiarei.
- Tente se acostumar e não morrer de saudades, vamos nos falar todos os dias pelo face time também, não vai se livrar de mim tão facilmente Lind.
- Idem.
Elas se abraçam novamente, saem do quarto e descem as escadas, o caminho até a entrada era tão curto, se despedem novamente, a princesa segura as lágrimas o máximo que consegue, mas ao ver sua melhor amiga entrar no carro não aguenta, corre para dentro se jogando no sofá chorando.
Lia e Leo vão até a pequena querendo lhe confortar o máximo possível.
- Catarina, onde você está? - Lu procura a pequena pela casa, entra em todos os cômodos, mas não consegue encontrar, vai até o jardim esperando acha-la se preparando, porém, a menor já está correndo, seus fones brancos balançam sem freios, a mulher se coloca em sua frente. - Está correndo muito.
Não obtém resposta alguma, nota pelo modo com que a pequena está mexendo que algo não parece certo, não pensa muito, sente Cat cair para frente meio desacordada.
- Catarina, pelas Irmãs, você está muito pálida.
- No me siento bien Lu, estoy enfermo. (Não estou me sentindo bem, Lu, estou enjoada.) - A voz fraca da menina revela a situação.
- Deus! - A maior vê Cat fechando os olhos. Pega o celular e disca qualquer número.
- Como você está? - Lia entra na cozinha vendo a filha comer junto do pai.
A mais nova ficou um bom tempo sozinha no quarto, saiu a poucos minutos.
- Estou bem, eu... - Lilian coloca a mão na barriga olhando para a mãe. - ... Estou um pouco enjoada. Com licença. - Ela sai da cozinha deixando os pais preocupados.
- Ela anda sentindo esses enjoos há alguns meses. - A matriarca olha para o marido enquanto profere estas palavras. - Deveríamos levá-la ao médico.
- Nós já levamos, ele disse que ela está bem. - Leo tenta relaxar a esposa. Se aproxima para lhe dar um beijo, mas seu celular toca antes que pudesse selar seus lábios. - Me desculpe, preciso atender, é do trabalho.
- Sem problemas. - Ela umedece seus lábios tentando se reconfortar sozinha, se levanta indo até o banheiro e bate na porta. - Amor, você está bem?
- Estou mamãe, já vou sair.
- Okay. - A mulher vai para a sala, se senta no sofá olhando para o relógio no fim da parede, assim que sai do banheiro Lilian vai para a sala e se senta ao lado da mãe. - Está melhor? - A maior passa a mão carinhosamente nas costas da pequena.
- Sim, desculpe.
- Isso parece estar piorando, estou muito preocupada.
- Eu sei mamãe, mas não precisa, já fui a todos os médicos que você e o papai conhecem, eles disseram que estou bem.
- É, mas não faz sentido, porque continua vomitando? - A matriarca espera uma resposta, porém o clima é quebrado quando o marido chega na sala mais agitado que o normal pegando suas coisas. - Leo, o que houve?
- Me ligaram do hospital, parece que tem uma menina que está precisando de um médico e me contataram, vou precisar ir até ela. Lia, você se importaria de ir comigo?
- O que? Porquê? - Ela nega com a cabeça não quer deixar a filha.
- Precisamos conversar. Então, vamos?
- Eu vou ficar com a Lilian...
- Eu estou bem mãe. - A garota admite interrompendo a mãe e continua. - Vou sair daqui a pouco, mas vou ao clube treinar.
- Eu não quero que você saia por aí filha. Joyce. - Leo chama uma mulher que não demora a aparecer.
- Sim senhor. - Ela se coloca em frente ao Leo.
Com um físico esbelto e longo cabelo preto com vários fios brancos, é a governanta dos Evans, o braço direito da Lia e uma das melhores amigas da Lilian.
- Eu e Lia vamos sair, voltaremos tarde, preciso que fique de olho na Lilian por favor, ela não está se sentindo bem.
- O que? Mas pai preciso treinar, tenho uma competição em dois meses.
- Você pode treinar aqui, não construímos um campo para você à toa. - O homem fala firme na decisão, vai até a filha e pega em sua mão. - Por favor, minha princesa.
- Papai, não acha que está exagerando? Estou bem.
- Repetir isso não vai me fazer deixar de me preocupar Lilian, sou seu pai, agora realmente tenho que ir, por favor fique em casa, descanse ou treine só não saia da casa, tá bom?
- Tá bom, né! - A princesa se rende pois sabe que aquela luta não venceria.
- Obrigada. - Leo dá um beijo na testa da filha, a esposa fica todo o momento olhando para aquela cena, não pode negar que está morrendo de preocupação, mas acha a atitude do marido um tanto suspeita.
Se despede da filha com um beijo em sua testa, diz que qualquer coisa ela pode ligar e deixa instruções sobre o almoço um tempo depois eles saem e deixam a menina no sofá.
- Senhorita, está tudo bem? - Joyce se aproxima da Lilian.
- Eu realmente não posso ir ao clube? - Ela vê a mais velha concordar. - Okay, então venha treinar comigo, por favor.
- Eu? - Lilian sai da sala sem dizer mais nada, a governanta entende que não tem muita opção, ela sempre foi assim, desde que a conheceu, quando a família Evans se mudou para Londres.
Sai da sala seguindo a pequena princesa que ia em direção ao quarto.
- Lu. - Cat abri os olhos rápido, um semblante assustado, a babá lhe dá um abraço totalmente desengonçado, porém tem a necessidade de ter aquele pequeno ser em seus braços. - ¿Lu, qué pasó? (Lu, o que houve?)
- Você desmaiou no jardim. - Lu solta a menor olhando seus olhos azuis diferentes. - Seus lábios ainda estão pálidos. Você me assustou, de verdade.
- Me desculpa, não sei direito o que aconteceu, estava correndo e fiquei muito enjoada.
- Você exagerou. Catarina não acho prudente você correr na maratona, sabe que eu e Tomás faremos isso, você não precisa.
- Eu quero Lu, depois que fiquei doente vi o quanto todos os profissionais trabalham para nos devolver a saúde, é incrível, mas eles não têm a ajuda necessária, a maratona vai ajudar a levantar fundos.
- Você doou uma grande quantia, meu amor, sei que está grata, acho incrível o que está fazendo, mas você ainda está em tratamento. Na próxima consulta vou conversar sobre isso com seu médico.
- Dijo que no habia problema. (Ele disse que não tinha problema.) - A princesa faz uma voz um pouco mais fina, a voz de mentira se senta na cama, sua visão se mostra esquisita e seu estômago reivindica algo mas com certeza sente melhor que antes.
- Isso foi antes do que aconteceu hoje, eu garanto.
- Tá bom, faça como quiser. - Ela tenta não discutir mais. - Que horas são?
- Onze. - Lu olha para seu relógio no pulso, vê a menina se levantar e vai até ela a sentando novamente. - O que está fazendo?
- Levantando, esqueceu que tenho o trabalho para fazer depois do almoço?
- Você não vai sair. Mande mensagem para sua colega e chame-a para vir para cá.
- ¿Y qué diré? (E o que eu vou dizer?)
- Não sei, fala a verdade, diz que passou mal e que não poderá ir, sei que ela entenderá.
- Não, não entenderá, possivelmente vai achar que estou furando ou sendo preguiçosa, Lu por favor, me deixa ir, eu estou bem.
- Você não vai, e como ela não entenderia, o seu caso é diferente, não está furando com ela ou sendo preguiçosa.
- Ela não vai entender Lu. - Catarina usa sua voz frágil, quase chorosa.
- Por que não?
- Porque... não contei para ninguém do colégio. - A menina vê Lucinda franzir as sobrancelhas. - Antes de surtar saiba que... não achei necessário.
- Catarina! - Lu respira fundo, por pouco altera a voz, mas consegue evitar. - Meu amor, porque tenta se esconder dos outros assim?
- No me escondo solo... (Não estou me escondendo só...)
- Não achou necessário. - Completa a babá vendo a menina concordar. - Okay, mas ainda assim não vai, mande uma mensagem ou a ligue, vou atender a porta. - Finaliza saindo do quarto, logo após ouvindo a campainha.
- Você não me explicou nada no caminho e insistiu para que viesse, não entendo, Leo. - Lia olha para o marido que encara uma porta grande, mas quase conhecida.
- Olha amor. - O homem se vira para a esposa. - A menina que eu vim ver é... possivelmente sua paciente.
- O que? Porque acha isso?
- A mulher que ligou para o hospital se chama Lucinda Córdoba e senti algo estranho, só sei que você tinha que estar aqui. Eu sei que parece ridículo, mas... precisa.
- Acredito em você, meu amor. - Lia expressa, sobre sentimentos pode acreditar, não demora para a porta ser aberta uma linda mulher a olha ficando confusa. - Senhora Córdoba?
- Senhora Córdoba era minha mãe, sou apenas Lucinda. Por favor entrem, doutores. - Lucinda sai do caminho dando passagem para que entrassem.
- Como sabe quem somos? - Leo pisca algumas vezes, apesar de não ter magia pode senti-la emanando daquela casa.
- Eu o chamei, e contratei os serviços da senhora Evans, não contrataria sem saber quem é. - A mais velha dá um sorriso discreto pela pequena mentira.
Ela não achou que teria aquela surpresa, os dois juntos, porém quanto mais aquele dia passa mais nota que acelerou algo.
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