Capitulo 2: Catarina
Tudo o que um sonho precisa para ser realizado é alguém que acredite que ele possa ser realizado.
Roberto Shinyashiki
- Lily meu amor, está na hora de acordar. – Lia entra devagar no quarto da filha indo diretamente para a grande parede de vidros coberta por grossas cortinas.
Olhando para o interior, aquele quarto grita Lilian, as paredes em um tom creme e outra de destaque ciano abrigando sua cama gigante com uma cabeceira diferente: uma bola de volei cortada na metade coberta por um tecido bem fofinho, acima um adesivo de rede esticada realça.
Lia sorri ao ver almofadas jogadas no chão, cada um com sua cor até chegar no preferido de sua filha: o de zigzag branco, preto, vermelho e ciano.
Estranhamente, inúmeras folhas jogadas na penteadeira/escrivaninha que forma um “L” faz a maior contrai os lábios, aquilo significa que sua pequena não conseguiu dormir bem.
Ao pegar o desenho, a matriarca vê um esboço perfeito da filha, olhando para o teto, várias folhas coladas com o mesmo desenho, Lia se pergunta como uma adolescente magricela poderia colocar tantos desenhos em um pé direito tão alto.
Olha novamente para os desenhos e observando pouquíssimas alterações, alguns são coloridos com penetrantes olhos azuis que lembram um oceano bem turbulento e outros evidenciam a cor da pele branca, quase pálida.
Erguendo sua cabaça para olhar aqueles desenhos no teto, não consegue deixar de pensar nos poderes de sua filha que talvez nunca despertariam já que precisa do sangue de sua irmã.
Ao notar que a pequena não havia acordado, caminha até o lado da cama tomando bastante cuidado com a poltrona/balanço que fica perto, um singelo beijo na testa faz a menor abrir os olhos lentamente.
— Bom dia mamãe. — Lilian respira se levantando tentando se acostumar com a claridade. O sol a fez querer se levantar, mas a preguiça se mostra grande.
— Bom dia minha princesinha. Como dormiu?
A menor não responde, apenas faz uma careta enquanto puxa o edredom do chão abrindo espaço para sua mãe sentar o que ela faz ainda com os desenhos na mão. — Eu quase não dormi.
— Por quê?
— Não sei, estava com um pressentimento estranho a noite como se tivesse um problema, fui ao seu quarto, vi a senhora e o papai, fui ver Joyce, liguei para Lud e Leon, os dois me xingaram pela hora, mas fora isso estão ótimos. Isso tudo não me deixou satisfeita então eu acabei desenhando.
— Você se desenhou a noite toda? — Lia mostra os desenhos.
— Não mamãe — Lilian parece ofendida, sua energia habitual aparece fazendo se levantar e ir a penteadeira se olhando pensando cuidadosamente nas palavras antes de falar. — Não sou eu, sou californiana, tenho uma pele bronzeada e sempre que me desenho gosto de expressar isso.
— Então... — A maior move a cabeça para os lados esperando a filha completar.
— Então. — A princesa olha para a mãe. — Essa claramente não sou eu. É uma branquela de olhos azuis. Diferente de mim, ela parece... sei lá, sensível. Diferente. — Dizer aquilo deixa Lilian apreensiva, mas não entende.
— Interessante. — Lia pensa devagar. — Bom, vá se arrumar que daqui a pouco o café estará pronto.
— Sim, mamãe. — A menor vai para o banheiro após dar um beijo na bochecha da mãe.
— Sensível, que interessante, como será a personalidade da irmã da Lilian. — A mais velha pega o desenho saindo do quarto.
— Catarina! — Uma mulher coloca a mão no ombro da garota que está sentada no chão com as pernas cruzadas, todo seu redor encontra-se escuro pelas janelas fechadas por uma cortina cinzas, apenas a luz do protetor de tela do celular iluminava os lápis e giz de cera.
— Sim. — Cat retira os fones de ouvido se virando, esboça um sorriso ao ver sua babá.
Uma blusa de pijama de frio branca e azul com um ursinho que diz "quer ser feliz, me leva para casa" e uma calça azul escuro cobrem uma menina de pele e cabelos claro que foram deixados de qualquer jeito.
— Porque esse sorriso bonito? — A babá se ajoelha ao lado da garota.
— Dizem que os sorrisos mais bonitos são os mais sofridos. — Cat sorri mostrando seus dentes pequenos, se lembra de ter tirado aquela frase de algum site.
— Tienes razón (Estão certo). Mas porque nunca responde uma pergunta que faço? Sempre diz algo por cima.
— É para manter o suspense. Como você está Lu? Dormiu bem?
— Dormi muito bem e você, como está? — Lucinda tenta sem sucesso ajeitar os fios rebeldes, pequenos e finos da sua garota.
— Estoy bien (Estou bem).
— Você não apareceu para o jantar nem abriu a porta a noite toda.
— Eu sei, sinto muito, estava cansada.
— Ando notando que está chegando nos finais de semana muito cansada, está um pouco pálida, está se alimentando direito?
— Estou, é que entrei em um clube no colégio e isso acabou me desorganizando um pouco, tive que ficar acordada mais tempo e era semana de prova não queria que você ou Tomi ficassem bravos pelas minhas notas então me esforcei mais.
— Demasiado es lo que quieres decir, né? (Demais é o que você quer dizer) — A mais velha corrige respirando fundo passando a mão no cabelo da menor. — Meu amor, suas notas são perfeitas o tempo todo e quantos grupos está participando? Sem contar que está treinando para a maratona com o Tomás, não acha que está exagerando?
— Não, eu estou bem, só meio pensativa.
— Pensando no que?
— Espanha, estou com saudades.
— Você quer voltar?
— Não. — A pequena admite negando com a cabeça. — Nosso acordo... — Ela para um pouco, dá um sorriso e continua. — O acordo com o parlamento está bom para mim, pelo menos por enquanto.
— Eu sei que as coisas não estão perfeitas. — Lucinda se senta definitivamente ao lado da Cat. — Mas isso que estamos passando é uma fase, você sabe disso, né?
— Eu sei, confesso que me sinto cansada as vezes, viemos para cá para que pudéssemos ter uma vida menos... conflictivo (menos...conflituosa), digamos assim, mas desde que descobrimos esse problema não sinto mais a tranquilidade de antes.
— Você é muito jovem Catarina, tem uma vida tão longa pela frente que ficaria chocada com o tanto de conflitos isso pode acarretar, este que estamos passando é só mais um que tenho certeza que vai conseguir lidar.
— Eu sei, Lu. Gracias (Obrigada). — Sem se importar muito, a pequena abraça a babá que a recebeu bem.
Ainda no abraço, a mais velha vê as folhas no chão e as pega soltando a princesa.— Aconteceu alguma coisa ontem à noite? — O medo era evidente enquanto olha para os intensos olhos azuis da pequena que tenta desviar o olhar, aquilo revelava algo. — Você dormiu bem?
— Não muito, não aconteceu nada. — Ela tranquiliza. — Só fiquei com insônia. Mas o bom é que consegui destravar minha história.
— Se estava assim poderia ter ido ao meu quarto, poderia ter ficado com você. — A mulher olha para a menina que se levanta para ir à janela abrir um pouco as cortinas.
— E perder a chance de poder escrever a noite toda? Não mesmo. — Durante essa frase continua virada para a janela, logo se vira para a Lu lhe dando um sorriso. — E também se saísse do meu quarto, Tomás ia saber e cancelar a maratona.
— Ele só quer proteger você minha pequena. — Lucinda vai a Catarina pegando suas mãos. — Mas tudo bem, acredito que se estivesse se sentindo indisposta teria me dito.
— Claro. Bom, quer saber como está a história?
— Estou ansiosa.
— La chica del presente, de la estrella oscura, encontró a su hermana gemela. (A menina do presente, a da estrela escura encontrou a irmã gêmea dela.) — Cat faz uma expressão de satisfação ao ver o rosto de surpresa da Lucinda. — Lo sé, dirás: no sabía que tenía una hermana. ¡Ni yo! (Eu sei, você vai falar: eu não sabia que ela tinha uma irmã. Nem eu!)
A empolgação da garota é evidente, parece tão feliz por aquela descoberta. Não demora até continuar falar e contar todas as novidades, Lucinda ouve tudo atentamente com olhos brilhando.
— ... Su hermana organizó una fiesta al final para celebrar sus cumpleaños. (A irmã dela deu uma festa no final, para comemorar o aniversário das duas). — Essa foi a longa atualização. — O que achou?
— Achei incrível, você conseguiu desenrolar bem a história. Mas porque tanta tragédia?
— Não tem como evitar Lu, é a vida! — A princesa dramatiza aquelas palavras.
— Uau! Você deveria publicar esta história, está incrível.
— Ah, não. — O sorriso da menina é desfeito. — Eu não posso fazer isso, sem contar que eu não escrevo para os outros, morro de vergonha.
— Mas é uma escritora muito talentosa.
— Obrigada, mas não. — Ao lado das duas surgi um som estranho, uma galinha, Cat corre até o celular. — Lo siento, es mi despertador (Desculpe é meu despertador), preciso me arrumar para começar a treinar para a maratona.
— Mas o Tomás não está, ele chegará depois do almoço.
— Eu sei, será só uma corrida, não se preocupe e depois do almoço vou ao shopping.
— Shopping? Para quê? Precisa de algo? Posso mandar buscar. — A maior se levanta rápido.
— No la necesidad (Não a necessidade), vou me encontrar com minha parceira de trabalho lá para conversarmos sobre o nosso.
— Mas porque lá? Porque não aqui?
— Porque conhecendo você e Tomás, vão exagerar e chamá-la para dormir aqui, eu não quero uma amizade forçada.
— Nós não somos assim. — A babá tenta se explicar, mas com uma certa vergonha pois é realmente assim.
— Ustedes son (Vocês são), agora vou trocar de roupa para ir correr. Ou seria melhor tomar banho? — A menina se pergunta indo para uma porta branca.
— Catarina espera. — Ela se vira olhando. — Você vai ao baile de máscara que o colégio irá oferecer?
— Estamos em julho Lucinda, o baile é em outubro e também não estou a fim de ir.
— Mas porquê?
— Será no meu aniversário, sabe que não gosto muito desse dia. E por coincidência o dia da minha última quimio, não sei como ficarei.
— Okay, meu amor. — A babá se aproxima lhe encobrindo em seus braços. — Mas não se esqueça de sempre se manter forte e alegre, não é a mesma princesa desde que seus pais...
— Banho! — Cat interrompe a babá. — Vou tomar um banho rápido, posso ir? — Seus olhos quase imploram por uma confirmação que veio de um sorriso.
— Catarina, temos que conversar sobre você mais tarde, tudo bem? — Lu a vê negar com a cabeça e entrar no banheiro. Respira fundo pegando seu celular, sabia que o próximo passo vai irritar demais a pequena princesa, mas aquele era o momento, disca um número, pela rapidez parece conhecido, porém é a primeira vez que vai até o fim com a ligação, logo as chamadas são interrompidas por uma voz gentil do outro lado.
— Bom dia! Consultório da doutora Evans, Caroline falando, em que posso ajudar?
— Bom dia! Sou Lucinda Córdoba, gostaria de saber se a doutora Evans tem especialidade com adolescentes... — A voz da mesma é abafada pela porta que ela fecha ao sair do quarto.
Mesmo sem notar, Lucinda concretiza uma frase que a mesma disse há anos, mudando completamente a vida das gêmeas.
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