Capítulo 4 - Laura Fernandes
Odeio minha vida. Eu realmente odeio.
Este lugar é uma prisão, um pesadelo. Para todo lugar que olho, parece que enxergam minha alma, e ela é negra. Não vejo a hora de sumir daqui com um mapa, sem destino certo, levando apenas uma mochila nas costas e as economias que venho juntando a tanto tempo naquele cofre que está escondido no buraco que fiz dentro da parede do meu quarto. Cobri o buraco com um quadro e não tem como descobrirem que há algo de errado ali. Todo mundo sabe o que eu fiz, todo mundo comenta entre si, mas ninguém fala abertamente, porque riem de mim pelas costas.
Eu sei fingir muito bem, sou um exemplo. Todo dia o mesmo ritual, sem direito a distrações ou alterações no cronograma, cada detalhe é rigorosamente observado e executado. Tomo banho frio e esfrego cada parte do corpo com uma bucha vegetal, uso uma toalha branca e felpuda, depois encontro roupas íntimas limpas e esterilizadas, visto a camisa e o jeans da escola. Escovo meus cabelos cem vezes por mecha e os prendo num rabo de cavalo. Borrifo desodorante e perfume, depois ajeito as meias e os tênis. Estou limpa, preciso estar completamente limpa antes de fazer qualquer coisa, e só deixo quarto depois de ter certeza que tudo esteja na mais perfeita ordem, sem nenhum objeto fora do lugar. Cada coisa precisa ser devidamente guardada ou descartada, caso seja lixo ou não sirva mais. Estou pronta para a encenação. Não há um lugar seguro no mundo, eu sei disso. Não existem pessoas confiáveis também, elas mentem o tempo todo. Vou fugir dessa farsa sem demora. Eu tenho um plano, e ele será perfeito. Estou trabalhando nisso todo o tempo.
Normalmente evito qualquer contato físico com quem quer que seja. Não falo, não puxo assunto, apenas respondo aquilo que é perguntado. Respondo na maior parte do tempo de forma clara e objetiva, com respostas curtas. Não tenho amigos também e não me sinto bem realizando trabalhos em grupo, por isso, sempre que acontece de algum professor pedir trabalho em grupo, ofereço-me para fazer a parte mais difícil e complicada sozinha e a maioria dos alunos é preguiçosa demais para questionar. Acabo executando a maior parte das tarefas enquanto o grupo se reúne, sem mim, para discutir as questões estéticas e triviais. Sempre fujo de permanecer no grupo da Camile, pois sei que ela tem algo contra mim, apesar de não saber o que seria exatamente, mas pelo jeito que ela me olha é possível que conheça o meu segredo e eu não posso correr o risco de ser desmascarada por ela. A escola é desgastante e inútil, porque já conheço o fim da minha história e nela não tem esperança.
Volto a escrever sobre a Revolução Francesa, os franceses estavam certos, eles não se renderam, mas eu estou perdida.
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