O lugar em que estávamos era em uma única palavra fantástico! Eu quase me sentia dentro de um filme de Velozes e Furiosos. Quase.

Os carros se enfileiravam dos dois lados da pista de mão única, um verdadeiro espetáculo aos olhos. Eu não sabia dizer se queriam exibir os carros ou quem acompanhava os motoristas. Era impressionante o número de pessoas que se encontravam naquele lugar, e a energia caótica que todo mundo parecia transbordar. 

Meu coração batia acelerado, uma partezinha minha era completamente e indubitavelmente obcecada por adrenalina, poucas coisas me impressionavam, mas isso... isso me deixou sem folego. A pergunta importante aqui era, como Manu sabia sobre algo assim?

Quando finalmente saímos do carro preto luxuoso, foi uma questão de tempo até que eu começasse a me sentir deslocada. O cheiro de nicotina e maconha impregnava o ar, para todos os lados que os olhos podiam alcançar haviam bebidas, e outras coisas a mais circulando.

A música era alta e logo me deixaria com as têmporas latejando, com certeza. É ela tem razão, eu sou mesmo careta, me julguem.

— Vem, vamos falar com o pessoal. - Ela chamou indicando um grupo de pessoas próximas, minha expressão deveria parecer muito azeda porque ela logo se afastou. — Ok, fique aí, eu já volto.

— Não me deixa aqui sozinha! - Reclamei com os dentes trincados, mas ela não pareceu ouvir, ou só me ignorou.

Ótimo, simplesmente ótimo.

Pesquei meu celular no bolso da calça jeans, pronta para fazer desse momento algo útil no meu jogo Candy Crush, quando a pequena comoção começou.

Era só mais um carro chamativo que se aproximava, mas as pessoas não pareciam achar que apenas se aplicava aquela questão, quando o motorista desceu as pessoas se aproximaram dele que foi rapidamente engolido pela multidão.

Talvez, ele fosse uma das atrações da noite. Ou sei lá o quê.

Alguém puxou meu braço e meu coração parou, meu primeiro pensamento foi o mesmo que qualquer pessoa normal teria nesta situação: assalto. Não que eu já tivesse sido roubada alguma vez na vida, bom acho que isso está mudando agora...

O pânico era traiçoeiro, me tirou a capacidade de raciocinar por isso não fiz nada além de me virar, só quando encarava o par de olhos verdes foi que percebi que mordia o lábio.

E... Uau! Meu. Deus. Esse tipo de pessoa não deveria sequer existir.

— Desculpe, eu acabei confundindo você.

— Quem é seu novo amigo Emma? - Manu perguntou e eu me assustei, não tinha visto ela se aproximar. Puxei o braço que ele ainda segurava me aproximando da minha amiga, disposta a leva-la comigo para longe dali.

Estranho. Muito estranho.

— Ah, eu não faço ideia de quem ele seja. - falei para ela. Do outro lado da pista quando as pessoas finalmente começaram a se afastar do carro, um homem loiro barbudo olhou diretamente para mim, ele encostou-se na porta do carro e sorriu com o olhar grudado no meu.

Cada minuto que passa pior fica.

Engoli em seco, não gostei nada do olhar e sorriso afiado daquele cara, então voltei minha atenção para o moreno ainda parado no mesmo lugar, os olhos dele estavam distantes quando ele voltou a me olhar.

— Acho que você conseguiu chamar a atenção de alguém. - Manu riu me fazendo estreitar os olhos com irritação para ela.

— Do que esta falando? - perguntei mas quando ela pareceu animada demais para falar, resolvi mudar a tática. — Onde você estava?

Ela optou por me ignorar também.

— Como se chama? - ela estava totalmente concentrada no moreno bonito, e ele deve ter notado que ela não o deixaria em paz, porque sorriu e respondeu cada uma das perguntas dela pacientemente.

Alguém acabou chamando por ela de algum lugar próximo o que fez com que ela alterasse o foco de sua atenção de imediato.

— Já volto, não saia daqui. - Foi tudo o que ela murmurou antes de desaparecer de novo.

O moreno que, graças a Manu eu sabia agora, se chamava Gustavo olhou para um ponto atrás de mim, ele murmurou alguma coisa que com toda certeza não era um idioma que eu conhecia.

Quando me virei me deparei com o mesmo homem que chegou a um tempo atrás, seus olhos estavam longe de mim avaliando Gustavo. Me senti um verdadeiro peixe fora d'água.

— Você fez algumas amizades interessantes por aqui.

— E você ainda está por aqui... - foi o que Gustavo rebateu.

O loiro olhou para mim, me avaliando da cabeça aos pés como se memorizasse cada detalhe.

— Te vejo por aí.

— Ah, ok... - uma pequena risada nervosa escapou enquanto eu dava um passo para trás.

— Durante a corrida talvez? - ele sorriu um pouco mais.

— Desculpe desaponta-lo assim, mas ela estará comigo. - Gustavo disse, sua voz suave me fez estremecer também.

— Vou? - perguntei mais para mim mesma do que para qualquer um deles.

— Isso será no mínimo interessante, já faz um tempo, se me lembro bem - o Loiro não tinha a mesma voz suave de Gustavo mas seu sorriso cruel compensava isso muito bem.

— Só alguns anos, - Gustavo se aproximou do loiro e eles conversaram um pouco mais, não consegui ouvir o que era dito, mas as palavras trocadas não pareciam amigáveis.

— Vamos tentar de novo, - Gustavo sorriu, e estendeu a mão direita, logo após o outro homem ter ido embora. - Eu sou Gustavo.

Ele, era aquele tipo de pessoa que, sabe que é bonito. E que sabe exatamente como usar essa vantagem também.

— Emma, oi - sorri apertando a mão estendida. A boa educação me forçava a segura-la, então foi o que fiz.

— Você conhece Anne Cule?

— O que? - perguntei totalmente confusa com o tópico da conversa.

Ele suspirou, parecia ligeiramente chateado com alguma coisa.

— Eu imaginei, - foi tudo o que ele respondeu antes de murmurar alguma coisa em outro idioma para o céu.

— Olha, é melhor eu ir encontrar minha amiga.

— Não esqueça a nossa corrida.

— Eu me pareço com alguém que corre? - perguntei irônica, olhando-o como se ele fosse um idiota.

Ele sorriu, nenhum pouco perturbado, como se eu estivesse apenas fazendo algo fofinho.

— Não, nenhum pouco. - ele avançou, seu dedo ergueu meu queixo para que nosso olhos se encontrassem de novo. — Vai ser divertido ter você comigo durante o trajeto.

— Não lembro de ter concordado com isso em momento algum. - murmurei, sentia a irritação apertando. Nunca fui uma pessoa muito paciente.

Ele realmente gargalhou.

— Sabe Emma, infelizmente para você, essa vai ser uma noite que não tem volta. - ele me olhou, estava um tanto sério. — Esse é o momento de escolher se quer sobreviver ou morrer na praia.

Eu tinha a incômoda impressão de que sua palavras tinham um significado além, e eu inconscientemente buscava ler as entrelinhas.

— Você é muito cansativo, - murmurei. Ele realmente era, cansativo de tentar ler. — Além do mais, eu não confio em qualquer maluco que me aparece.

— Vai ser divertido! - ele sorriu. — Do que você tem medo?

Manu e seus muitos monólogos correram em meus pensamentos, apenas talvez, ela tivesse razão. Eu estava deixando de viver muitas coisas apenas para manter a filha ideal para os meus pais, para nutrir a imagem de garota de ouro a quem quer que perguntasse. 

Eu sempre fui o tipo de garota que releva, que sempre estava ok, que sempre podia esperar para depois. Nem eu mesmo me priorizava.

Talvez, fosse pura crise de burrice, ou talvez fosse a insana vontade de provar a mim mesma que eu podia qualquer coisa. Mas as palavras simplesmente pularam da minha boca.

— Tudo bem... Vamos fazer isso. - falei, com um aceno, ele afastou o dedo que continuava mantendo meu queixo erguido e sorriu.

Eu estou ficando completamente maluca mesmo!

— Ótimo! - ele disse e se afastou um pouco, os olhos brilhavam com uma piada escondida, tinha quase certeza que essa piada era eu.

Antes que eu percebesse, ele colou os lábios nos meus num beijo suave e demorado. Totalmente inesperado. Cedo demais ele se afastou e foi embora, pra Deus sabe-se lá onde.

Pisquei uma... duas... três vezes. Meio chocada, meio confusa... o melhor seria fingir que isso não aconteceu, e me preocupar com o problema que tenho em mãos.

Sim, isso mesmo. Foco. Mal tinha aceitado participar da corrida e já queria desistir. Será que eu conseguiria ir muito longe antes que a Manu me encontrasse?

》《

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