CAPÍTULO 11
— Você estava me usando como desculpa para rondar aquelas pessoas? - perguntei a América.
Já tinha falado para ela o que a ruiva disse, mesmo sem fazer a menor ideia sobre que tipo de acordo.
Pulei de lado, me esquivando de um soco, enquanto girava o corpo e acertava um chute lateral como contra-ataque, por mais que eu me esforçasse nunca parecia rápido o suficiente. América desviou com habilidade e logo em seguida segurou meu tornozelo, os dedos firmes em seu aperto e com a mão livre me acertou um soco diretamente no osso da panturrilha.
Meu corpo literalmente estremeceu de dor. Quando meu joelho se curvou ela largou seu aperto meu deixando cair, segurei a perna dolorida e rolei fora do seu caminho quando ela acertava um golpe no tatame, no mesmo lugar que eu estava segundos antes. Ela não pegava leve nunca e eu agradecia a Melissa por não ter pegado leve também.
Avancei, a sequência de golpes trocados era o único som ouvido na sala além das nossas respirações, aceitei um soco na mandíbula de América o que a fez cambalear antes de agarrar minha camiseta me trazendo para ela, com um golpe rápido ela me jogou contra uma superfície lisa, o som de vidro rachando foi logo esquecido quando o punho dela esmagou minha bochecha.
Todas essas sessões de treinamento por mais torturantes e difíceis que tivessem sido, me tornou resistente e desenvolveu em mim um sexto sentido que surgia automaticamente em uma luta.
Usei a ponta da minha bota para acertar o joelho dela e impulsionei para frente, nos duas rolamos sobre o tatame, até que ela conseguiu me imobilizar.
Tentei me livrar de seu agarre, mas ela parecia completamente indiferente a cada tentativa, comecei a perder o fôlego rapidamente até que pontinhos negros apareceram em meu campo de visão. Só então América me largou, e me deixou tomando fôlego em grandes lufadas.
— Eu não estava te usando para nada. - ela respondeu por fim, parou com a sequência de golpes enquanto me via continuar deitada no tatame.
— Porque fomos até lá então?
América arrumou os fios de cabelo que fugiam de sua trança, e suspirou.
— Você é muito irritante. E previsível. - ela soltou, desenrolou as faixas que cobriam suas mãos pequenas. — Por hoje está bom.
— Eu não vou esquecer tão facilmente. - reclamei sem desviar minha atenção dela.
— Isso não é do seu interesse. Então se mantenha fora disso.
Não dei nenhum aviso antes de avançar sobre ela, segurando seu braço girei para trás aplicando a força necessária para que ela caísse de joelhos, empurrei suas costas com o meu joelho caindo sobre ela, deixando-a imóvel sobre o tatame.
— Você acha que essa técnica foi bem aplicada? - perguntei fazendo questão de deixar meu rosto em seu campo de visão para que ela pudesse vê o sorrisinho.
Ela reagiu rápido, sua cabeça bateu em meu queixo e imediatamente senti o gosto de sangue enchendo minha boca. Como consequência meu domínio sobre ela diminuiu o suficiente para que nossas posições fossem invertidas.
— Acho que você foi idiota novamente, abrindo brechas onde não deveria ter. - ela falou ficando de pé.
Suspirei, deslizei minha língua pela parte interna das bochechas sentindo os cortes criados. Ótimo.
— Mas, você está pegando o espírito da coisa. - ela elogiou, e surpreendentemente ela falou em francês.
Uma coisa boa sobre América, ela adorava treinar idiomas também, graças a ela eu perdia cada vez mais rápido o sotaque brasileiro.
Sorri satisfeita antes de me erguer, fiz uma rápida verificação em mim mesma, mas além dos cortes na boca, só havia outro dano atrás da cabeça, os cabelos estavam pegajosos e toda a área ao redor latejou quando toquei com a ponta dos dedos. Apesar da dor na perna a cada passo isso não duraria mais do que algumas horas antes de voltar ao normal. Ou pelo menos é o que eu esperava.
— Você cortou a minha cabeça - reclamei. Ela sorriu divertida.
— Um pouco de sangue não mata ninguém. - ela disse dando de ombros. — Você se defende bem, pode não ter muita força mas tem bastante agilidade e seus reflexos estão ótimos.
— Certo, e o que vem agora?
Ela me olhou com curiosidade, mas não falou nada.
— Eu notei que você anda muito inquieta, sei que algo esta acontecendo.
— Já te falei, isso não é da sua conta.
— Que seja. - suspirei.
— Quando você vai sair? - ela perguntou em seguida.
— Não sei, é o bom de não ter um horário fixo a cumprir.
— Saia o mais cedo possível, tenho coisas a resolver.
— Claro, vou me manter fora do seu caminho, sem nenhum problema. - falei enquanto caminhava para fora da sala, meu corpo dolorido precisava de um bom banho e uma soneca antes do cassino.
— Não seja tão irritante Emma... - América falou atrás de mim, revirei os olhos. Não era idiota, sabia que algo grande estava acontecendo, apesar de não conhecer os detalhes.
Que tipo de acordo Melissa mantinha com aquela mulher? Se aquele Max Maverick estava envolvido com ela de alguma forma, isso era algo sobre Melissa e Daniel?
Balancei a cabeça afastando os pensamentos indesejados. Ela tinha razão, não era da minha conta.
》《
América estava muito concentrada no que quer que estivesse fazendo em seu computador, o celular apoiado entre o ombro e o ouvido murmurando algo enquanto trabalhava.
Depois de uma última conferida atravessei o corredor para a sala de treinamento, deixei os saltos de lado enquanto pisava sobre o tatame e caminhei até a prateleira de armas, eu só tinha visto América abrir aquele compartimento uma vez e mesmo assim, foi apenas um breve vislumbre, estreitei os olhos tentando lembrar o local exato enquanto meus dedos buscavam.
Foi realmente um alívio quando o pequeno retângulo oco se abriu depois de um pouco de pressão, o pequeno teclado digital tinha um leve brilho azul enquanto aguardava a digitalização do código de acesso.
Conectei o cabo do meu tablet ao dispositivo, o suave click foi extremamente satisfatório de se ouvir.
Puxei a prateleira para ver a sala além, computadores zumbiam ali, num som baixo e constante. A sala era quase uma fortaleza digital, parecia surreal. Conectei o pen drive no o computador central e com poucos comandos estava confirmado o acesso, demorou alguns minutos mas logo as imagens internas do apartamento estavam brilhando na tela do tablet.
Aquele era um link de via única, eu não poderia fazer nada além de observar as imagens em tempo real, mas era bom o suficiente. Por mais que não fosse da minha conta, o interesse e a curiosidade não me deixaram em paz.
Um quadro no fim da sala chamou minha atenção, ele estava cheio de recortes e fotos, não podia ver bem de onde eu estava, também não havia tempo para examinar, por mais tentador que fosse.
Sai da sala fechando cuidadosamente a entrada, guardei o tablet na bolsa enquanto colocava de novo meus saltos e desci. América continuava no mesmo lugar, não me lançou sequer um olhar enquanto eu saia do apartamento. Só quando as portas do elevador se fecharam consegui respirar de novo, nem sequer tinha notado que estava tão tensa até agora.
Desci até o estacionamento e entrei no carro da América, mas ao invés de ir até o cassino parei no estacionamento de um supermercado. Eu realmente não tinha um horário fixo, então não pensei duas vezes antes de girar a chave, peguei a bolsa no banco do passageiro ligando o tablet rapidamente, as imagens brilharam na tela e eu me acomodei para assistir.
América não estava mais no computador, também tinha deixado o telefone de lado, agora ela segurava uma taça de vinho enquanto observava a cidade pelas janelas enormes que iam do chão ao teto.
— O quê você está escondendo hein?
As câmeras não tinham som mas desde que eles estivessem de frente para uma câmera eu poderia ler seus lábios. Seria complicado, desde que eu não estendia perfeitamente o inglês mas iria valer o esforço.
Observei América caminhar até encarar as portas do elevador, só levou alguns minutos e logo a mesma ruiva do parque saiu, acompanhada pelo mesmo homem também. Não podia ver o que América dizia mas ambos estavam muito tensos, as posturas indicavam isso, estavam prontos para atacar se fosse necessário.
O olhar que o homem lançou ao redor do apartamento foi treinando e calculado, ele rapidamente avaliou o espaço buscando rotas de fuga. Eu não esperava menos de alguém da inteligência americana, se os arquivos franceses estavam corretos. E eu tinha certeza que estavam.
América se virou e eu pude ver o que ela falava, estreitei os olhos para acompanhar melhor os movimentos de seus lábios.
— ... vi seu bebê, é uma linda garota... - ela terminou sorrindo para a mulher, a ruiva forçou um sorriso também, obviamente falso.
— Não vejo como isso pode ser importante para você. - ela acompanhou América até que todos estavam acomodados na sala
Eles conversaram por mais algum tempo, coisas que eu não pude entender, seus lábios movendo-se muito rápido ou saindo do campo das câmeras.
— Vamos direto ao ponto. - América falou por fim.
— O que você tem para nós? - foi Max quem perguntou.
— Eva Heiko.
Essas duas palavras fizeram mágicas. Os três voltaram a uma discussão por mais algum tempo, todos tinham expressões muito sérias, eu não fazia ideia do que Eva Heiko poderia significar para eles. Mas tinha certeza que Eva Heiko estava em grandes problemas se os três estavam dispostos a caça-la.
Observando a interação dos três ficou claro que eles se conheciam de uma longa data, e apesar de parecerem muito profissionais enquanto compartilhavam qualquer que fosse a informação em questão, era óbvio o desprezo compartilhado.
A hostilidade entre América e a ruiva era impossível de não perceber, e o desprezo que ela sentia por América era quase tão grande quanto o da própria América por ela. Era algo pessoal, eu tinha certeza.
E adoraria saber o que Rebecca fez, e para quem.
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