Prólogo - O Rei do Inverno
O jovem Theon Stark observava a floresta de Mata dos Lobos, empoleirado nas ameias de Winterfell. Theon estava lá, esperando, como fazia há incontáveis dias. Uma ansiedade tomava conta de si, e o rapaz não conseguia ficar quieto, e nem comer direito, ou dormir. Não enquanto o seu pai estivesse lá fora, além das florestas geladas que cercavam o castelo de Winterfell, na guerra.
- Não se preocupe. - Dissera o Rei Beron Stark à Theon quando havia partido de Winterfell. - Eu voltarei para casa, assim como fiz várias outras vezes. Não importa o quanto o inverno seja forte, filho, um lobo gigante sempre sobrevive. Quando o inverno chegar, apenas nós resistiremos, e os Homens Vermelhos sucumbirão. Enquanto eu os derroto, cuidará do castelo pra mim?
- Sim, pai. - Respondera Theon.
- Cuide de suas irmãs e de seu irmão. A matilha deve ficar unida... - O Rei havia feito uma careta. Theon sabia que ele pensava em seu outro filho, morto havia anos, Jon. - Prometa-me, Theon. Cuidará de Winterfell. E, caso eu não retornar, você será o Rei, e terminará o que eu comecei: unificará o Norte. O Norte deve ser unido sob o nosso comando, ou será destruído quando o inverno chegar.
- Prometo... Que vou tentar.
- Não tente. Faça.
Beron havia despenteado seus cabelos, sorrindo de forma encorajadora, e aquelas haviam sido as últimas palavras do pai à Theon.
Desde então, não haviam recebido mais notícias. Nenhum corvo havia chegado do exército de Beron Stark, e nenhum mensageiro havia retornado à Winterfell. "Ele não pode ter sido derrotado", pensava Theon. A vitória sobre o Rei Vermelho já era quase certa para os Stark. Mas ainda assim era estranho, e uma preocupação espetava a barriga de Theon, e a fazia se revirar.
Então, Theon avistou um vulto ao longe. Ou melhor, vários vultos. O coração do Príncipe batia, e quase podia ser ouvido por baixo do forte soprar do vento. Theon conseguiu ouvir o uivo de um lobo gigante ao longe... Inverno? Não, devia ser apenas um lobo qualquer. Mas seria um uivo de vitória? Ou um uivo de melancolia? O rapaz aguardou ansiosamente, agarrado à um frágil fio de esperança de serem homens do pai chegando em meio à floresta, e não os Homens Vermelhos. Mas, por fim, uma trombeta soou da Torre do Lobo, várias vezes, sopro profundos e sombrios. Sete sopros, o que indicava inimigos. O mundo de Theon pareceu desabar.
Ele correu, passando pelos guardas nas ameias, e foi encontrar o capitão da guarda, Robar Shawder.
- Meu Príncipe. - Disse Robar. - É mais seguro que saía das ameias. Não são os homens de seu pai às nossas muralhas. São homens Bolton.
- Eu sei, Rob. - Disse Theon. Agora era óbvio. O primeiro homem, montado, carregava o estandarte do Rei Vermelho dos Bolton, que era um homem esfolado, e, agora que havia saído de debaixo das copas das árvores de Mata de Lobos, o símbolo era bem visível. Atrás do porta-estandarte, um grande vulto se erguia. A princípio Theon pensou que fosse um gigante. Mas, assim que saiu da copa das árvores, o vulto se revelou uma pesada cruz de madeira, que era carregada por quatro homens. E pregado na cruz... Estava o Rei do Inverno.
Não havia pele. Mesmo assim Theon o reconheceu de imediato. O Rei Beron era duas vezes maior do que qualquer homem comum... Poderia, é claro, ser apenas um homem alto qualquer... Mas Theon sabia que não. Ao longe, o lobo uivava ainda mais, um uivo profundo e cheio de tristeza, quase sobrenatural. Agora Theon reconhecia aquele uivo: era, sim, o lobo gigante de seu pai, Inverno. "Ele sente a morte de seu rei".
Os homens Bolton que carregavam a cruz fincaram ela no chão, e ali Beron Stark permaneceu, erguendo-se sobre os Bolton, que ficaram parados alguns segundos e depois voltaram para dentro das copas das árvores, antes que os arqueiros de Winterfell recebessem ordens para atirar.
Dentro das Muralhas, o vento frio era o único som que se ouvia. Todos pareciam paralisados.
- Malditos bastardos... - Xingou Robar Shawder quebrando o silêncio. Os guerreiros ao redor resmungavam de forma melancólica ou então berravam insultos com fúria. E o lobo continuava a uivar.
Robar se virou para Theon, e, após encará-lo nos olhos alguns segundos, se ajoelhou, lentamente. Os seus homens, a princípio, continuaram conversando, mas logo perceberam o gesto e seguiram seu capitão, dobrando os joelhos.
Theon havia compreendido o que aquilo significava. O Rei do Inverno estava morto, esfolado vivo e pregado numa cruz. E agora, um novo rei seria nomeado. O herdeiro de Beron, Theon Stark. Ele.
- Eu juro perante os Deuses Antigos... - Rugia Robar em seu tom de voz alto. - Theon Stark é o Rei do Inverno, e o meu rei... Deste dia, até seu último dia...
"Aaaauuuuuuuuuuuuuu......", uivava o lobo.
- E eu... Eu aceito seu juramento. - Falou Theon. Tentara parecer confiante, mas a sua voz fraquejava. Ainda não se dava conta da morte de seu pai, e de que agora ele seria um rei; tudo parecia um pesadelo. Mas Theon sabia as palavras, e, da segunda vez que falou, sua voz foi mais firme: - Levante-se, Robar Shawder. Você... E seus homens. Juram ser os Guerreiros no Inverno? As Espadas nos Ventos Frios? Você jura sua obediência à mim, o único e verdadeiro Rei do Inverno?
- Eu juro.
- AO REI DO INVERNO! AO REI DO INVERNO!!! - Gritavam os homens. O grito rapidamente se espalhou pelas muralhas, até que toda Winterfell ecoasse em uma só voz: - AO REI DO INVERNO!!!
Theon desviou o rosto e piscou para esconder as lágrimas. Não choraria... Agora ele era o Rei. O futuro de seu povo dependia dele.
Subitamente, um homem subiu as escadas até as ameias, em passos largos, e se ajoelhou perante Theon. Logo percebeu que se tratava de Arstan Snow, o bastardo de Toca do Lobo. Arstan era um homem jovem, seu rosto era bonito, e sua feroz barba negra lhe dava um aspecto real de um lobo. Por detrás de sua lendária aparência, Arstan Snow era tudo que os homens mais desprezavam.
- Eu juro... Perante os Deuses Antigos, eu juro, que Theon Stark é o verdadeiro Rei do Inverno, e meu rei, deste dia até seu último dia...
- Agradeço por seu juramento, Arstan... E o aceito. Erga-se.
O bastardo ergueu-se. Arstan era bem mais alto do que Theon, sendo alguns anos mais velho. Havia um brilho feroz em seus olhos, como o olhar de um lobo, um brilho de ambição. Não era à toa que Arstan havia sido o primeiro à se ajoelhar à Theon, após Robar. O bastardo, com certeza, esperava fazer amizade com o novo Rei, à fim de cair em sua graça. E Theon, por sua vez, sabia que necessitava das espadas dos guerreiros de Arstan.
- Meu Rei. - Disse o Snow. - Sei que se encontra em um momento de luto. Mas, se me permite, o Norte não pode esperar. Seu pai deve ser vingado. Permita que eu leve a vingança aos Bolton, e meus lobos se banquetearão à noite com carne Vermelha.
- Não. - Disse Theon. Um arrepio percorreu sua espinha. - Agradeço por seu vigor em vingar meu pai, mas não sabemos de quantos homens o Rei Vermelho dispõe. Nem todos os vassalos de meu pai devem ter sido mortos, talvez meu tio Rodrik Stark tenha sobrevivido, temos que procurar por sobreviventes... Você poderia enviar equipes de reconhecimento em uma busca às tropas remanescentes.
Robar e Arstan olharam para Theon, espantados. Todos sempre haviam dito que Theon era muito avançado para sua idade, talvez o mais culto e estudado dentre os Stark, porém agora, Theon falava como um verdadeiro rei. No fundo, o Stark se sentia despedaçado, mas sabia que tinha dever a cumprir.
- Se lhe agradasse, Majestade, liderarei eu mesmo uma dessas equipes de busca. - Respondeu Arstan. - Seu tio deve ser encontrado, e penso que sou capaz para tal tarefa.
Theon pensou por um tempo, e estava prestes a aceitar a proposta. Porém, Robar Shawder puxou-o mais Pará trás e sussurrou em seus ouvidos:
- Não confie no bastardo.
Theon franziu a testa, e direcionou o olhar para Arstan, que fitava Robar, carrancudo. Aquele brilho nos olhos do bastardo o desagradava. "Confie em seu aliado, mas sempre o mantenha por perto", dissera uma vez o pai, "Nunca se sabe o que se passa pela cabeça de um nortenho". Theon sabia que aquelas palavras tinham razão, ainda mais em consideração à um bastardo warg. "Sou um rei, e um rei não pode confiar em ninguém".
- Penso que não. - Respondeu Theon. - Você me serviria melhor aqui, no castelo. Necessito de bons guerreiros defendendo minha família contra o Rei Vermelho, assim dormirei mais tranquilamente.
A resposta não agradou à Arstan Snow, e seus olhos cinzentos o fitaram perigosamente.
"Aauuuuuuuuuuuu".
- Espero que o uivo dos lobos não atrapalhe seus sonhos, meu Rei.
Arstan se afastou à passos rápidos. Assim que ele se encontrava à distância, Robar repousou uma mão sobre o ombro de Theon.
- Fez bem, Majestade. É melhor que homens como Arstan Snow sejam mantidos por perto. Ainda mais um warg. Porém, temo que o Bastardo de Toca do Lobo seja o menor de seus problemas.
"É claro que é. Agora sou o Rei do Inverno. Tenho uma guerra à travar. Um pai à vingar. Vassalos que me devem lealdade. Um reino quebrado para unir".
- O Inverno chegou... - Murmurou Theon tristemente. O uivo do lobo soou de novo, profundo, triste.
- Sim. - Concordou Rob. - Mas você é um Stark. E o Inverno não o derrotará, meu Rei. Ele lhe deve obediência.
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