A Galinha de Zamboio
Em uma aldeia sombria onde a névoa serpenteava como serpentes no chão húmido e a lua cheia refletia um olhar pálido através das janelas, uma história antiga e esquecida estava prestes a se desdobrar. A família de Erna vivia nos limites dessa aldeia, em uma casa de pedra fria que parecia abraçar o medo como um velho amigo. Erna era conhecida por sua beleza, mas também por uma frieza que corria em seus olhos claros. O rosto de sua família era uma máscara de civilidade, mas o coração de Erna pulsava com um desejo de vingança insaciável.
A história de Erna começou em uma noite enluarada há anos atrás, quando ela ainda era apenas uma jovem. Brook, o homem que viria a ser seu marido, era um objeto de seu amor desesperado. Mas Brook tinha um segredo que Erna só descobriria muito tarde: Lena, uma mulher que envolvia o mundo com sua leveza e encanto, estava envolvida com ele. A revelação foi uma faca cravada no coração de Erna, que nunca esperou que o amor de sua vida fosse uma sombra de traição. O ressentimento floresceu, e a dor se transformou em um plano obscuro.
Erna fez um pacto com uma entidade chamada Zamboio, uma criatura das trevas que habitava as profundezas de um outro mundo, um ser cujas promessas de vingança eram tão terríveis quanto o próprio inferno. A troca foi simples: a vida de Lena em troca de uma dor infinita. Zamboio exigiu um sacrifício especial. Erna se viu diante de uma galinha que tinha sido usada em um ritual macabro, sua carne impregnada com as energias sombrias da entidade.
Erna preparou-se para cumprir seu pacto, planejando entregar a galinha para Lena de uma forma que parecia natural, quase como um gesto de amizade. Mas o destino, sempre caprichoso, tinha outros planos. Na noite em que Erna carregava a galinha para cumprir seu plano diabólico, um grupo de rapazes, atraídos pelo cheiro do sacrifício, se aproximou. Enquanto Erna, com o coração pesado, estava distraída com seus próprios pensamentos, eles roubaram a galinha, fugindo na névoa espessa como se fossem sombras.
A galinha, agora marcada pela malignidade, encontrou seu novo lar de maneira inesperada. A mãe de Erna, uma mulher de idade avançada com uma predileção por receitas exóticas, comprou o animal dos rapazes sem suspeitar de seu passado obscuro. Ela o preparou com cuidado em sua cozinha antiga, o aroma da carne assada misturando-se com o cheiro doce de ervas e especiarias. Para ela, era apenas uma refeição especial, algo que prometia um sabor incomum.
Naquela noite, a casa da família de Erna estava iluminada pela luz tremeluzente das velas, um cenário que parecia quase festivo. A mesa estava repleta de pratos da refeição, e a galinha ocupava o centro, uma oferenda para a família reunida. Erna estava entre eles, participando do banquete com um silêncio sombrio, seu olhar penetrante escondido nas sombras da noite. Ela observava cada movimento com uma satisfação doentia, imaginando o sofrimento que se aproximava.
À medida que as horas passavam, a galinha começava a fazer seu trabalho sombrio. Os primeiros sinais eram sutis: uma sensação de desconforto crescente, uma estranha náusea que parecia se arrastar pelas entranhas. Mas logo, os sintomas tomaram uma forma mais grotesca e sobrenatural. A comida que haviam consumido estava envenenada com uma magia obscura, uma maldição que se desdobrava em cada fibra da carne.
O primeiro a sucumbir foi o pai de Erna. Ele caiu ao chão com uma expressão de terror absoluto, seu corpo contorcendo-se em um espasmo doloroso, como se serpentes de fogo estivessem rastejando sob sua pele. Seus gritos ecoaram pela casa, um som agonizante que atravessava a noite silenciosa, atraindo olhares curiosos das sombras ao redor.
A mãe de Erna seguiu logo depois, seu sofrimento se manifestando em uma série de convulsões brutais e uma visão distorcida da realidade. Ela via visões horríveis de criaturas demoníacas rasgando sua carne, um espetáculo de horror que se desdobrava em um loop interminável. Seus olhos, uma vez claros, tornaram-se opacos, e sua respiração tornou-se um suspiro gélido de morte iminente.
Os irmãos de Erna, jovens e cheios de vida, foram os próximos a sucumbir. Seus corpos começaram a murchar e se deteriorar de uma maneira surreal, como se fossem marionetes cujas cordas estavam se desfazendo. Suas bocas gritavam em silêncio, sem que nenhum som pudesse escapar enquanto seus corpos se transformavam em massa de carne e osso em decomposição.
Finalmente, foi a vez de Erna. O destino cruel parecia se deliciar com a ironia. Ela, que havia planejado o sofrimento dos outros, agora enfrentava o mesmo destino horrível. Seu corpo se retorcia em uma dança macabra, uma coreografia de dor e agonia. Ela viu visões de Zamboio, a entidade infernal que a havia enganado com promessas de vingança. Ele a observava com seus olhos escuros e um sorriso de vitória, saboreando a ironia de sua situação.
A noite avançava, e a casa de Erna se tornou um lugar de horror absoluto. A lua cheia no céu parecia brilhar com uma luz maligna, lançando uma sombra fria sobre o cenário de morte e sofrimento. O ar estava saturado com o odor do medo e da carne em decomposição, e o silêncio era quebrado apenas pelos sussurros do vento, que carregava os ecos dos gritos agonizantes.
Quando a manhã chegou, a casa estava silenciosa, uma concha vazia de uma vida que havia sido tragada pela escuridão. A galinha de Zamboio, agora um mero resíduo de um plano maligno, estava esquecida, seu propósito cumprido. O ritual de vingança havia se desenrolado de forma cruel, e a história de Erna se tornou uma lenda sombria, uma advertência sobre os perigos de brincar com forças além da compreensão humana.
A aldeia, imersa na névoa eterna, continuou a existir, suas sombras carregando os segredos de uma noite horrenda. E, à medida que o tempo passava, as histórias sobre a galinha de Zamboio e a família de Erna se transformavam em sussurros de advertência, um lembrete de que alguns pactos nunca deveriam ser feitos e que a vingança, uma vez despertada, tem um preço aterrador.
Fim
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