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Cap 16 - A Descoberta de Traium

Duna: pessoa não galaceana

Gote: espécie de cavalo alado

Monca: arte marcial

Planetalidade: disciplina escolar

Praga-viva: termo esdrúxulo referente aos estrangeiros

Zuli: criatura lendária agressiva como zumbis

Ainda que por motivos distintos aos de Alex, Sofia também era alvo de um dos membros da família Terók. Cego de cobiça, Traium acreditava poder mover montanhas para tê-la nos braços. Contudo, a dupla havia se casado meses após a transformação do terráqueo.

Atiçado pela esperança de que o pai banisse o duna de Galácena, iniciou uma investigação silenciosa a respeito do rapaz. Entre uma sondada e outra descobriu o impossível se alongar diante dos olhos. De início, a confusão dominou os pensamentos, pois o fato agregava gravidade extrema.

— Um praga-viva herdando DNA galaceano? Você tem certeza, filho? — As mãos de Taurim pressionaram os ombros do delator, ajustando a força com o fardo da ideia. — Apesar de sua origem banal, esta é uma acusação muito séria.

Sem ousar encará-lo, ele acenou um sim tão minúsculo quanto o próprio caráter. Sabia que a notícia despencaria na cabeça do chefe da SOTE como um golpe de dez quilos de um lutador de monca. Se assim fosse, entretanto, presumia que o pai revidaria com uma pancada mais potente. Teve certeza disso ao esbarrar na feição avermelhada do genitor.

— Um intruso recebendo um dom é inaceitável — a vista se perdeu no chão de barro ao passo que a mente recrutava as melhores respostas. — Se a denúncia viesse por outro, jamais acreditaria. Como soube?

— Calma! Ninguém disse e também não estou acusando Alex de nada — o jovem Terók abanou as mãos, agitado pelas palavras do homem. — Mas sei que desenvolveu uma habilidade especial. Está escrito no olhar, hã!

O galaceano girava a adaga nos dedos, conforme se exibia aos amigos. Fazendo-se de indiferente, fugiu do golpe da mãe natureza com o malabarismo. Contudo, ao notar o pai enrolado nos movimentos precisos do objeto, ergueu o canto da boca.

O caminho até Sofia se formava por entre espinhos e lodo. No entanto, ele não sujaria um centímetro da lâmina, pois a arma mais letal de todas respirava logo ao lado. Alex estava com os dias contados.

Traium não fazia a menor ideia que as peças do jogo se juntavam feito imãs e o rosto amarelado de Vânie Richtor revivia nas memórias do pai. Memórias de um passado perigoso e distante que muitos desejavam deixar enterrado a sete palmos. A heresia por parte do planeta, porém, fora um lance extra no tabuleiro ao qual Taurim e Jalef eram portadores de uma realidade adormecida.

"Se o praga-viva realmente ingeriu a poção, é óbvio que não montou o cenário sozinho" — o chefe da SOTE fervilhou as informações, até então cruas, sobre um assunto que lhe causava repulsa. — "Menos mal os ventos soprarem com mansidão nesses últimos meses. Sinal de que os ânimos se conservaram frescos e íntegros."

— Venha. Cada minuto conta — o galaceano apertou a rédea entre os dedos ao subir em Zinx. — Vamos ter uma conversinha com um certo Terók. Tenho certeza de que o dedo... talvez o corpo todo esteja metido nessa imundice!

Traium ficou paralisado. O olhar confuso provava uma luta em decifrar a urgência do pai em ver o tio. Afinal, um não suportava o outro. E, até onde sabia, Galácena era a única culpada sobre o desonroso episódio com o duna.

Ao relincho do gote acinzentado, estremeceu e, sem dizer uma palavra, ajeitou-se na anca do animal. Assim que as asas desenrolaram, enfiaram-se no céu.

O silêncio acompanhou a dupla no trajeto de volta à SOTE. O balançar das penas de Zinx, entretanto, sacudiu o estômago de Traium por todo o percurso. Azedando-se com o suco gástrico, não imaginou que o dono do animal também agitava as entranhas. Contudo, o motivo era diferente.

"Meu irmão, negligente, foi longe demais!" — De minuto a minuto, Taurim sentia uma fisgada na barriga e descontava o mal-estar na velocidade do bicho. "...sem a menor consideração, cruzou a linha do bom senso..., criou uma aberração mutante! Aquele imbecil."

Inerte às questões do galaceano, o filho seguia preocupado com uma única situação: a aceleração do gote. Agarrado à cintura paterna, trancava a respiração a cada guinada que davam. No entanto, mais alguns quilômetros ao sul do Planalto de Magtita e aterrissariam — aos trancos — nos fundos da propriedade.

"O que virá depois? E se a notícia se espalhar?" — o receio do chefe da SOTE policiava o amanhã, distraindo-o da descida. — "Quem mais ousará tal façanha?"

— Calma, meu pai — Traium o galaceano inclinou o corpo para trás ao vê-lo agitar as rédeas e acelerar no declínio. — Ou vamos bater.

Por sorte, sabia acalmar o animal. Ao cantarolar algumas palavras, reduziu o impulso mesmo que o chefe parecesse resistir ao comando. Imaginou que o tal encontro com Jalef superava o jeito com a montaria e que, por isso, não medira o ângulo do pouso. Afinal, Taurim colecionava troféus de planador.

A descida foi tranquila, um deslize sobre plumas. Traium inspirou um ar prepotente, mesmo que o pai não visse, nem o elogiasse. O silêncio do patriarca, entretanto, atiçou uma desconfiança de que estava num daqueles dias em que era melhor atravessar a rua ao vê-lo vindo do mesmo lado.

Sem conseguir montar o quebra-cabeça, preferiu aguardar o início do espetáculo. Aliás, nem tinha certeza se o queria fazer. Estava certo, contudo, de que o tio saíra da linha ao tramar algo com o terráqueo. Cogitou que talvez, por trás da máscara do rebelde da família, pudessem encontrar algo podre como um fungo de alcance profundo ou um vírus resistente. E que, antes do inimigo disseminar a peste, o pai estaria lá, cortando o mal pela raiz. Sorriu ao imaginar assessorando-o na tarefa de retaliação. Se houvesse algum culpado, certamente não sairia impune das garras do chefe da SOTE, independente de posições.

— Agora, vamos — atirando-se em terra firme, trocou passos como quem vai salvar o mundo do abismo. — O assunto é urgente.

Um subordinado veio os auxiliar levando o gote à cocheira tão logo cruzaram o último portão da SOTE.

— Cuide bem dela, hã? — O rapaz deu duas moedas galeanas ao homem e despediu-se do animal com um tapinha no dorso. — Obrigado, Zinx.

Assim que o empregado o agasalhou, o jovem Terók observou conduzi-lo em direção ao local dos estábulos. Ao fundo, a voz de Taurim atravessou o cérebro e ele saiu correndo atrás da figura encapuzada.

Com o filho ao reboque, o chefe da SOTE retirou um medalhão da veste. Traium já o vira inúmeras vezes com o objeto, embora não fizesse ideia da serventia. Jurando a si mesmo prestar mais atenção nos movimentos do pai, passou a língua nos lábios, sedento por explicações.

Quando o outro deu duas batidinhas na base, as metades se abriram e um rosto surgiu em um dos espelhos. Traium acirrou a vista ao reconhecer o sujeito. Sergo Mestak era um dos poucos amigos e braço direito do pai. Prensou os dentes com uma ponta de inveja, afinal era ele quem deveria ocupar o cargo de alta confiança.

Sem nunca escutar, contudo, quaisquer reclamações vindas do subordinado, concluiu que o cara era mais eficiente que o próprio chefe. Riu baixinho com o pensamento, freando a mente no segundo seguinte.

— Mande uma mensagem urgente ao capitão Suno, Mestak — o galaceano gostou de ver o interesse do herdeiro, conquanto disfarçasse a atenção no amuleto. — Quero uma dúzia de seus melhores homens atrás de uma certa duplinha. Agora!

Ainda que ouvisse só os berros do pai, o estômago se saciou com o banquete da conversa. Boquiaberto, segurou as palavras dentro da boca, pois apostava sua adaga preferida que Alex iria se estrepar. Veria depois o que fazer com a arruaceira. Ao escutar o nome da amada, no entanto, afiou a vista.

— Avise-o de que Sofia Redin é uma guardiã desertora e o colega... — a pausa condensou a raiva embrutecendo a voz. — Bem, é um terráqueo modificado. Cuidado com ele.

— Perdeu algo em mim? — Taurim empinou o nariz no rosto macilento do filho. — É a mulher de Alex. Deve estar no meio da bagunça! Que posso fazer? — Ergueu os braços numa dúvida cheia de arrogância.

Sem desgrudar do volume sob a roupa, Traium negou com a cabeça de um modo frenético. O ritmo impaciente do pai o intimidava. Contudo, se o curso do rio engrossasse para o lado da amada, lançaria a primeira boia que encontrasse. Àquele instante, o que tinha era apenas uma curiosidade agigantando-se com o alvoroço do homem com o medalhão a frente.

— Recrutei Mestak pelo dom, nada mais. Ele surge nos vidros quando requisitado — retornando ao trajeto, atacou-o com outro comentário, já que as ideias oscilavam entre o feito absurdo do irmão e os golpes irritantes do filho com a adaga. — É muito útil. Melhor que captar sentimentos, não é?

Traium prendeu um suspiro quando um nó entalou na garganta. Temendo se engasgar de raiva ao vê-lo sustentar um deboche nos lábios, desviou o olhar. Se um dia tivesse a chance, daria o seu melhor.

 Um caminho de pedras guiou-os à entrada da construção principal. E, embora andassem lado a lado, as esferas divergiam-se. O jovem, brincando com a arma desafivelada, não notou que o velho amarrava a cara como uma gárgula no alto da torre.

Num ritmo ordenado de "uni-duni-tê", insistia em lançar o punhal contra o ar. Com a vista seguindo o nada, afiava-se ao máximo no assalto de uma vítima invisível. O inimigo em especial tinha nome e o momento de o aniquilar aproximava-se.

— Acabe com essa acrobacia, agora — farto com a alienação bélica, o homem parou no meio da trilha. — Preste atenção! Preciso ser franco sobre um fato real!

O rapaz estufou o peito, apesar do coração pular ao ter os ombros agarrados. As unhas chegaram a afundar no couro. Aprisionando a arma entre os dedos, enfiou a lâmina na pele ao notar que o chefe da SOTE emanava um sentimento tão genuíno quanto perigoso.

— E de qual verdade você me poupa, hã? — Traium ergueu o queixo, mostrando a petulância de um Terók. Ao encará-lo, revelou ser mais alto. — Não foi Galácena a culpada por esse desarranjo?

O filho examinou o pai. Lábios prensados, quase escondido por completo, desenhavam-se num único risco. Se por respeito ou medo, segurou um desejo de rir. Sabia que quando Taurim cismava com algo era porque a consistência do caldo engrossara a ponto de explodir. O próprio fruto, contudo, evitou a realidade, embora a trapaça se estendesse com perfeição diante dele.

Àquele instante, o olhar enraizado do patriarca o intrigou. Nascido das rugas do sexagenário, um lampejo de dúvida arremessou-se entre eles. O jovem achatou as pálpebras e a saliva custou a descer.

— Não foi nosso querido planeta o responsável pelo dom desenvolvido naquele infeliz — o chefe da SOTE adotou o tom de deboche. Como uma criancinha, balançou a cabeça várias vezes para os lados. — Galácena foi apenas uma vítima. Enganada de uma maneira doentia ao ser traída por um descendente!

O estômago do rapaz queimou com a provocação, amolecendo feito um verme se afiliando num corpo debilitado. "O psicológico abalado pode trazer enfermidade à carne". Lembrou-se das palavras da mãe, mas nada pôde fazer. A raiva crescia de cima para baixo, atingindo a alma com uma espécie de regador.

Sentiu o cérebro ser alfinetado por mil esporas com a ideia de Alex ter recebido ajuda de alguém. Logo, uma sensação de formigamento enfraqueceu as pernas. Apesar de saber da verdade, largou-se no chão ao negar o improvável.

Contra o azul do céu, o herdeiro lançou um olhar violento ao ver o sorriso sarcástico do pai se acrescentar no rosto. Numa fraude momentânea, de quem desfruta a paisagem campestre, acompanhou Taurim abandoná-lo às próprias conclusões. A centelha a uma vingança contra as pragas-vivas, contudo, fora plantada com sucesso. E algo dentro dele afirmou que cresceria próspera, caso fosse o próximo sucessor da sociedade. Inspirou fundo, ciente de que a persistência da família era algo incontestável.

— Mas, ao nascer, todos os galaceanos recebem um dom da mãe natureza! É a regra! — Alcançando o genitor, garantiu-se nas aulas de Planetalidade. A frase espelhava, entretanto, uma sombra larga no cenho. — Por que alguém iria querer se passar por ela?

— Um indivíduo sem escrúpulos, óbvio! — O homem cuspiu a revolta no gramado com a tolice se resumindo na postura de Jalef. — Outra coisa: nunca houve regra, ainda que ensinem dessa forma. E ninguém, absolutamente, ninguém suspeita disso! — Ele o agarrou pela camisa temendo lidar com um menino de nove anos. — Até aquela infeliz arquitetar... — as palavras correram soltas, perdendo força no final.

— E quem foi o doidivanas que nos golpeou pelas costas? E que infeliz é essa? S... Sofia? — Recuando dois passos para trás, Traium enfiou o punhal no ar sentindo o inimigo o atacar pelas costas. Apesar de amá-la, não permitiria que a trapaça vagasse sem uma sentença. — De que jeito conseguiu?

— Não foi ela. Esqueça essa mulher — Terók fechou os olhos e a figura de Jalef surgiu tal um fantasma à espreita. Exalando o ar pesado dos pulmões, continuou. — Sofia é apenas uma coadjuvante, das boas admito, mas não passa de um fantoche do meu irmão.

Com a conclusão, a garganta ardeu como se engolisse um suco com os espinhos de Aycol. Embora a galaceana estivesse numa posição — ao ser ver degradante —, não gostava quando falavam mal dela. Era difícil supor que a guardiã fosse alguém manipulável, inclusive pelo tio.

Observando-o por baixo, não imaginou que a confissão azedava a mente paterna. Discutir com o pai, porém, era o mesmo que dialogar com uma porta. Aliás, Taurim aparentava esconder algo por trás do jeito arredio, algo que não soube definir do que ou de quem.

Enquanto conversavam, notara que a todo instante o velho examinava ao entorno, incluindo os galhos acima das cabeças. Algumas vezes, reparou-o admirando a abertura de um tronco oco. Apenas os dois, contudo, encontravam-se entre as árvores. Então, rotulou o assunto na lista dos de nível perturbador, embora julgasse exagerado agir feito um lunático em meio ao jardim da SOTE.

— Preste muita atenção — apertou os ombros franzinos do filho que já deveriam estar numa coloração avermelhada. — Preciso tratar sobre um segredo a respeito do planeta tão íntimo quanto perigoso! — Um sorriso irônico cresceu nos lábios com a satisfação de passar a batata quente a outrem. — Ainda é um animalzinho indefeso. Mas, se cair na banalidade e em mãos erradas... temo que o caos se instale entre nós.

Ao criar milhares de histórias fantasiosas em questão de segundos, Traium permaneceu em silêncio. Além do que viu no duna, uma pontada na fronte foi a única coisa concreta que conseguiu nas últimas horas.

Você precisa jurar sigilo absoluto, pelo bem de Galácena e de todos nós — um misto de temor e fúria alternou-se no semblante paterno como o filho nunca viu. — Menos de meia dúzia de pessoas sabe o que revelarei.

Numa coreografia combinada, ambos vasculharam ao redor. Enxeridos de plantão brotavam ao menor descuido. Desconfiaram, inclusive, de alguns pássaros que dividiam a grama, beliscando uma refeição borrada de terra e minhoca. Então, Taurim empunhou o anel com o emblema da sociedade.

— Juro, meu pai — apesar da coação, Traium sentiu os lábios gelarem ao encostar no adorno. — Seja lá o que for! Conte-me!

Com a curiosidade afiando-se em pensamentos sombrios, socou o peito ao ficar em pé. O punho fechado lembrava a uma massa branca recheada de ossos. Quando o suspiro tocou seu rosto, o hálito de cachimbo se impregnou entre eles, testemunhando a confissão. Fora a primeira vez que captou medo emanar do genitor.

— Há muito tempo, uma galaceana chamada Vânie Richtor formulou uma poção — com um quê de desaprovação, grudou no ouvido do rapaz, duvidando até mesmo das aves. — Admito ser tão esplêndida quanto ameaçadora, pois é capaz de transformar seres de fora em galaceanos... como nós.

O jovem o encarou num tom cheio de subentendidos. A voz falhou e ele experimentou os nervos se retesarem feito cordas de marinheiro. Pareciam ganhar vida própria ao se enrolarem num efeito dominó. Iniciando pelas pernas, subiu pela coluna e atingiu o pescoço.

"Uma poção..." — Cambaleou para o lado, embriagado com a notícia.

Forçada a aceitar a verdade, a mente não se ajustou ao rosto retorcido. Contendo a vontade de gritar e acusar o emissário de sandice, pressionou o maxilar. Era o pai em pessoa, entretanto, a lhe afirmar tal desatino.

"Uma poção..." — O estômago revirou três vezes.

Traium colocou a cabeça entre os joelhos e as têmporas queimaram quando Alex apareceu nos pensamentos, torturando-lhe as ideias com um espeto. Concluiu preferir os espinhos de Aycol àquele sorriso desdenhoso. Por um momento, imaginou que talvez o chefe da SOTE se confundisse, talvez ele mesmo tivesse fantasiado coisas no terráqueo:

— Isso... isso é realmente possível? Não pode ser...

— É tão possível como tudo o que enxergamos ao redor, filho — Taurim levantou os braços numa falsa adoração à natureza. — E além do mais, concede visto permanente aos forasteiros. Ainda vão dominar esse lugar, essas... pragas-vivas! — Jogou uma cuspida de desprezo na grama, enquanto esmagava um mosquito com a mão. — Se é que me entende!

Cientes sobre a nova condição do duna, os olhos do jovem embaçaram e os ombros penderam, sustentando quilos de chumbo. Era como se uma patrola passasse por cima, moendo cada osso do corpo.

— Alex Talini com autorização definitiva para ficar? — Mordeu os dentes ao ver o pai admitindo de malgrado e a raiva escorreu pela saliva. — Quem aquele verme achou que enganaria?

Traium sentiu um gosto amargo escorrer pela garganta ao visualizar a situação confirmando-se debaixo do nariz. Não era à toa que classificara suspeitas as atitudes do casal nos últimos meses.

"Se depender de mim, rejeitarei o indulto que o praga-viva recebeu. Mesmo sendo concedido por Galácena" — pensou, ainda envolto na própria nuvem de imagens apodrecidas. A melhor delas era Alex sendo alvejado pelas costas e convulsionando até a morte.

— E tem mais... — Taurim ensaiou inúmeras vezes a conversa, mas diante da calamidade, as palavras enfraqueceram-se.

— O quê? — Esquecendo-se do terráqueo, a carótida foi aos saltos.

— Os antigos sempre disseram que o resultado da poção era lastimável — inspirou como se o ar fosse rarefeito. — E que pode deixar a pessoa agressiva ao ponto de não reconhecer o ambiente a sua volta. — Numa expressão de quem está com a corda no pescoço, observou o céu nublado. Então, soltou o resto da bomba. — Nada tem significado a ela. Família, amigos, passado, presente, tudo fica desbotado na memória.

A revelação fez o sangue de Traium gelar e o rosto envelhecer dez anos. A lenda galaceana que ouvira, ainda menino, relampejou na mente tão viva quanto a natureza ao redor. Hesitou por segundos e um tom arroxeado pintou a paisagem com a viagem ao passado.

— Os... zulis? — Engoliu com dificuldade ao exumar uma história que julgava sinistra. — Existem?

O movimento mínimo de cabeça de Taurim fora o suficiente para fazer o coração engatar última marcha. A raça, feroz e indomável, enterrada com os contos da infância, levantava-se em busca de sua parcela de Galácena. Num suspiro gelado, lembrou que à época também fora relatado haver apenas uma alternativa para lidar com eles: a morte.

— Você... já encontrou algum? — O galaceano aguçou a vista pelo local, ainda que a voz vacilasse tão tremida quanto o medo de receber outra confirmação que abalasse as estruturas.

— Não — disse secamente e os lábios se apertaram como se proibidos de qualquer confissão.

Apesar de estranhar a resposta monossilábica em alguém feito o chefe da SOTE, Traium preferiu parar de descascar o abacaxi. Se o pai lidava com monstros e demônios em algum canto do planeta, não era problema seu, ao menos por ora. Vindo em primeiro lugar, o rosto de Mestak se aconchegou num sorriso discreto. Ele era o encarregado. Ele que aguentasse o rojão.

Arriscando um último movimento, encontrou olhos insinuantes, mais vivos que as estrelas da noite. Enfim, compreendeu as convicções e motivos aos quais Taurim defendia. Da mesma forma, percebeu a jogada suja que precisava realizar perante a sociedade. Amarrando a cara, deu um tapinha no ombro do galaceano. Quem, em sã consciência, iria acreditar num conto infantil?

Envoltos numa neblina de indignação, adotaram o silêncio por companhia. Necessário era ordenar as ideias para, então, dar o próximo passo — ou bote — conforme muitos considerariam.

Ignorando a novidade em partes, foi a vez do semblante de Sofia aflorar no fundo do cérebro. A ele, lembrava a ingenuidade de uma criança, uma visão bucólica em meio ao caos. Num impulso, reiterou os sentimentos por ela. Não renunciaria àquele amor sem antes se opor ao terráqueo. Decerto, fora manipulada pelo tio e pelo verme. Reparou o coração tomar mais espaço dentro do peito diante da descoberta. Se preciso fosse, providenciaria o luto da amada.

— Duna insuportável! — O resmungo não foi suficiente para que pai ouvisse.

Maravilhado com a intenção fatal, a mão repetiu a busca pelo punhal. Agarrando-o, experimentou uma vontade de encaixá-lo nas entranhas de Alex. "Será um ótimo alvo", pensou com uma lágrima enorme trepidando no canto do olho.

Os golpes estudados nas aulas de defesa, exigiram por uma tragédia. Dariam um acréscimo, se constatassem um devaneio azulado cruzando seu caminho. 

"Encontrar um zuli, fatiá-lo e apresentá-lo em praça pública. E fazer meu tio engolir cada litro de sangue". — Traium deu um arroto enjoativo com a imagem formada na mente. Agradecendo o pai não ser um telepata, guardou a cena para si.

Poucos passos à frente, alcançaram uma porta secundária, anexa a um corredor tão frio e desolado quanto os corações que acolheu. O rapaz eriçou os pelos quando uma corrente de ar gelado os cortou feito um fantasma a investigar o humor das vítimas.

— E não é só isso, meu filho — sem suspeitar a crise imperando nas veias do jovem, Taurim sorriu com ironia ao trazê-lo à realidade.

— Hã, o que mais? — O galaceano paralisou na figura ao lado, fantasiando o fim dos dias se acrescentando à história. Os pulmões não aguentaram o baque e ele tossiu.

— Estou certo de que foi um familiar nosso quem armou tudo! — O chefe da SOTE observou a reação do herdeiro, esperando que fosse digna de um Terók. — Um em específico!

No entanto, Traium projetou uma fisionomia impagável. Emudecendo, abriu e fechou a boca um par de vezes como se tivesse um pedaço de carne entalado na goela. Os olhos perderam o brilho num misto de vergonha e vingança. Então, fungou o nariz e o dono do golpe baixo se armou na mente, açoitando-a com seu semblante calmo e gentil.

— Meu tio, Jalef? — Embora acusasse a pessoa com a melhor qualificação à iniciativa, custou a acreditar no palpite.

O galaceano abominou a confirmação silenciosa. Sentia-se embriagado com dez garrafas de vinho e não se convencia de que os ouvidos trabalhavam normalmente.

— Parte da culpa é minha! — Arqueou as sobrancelhas com uma confissão que doeu feito um soco no estômago.

— Sua? — Abriu os braços sem saber explicar o tremor interno que experimentou. — Por quê, meu pai?

— Por ser um estúpido, oras! — Soltando um ar pesado, tampou metade do rosto com a mão numa encenação. — Se ele é um dos poucos conhecedores da poção, eu deveria supor que pudesse vir a atentar contra o nosso povo! Mas isso...

Traium aceitou o teatro, estava acostumado, mas torceu o nariz com o cheiro do cachimbo ocupando os sentidos outra vez. A acidez de uma emboscada — camuflada por alguém do próprio sangue — queimou as veias como o fumo os pulmões e ele riu sem alegria. Logo, aprumou-se, sentindo-se livre da "embriaguez" inicial.

— Traíra de araque! — A farsa do tio despertou um desejo deum castigo instantâneo e ele enfiou o punhal três vezes no ar. — E de que jeito fez isso?

Terók inclinou a cabeça e espremeu a vistas. O cinismo preencheu as bochechas num tom rosado.

— Quero dizer, qual será nosso próximo passo? — Escondendo o vexame do tropeço, engatou uma insinuação agressiva e útil ao mesmo tempo. — Não podemos deixar Alex impune, não é?

Aproveitando a deslealdade do parente, tentou canalizar a ira do pai a seu favor. Embora a questão sobre a maneira de agir fosse complicada, na sua visão a saída era única. Se antes a punição despontava-se em forma de banimento, agora, lapidando melhor a ideia, observou o fio da lâmina ser mais eficaz. Desse modo, o caminho ao coração de Sofia estaria livre por completo.

— Não se preocupe quanto a isso — Taurim atirou o capuz nas costas e os olhos brilharam por um momento. — Esse praga-viva terá o que merece!

Após a recomendação, o chefe da SOTE sustentou o sorriso amarelado na trilha de dentes desalinhada. Sem suspeitar que um sentimento de pena e satisfação rodeava o rosto enrugado com o jogo meio armado, Traium não aguentou e encarou os pés.

A voz ácida do sexagenário, no entanto, estava longe de consolá-lo, ainda assim gostou do que ouviu. A chance de aniquilar o romance imoral, ao qual a amada se atolara até o pescoço, abraçou-o inesperadamente. Dispondo de algo concreto em mãos, encheu o peito de ar ao se imaginar conquistando a mulher. E, com o provável desvio no futuro alheio, experimentou uma sensação de paz, há muito ausente.

"Livrar-se do verme mutante e ganhar o coração da desertora. Hã, quanta malandragem nesse moleque" — a reflexão se deu num cenho defensivo e Taurim confirmou um problema. "O amor por essa aí irá afastá-lo das obrigações futuras. Além do mais, ela nunca o correspondeu."

Caminhando pelo corredor, Traium permaneceu isento às considerações do pai. Nem ao menos desconfiou que a aposta escandalosa acenava a quem tivesse um pingo de esperteza. Ao invés disso, lançou os pensamentos felizes num baú e os trancou a sete chaves.

— Deixe que eu abordo a conversa com aquele subversivo. Quero ver o que tem a dizer! — O chefe bateu de leve no peito, indicando o medalhão. Em seguida, puxou os dedos, fechando a boca feito um zíper. — Lembre-se de esvaziar a mente!

— Certo — limitou-se a uma única palavra ao captar uma cesta de sentimentos sanguinários do outro.

Seria complicado, porém, manter a cabeça livre de entraves. O tio também era osso duro de roer. Sabia que por trás da aparência paroquiana, escondia-se um verdadeiro Terók.

Tal qual o pai, Traium apreciava a essência do exílio. Banir um familiar como Jalef, contudo, consistia numa alternativa complexa e, portanto, fora de questão. Disso, ambos estavam cientes. Aliás, a conduta inédita oferecia um coautor mais frágil ao primeiro. Se bem que, a este, o jovem classificava um forte candidato a bater as botas.

Quando um Alex alegre ressurgiu saudando-o em seu inconsciente, pressionou os dentes. Um sorriso apertado logo cresceu nos lábios ao imaginá-lo frio e duro feito granito. O que não suspeitava era que o chefe da SOTE se convencia na influência de um terceiro cúmplice, um que compunha o quadro de guardiões. A Taurim, Sofia era tão criminosa quanto o duna e o irmão.

— Jalef é poderoso — os olhos afiados como vidro reconheceram a capacidade do sujeito. — Se o atacarmos, o jogo acabará em empate, sem dúvidas. E para nós, é desvantagem.

O filho concordou sem abrir a boca. A desconfiança de uma armação rebatia nos pulmões, dificultando a respiração. O andar do chefe tão firme quanto a de um batalhão, remeteu-o a imagens desastrosas às quais se afugentou junto da lembrança da amada. Se fosse um telepata, descobriria que Alex não passava de uma vírgula em sua vida.

Traium descobriu o inimaginável se estender diante dos olhos👀! Mal sabia que encontrara apenas a ponta do iceberg 🧊. Qual será a atitude do pai, o chefe da SOTE?

O próximo capítulo promete! Acompanhem!📖

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