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Entre razões e emoções
A saída é fazer valer a pena
Se não agora
Depois não importa
Por você
Posso esperar

— Nx Zero


— Nada de emocionante acontece na minha vida mãe, eu já disse! Pare de perguntar todos os dias se eu estou saindo ou não porque a resposta é simples. Não!

Ouço minha mãe bufar do outro lado da linha junto ao barulho de uma janela se abrindo na casa. Sinto meu corpo arrepiar de medo. Ai Deus, e se fosse um bicho?

— Heloísa, eu estou apenas querendo dizer que...

— Espere aí mãe, depois te ligo.

— O que...

Desliguei a ligação. Meu cachorro começou a latir. Surgiram barulho de passos. Meu coração começou a bater mais rápido que qualquer escola de samba.

A passos lentos até a cozinha, peguei uma vassoura e a ergui. Era um ladrão. Comecei a suar. O que raios a gente fazia quando um ladrão entrava dentro de casa mesmo? Eu tinha que ligar para alguém.

Qual era a droga do número da polícia?
Eu não me lembrava. 170? 290? Meus pés tremiam. Segurei o cabo da vassoura com força. Porque eu não vim com meu celular na mão?

Se eu viesse com o celular na mão, como eu seguraria o cabo de vassoura?

O desespero começou a se tornar vontade de chorar. Meu cachorro saiu correndo e se escondeu. Parei na frente da cozinha e ergui o cabo ao ver a sombra de um corpo grande. A luz se acendeu e eu gritei.

Era um homem. Fechei os olhos achando que eu tinha o matado e permaneci em meu grito de guerra. Também o ouvi gritar.

— Moça, pare de gritar! — ele disse mais alto que eu.

Abri os olhos.

Ele segurava a minha vassoura no ar.
Eu não tinha o matado.
Saí correndo.
Ele veio atrás.
Me escondi atrás do sofá.

— Você não está nada escondida, eu estou te vendo! — ele disse, me causando um desespero ainda maior. Fiquei em pé, peguei minha pantufa e arremessei na direção dele.

Ele desviou.

— É assim que você se defende de um ladrão? Devo te dizer, você é péssima!

Arremessei meu vaso de planta.

— Saia daqui ladrão! Eu vou chamar a polícia!
Minha pobre plantinha...

— Eu não sou um ladrão! Me deixe explicar...

— Não se aproxime! — corri e peguei um rodo que, graças a minha péssima organização estava no canto da sala. Coloquei o cabo entre nós dois.

Eu tremia tanto que o cabo estava tremendo.
Ele levantou os braços para cima.

— Me perdoe por ter invadido a sua casa. Eu preciso de ajuda. Desesperadamente.

— Não quero saber. Vá embora ou eu juro que te mato.

— Com um rodo? — ele ergueu as sobrancelhas grossas. Joguei o rodo no chão.

Olhei para a escultura que estava em cima da cômoda e tirei uma faca dela. Agradeci mentalmente ao meu pai pela decoração dramática que vinha com uma lâmina enfiada em um coração.

Ele dizia que era para eu aprender que o amor machucava e quem sabe assim eu só começaria a namorar aos 37 anos.
Afastando as memórias irônicas, estendi a faca na direção do homem.

— Oh, espera! — agora ele pareceu ficar com medo. — Por favor, me deixa falar. Eu sou rico. Muito rico.

— Bom para você. Pegue seu dinheiro e desapareça daqui.

— Por eu ser muito rico, eu me envolvi em certos problemas com certas pessoas. Posso abaixar meus braços? — ele respirava ofegante, parecendo cansado.

— Não. — estendi a faca mais firme.

— Ok. Se não se importa, vou me sentar então. — ele andou até o sofá.

— Eu não disse que podia se sentar! — gritei com raiva. Ele se sentou mesmo assim. Sem querer perder o poder, mantive minha faca ameaçadora estendida.

— Olha, eu precisava de um lugar de refúgio, me perdoa se teve que ser na sua casa. Foi a mais próxima que encontrei. Se eles me encontrarem eu irei morrer.

— Pois bem, vá embora e morra!

— Você não tem coração, hein? — ele virou o rosto de lado. Percebi que ele era bonito. Droga!

— Não com quem invade a minha casa!

— Se me deixar ficar, eu te dou 200 mil reais.

— Eu não quero 200 mil reais!

Que frase mentirosa! Eu estava tão endividada...

— 300 mil.

— Você não vai ficar na minha casa. Está louco?

— Meio milhão e eu durmo lá fora no seu jardim. Por favor, eu só preciso de
um lugar para ficar. Você nem vai perceber que estou aqui, não percebeu a quatro dias...

— O que?! — gritei, incrédula. — Você está aqui há quatro dias?

— Eu ficava lá fora no seu quintal, resolvi entrar hoje para tomar um pouco de água...

— Vá embora! — arremessei a faca com raiva. Percebi que minha mira era péssima e eu tinha acabado de perder a última arma que me restava.

O ladrão olhou para trás. A faca havia grudado firme do lado oposto do sofá.

— Você é perigosa.

— Eu sou perigosa? Você é um bandido! — respondi, incrédula, pegando o rodo de volta.

— Eu não sou um bandido, só estou com problemas que eu não lhe disse quais são. — ele se levantou, andando em minha direção.

A luz do poste que entrava pela janela o envolveu. Ele era um pouco mais alto que eu, possuía pele negra, cabelo curto e uma barba rala. Não importava se ele era um bandido atraente. Ainda assim era um bandido.

— Eu falei para não se aproximar!

— Por favor, Isa. — ele disse baixo, com voz carinhosa.

— Como raios você sabe o meu nome? — gritei, deixando meus ombros caírem. — Ah claro, você está aqui a quatro dias e ainda escuta as minhas ligações.

— Não me expulse daqui. Eu realmente vou morrer se sair lá fora. Você não quer ter uma morte na sua consciência, quer?

— Minha consciência não me acusa tanto assim.

— Um milhão. — ele respirou fundo. — Última oferta. Te dou um milhão de reais. Mais fácil que ganhar no big brother.

— Não. — disse, com a voz vacilante. Um milhão...

— Eu só preciso ficar essa noite. Amanhã durante o dia a gente vai ao banco e eu te pago o que prometi.

— Se tem tanto dinheiro porque não fica em um hotel?

— Todo hotel tem câmeras. Eles me encontrariam.

— Em que você está envolvido?

— Não posso te contar.

— Dívida de drogas?

— Eu não uso drogas, Isa. — ele sorriu.

— Então vende. Tem drogas escondidas na minha casa?

— Eu não uso nem vendo, olha eu prometo, não é nada do que você está pensando.

— Porque eu confiaria em você?

— Não deve confiar. Para isso estou te pagando todo esse dinheiro.

— Não quero dinheiro sujo.

— Não é dinheiro sujo. Eu já disse, sou rico.

— Como eu disse, dinheiro sujo. — ponderei, vendo-o fechar o semblante.

— Nem todo rico ganha dinheiro de forma errada.

— Falou o homem que invadiu a minha casa!

— Olha tudo bem, você não vai me deixar ficar, já entendi. — ele começou a sair pela janela. Andei atrás dele.

— Ei, o que você vai fazer?

— Procurar outra casa para entrar.

— Todas as casas da rua tem família com criança. Ninguém vai te deixar ficar. — disse, já me arrependendo da resposta que eu ia dar.

— Isso significa que...

— Se você não me der meu dinheiro amanhã, você será um homem morto. — fechei a janela. — Durma aí fora.

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