Parte 2
Era extremamente desconcertante. Nicola batia o envelope contra os lábios, a ação removendo e espalhando seus cabelos vermelhos de seu rosto, servindo como substituto para um leque de verdade. Ela era uma dama, sim. Do tipo que era sempre acompanhada por seus ajudantes. Nesse verão quente, deveria ter uma sombrinha acima dela, para que sua pele naturalmente pálida não queimasse. Outro ajudante deveria segurar um prato nas mãos, servindo-lhe uma bebida refrescante ou um pedaço de fruta. Um ou dois outros segurariam o véu e a bainha bordada do vestido.
No entanto, ela estava ali sob o sol escaldante, sem sombrinha, sem bebidas e sem um lindo vestido. Em vez disso, a testa de Nicola brilhava como um doce de caramelo derretido, seu traje consistia em uma jaqueta e leggings, apenas adornada por uma simples gola branca e um cinto em volta da cintura. As duas coisas de que ela mais se orgulhava e nas quais não hesitara em gastar dinheiro eram suas melhores botas de couro e uma maravilhosa espada da corte.
Ela adorava quando o vento tocava seus cabelos, como mãos de seda que a despenteavam, às vezes com delicadeza, às vezes com rebeldia. O cavalo sob suas coxas era o ajudante perfeito para que Nicola gastasse seu tempo em caças, duelos e incontáveis aventuras. Tudo isso sempre na companhia do príncipe herdeiro Carlo.
Ah, sim. Seu querido primo Carlo. Aquele traidor, patife inconstante! Ele apoiou seu estilo de vida com tanta firmeza, deixando-a livre para trilhar o caminho inconstante da segunda na linha de sucessão. Ele era como um irmão para ela, já que ambos eram filhos únicos. Mas o que ele havia feito agora? Ele armou essa armadilha pra ela! Que audacioso! Ah, como ela pôde confiar nele? Depois de todos aqueles anos em que ela o adorou, como ele pôde traí-la assim? Ela não tinha certeza se poderia perdoá-lo!
Ele se apaixonou.
Bem. Claro que ela o perdoaria.
Nicola não era capaz de guardar rancor por muito tempo. Simone, sua amiga, costumava dizer que Nicola nem era capaz de sentir raiva. Tais emoções estavam além dela. Enquanto houvesse vida, Nicola acreditava que deveria se divertir ao vivê-la. Nem um segundo deveria ser desperdiçado com segundas intenções.
Tudo era fantástico, esplêndido, o mundo era apenas uma pérola e ela mal podia esperar para percorrer toda sua extensão e descobrir tudo. Mas isso, a carta em suas mãos, mudou tudo. Era muito real em seus dedos, delicadamente pressionada, cheirando a sândalo e alecrim, o perfume preferido de seu primo.
— Carlo, Carlo, Carlo — ela suspirou.
Carlo, príncipe herdeiro ou não, fugiu. Com um membro do grupo que acompanhava o embaixador francês, apenas um mês após a chegada da comitiva. E, assim, Nicola recebeu a carta que dizia que tudo já estava sendo organizado. Sir De Santis não teve tempo de evitar o golpe e correu mais rápido do que os cavalos que galopavam, naquele momento, para a mansão de Nicola. O conselho real estava preparando uma declaração médica para atestar que Carlo era infértil ou mentalmente incapaz. Na verdade, eles só precisavam de qualquer desculpa rapidamente articulada para preparar apressadamente o pergaminho. Nicola mal podia imaginar quanta papelada eles teriam que aprontar, principalmente para encobrir todas as mentiras que contariam.
Ela era a próxima na linha de sucessão e a única solução lógica para a situação problemática. Nicola se tornaria uma rainha. Mas uma rainha, por mais apta que fosse, não poderia reinar sem um rei. Por isso, em três dias, Nicola deveria estar casada.
A carta de Carlo foi um pequeno pedido de perdão para Nicola. Em seu egoísmo – ou romantismo –, ele fez a última coisa atenciosa que podia fazer por ela. Carlo encontrou e arranjou com Sir De Santis um candidato adequado para se casar com ela. A carta dele explicava tudo para ela, instando-a a ter coragem e a ouvir o coração. Carlo falava de um homem em quem ela podia confiar. O futuro marido era supostamente o melhor par para ela e garantiria que Nicola ainda não tivesse que abrir mão de sua liberdade.
Tudo parecia tão enigmático e não dava a ela nada de concreto em que pudesse se segurar. Mas o que ela realmente podia esperar – Carlo agia de acordo com sua própria vontade, deixando que os outros seguissem preocupados, apenas para ficarem surpresos por Carlo ter, na verdade, se preparado para tudo. Nicola decidiu dar a ele o benefício da dúvida mais uma vez.
— Vou caçar sua bunda arrependida se você colocar uma corrente em volta do meu pescoço, Carlo! — O ritmo do envelope batendo acelerou junto com seus pensamentos.
Ela discutiu com Lady Silvia até que a outra quebrou o leque em sua mão por pura frustração. Nicola lutou pelo direito de se retirar para o jardim sem guardas e ajudantes humildes e renunciou ao luxuoso vestido cerimonial. Se Nicola iria conhecer seu pretendente, ela faria isso sob suas próprias condições. Ela seria ela mesma. Com as mesmas roupas que ela sempre vestia. Falando o que estava em sua mente, como sempre.
— Nicola, Nicola! Ele está aqui! Rápido, vamos lá! — O cavalariço Enrico invadiu o jardim e puxou seu cotovelo, tentando arrastá-la com o corpo inteiro em direção à varanda. Ele era só um menino e, por mais elegante que fosse, Nicola era uma mulher alta e pesava bem mais que o criado. Jamais admitiria a ninguém, mas ela estava relutante em segui-lo. — Rápido, rápido! Podemos vê-lo quando a carruagem chegar! — O casaco verde aveludado do uniforme de Enrico brilhava ao sol quente, o bordado dourado adequado à ocasião honrosa.
— Está bem, está bem. Eu já vou! — Nicola mudou propositalmente seu peso para a direção oposta, apenas para dificultar que o garoto a arrastasse para longe do jardim que ela considerava um santuário de sua liberdade e um refúgio. — Você está vestido melhor do que eu? Uau, Lady Silvia não poupou esforços... Você parece muito chique!
Enrico parou por um segundo completamente estupefato, um rubor delicado tingindo suas bochechas bronzeadas pelo trabalho ao ar livre. Nicola sabia que ele tinha uma queda por ela e não perdeu a chance de provocá-lo um pouco.
— O quê?! — O rapaz falou com uma leve rouquidão na voz devido ao nervosismo, mas logo se recuperou e limpou a garganta antes de continuar. — Oh, fique quieta... Ouça. Eu espiei o conselho quando eles discutiram sobre o cara. — Ele a puxou para mais perto de si e continuou em um sussurro. — Ele é um completo cabeça de vento! Ele passa horas no próprio quarto... escrevendo histórias! Eles o chamam de Plutarco. Eu não gosto de como isso soa porque parece meio estúpido. Eles também disseram que ele não está ansioso para se casar e foi pressionado a fazer isso. Entendeu? Você pode ter uma chance de atrasar a coisa toda!
— Hã? — Nicola deixou cair os lábios e as pequenas engrenagens em sua mente começaram a se mover, o zumbido delas ressoou em seus ouvidos com um som rítmico confortável. As peças do mecanismo se encaixaram e de repente fizeram tudo funcionar novamente, dando eficiência e sentido à sua vida agitada. — Aaah!
Um minuto depois, ela observou a carruagem chegar, com o garoto agarrado ao seu cotovelo e ouvindo suas divagações hipotéticas. As engrenagens de sua mente giravam cada vez mais rápido, até que ela viu o homem saindo da carruagem.
Lorde Conte saiu da carruagem demonstrando um bom equilíbrio, mas também tinha um peso visível nos ombros. Havia força em seus passos, mas ele também usava uma máscara de relutância. Na verdade, ele não estava feliz por estar ali e estava obviamente preocupado. Quanto mais Nicola olhava, mais ansiava por ler mais dele. Ele não parecia alguém que se importava com a moda, mas era óbvio que tomara muito cuidado ao se vestir. Lorde Conte era, para Nicola, uma contradição estranha e fascinante.
O tecido do traje de Lorde Conte, mesmo à distância, era claramente da melhor qualidade. O design do casaco era intrincado, mas também muito simples. O corte simples deixava-o livre com seu corpo ágil. E, ainda assim, havia tanta beleza, tanta graça. Mas preto? No verão e naquele calor? Terrivelmente impraticável e fora de lugar. O arco melancólico das sobrancelhas dele foi como um sussurro nos ouvidos de Nicola, não era só o fato de estar ali que o deixava desconfortável.
O homem parou diante da escada para contemplar o castelo e seus olhos encontraram os dela em um movimento genuíno. Enrico caiu de joelhos, mas nenhuma quantidade de peso poderia puxá-la para se esconder ao lado dele. Ela estava tão cativada pela conexão que os olhares trocados compartilhavam que ela só pôde inclinar a cabeça para frente. Lorde Conte assentiu levemente em uma saudação e, ao ver um sorriso gentil nos lábios dele, Nicola soube que havia sido reconhecida apesar de seu traje simples.
— Bem-vindo, senhor Conte! — A voz estrondosa de Sir De Santis quebrou o momento e o visitante honrado voltou-se para a acolhedora aglomeração nas portas do castelo, todos vestidos formalmente, de peito erguido e com a fachada distinta.
Nicola sentiu-se ansiosa, de forma positiva pela primeira vez, para ser apresentada àquele que seria seu futuro marido. Ela ficou observando-o falar com todos que estavam parados na frente do castelo e só saiu da varanda quando o perdeu de vista enquanto entrava ao lado de Sir De Santis. O nome que lera na carta de seu primo tomou todos os seus pensamentos enquanto ela também entrava no castelo. Giorgio Conte estaria esperando por Nicola no salão principal e ela não queria perder mais tempo. Todos estavam contando com ela.
NOTA: Esta parte tem 1598 palavras.
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