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Você Luta Como Uma Garota | Capítulo Treze

— Meu amor, acorde. — A voz foi suave, alguém lhe chacoalhava de leve pelo braço. Bethany gemeu, se enfiando debaixo dos cobertores para fugir da luz e da voz. — Beth, vamos. Temos algo importante para fazer — continuou. O cheiro familiar e adocicado das cobertas lhe lembrou de onde estava, do motivo de achar tudo tão reconfortante e seguro.

Havia migrado para a cama de sua mãe assim que Ash adormecera, sentia-se mais segura ali. Não se importava se parecia uma criancinha assustada, porque os monstros que lhe assombravam eram, de fato, reais. Sentia-se mais protegida perto de sua mãe do que em qualquer lugar do mundo.

Do mesmo jeito, sabia que não conseguiria dormir sem Sara por perto. Acordara pouco depois que ela saíra do quarto e ficara se revirando na cama, mesmo com Ash ao seu lado.

— É domingo, o que há de importante em um domingo? — reclamou, ainda grogue de sono. Sara riu, puxando levemente sua coberta e sentando-se ao seu lado.

— Ash já acordou e está tomando café. Preciso que você coma algo também, vai precisar — disse ela, e Bethany finalmente abriu os olhos, fazendo uma careta com a luminosidade das cortinas abertas. A janela era grande e ocupava boa parte da parede, revelando toda a cidade em uma visão panorâmica.

Gostava de dormir no quarto dela justamente porque conseguia ver as luzes da cidade durante a noite inteira.

— Você está me assustando — bocejou, confusa. Por que Sara estava lhe acordando tão cedo e lhe mandando comer um café de manhã reforçado? As manhãs ali eram geralmente tranquilas e demoravam para passar, com muito café, pijamas até depois do almoço e muitos filmes.

— Não seja dramática — disse sua mãe, revirando os olhos.

Com isso, finalmente se levantou para arrumar os cabelos, que estavam arrepiados e espetados. Ficou ainda mais confusa quando sua mãe lhe mandou colocar uma roupa confortável, de preferência as roupas que costumava usar no treino das líderes de torcida. Não entendia o que ela estava pretendendo com tudo aquilo, mas duvidava que fossem se exercitar no parque.

Tomou o café da manhã com Ash e nenhuma das duas sentiu vontade de comentar os acontecimentos da noite anterior, então tentaram manter o assunto leve enquanto comiam. Quando foram para o carro, Sara não lhes explicou para onde estavam indo mesmo com a insistência das garotas.

Cansada de tentar adivinhar, Bethany resolveu ir no banco de trás e se ajeitou com Ash, as duas haviam levado os travesseiros e se apoiaram uma na outra, adormecendo pouco depois de iniciarem a viagem.

A cidade era cercada por florestas, mas bem urbanizada, então demorava um pouco até que as estradas se transformassem em uma rodovia cercada por árvores. Se espantou quando acordou e não viu os usuais prédios, mas uma estrada de terra cercada por uma vegetação densa.

Ash também acordou porque o carro balançava um pouco, já que a estrada era um tanto hostil. As meninas continuaram observando a estrada íngreme, Sara continuava olhando para frente e focada em dirigir.

Quando as árvores se abriram para uma gigantesca clareira, percebeu que havia mais dois carros familiares ali. Um de seu pai, outro de sua tia, o que fez com que Ash e Bethany trocassem olhares quando sua mãe estacionou ao seu lado.

Saíram do carro junto com ela, se voltando para o resto da clareira. Do outro lado, estava seu pai, com um Noah muito mau humorado e sonolento ao seu lado, e Naomi com Rafael e uma Louise também sonolenta e confusa.

Sara estava sorrindo quando as meninas se voltaram para ela, ambas com um olhar de interrogação no rosto.

— Bem-vindas ao treinamento de defesa sobrenatural — disse ela. Bethany não soube exatamente o motivo, mas sentiu-se empolgada em vez de amedrontada.

« ♡ »

Seus pés esmagavam folhas secas por onde passava ao atravessar o gramado baixo. Estava usando um tênis confortável e um shorts curto que lhe permitia se movimentar, como sua mãe pedira.

— Não acredito que fomos convocadas para uma das reuniões do Clube Sobrenatural Super Secreto De Pais — murmurou Ash, baixinho.

— Eu sei. Se isso não for tipo a aula de Defesa Contra As Artes Das Trevas do Harry Potter, eu ficarei bem triste — sussurrou de volta, aproximando-se dos outros ao atravessarem a campina. O sol já estava alto, mas ainda era cedo, as árvores chacoalhavam e farfalhavam ao ritmo do vento frio da manhã.

Sua mãe foi a primeira a falar quando todos se cumprimentaram, se organizando em quase um semicírculo. Ash, Noah, Louise e Bethany de um lado, Rafael, Naomi, Sara e Liam do outro lado.

— Beth, você perguntou sobre como eu consegui fazer aquilo ontem — começou Sara, baixando o olhar por alguns segundos como se estivesse considerando o que falaria em seguida. — A verdade é que seus poderes vão um pouco além de conseguir enxergar fantasmas. Os seus e os de Noah — disse, os cabelos negros flutuando contra o céu azulado por causa do vento.

— E os seus também, Louie — disse Naomi, olhando para a filha. Elas se pareciam muito, desde os cabelos loiros até os olhos claros expressivos, o contorno delicado dos lábios.

— Tudo bem, eu não tenho poderes, certo? O que faço aqui? — Ash estava confusa, chutando um pouco da terra do gramado com a ponta do tênis, tentando disfarçar o nervosismo. O sol iluminava seus cabelos e fazia-os brilhar como brasas acesas.

Bethany pôde sentir sua preocupação. Ela nunca se interessara por descobrir quem eram seus pais biológicos, mas se fossem pessoas cheias de dons misteriosos... Podia ver o nervosismo dela. Suas mães adotivas sempre foram muito abertas sobre aquilo, mas ela não queria investigar o passado.

— Não, você não tem, mas precisa aprender a se defender — disse uma voz, surgindo do meio das árvores. Bethany viu Verônica se aproximar do grupo com uma criança nos braços. Sua prima dormia com os cabelos loiros caindo sobre os ombros da mulher, as mãozinhas pequenas apoiadas em seu braço. — Ela adormeceu logo que entramos no bosque. Acho que gosta da natureza — disse, quando a colocou no colo de Rafael. Bethany sabia como Kathy ficava chateada com facilidade, Verônica provavelmente a levara para uma volta no bosque para tentar lhe acalmar. Para uma criança de um e meio, ela era bem teimosa.

Além dos pais, Verônica era a única pessoa de quem aceitava colo.

Ash correu até a mãe, a abracando. Bethany estava mais acostumada a ver Camila do que Verônica, já que Sara a conhecia desde antes do ensino médio. Até estranhou não vê-la ali, com a esposa e a filha.

— E o que são esses poderes? O que podemos fazer? — perguntou, tentando focar no que estava fazendo ali.

Naomi e Sara deram um passo para frente, se aproximando.

Apesar de serem irmãs gêmeas, elas pareciam ser o completo oposto. Sara tinha cabelos e olhos escuros como a noite, uma pele pálida que realçava sua aparência mais sombria, já Naomi brilhava como o sol com seus olhos azuis e cabelos loiros, a pele bronzeada reluzindo por onde passava.

Elas eram diferentes em vários aspectos, mas nunca se desgrudavam uma da outra.

Paradas frente a frente, elas sorriram levemente e se encararam com um sorriso sugestivo que apenas as duas entendiam. Logo depois, uma corrente forte de vento começou a soprar, levantando algumas das folhas secas que estavam no chão. As folhas começaram a flutuar e rodopiar no ar, presas em um pequeno tornado.

Bethany percebeu que alguma coisa estava diferente quando notou que folhas demais estavam se levantando, voando em direção às duas com rapidez e se aglomerando acima de suas cabeças. Todos estavam com os olhares arregalados quando as folhas se juntaram em um teto, criando uma grande proteção que sombreava ambas e pairava acima delas como um guarda-chuva.

— Levitar coisas — disse Naomi, ainda sem olhar para as crianças.

— Colocar fogo — disse Sara, e uma chama se acendeu no centro do teto de folhas, corroendo tudo em questão de segundos. Era tão rápido que mal via fumaça ou fogo, mas as folhas iam se transformando em cinzas quando tocadas por um brilho escuro e estranho, como uma chama negra.

— Criar escudos — complementou Naomi, quando as cinzas densas estavam prestes a cair sobre as duas. Uma camada brilhosa e fina pairou sobre ambas como um teto baixo, as cinzas ficaram suspensas ali, como se houvesse um vidro acima de suas cabeças.

— Atacar — falou Sara, fazendo um movimento com a mão. Sem qualquer aviso, aquele vidro fino e brilhoso pareceu explodir para todos os lados e as cinzas voaram, caindo como chuva ao seu redor, rodopiando no ar até o gramado.

Bethany se encolheu levemente, os olhos arregalados quando sua tia se voltou para o resto do grupo, que encarava os pais e familiares com as faces pálidas e assustadas.

— E algumas outras coisas que queremos que vocês aprendam — disse ela, sorrindo.

« ♡ »

Bethany ainda estava tentando processar tudo aquilo, absorver todas aquelas informações. Ninguém lhe dizia de onde vinha aqueles poderes, como eles surgiram, mas sua mãe queria lhe ensinar a usá-los e se proteger com eles.

Ficou ainda mais espantada quando percebeu que eles haviam trazido espadas, lâminas que estavam enroladas em uma bolsa de lona no canto do gramado. Sua tia fora até lá e mostrara as lâminas, abrindo seu zíper.

— Nós vamos aprender a lutar com isso? — perguntou Noah, com os olhos brilhando de empolgação. Ele parecia o mais animado ali, Bethany, Ash e Louise trocavam olhares espantados.

— Não agora, mas talvez vocês queiram se familiarizar — disse Sara, e Bethany deu um passo à frente. Tinha de admitir que a ideia de aprender a lutar com aquilo era atraente, olhava para as duas espadas na lona e imaginava qual seria a sensação de empunhá-las.

Certamente se sentiria poderosa se tivesse uma espada para lutar contra as assombrações que apareciam. Queria isso. Queria se sentir corajosa, saber que conseguia se defender assim como sua mãe fazia.

— Posso segurar? — perguntou, desejando saber como aquilo pesava contra suas mãos. Sua mãe assentiu e pegou uma das lâminas, lhe ajudando a segurar com cuidado. Era mais pesado e mais frio do que imaginava, tão duro que poderia machucar ou esfolar sua mão dependendo do ângulo que pegasse.

A espada cintilava contra o céu azul, a lâmina prateada refletia a campina iluminada com todo seu verde e o gramado extenso.

— Posso te ensinar a movimentar, se quiser — sugeriu seu tio, e Bethany se animou. Podia se imaginar com aquela lâmina voando pelo ar, se defendendo como uma grande guerreira ou algo assim. Não precisaria mais ter medo, não se aprendesse a lutar e usar seus poderes.

— Não sei se... — começou seu pai, mas Bethany protestou antes.

— Vou ficar bem, quero fazer isso — pediu, deixando um fio de empolgação surgir na voz. Não sentia aquilo desde que Ally morrera, e parecia uma luz no fim do túnel, um modo para canalizar toda sua raiva e medo.

Com Kathy no colo de Naomi, Rafael lhe ensinou a girar o pulso sem lesioná-lo, sustentar todo o peso da espada com mais facilidade. Percebeu que estavam na campina porque precisavam de espaço, já que tinham uma boa distância entre si.

Bethany tentava imitar os movimentos lentos dele, movendo a lâmina e os braços no ar, girando-a sob o olhar atento dos outros. Tanto sua tia quanto seus pais lhe alertaram várias vezes para tomar cuidado com a lâmina, para que não se machucasse com ela, então estava trabalhando movimentos lentos primeiro e depois tentariam algo mais complexo.

Deixou a espada cair quando foi tentar imitar um movimento mais elaborado, o peso da espada se desequilibrou e torceu seu braço, Bethany soltou-a quando percebeu que não conseguiria sustentá-la e nem erguê-la sem se machucar.

A espada caiu no gramado com um barulho oco, Noah riu.

— As definições de lute como uma garota foram atualizadas — comentou, o que fez com que Rafael e Liam trocassem olhares silenciosos e depois olhassem para Sara, Verônica e Naomi com sorrisos sugestivos. Sara sorriu, pigarreando.

Bethany se afastou quando ela caminhou lentamente até a espada caída, pegando-a com facilidade.

— Verônica, vamos mostrar ao meu filho como é que se luta como uma garota? — sugeriu, e Verônica sorriu também, assentindo. Rafael entregou a espada e se afastou, Louise, Bethany, Noah e Ash encaravam as duas com curiosidade e os olhos cheios de ansiedade.

Segundos depois, as espadas retiniram. Foi hipnótico, só via a luz do sol refletindo-se nas lâminas e seu vulto prateado brilhante contra o verde-claro das árvores, movendo-se rápido demais para acompanhar com os olhos.

As duas estavam tão envolvidas que parecia mais uma dança, elas se moviam com graciosidade e leveza, mas, ao mesmo tempo, era violento e brutal de um modo que fazia Bethany se encolher. O medo durou poucos segundos, seus olhos começaram a brilhar enquanto observava sua mãe.

Ela tinha tanta força e elegância, uma postura tão bonita e ao mesmo tempo corajosa enquanto empunhava a espada... Era como ver aquelas guerreiras dos filmes, encarar alguma heroína histórica esquecida bem diante de seus olhos, lutando. Queria poder ser assim um dia, ter toda aquela coragem e resistência, ter tanta habilidade.

As espadas retiniam alto, todos eles estavam hipnotizados e encantados enquanto as espadas giravam e se chocavam, as duas se moviam e giravam em uma coreografia sem pausas. Era impressionante e rápido, Bethany queria conseguir captar cada um dos movimentos, cada girada de pulso, cada passo para frente e para trás.

Verônica fez um movimento complexo, girando as lâminas e depois puxando-as, a lâmina de Sara voou pelo ar e cintilou quase em câmera lenta antes de bater contra uma das árvores e cair no gramado.

Sara levantou as mãos, Verônica sorriu de forma provocante.

— Sério, Sara? Depois de todos esses anos e você ainda não consegue me vencer? — comentou, baixando a espada e fincando-a na terra. Sua mãe revirou os olhos e deu de ombros, mas estava sorrindo também.

— Espadas nunca foram meu ponto forte — retrucou, só então se voltando para Bethany e os outros, parando seu olhar em Noah quando se aproximou com uma sobrancelha levantada e os cabelos escuros serpenteando acima dos ombros.

— Isso foi... Incrível! — exclamou ele, ainda um tanto impressionado, os olhos escuros e castanhos arregalados enquanto trocava o olhar da mãe para Verônica, admirado ao encará-las. Sara não conseguiu conter uma risada com sua expressão embasbacada.

— E assim, Noah, é como se luta como uma garota — complementou ela, bagunçando seus cabelos loiros com certo afeto. Noah riu, levantando as mãos de forma rendida ao encarar as espadas como lembrete da batalha.

— Entendido.

« ♡ »

Elisa observou o treino das crianças de longe, sem se envolver e sem ser vista. Queria saber mais sobre os poderes de Bethany, ver com que facilidade ela conseguia controlá-los, era para isso que estava ali.

Sara havia a levado junto com Noah para a beirada de um lago cristalino, onde poderiam levitar a água e algumas pedrinhas mais leves que ficavam na borda coberta por castalho. Era um lugar um tanto bonito, com os raios de sol passando pelos galhos e refletindo-se na superfície ondulante, coberta com folhas que caíam das árvores ao seu redor.

Bethany parecia um tanto desconfortável.

— É muita água — disse, olhando para o lago. Era relativamente pequeno e calmo, mas Elisa sabia que ela estava pensando no Ouija e no elemento que ele lhe dera. Era de se esperar que ela estivesse assustada, então Sara logo se colocou ao seu lado e entrelaçou as mãos nas da filha.

— Querida, nada vai acontecer enquanto estivermos aqui. Você está segura — disse, e Elisa sabia que ela tinha razão, Mamon não ousaria atacar enquanto todos eles estivessem juntos.

Descendentes de anjos, arcanjos, bruxas e até mesmo demônios, Sara, Liam, Verônica, Naomi e Rafael formavam um grupo poderoso assim como seus filhos. Não era a primeira batalha que eles enfrentavam, eles estavam preparados para Mamon depois de derrotar Lúcifer.

Com instruções de Sara, Bethany e Noah se esforçaram para tentar fazer qualquer coisa levitar, fosse uma onda na água ou uma folha. Não conseguiram muita coisa no início, mas Sara continuava insistindo para que tentassem, que utilizassem o foco para canalizar o poder.

Quando Bethany já estava frustrada e irritada o suficiente, levantou as mãos com rapidez em direção à água. Elisa supôs que estava pensando em Ally, com raiva e desejando se defender, pois a água ondulou com mais força.

— Beth, cuidado! — alertou Sara, mas foi um pouco tarde, porque Noah voou contra a água e caiu na parte mais rasa do lago, espirrando água nas duas e fazendo a água ondular mais forte. Após alguns segundos de preocupação, o menino emergiu com os cabelos loiros encharcados e grudados na pele pálida, reclamando.

Bethany ainda tinha os olhos arregalados, mas começou a rir enquanto Sara avançava para lhe ajudar a sair dali.

— Me desculpa! — pediu, quando o loiro saiu do lago pingando água. Mas a garota ainda estava rindo com os olhos brilhando de empolgação, o que fez Noah bufar enquanto tentava torcer a camiseta.

— Você não pode pedir desculpas se está rindo! — protestou, mas nem Sara conseguiu conter um sorriso divertido.

— É que isso é incrível! Sempre que você for irritante, eu posso te jogar em um lago ou numa piscina! — retrucou Bethany, e Elisa ficou feliz em vê-la rindo e tão animada. Se ela fosse tão parecida com mãe quanto achava que era, logo as coisas ficariam bem novamente e ela dominaria os poderes em pouco tempo.

Com um revirar de olhos, Sara mandou que voltassem para a campina, já que havia uma toalha para que Noah se secasse no carro. Imaginou se esse seria um momento propício para aparecer de fato, fazer com que lhe vissem e talvez ajudar de alguma forma, mas as coisas pareciam estar indo bem sem que estivesse ali.

Decidiu que acompanharia Sara até a campina e então os deixaria por conta própria, mas congelou logo à borda da floresta. Sara e as crianças continuaram seguindo para o carro, com Noah e Bethany discutindo, mas ficou parada a poucos passos da campina.

Rafael estava recostado em uma árvore, segurando uma delicada menininha que estava acomodada em seus braços, olhando tudo com interesse em seus olhos azuis brilhantes. Ele não podia lhe ver e Elisa achou que talvez fosse melhor assim, talvez fosse melhor simplesmente se afastar e deixar que ele nunca soubesse que estivera ali.

Já haviam se despedido antes, quando as coisas estavam incertas e dolorosas demais, mas agora ele segurava aquela garotinha com um carinho que jamais vira em seu rosto e a aliança cintilava na mão esquerda. Queria dar a volta, queria simplesmente voltar para Onyx para que ele nunca soubesse que estivera tão perto, mas lhe pareceu errado. Depois de todas as vezes que ele aparecera como um desejo de seu subconsciente, talvez devesse isso a si mesma e a ele: Um fim digno, mais indolor.

— Ela se parece com Naomi — disse, dando um passo para frente com certo cuidado. Seus passos estalavam no cascalho e nas folhas secas, ele levantou o olhar com espanto e lhe encarou em silêncio por um segundo, mudo.

Estava um tanto surpreso e estupefato, mas então sorriu levemente ao lhe ver.

— Por favor, ela tem meus olhos e meu rosto — provocou, o que fez Elisa rir. Não sabia exatamente o que esperava desse reencontro, mas definitivamente não algo tão calmo. Quando se abraçaram, não sentiu que cairia aos pedaços se não o abraçasse mais forte, o cheiro do perfume dele não doeu dentro do peito como costumava fazer. Estava... tudo bem. Calmo. Um pouco feliz e maravilhada de vê-lo tão bem com a filha.

É claro que lhe abraçou com cuidado, porque ele ainda segurava a menina. Quando se separaram, Kathy lhe encarava com aqueles olhos gigantes e curiosos de criança.

Ele parecia tão feliz que aquilo lhe doeu um pouco. Ficava feliz de vê-lo bem, mas imaginava o que teria acontecido se ficassem juntos. Quando pensava no futuro, quando ainda tinha o luxo de imaginar um, sonhava com intermináveis madrugadas e finais de semanas em teatros, uma vida de auditório em auditório, apresentações e música alta. Não conseguia encaixar uma criança ali, não conseguia se imaginar com tanta responsabilidade e abrindo mão de tanta coisa, de tantos sonhos.

Ficou imaginando se isso mudaria, ou se, em algum momento, teriam percebido que tinham concepções bem diferentes de futuro.

— Tudo bem? Você parece... — Rafael fez uma pausa, lhe observando. Os olhos continuavam azuis e calmos, como uma maré infinita em dia de sol. Ninguém imaginava a tempestade que tomava aqueles olhos quando ele se transformava no arcanjo guerreiro que era. — Diferente — complementou. Elisa riu, levantando as sobrancelhas.

— Eu pareço diferente? Você está segurando sua filha e depois foi eu quem mudou? — Ele riu, encarando a menininha em seu colo. Ela ainda lhe encarava com os olhos curiosos e estranhamente focada para uma criança tão nova, as mãozinhas agarrando uma pequena manta na qual estava enrolada.

— Eu quis dizer em um bom sentido. Tive alguns sonhos com você há algum tempo atrás, uma sensação de que você precisava de ajuda — falou, e Elisa surpreendeu-se. Quando namoravam, era quase como se Rafael soubesse quando tinha pesadelos, pois sempre lhe abraçava, sussurrava até que dormisse ou até que seu sono se acalmasse. Parecia que séculos se passaram desde então. — Quando Sara disse que você estava por aqui, achei que estivesse com problemas — confessou. Elisa riu baixo, mas sem humor algum quando encarou o gramado e a terra, sem saber como respondê-lo.

Depois de todo o desespero de ter perdido suas memórias, da dor de ter perdido as asas e tudo o que havia acontecido, estava um pouco mais estável. Ainda no meio do caos, mas conseguindo se manter.

— De uma maneira ou de outra, eles sempre me acompanham — disse, dando de ombros quando se voltou para ele. Sorriu levemente. Estava aliviada de conseguir encará-lo, de sorrir para ele, de conseguir admirar a criança tão linda em seu colo sem se sentir esmagada por mágoa, dúvida ou culpa. — Eu só... Sei que me irritava quando você tentava me proteger, mas só achei que deveria dizer obrigada. Só me dei conta de como precisava disso quando perdi, mesmo que isso tenha me impulsionado a lutar e me defender — confessou, mais uma vez desviando o olhar para o chão. Era só nos momentos em que se cansava e desabava que se dava conta de quanto queria alguém que lhe protegesse, que abafasse o barulho do mundo exterior.

Pensou em Clarissa, em como ela lhe abraçava e beijava, em como tinha uma risada capaz de anuviar seus pensamentos e bloquear suas preocupações, seus cansaços. Elisa logo desviou os pensamentos, lembrando-se de que não tinham mais essa intimidade, de que não deveria pensar nela dessa maneira, mesmo que sua mente insistisse e se lembrasse de cada toque, cada beijo e gemido.

— Se serve de consolo, você está muito melhor sem minha proteção — comentou ele, e Elisa não conseguiu conter um sorriso fraco. Rafael de fato tinha razão, não trocaria sua independência por nada. É claro que sentia falta de proteção, é claro que ainda precisava de alguém que lhe ajudasse a manter a mente no lugar, e tudo bem, mas depois continuaria lutando e tomando suas próprias decisões.

Estava tudo bem em desabar, não lhe fazia ser fraca, pelo contrário, admitir que não estava bem era algo que exigia força. Enquanto isso, continuaria tentando se encontrar, tentando buscar o melhor caminho para si mesma e sua liberdade.

Antes que pudesse responder, Kathy esticou os bracinhos na direção de Elisa e se inclinou. Foi tão rápido que Rafael teve de colocar uma mão para frente para segurá-la, e a menina ainda tentava escapar de seus braços para ir na direção da ruiva.

— disse, ainda com os braços esticados para Elisa. — Ela! Ela! — repetia, e então tentou se jogar de novo para frente, Elisa esticou os braços para protegê-la em um reflexo involuntário, mesmo que Rafael estivesse a segurando com firmeza.

Kathy pegou a manga de sua blusa com as mãozinhas pequenas e Elisa envolveu-a contra si quando ela puxou com força, como se estivesse pedindo colo. Atônita, a ruiva sorriu para a menina que lhe encarava com os olhos azuis curiosos, os cabelos castanhos em uma bagunça delicada.

— Ela é realmente simpática — murmurou, ao ver a facilidade com que a menina havia se ajeitado em seus braços, a naturalidade com que estava em seu colo. Rafael parecia um tanto confuso e espantado, encarando a filha com uma expressão de estranhamento.

— Na verdade, ela não se dá bem com estranhos, mas acho que gostou de você — disse, e Elisa se voltou para Kathy quando ela colocou as mãozinhas de criança em suas bochechas, como se estivesse lhe pedindo para encará-la.

Quando a encarou no fundo dos olhinhos azuis, sentiu uma onda de tontura e um clarão de luz lhe tomando. Era como se fosse sugada pelos olhos dela, as coisas ao seu redor se tornaram um mero borrão enquanto as cenas se formavam em sua mente.

Viu o brilho de uma espada. Ouviu Clarissa gritar seu nome. Viu a si mesma com uma adaga na mão e Sara gritando com um tom de voz furioso. Viu um salão, viu uma caixa de madeira e um livro. Sentiu seus músculos tensos, a imagem de um cálice com sangue ondulando preencheu sua visão.

Era um cálice prateado e fino, sangue escuro ondulava dentro dele e Elisa sentia que podia se afogar ali. Uma voz sobrepôs as imagens.

— Você não pode quebrar um elo de sangue. — E então as cenas foram se transformando e mudando, uma cacofonia de cores até que viu a si mesma, segurando uma espada flamejante com uma postura imponente. Havia mais alguém ali, uma garota contra a parede e os olhos assustados. Elisa sentiu-se zonza e enjoada quando se viu baixando a espada com rapidez e enfiando lâmina no peito de Lena.

Podia perceber suas próprias mãos tremendo, os olhos arregalados ao se dar conta do que havia feito. A espada se apagou e as chamas se extinguiram, assim como Lena desapareceu como uma brisa silenciosa.

— Lisa? Tudo bem? O que você viu? — A voz de Rafael lhe puxou para a realidade e a primeira coisa que viu foram os olhos de Kathy sobre si, inocentes, brilhantes e enormes como os de qualquer criança.

— Está tudo bem — murmurou, deixando que ele pegasse a menina de seus braços. Ela não protestou desta vez, indo para os braços do pai sem resistência, mas ainda com os olhos em Elisa. — Proteja-a, ela tem muito poder e pode externalizar isso no meio de pessoas que não estão acostumadas — aconselhou, imaginando quais outros dons a menina teria. Seria difícil de explicar para qualquer humano o que acabara de acontecer, podia imaginar ela levitando coisas no meio da sala. — Preciso ir. — Rafael estava um tanto confuso, mas Elisa parecia decidida. Ela lhe encarou uma última vez, os cabelos ruivos flutuando como fogo contra o fundo verde da floresta.

— Liz... — começou ele, como se estivesse tentando achar palavras para fazê-la ficar, contar o que Kathy havia feito. A ruiva não lhe deu tempo, interrompeu Rafael e sorriu para os dois, fixando os olhos na menininha por alguns segundos e então se voltando para ele.

— Obrigada por tudo. Ficarei bem — prometeu, e então sumiu em um piscar de olhos.

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