Me Deixe Te Proteger | Capítulo Quatorze
Ficou surpresa quando Elisa lhe chamou para conversar a sós no escritório. Ela estava tão afastada que Lena mal podia imaginar o motivo de uma conversa tão urgente, então não postergou para encontrá-la lá. Quando bateu à porta, a ruiva já estava lhe esperando e sentada na cadeira do outro lado da mesa.
Ela voltara a ter a mesma aparência de sempre, elegante e profissional, a postura de bailarina e os cabelos ruivos arrumados com disciplina. Tudo nela irradiava confiança e força, Lena quase suspirou. Como poderia competir com alguém sempre tão perfeita e gentil?
Balançou a cabeça e tentou desviar os pensamentos, buscar alguma racionalidade. Aquilo não era uma competição. Odiava sentir isso e odiava tudo naquela situação.
— Eu conheci sua filha — disse ela, e as portas se fecharam atrás de Lena com um baque que lhe paralisou. Demorou alguns segundos para processar as palavras de Elisa, entender que ela realmente estava falando aquilo.
Ainda estava um tanto espantada quando atravessou o escritório a passos incertos e sentou-se na cadeira de frente para a ruiva, ambas de lados opostos da mesa.
— Não sei o que dizer — disse, baixando o olhar. Não era como se ainda fosse a mãe de Aislinn, deixara de ser assim que morrera e chegara naquela dimensão. Não queria ter de explicar motivo de nunca ter falado sobre ela.
A Lena querubim e a Lena mãe de Aislinn eram duas pessoas completamente diferentes.
— Você não precisa explicar nada, é sério, eu entendo. Estou protegendo os filhos de Sara, Mamon mudou o foco de Clarissa para Bethany. Aislinn é próxima de Sara e da família dela, então me reconheceu quando apareci para ajudar Bethany — explicou, com um sorriso fraco. Lena a encarou, tentando decifrar o que ela achava daquilo. Não havia julgamento na expressão dela, apenas compreensão e empatia. Empatia e um pouco de preocupação que dançava sobre os olhos dourados.
— Não é como se eu pudesse mudar as coisas para estar ao lado dela agora, por mais que Aislinn queira — murmurou, pressionando a palma das mãos com as unhas para aliviar a tensão. Não cortaria a pele, mas a pressão lhe ajudava a conter os sentimentos.
— Ela disse que parou de sonhar com Onyx, que perdeu toda a conexão que tinha com você. Provavelmente o Conclave bloqueou, fiquei surpresa de terem deixado as memórias daqui intactas — disse Elisa, e aquilo foi como um soco em seu estômago. É claro. Nenhum humano poderia ter tantas informações sobre esse lugar, poderia ser perigoso para ambos os lados. Encarou o tapete felpudo e a estante de madeira, tentando conter as lágrimas. — Sei que não é ideal, mas pode trocar de lugar comigo se quiser passar um tempo com ela — ofereceu Elisa, Lena estremeceu. Por alguns segundos, apenas considerou a proposta dela, pesando aquilo dentro de si antes de responder com palavras roucas e um tanto doloridas.
— Toda essa batalha com demônios não é bem minha área. Não acho que voltar para a dimensão humana me fará bem. — Elisa ainda lhe encarava de maneira preocupada, como se quisesse dizer alguma coisa, a expressão um tanto aflita.
— Aislinn me pediu para entregar isso — falou, lhe esticando uma carta. Lena tentou ser rápida ao pegá-la para que ela não percebesse o quanto estava tremendo. Se levantou, agradecendo Elisa pela carta e prestes a deixá-la sozinha novamente. — Ei, você está bem? — chamou a ruiva, quando já estava virada de costas e quase colocando a mão no trinco da porta. Lena se virou rapidamente, forçando um sorriso.
— Claro — respondeu, e Elisa sorriu de leve também, o que foi estranhamente reconfortante. Era ótimo vê-la bem novamente, se dedicando às suas missões como fazia antes.
— Me avise se mudar de ideia — disse. Lena assentiu com a cabeça antes de sair.
« ♡ »
Não se virou quando a porta se abriu com um rangido baixo, continuou encolhida na poltrona. A facilidade de se ter poderes era que você não precisava se levantar para abri-la quando alguém batia.
— Te procurei na estufa, Kayla disse que fazia um tempo que você não aparecia por lá — disse Clarissa, atravessando o quarto a passos rápidos. Ela tinha os mesmos cabelos bagunçados, as mesmas camisetas largas que geralmente deixavam o ombro a mostra e as calças justas para compensar. — O que aconteceu? Você está bem? — Lena só percebeu que Heathcliff lhe acompanhava quando ele pulou em seu colo, esfregando a cabeça em sua mão para pedir carinho. Ele adorava seu quarto, sempre vinha ali para dormir entre as almofadas da poltrona ou andar entre os cristais, explorando as prateleiras cheias de livros e brincando com as plantas suspensas, tentando comê-las.
Lena hesitou um pouco, envolvendo o gato em seus braços. Era como se ele pudesse sentir quando não estava bem.
— Não é nada. Não se preocupe — disse. Clarissa balançou seus cachinhos loiros de forma negativa, abaixando-se em sua frente quando envolveu suas mãos nas dela.
— Ei, para — pediu com seriedade e apertou os dedos nos seus. — Você sempre se anula para ajudar os outros, Len. Sempre é a primeira a ajudar e se colocar em segundo lugar — falou a loira, sentando-se na cama e de frente para a poltrona. — É tão difícil assim simplesmente deixar que os outros cuidem de você? — Lena sentia a garganta trancada, uma pressão estranha que sabia que lhe faria chorar.
Quando Clarissa lhe puxou para a cama, não tentou resistir. Heathcliff saltou de seu colo para correr pelo chão de madeira do quarto e provavelmente voltar aos corredores brancos de mármore, a loira lhe puxou contra os travesseiros e as duas afundaram ali, entre o cheiro de incenso e as fronhas estampadas com mandalas coloridas.
O silêncio entre as duas foi reconfortante. Clarissa lhe envolveu em seus braços e Lena deixou o corpo encaixar no dela, apoiando a cabeça em seu ombro enquanto a loira acariciava seus cabelos curtos e lhe dava um beijo bochecha.
Mesmo com os acontecimentos anteriores, sentia-se em paz nos braços dela, como se pudesse ficar ali para sempre. Enquanto Clarissa fazia carinho de leve em seus cabelos, só conseguia fechar os olhos e continuar sentindo o cheiro dela, ouvindo sua voz familiar.
— Sinto muito pelo que aconteceu mais cedo. Eu só estou preocupada com Elisa, com ela ficando tão próxima de Sara e dos outros, de uma situação tão parecida com a do drama com Lúcifer — disse, quase com um suspiro. Ela parecia longínqua enquanto devaneava. — É enlouquecedor não saber se ela está bem, como tudo isso está a afetando. Não quero que ela volte a ser a Elisa apagada e dependente que eu conheci na dimensão humana — confessou, e Lena podia perceber a preocupação em sua voz, o tom aflito que tingia as palavras. Apenas assentiu para mostrar que entendia, que ela não precisava mais se explicar.
Aquilo não mudaria muita coisa, de qualquer forma.
— Eu só quero ser o suficiente para você. É horrível saber que você pensa nela enquanto está me beijando, enquanto estou sem roupas bem na sua frente — falou, e sentiu Clarissa ficar tensa, se revirando para poder lhe encarar. Os olhos brilhavam em um tom de roxo mais claro, iluminado pelas lágrimas que ameaçavam cair.
— Meu Deus, Lena, você é muito mais do que o suficiente, mais do que eu poderia pedir — disse, e Lena podia ouvir a sinceridade dolorida em sua voz, o desespero dela para que lhe ouvisse. Clarissa se sentou, Lena permaneceu deitada, mas isso não impediu que a loira pegasse suas duas mãos e entrelaçasse nas dela. — Não sei aonde estaria agora se não fosse você do meu lado, me ajudando a manter o foco e me incentivando. Por favor, nunca duvide disso, ou de si mesma. Ninguém jamais se doa tanto pelos outros como você faz — pediu, lhe olhando nos olhos. — Eu quero você, quero estar com você e que você saiba que cada beijo foi sincero, que eu sempre estive pensando em você e sempre estarei. — Lena não sabia o que dizer, também sentia vontade de chorar.
Em silêncio, a puxou para si. Clarissa deitou-se ao seu lado novamente, enquanto Lena se encaixava no corpo dela, colocando o braço em volta de sua cintura, afundando o rosto nos cachinhos loiros espiralados pelo travesseiro.
Ficaram um tempo assim, juntas, sentindo o corpo uma da outra e sem dizer nada. Era um tanto reconfortante sentir Clarissa contra si, sentir os corpos tão próximos.
Depois de um tempo em silêncio, finalmente reuniu coragem para falar.
— Eu tive uma filha. Ela era praticamente um bebê quando morri e agora é uma adulta. — Clarissa lhe encarou com olhos arregalados e surpresos, tentando processar a informação e entender aquilo. Ela parecia sem palavras, tentou falar algo, mas depois emudeceu em uma mistura de torpor e confusão. — Elisa topou com ela na dimensão humana e se ofereceu para trocar de lugar para que eu pudesse assumir a missão, assim posso ficar mais perto de Aislinn — explicou, encarando o teto e as plantas que havia fixado ali, tão delicadas quanto um raio de sol.
Clarissa ficou um tempo em silêncio, processando as informações, depois acariciou sua mão antes de perguntar.
— Parece ótimo. Você aceitou?
— Não. Não sei se consigo fazer isso — confessou. Não conseguiu conter um tremor, um olhar desconfortável que torceu para que Clarissa não tivesse visto. — Lutar aqui é uma coisa, mas nunca voltei para a dimensão humana ou reencontrei os seres demoníacos de fato. Quando tentei uma simulação, simplesmente fiquei paralisada e não consegui, então sei que falharia em proteger as crianças. Jamais me perdoaria se deixasse algo acontecer. — Pausou as palavras por um momento, como se estivesse engasgada com as confissões. Era difícil descrever seus pensamentos embaralhados, a bola de emoções que esmagava seu peito. — Só me sinto covarde por não conseguir e nem querer encarar isso. Queria poder voltar por ela, estar lá, mas simplesmente não consigo. Me sinto péssima ao pensar que talvez ela tenha alguma expectativa de que eu vá aparecer algum dia, que talvez essa seja minha única chance de passar algum tempo com ela e estou desperdiçando — murmurou, sem encarar Clarissa. O peso aumentava quando pensava que Aislinn não sonhava mais com a dimensão, que tivera o acesso cortado.
Sempre achou que isso fosse uma espécie de consolo. Pelo menos poderia estar perto de Aislinn nos sonhos dela, mesmo que não consciente disso. Pelo menos ela teria um pedacinho seu ao qual se agarrar quando lhe visse ali, mas agora nem isso restara.
Clarissa lhe encarava com os olhos um tanto compreensivos, um tanto tristes.
— Lena, ninguém aqui quereria reviver a forma como morreu. Se você quiser superar isso, tem todo o meu apoio, mas, se não quiser, estou do seu lado também. — A compreensão nas palavras dela definitivamente lhe fez relaxar um pouco, afundar o rosto nos cachinhos bagunçados e fechar os olhos para aproveitar sua presença. — Você luta melhor do que noventa por cento das pessoas aqui, é a pessoa mais valente e altruísta que eu conheço. Eu não aceito que você se ache covarde, porque essa palavra nunca poderia te descrever — disse, mas Lena continuava com o rosto afundando entre o travesseiro e o pescoço da loira, evitando seu olhar. Clarissa colocou a mão sobre seu queixo e levantou sua face até que estivesse lhe encarando, observando aqueles olhos arroxeados pintados em milhares de tonalidades, uma maré de cores frias. — Você é incrível, sabe disso, não sabe? Sei que toma todas as responsabilidades para si, mas, só desta vez, me deixe te proteger — sussurrou, com um sorriso fraco e os olhos brilhando com expectativa, hipnotizantes como a lua. Era um sorriso tão lindo que Lena a puxou para um beijo, querendo sentir o gosto de seus lábios, a pressão das bocas se movendo juntas.
Rolaram contra o colchão da cama, derrubando as almofadas e travesseiros por onde passavam. Só se deixou levar, sem se preocupar ou pensar demais quando desabotoou a calça, puxou a blusa para cima. Continuava a beijando e beijando, deslizando as mãos pela pele dela e deixando rastros de calor e energia, fundindo-se como se pudessem mesclar cada pulsar de seus corpos.
Elas deixaram as roupas caírem no chão assim como as almofadas, Clarissa sussurrava seu nome, o seu nome. Repetidas e repetidas vezes. Soava como uma música bonita, um gemido baixo em seu ouvido que lhe arrepiava.
Só por aquele momento, se sentiu suficiente, como se pudesse preencher cada pedaço dela ao mesmo tempo que ela preenchia suas feridas.
« ♡ »
As coisas com Lena melhoraram depois daquilo. Apesar de ter recusado a oferta de Elisa, de ter decidido que não queria encarar todos aqueles traumas e reviver aquelas experiências, ela parecia bem. Clarissa via isso quando a encontrava na estufa, empolgada ao falar sobre novas descobertas e misturas, ou quando aparecia na biblioteca para lhe tirar do meio dos livros e lhe levar para algum lugar ainda inexplorado daquela dimensão.
Mesmo que o lugar não tivesse de fato um fim, que pudesse passar um bom tempo caminhando entre os corredores gigantescos de mármore sem nunca encontrar uma barreira, era impossível se perder. De um modo ou de outro, sempre acabava chegando onde desejava.
Lena estava bem e também estavam muito bem juntas, Clarissa ficava feliz com isso. Mas isso não lhe impedia de pensar em Elisa, de que ela voltasse para seus pensamentos sem que pudesse impedir e sempre invadisse suas vontades.
— Isso é... — Kenan disse, tentando achar as palavras. — Estranhamente perturbador — complementou, observando o caderno. Clarissa suspirou e se afundou na cadeira, olhando para as páginas preenchidas.
— Não me lembro de ter escrito. Simplesmente apaguei e, quando me dei conta, tinha escrito tudo isso — explicou, olhando para os rabiscos. Era sempre a mesma palavra, repetidas e repetidas vezes. Fora como um soco no estômago perceber que havia escrito duas páginas daquilo, sempre o mesmo nome e de forma ininterrupta. Duas páginas inteiras com o nome de Elisa. — Não é a primeira vez que acontece, a primeira foi com Lena e ela disse que eu estava em uma espécie de transe — murmurou, desviando o olhar. Era por isso que o tinha procurado, esperando que ele tivesse alguma sugestão ou soubesse do que se tratava. Agora estava com ele, Lucas e Azazel em uma roda que tentava decifrar aquele enigma, buscando alguma privacidade no salão que Lena tinha revitalizado.
Não queria envolver Lena naquilo e nem conseguira encontrar Elisa. Talvez devesse primeiro esperar até encontrá-la, perguntar se algo assim estava acontecendo com ela também.
— Escreveu a mesma coisa da primeira vez? — perguntou Kenan, sentado em sua frente. Ele e Azazel estavam sentados ao redor da mesa de mármore, Lucas estava deitado no sofá com um livro em mãos, mas sabia que ele prestava atenção no relato.
— Não. Da primeira, escrevi elo de sangue em várias línguas, algumas que nem conhecia — relatou, pegando o caderno e folheando até encontrar a página rabiscada com as linhas confusas. Ele analisou por um momento antes de voltar as páginas para os rabiscos mais recentes. — Há algo estranho. Quando penso em Elisa, é quase obsessivo, fora de controle, não consigo simplesmente controlar — confessou, baixando o olhar para o nome dela, escrito repetidas vezes na página em branco.
— Vocês não se desgrudavam quando estavam juntas, talvez seja só uma crise de abstinência — sugeriu Lucas, e Clarissa revirou os olhos.
— Não é normal — insistiu, passando os olhos entre as estantes como se Elisa fosse aparecer, como se ela fosse abrir as portas para que pudessem achar uma solução juntas. Mesmo agora, só queria ouvir sua voz, ver o vulto de seus cabelos ruivos.
— Talvez você tenha razão. Ainda não sabemos por qual motivo quiseram o sangue de Elisa e considerando que era fácil pegar seu sangue enquanto humana... — sugeriu Kenan, pensativo. Clarissa franziu as sobrancelhas e sentiu a preocupação pesar ao absorver as teorias dele.
— Acha que estamos ligadas? — questionou, tentando não se desesperar sem necessidade. Não entendia por que lhes quereriam ligadas, no que isso interferia.
— Isso é uma coisa complicada. Vocês realmente acham que é só misturar os dois sangues e magia feita? — Azazel levantou as sobrancelhas, os cabelos loiros caindo sobre os ombros e reluzindo no salão. Tinham ondas tão perfeitas que poderia se perder ali, hipnotizada pelo reflexo da luz nas mechas claras. — Sua energia é instável, Clarissa, talvez só esteja se manifestando de uma maneira estranha. Mais motivos para tentar recuperar o livro — complementou, levando o olhar até a caixa de madeira ao lado do sofá.
Estavam tentando abri-la há algum bom tempo, mas sem sucesso. Apesar disso, começara a se habituar e acostumar com a presença dela ali, enquanto testavam e formavam novas teorias. Azazel só tinha recebido permissão para ficar por causa da caixa, Asmodeus estava um tanto entediado de ficar na dimensão e decidira tentar conseguir informações de fora. Ficava aliviada por não vê-lo mais por ali.
— Elisa soube imediatamente quando Clarissa voltou para cá. Era como se pudesse sentir o que você sentia, toda a dor e preocupação — disse Kenan, voltando-se para a menina. Clarissa quase engasgou-se. — Já sentiu algo assim? Alguma intuição de que Elisa não estava bem ou que ela estava sentindo dor ou aflição? — indagou. Clarissa pensou no ombro deslocado, nos sonhos estranhos que tinha com Elisa e a dor fantasma que sentia descendo por suas costas.
— Tive vários pesadelos com ela e sempre acordava me sentindo mal, mas nada depois que voltei para cá — relatou, pensando em como as coisas estavam estranhamente calmas. Elisa tinha se afastado enquanto Lena tinha se aproximado, tivera tempo para começar a trabalhar com os livros na biblioteca, pesquisar mais sobre a caixa e maneiras de abri-la, se habituar ao lugar com calma suficiente para que pudesse viver um pouco o que planejava.
Não tinha sentido nada relacionado à Elisa além da estranha obsessão.
— Você deveria conversar com Elisa, tentar saber se é mútuo. Talvez Azazel tenha razão, talvez seus poderes só estejam se expressando de uma maneira não convencional e tenham estabelecido uma ligação com ela, por algum motivo ou alguma afinidade — disse Kenan, ainda um tanto incerto. — Não temos muita coisa sobre sangue ou elos, é um tanto incomum entre querubins. Pode tentar recorrer ao Conclave e ver o que eles têm a dizer, enquanto isso eu posso pensar em maneiras de quebrar a ligação. Mas, antes disso, preciso que você converse com Elisa para que saibamos exatamente de que tipo de elo estamos falando — orientou, e Clarissa assentiu, desanimada. Não esperava algo tão trabalhoso, não queria dar mais preocupações para Elisa, já que ela estava tão empenhada em lhe evitar e não sabia o quão estranha seria essa reaproximação. E também tinha....
— Você vai precisar falar com Lena em algum momento — comentou Lucas, quando Kenan havia acabado de sair e deixado os três sozinhos no salão. Clarissa gemeu e escondeu a face entre os braços dobrados por cima da mesa, espalhando os cachinhos claros pelo mármore branco.
— Vai ser incrível contar que estou, de alguma forma, obcecada pela minha ex — murmurou Clarissa, com a voz abafada.
— Veja pelo lado bom, poliamor é sempre uma possibilidade — comentou Azazel, com um tom despretensioso e uma risada contida. Clarissa manteve a face escondida sobre os braços dobrados em cima da mesa, os cabelos servindo de cortina para esconder sua expressão.
— Eu não sei por que ainda conto essas coisas para vocês dois — reclamou, finalmente levantando a face. Queria desaparecer em qualquer um dos livros das grandes estantes, ou até mesmo se escolher do tamanho de um inseto para se camuflar nas plantas que subiam como cipós pelos pilares.
— Vai dizer que consegue escolher entre Lena e Elisa? — desafiou Azazel, batendo os saltos no chão com uma risada rouca. Clarissa ajeitou os cabelos bagunçados, evitando encará-la.
— Elas não são dois brinquedos esperando para serem escolhidos — retrucou, esquivando-se da pergunta. Azazel e Lucas trocaram olhares com sorrisos sarcásticos.
— É isso que eu chamo de empate — provocou Lucas.
— Vocês são insuportáveis, sabia? — Clarissa fez um gesto com a mão e então duas almofadas da ponta do sofá voaram, uma acertando Lucas e a outra Azazel, que o pegou no ar com agilidade. Era impossível pegá-la despreparada.
— É por isso que passa tanto tempo com a gente? — provocou Lucas. Clarissa revirou os olhos quando ele jogou a almofada para lhe acertar, mas acabou rindo também.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro