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Eu Beijei Um Garoto | Capítulo Vinte

Bethany só foi para a aula no dia seguinte, já que havia dormido a manhã inteira no dia anterior.

Tinha achado que estaria livre para passar o dia inteiro no sofá, comendo pipoca e tentando lidar com a ressaca forte que restara da festa, mas sua mãe lhe chamara no fim da tarde e voltaram à campina.

Praticaram com as espadas e foi ótimo sair de casa e respirar um pouco, ficar a sós com ela. Adorava quando saiam juntas, lhe lembrava de quando era criança e Sara lhe levava para a biblioteca, sempre passavam na sorveteria no caminho, ou compravam algodão-doce.

Mas, no dia seguinte, foi sufocante voltar à rotina. Estava sentada em uma das mesinhas da cafeteria do colégio, tentando lidar com todo o barulho enquanto se afogava na apostila de literatura, tentando absorver o máximo de conteúdo.

Queria voltar para casa. Odiava tanto barulho, odiava tantas pessoas passando de um lado para o outro. Estava zonza e enjoada, as mãos suavam e as limpou discretamente na barra da blusa, tentando acalmar a mente disparada.

— Não estudou para a prova de literatura? — Não soube por qual razão ficou surpresa quando Nicholas arrastou uma cadeira e se sentou em sua frente, mas definitivamente estranhou quando ele lhe encarou com um sorriso irônico e desafiador.

— Estava ocupada demais me embebedando e depois lidando com a ressaca — comentou, suspirando. Nicholas parecia a única coisa focada na cafeteria, o resto era só o borrão de alunos barulhentos passando pelas paredes frias e sem graça da escola.

— É, eu me lembro disso — riu ele, levantando as sobrancelhas e deixando a franja cair sobre os olhos. Nicholas baixou o olhar para a apostila e os materiais espalhados em cima da mesa de pedra rústica. — Ela não vai cobrar esse conteúdo, é só do quarto capítulo para frente — comentou ele, tomando o suco de laranja pelo canudinho.

Bethany quase fez uma careta. O suco dali era muito artificial e um pouco nojento.

— Merda — murmurou, frustrada. Fechou a apostila com um nó na garganta e então levantou o olhar para Nicholas. Ele tomava o suco de canudinho tão inocentemente que parecia uma criança com seus olhos grandes e brilhantes. — Qual é a sua? Por que, de uma hora para a outra, decidiu notar minha existência? — perguntou, sem conseguir esconder a desconfiança. Não queria nada com ele, pelo menos metade do time de líderes de torcida tinha alguma história quente com Nicholas Sinclair e não queria ser mais um nome da lista.

Nicholas era bonito, precisava admitir. Tinha todo esse ar de roqueiro misterioso e ao mesmo tempo era fofo e engraçado, mas ele cheirava a dor de cabeça e estava tão exausta desde a morte de Ally que não queria pensar nisso. Será que, quando ele finalmente percebesse que não queria nada, finalmente daria o fora?

Ele até que fora bem gentil, lhe deixando copiar o trabalho de literatura e lhe levando para casa, mas nem ao menos conseguia se lembrar a última vez que havia se interessado romanticamente por alguém. Se é que isso já havia acontecido alguma vez.

Era como esperar por um sentimento que nunca chegava.

— É uma pergunta interessante, maninha. — Franziu as sobrancelhas quando Noah apareceu do nada entre a multidão de alunos, puxando uma cadeira e sentando-se ao lado de Nicholas. Foi como um clique quando as coisas se encaixaram. O sorriso que os dois trocaram, Noah sentando-se perto demais de Nicholas. — É difícil ele te ignorar quando você é cunhada dele. — Mesmo com aquele estranho momento de clareza, quase engasgou-se quando ele falou. O barulho da cafeteria foi abafado pela surpresa enquanto trocava o olhar de um para o outro, as sobrancelhas erguidas.

— Tudo bem, isso faz muito mais sentido — admitiu. O modo como eles se encaravam no palco, todas as vezes que Noah dizia que sairia com Nicholas e o sumiço dos dois durante as festas...

Eles estavam sempre juntos, de um modo ou de outro.

Não conseguiu segurar a risada. Estava tão na defensiva com Nicholas que não conseguia enxergar o que realmente estava acontecendo ali. Noah riu também, revirando os olhos e então lhe encarando com uma expressão incrédula.

— Você não achou que nós passávamos todas aquelas horas ensaiando, achou? — indagou, ainda rindo. Bethany percebeu, com mais uma gargalhada, que o tempo que eles passavam ensaiando era realmente exorbitante.

— Eu não teria mais cordas vocais — complementou Nicholas, bebendo do suco.

— Desde quando isso está rolando? — perguntou, tentando entender o quão sério era aquilo. Estava preocupada com Noah, não era como se Nicholas fosse famoso por seus relacionamentos sérios.

Na verdade, era bem ao contrário.

Ele podia ser encantador com sua risada e suas piadas, toda sua ironia e jaquetas de couro, mas era exatamente esse o problema. Queria saber quais eram as verdadeiras intenções dele por baixo de tudo aquilo, queria ter certeza de que ele não magoaria Noah.

— Há uns três meses — disse Nicholas, e Bethany surpreendeu-se. Era uma boa quantidade de tempo, considerando que eles só estavam assumindo agora. — Fomos desafiados no jogo da garrafa e depois decidimos continuar — explicou. Mais uma vez Bethany riu, lembrando-se de uma das primeiras festas em que Noah fora, logo depois de entrar no ensino médio.

Havia acabado de tirar a carteira de motorista, então estava com o carro de sua mãe e dirigindo para casa. Noah estava no banco do passageiro, estranhamente calado enquanto encarava as luzes noturnas. Claramente havia bebido na festa quando falou:

Eu beijei um garoto. — Ficou surpresa. Não havia o encontrado muito durante as músicas e as bebedeiras porque ficara em um canto isolado com Ally e Valerie, mas sabia que estavam fazendo o jogo da garrafa e que também estavam brincando de cinco minutos no paraíso.

Não sabia se ele estava falando de um simples selinho ou um beijo de verdade. Mas quando ele disse que havia sido de verdade, logo complementou que não sabia se era gay.

Já havia beijado meninas antes, mas havia sido infantil e nada como aquilo.

Quase dois anos haviam se passado, ele começara a frequentar mais festas e se tornar popular entre o pessoal da escola, entrou na banda como baterista e era como uma estrela, atraindo a atenção de todos ao seu redor. Se Bethany preferia dançar em um círculo fechado e não chamar atenção, Noah brilhava e era a alma de qualquer festa que fosse. Era assim em qualquer lugar, ele sempre se destacava.

Mais para o meio do ano, quando estavam voltando juntos de uma festa, ele voltara a tocar no assunto.

Eu beijei uma garota. Foi como beijar uma geladeira, nem me lembro o nome dela — confessou. Bethany riu, mais pela maneira como ele falou da garota do que pela confissão. Parecia que ele estava falando de um experimento científico, não de uma menina.

Meu Deus, você é terrível — reclamou, mas ainda estava sorrindo e feliz por ele ter dito aquilo. Agora Noah estava prestes a completar dezesseis e, quanto a si, estava a alguns meses de completar dezoito, terminar o ensino médio e ir para uma faculdade.

Sentiria falta de tudo aquilo. Dele lhe arrastando para as festas, dos dois tão próximos.

— Papai e mamãe sabem? — perguntou, voltando o olhar para Noah. Seus pais não se importariam, tinha certeza. Dera sorte em crescer com uma família tão aberta, sabia que eles apoiariam Noah sem problemas. — Se é tão sério assim, deveriam contar a eles — disse, mas desta vez encarou Nicholas, esperando ver a reação dele, saber até onde ele estava disposto a levar aquilo a sério. Em alguns meses, ele também se formaria, e então? Como Noah ficaria?

Se Nicholas estivesse disposto a dar esse passo, talvez eles pudessem achar uma forma de continuarem juntos depois do final do ano. Os dois trocaram olhares, Nicholas não pareceu preocupado ou hesitante, os dois tinham sorrisos fofos e olhos brilhando.

— Estamos considerando — prometeu Noah. Aquilo lhe deixou satisfeita.

« ♡ »

Ler a prova foi como um soco no estômago.

Questão após questão, as linhas foram se embaralhando em sua mente na medida que as mãos começavam a suar e ficar inquietas em cima da mesa. A pressão no estômago começou a lhe sufocar, o peito subia e descia enquanto tentava entender aquelas palavras.

Mesmo que entendesse a questão, não saberia a resposta. Estava tão aérea desde que Ally morrera que não se importou em estudar para a prova, mas agora tinha aquela folha de papel em sua frente, ouvia os lápis dos outros alunos ao seu redor, rabiscando e respondendo sem parar enquanto sua folha ainda estava em branco.

Queria sair dali. Só conseguia pensar em sair dali, em se afastar do barulho ensurdecedor que o relógio fazia, quebrar aqueles ponteiros.

A gota da água foi alguém sussurrando deu nome. Novamente a voz de criança. Be-ti. Beti.

Largou os materiais em cima da mesa e a cadeira rangeu alto no chão quando a empurrou para trás e saiu correndo. Tudo girou, ouviu cochichos, a professora lhe chamou.

Seu peito ardia em chamas quando foi para o corredor lotado de armários cinzentos. Eles estavam borrados, o corredor girava, então apoiou as costas no metal frio de um armário e percebeu que havia escorregado para o chão, tremendo.

Suas mãos não paravam, o peito subia e descia frenético, mas conseguia enxergar o que estava em sua frente. Só via vultos, o corredor cheio de vultos escuros que sussurravam seu nome, encostavam em seu braço com seu toque frio e tentavam lhe puxar.

— Beth, está tudo bem. — Reconheceu a voz da professora no meio de tudo aquilo e percebeu que ela havia se ajoelhado em sua frente, segurando suas mãos trêmulas. — Preciso que você respire e conte comigo. — E então ela foi fazendo uma contagem regressiva de dez a um, Bethany tentou lhe acompanhar e a professora foi fazendo o máximo para lhe acalmar até que a enfermeira da escola chegasse.

« ♡ »

Ficou na enfermaria até seu pai chegar, sentia-se mais calma e conseguia respirar normalmente quando ele abriu a porta. Sentiu-se culpada porque sabia que ele provavelmente estava ocupado, mas haviam simplesmente ligado para ele e nem lhe perguntado sobre.

Esperou no estacionamento enquanto Liam estava na sala da enfermeira, conversando com ela. Sentia-se como uma criança esperando o veredito, mas ficou aliviada quando a pedagoga pediu para falar com ele a sós. Era a última aula, então poderia ir embora depois.

Esperava sentada em um dos bancos de concreto na parte de trás da escola, segurando um cigarro entre os dedos e observando a fumaça subir até o céu azul, se perdendo na luz do sol.

Era simples e fácil. Os pulmões inflavam, sentia o aroma, depois a fumaça saía.

— Beth! — Não precisou pensar para reconhecer a voz, foi automático quando se virou para Valerie e a viu correndo pela saída dos fundos. Bethany se levantou e ambas se abraçaram em silêncio, como se aquilo pudesse dizer tudo de uma vez. — Tudo bem? Eu soube do que aconteceu na aula de literatura — disse ela, e Bethany estremeceu. Àquela hora, a escola inteira já sabia e estava comentando sobre o fato.

— Eu só... Estava cansada. Não estudei — comentou, sentindo-se culpada porque queria contar tudo para ela. Queria contar sobre Ally, sobre tudo o que descobrira sobre sua família e sobre a bagunça que sua vida virara de uma hora para a outra.

Noah estava envolvido demais naquilo, sabia que ele descobriria uma hora ou outra, mas sempre contava tudo para Valerie, queria muito poder falar sobre tudo aquilo. Sentia-se mais culpada ainda ao perceber como estavam afastadas desde que Ally se fora.

— Quer fazer algo hoje a noite? Posso te ajudar a estudar, sei que a professora vai te dar uma prova substitutiva — sugeriu ela, e Bethany concordou. A professora provavelmente ficara sensibilizada com o ataque de pânico e a morte de Ally, já que costumavam a sentar juntas na aula dela.

Geralmente odiava o olhar de pena dos outros, mas até que ficou feliz pela gentileza dela.

— Meus pais estão em cima depois da última festa, só se você for lá em casa — disse, voltando-se a sentar no banco e balançando as pernas no ar. Valerie sorriu e concordou, dizendo que levaria seus cadernos e poderiam revisar todo o conteúdo.

Ela foi embora pouco depois, quando a mãe viera buscá-la, então ficou sozinha novamente e esperou em silêncio. Só percebeu que seu pai havia voltado quando alguém pegou o cigarro de suas mãos.

Quando se virou, ele já estava apagando o cigarro na parede para jogá-lo no lixo.

— Ei, estava praticamente inteiro — protestou, levantando-se do banco com claro mal humor. É claro que Liam não pareceu se importar com as reclamações quando seguiram para o carro, passando pelo pátio de cimento do estacionamento aberto da escola.

— Sem cigarros — disse ele, e Bethany fez uma careta, tanto por causa do sol quanto pelas palavras dele.

— Ajuda com a ansiedade — argumentou, dando de ombros. Abriu a porta e sentou-se no banco do passageiro, jogando a bolsa para trás. Não demorou muito para que estivessem na rua, encarando o trânsito rotineiro da tarde.

— Está mesmo tentando argumentar a favor do cigarro com um médico? — zombou ele, com as mãos no volante. Conteve mais uma revirada de olhos, desviando a face quando o sol quente veio em sua direção.

— Eu paro com o cigarro quando você parar com o whisky — desafiou, levantando as sobrancelhas e se virando para Liam.

— Eu pago pelo whisky, você paga pelos cigarros? — retrucou seu pai, sem se deixar abalar. Deveria saber que era tolice entrar em uma discussão com alguém tão rápido e com argumentos tão afiados quanto os dele.

— Isso nem é uma comparação justa, o whisky custa umas trinta vezes mais — reclamou, cruzando os braços de maneira mal-humorada.

— E o cigarro prejudica mil vezes mais, além do cheiro ruim — contra-argumentou ele, sem tirar os olhos da estrada. Bethany afundou no banco sem responder, sentindo-se exausta. — Quer falar sobre o que aconteceu? Você nunca teve um ataque de pânico antes. — Seu pai lhe encarou por alguns segundos, como se estivesse lhe avaliando, o que lhe fez afundar ainda mais no banco.

— Não, não quero — murmurou, quase sem voz. Ficaram em silêncio por algum tempo, Bethany observou as ruas se transformando em um borrão cinzento. Nem ele e nem sua mãe moravam longe da escola, poderia ir andando se quisesse.

— A pedagoga disse que os professores estão preocupados. Suas notas estão caindo, você não está indo para a aula e nem entregando os trabalhos no prazo. — A seriedade na voz dele fez um nó aparecer em sua garganta. É claro que ela havia falado sobre suas atitudes de aluna rebelde, é claro que chamaria seu pai para isso. Entendia o espanto, já que sempre fora a aluna exemplar, a queridinha dos professores. Noah lhe chamava de nerd por uma razão. — Beth, você precisa manter suas notas se quiser ir para uma boa universidade. Você sempre tirou notas altas e tem um histórico lotado de atividades extracurriculares. Você tem tudo nas mãos, filha, não desperdice e nem acabe com tudo tão perto do fim — pediu, já virando a familiar rua de casa. Observou os cabelos loiros brilhando sob o sol, pensou no quanto Noah e ele se pareciam.

Só sentia vontade de chorar ao pensar nisso, ao pensar que só havia alguns meses restantes e depois precisaria agir como adulta, precisaria encarar o futuro. Sozinha. Sem Ally. Quase sentia o ar fugindo dos pulmões mais uma vez, as mãos voltando a tremer.

Fechou-as em punho ao lado do corpo, tentando controlá-las.

— Qual o sentido? Nem sei o que quero fazer. — A voz saiu mais rouca do que esperava, sem força e falhada.

— Você não vai descobrir se continuar faltando às aulas e chegando em casa às três da manhã de uma segunda feira — comentou, e Bethany quase revirou os olhos com o tom irônico. Tudo bem. Lição aprendida. — Até o final do ano, você vai encontrar a resposta, mas, até lá, foque em manter o que já tem. Talvez um curso de artes? Não tenho te visto desenhar ultimamente — sugeriu, o que lhe fez pensar no caderno de desenhos abandonado dentro da bolsa. Havia começado um desenho de Ally, mas não terminara e nem sentira vontade.

— Não desde que Ally morreu — confessou, olhando para baixo. Não era como se desenhar importasse agora, ou como se qualquer coisa importasse. Não depois de Ally, depois de tudo o que descobrira sobre seus pais e sua família.

A realidade era como um zumbido de fundo enquanto seus pensamentos flutuavam.

— Se você não fizer isso por si mesma, faça por ela, porque você sabe que Ally te apoiaria. — Aquilo doeu em si, sabia que ele tinha razão. Ally pegaria aquele caderno e encheria o saco até que voltasse a desenhar, ela lhe arrastaria para as aulas se fosse preciso e lhe obrigaria a fazer todos os trabalhos. — Você não é uma criança, não posso te levar até a porta da sala de aula para garantir que você realmente esteja na escola, mas a secretária vai me notificar — complementou seu pai, estacionando o carro. Sentia-se aliviada de ter chegado, agora poderia simplesmente se jogar na cama e aproveitar o silêncio. — E mais uma coisa — disse ele, lhe esticando um cartão pequeno. Franziu as sobrancelhas, o pegando. Quando viu do que se tratava, fez uma careta.

— Sério? — reclamou, notando que havia uma data e um horário marcado na parte de trás. Nunca havia frequentado o psicólogo da escola, mas, aparentemente, agora já tinha uma consulta marcada.

— Sim. Você não tem escolha — confirmou Liam, quando parou o carro. Bethany quase riu, mas sentia-se frustrada.

Como ele esperava que falasse com um psicólogo? Simplesmente esperava que chegasse lá e contasse sobre como sua vida estava um inferno desde que descobrira ser neta de Lúcifer e uma amiga morrera depois de uma partida de Ouija?

Tinha de admitir que, pelo menos, seria legal fazer trocadilhos com o inferno e toda sua relação familiar com ele.

— Pelo visto, não mesmo — reclamou, pulando do carro e fechando a porta atrás de si. Estava mais interessada em sentir novamente a adrenalina obscura da apresentação das líderes de torcida do que falar com um completo estranho sobre seu emocional.

« ♡ »

Ficou pensando no que seu pai havia dito sobre tentar algum curso com foco artístico.

Quando era pequena, gostava de pintar com Sara. Ela não se importava se havia mais tinta em suas roupas e cabelos do que no quadro, Bethany se encantava com todas as cores e tons, gostava do pincel lambuzando tudo em sua frente.

O costume ficou esquecido depois que seus pais se separaram, havia ganhado uma caixa enorme de lápis de cores que eram mais práticos do que a tinta. Naquele dia, ficou pensando nos quadros e nas tintas e decidiu procurar pelos materiais.

Os achou no pequeno sótão. Os quadros estavam empoeirados, assim como os cavaletes de madeira, mas conseguiu limpar tudo e encontrar algumas tintas que ainda pareciam boas. Levou tudo para a sala e colocou o quadro branco no cavalete, sentindo-se empolgada depois de tanto tempo presa naquela onda de marasmo.

Como o sol já estava se pondo e Valerie chegaria em pouco tempo, decidiu por um desenho mais simples e começou a pintar os raios dourados do sol. Misturou vermelho e alaranjado, as tintas intercalando-se em um degradê delicado que estava se esforçando para reproduzir. Queria que cada tom de amarelo estivesse correto, que cada reflexo estivesse perfeito.

Geralmente preferia desenhar pessoas ou objetos, odiava paisagens, mas aquilo realmente prendera sua atenção.

Só parou quando ouviu a campainha e se deu conta de que Valerie havia chegado. Estava sozinha em casa, Noah havia saído com Nicholas — e agora sabia o que isso significava — e seu pai deveria demorar mais uns quinze minutos para chegar do trabalho.

Correu até a porta da frente e a abriu, sem se importar com as mãos manchadas de tinta. Valerie sorriu logo que lhe viu, mas então franziu as sobrancelhas quando desviou o olhar para sua mão apoiada no batente.

— O que fez com a mão? — perguntou, confusa. Bethany riu quando lembrou-se da tinta vermelha que provavelmente parecia sangue.

— Eu estava... — começou, desviando o olhar para a própria mão manchada e grudenta. Seu estômago embrulhou quando viu aquelas manchas escuras. Era, de fato, sangue. Havia manchado a porta e agora o líquido pingava de um corte na palma de sua mão, despencando no ar e caindo no piso.

— Mas o que diab... — Não completou a frase. Pensou na pintura, nos tons de vermelho que havia usado.

Sem dizer mais nada, saiu correndo e adentrou a sala, prendendo a respiração. Achou que fosse vomitar, definitivamente sentiu uma pressão na garganta e no estômago, uma vontade de chorar quando viu que as tintas ainda estavam fechadas.

Uma bela pintura mórbida. Havia pintado o quadro inteiro com sangue e nem ao menos percebido.

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