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Eric | Capítulo Dezenove

Haveria uma apresentação das líderes de torcida na parte da tarde, então almoçou com elas. Geralmente conversava e interagia com as outras meninas, mas só conseguia pensar nos poderes que presenciara de manhã, nas revelações de sua mãe, em um dos líderes infernais aparecendo na campina.

Pelo menos agora sabia do que estava se defendendo.

O céu estava nublado e começou a garoar pouco antes da abertura do jogo de futebol americano, mas as arquibancadas eram cobertas e resolveram continuar com a apresentação, já que a garoa não era uma barreira tão grande.

Finalmente chegou a hora da apresentação e podia ouvir o ruído animado da plateia,

Precisou admitir que se sentiu muito melhor quando entrou no gramado, quando That's my girl tomou o auto-falantes e as meninas se espalharam em uma coreografia harmonizada, todos os movimentos calculados. Focou-se nos movimentos, na garoa que se misturava com seu suor e molhava sua pele.

A plateia vibrava e aplaudia enquanto as meninas sincronizavam os movimentos dos braços, saltavam em acrobacias aéreas que formavam desenhos e padrões conforme se movimentavam em conjunto.

Você já caiu antes

Você já se machucou antes

Você já se levantou antes

Você está pronta para isso, está pronta para isso

A parte inicial era padronizada e todas faziam a coreografia em conjunto, Bethany não precisava se esforçar muito para seguir aquilo, gostava de sentir os músculos latejarem, a adrenalina de conseguir fazer cada movimento no tempo certo.

O destino disse, você tem que ir à luta

Clame a sua independência

E nunca se esqueça

Há um pouco de sujeira nos seus ombros

Me deixe limpar para você

Era só na segunda parte que tinha destaque, já que era a melhor em acrobacias aéreas dali. Havia um trampolim no gramado úmido, parte da coreografia exigia se afastar das meninas e tomar impulso no trampolim.

Enquanto elas continuavam com a coreografia sincronizada, cheia de giros e movimentos elaborados, Bethany correu e tomou impulso, sentindo as panturrilhas latejarem e o ar fugir dos pulmões. As meninas congelaram no gramado quando pisou no trampolim e se lançou no ar.

Girou para frente, os cabelos voando e o vento chiando, o tempo congelando. Conseguia ver o brilho da pele úmida, as gotículas da chuva dançando no ar como cristais. Olhou para o céu cinzento e sentiu o calor pulsar de dentro para fora, desejou que algo a mais acontecesse.

Um raio iluminou o céu e sua pele úmida brilhou, a luz do estrondo iluminando sua silhueta de um modo satisfatório. Tudo vibrou: suas veias, a plateia, o ar e o céu. Os gritos empolgados eram como a música tocando, o raio atravessou o céu no momento exato para desenhar e iluminar seu salto.

Caiu de pé sobre os aplausos da plateia que vibrava e se levantava para aplaudir, e a coreografia continuou.

Essa é minha garota

Não soube exatamente o que fora aquilo, mas era viciante e extasiante, glorioso. Queria sentir novamente aquele tipo de poder correndo, aquela adrenalina fria pulsando em seu peito. Seus poderes não eram tão ruins quanto pensava. Se era a neta de Lúcifer, talvez devesse agir como tal.

« ♡ »

Sempre havia alguma festa para ir depois dos jogos, não sabia nem quem era o dono da casa em que estava. Não sentia vontade de voltar para o apartamento, então aproveitou que Noah queria ir e resolveu que evitaria sua família sobrenatural por um tempo.

A festa acontecia em um quintal aberto e gigantesco, com vários globos de luz espalhados por todo lugar, uma caixa de som enorme e uma caixa térmica lotada com vodca e todo tipo de bebida destilada. Nem parou para pensar em como conseguiram comprar aquilo.

Encontrou Valerie, dançou com ela praticamente a noite inteira sobre o som de uma playlist pronta. Depois da morte de Ally, Nicholas dera uma pausa nas festas e nas apresentações com a banda, apesar de continuarem se reunindo para tocar. Bethany preferia a música alternativa ao vivo dele do que a playlist feita.

Estava com tanta raiva, remoendo tanto os acontecimentos daquela manhã, que deixou de contar os copos. Só sabia que estava dançando e bebendo copo atrás de copo, música atrás de música. Depois de algumas horas, as luzes estavam tão borradas e seus pensamentos tão difusos que nem mesmo conseguia se lembrar do motivo pelo qual estava irritada, o porquê de não querer voltar para casa.

Já estava nessa agitação fazia algumas horas quando alguém encostou em seu braço, e então encarou um Noah muito preocupado.

— Beth, precisamos ir. — Demorou um pouco para entender as palavras dele, gritadas por cima da música. Fez uma careta, irritada.

— A festa não acabou — argumentou. As luzes coloridas refletiam-se nas mechas claras dele, deixando seu cabelo néon e multicolorido. A música pulsava, as lâmpadas de led também.

— Já passa da meia-noite e é segunda-feira. Mamãe mandou mensagem — disse, e Bethany percebeu que ela provavelmente havia lhe ligado e mandado mensagem também. Não lembrava-se do que havia feito com o próprio celular. Provavelmente havia o desligado quando chegara ali, justamente para evitar seus pais.

— Vou ficar — afirmou. Noah insistiu para que fosse junto, mas desistiu quando Bethany não aceitou de modo algum. Viu ele falando com Nicholas, sussurrando algo em seu ouvido antes de ir embora definitivamente, provavelmente de carona com alguém.

Percebeu que eles haviam sumido juntos por um bom tempo no meio da festa, deveriam ser realmente próximos por causa da banda.

Ainda havia muita gente, mas, quando a madrugada foi avançando, o local foi se esvaziando. Já se passava das duas quando se viu sentada no gramado da frente da casa, sozinha com uma garrafa de vodca já pelo final. Era o local mais deserto dali, apesar de ainda conseguir ouvir o barulho da festa.

Estava com as pernas escolhidas, a grama penicava, mas não se importava. Gostava do vento frio, do espaço do jardim frontal e dos pequenos arbustos ali. Poucos carros estavam estacionados na rua agora, Bethany via a luz borrada dos postes se transformarem em linhas florescentes.

— Tenho quase certeza de que seus pais nunca mais te deixarão sair de casa — disse uma voz, e Bethany se virou, observando Nicholas surgir da lateral da casa para o jardim frontal. O rosto dele parecia um borrão branco e iluminado, sem contornos por causa do álcool.

— Posso fazer o que quiser. — Eu sou a neta de Lúcifer, completou, mentalmente, mas só porque soava assustador dizer aquilo em voz alta. Era como seu segredinho sujo, não queria que Nicholas soubesse.

— Vamos, eu te dou uma carona — falou, se aproximando e oferecendo uma mão. Bethany não sabia se o cheiro de álcool vinha dele ou de si mesma, mas ele também tinha os cabelos bagunçados e suados, a blusa amassada.

— Não quero ir para casa. Posso dormir aqui mesmo — insistiu, e ele riu, levantando as sobrancelhas. Bethany levou a garrafa até a boca, fazendo uma careta e estremecendo quando o líquido doce e forte escorreu para a garganta.

— No gramado? Como um cachorrinho? — Nicholas ainda ria.

— Sim — concordou seriamente, achando uma boa ideia. Ele não pareceu concordar, pois revirou os olhos e pegou a garrafa de sua mão.

— Chega de vodca para você — disse, esticando a outra mão para lhe ajudar a levantar. Negou com a cabeça, recusando a ajuda para se levantar.

— Não quero vodca, quero um cigarro — disse, com seriedade. Nicholas riu mais uma vez, desta vez pegando seu braço e lhe puxando para cima com cuidado. Bethany gemeu em protesto, mas acabou se colocando de pé.

As coisas giraram com força por um momento, fechou os olhos para recuperar o equilíbrio.

— Com o tanto que você bebeu, se acender um isqueiro provavelmente entra em combustão — disse Nicholas, e Bethany nem lembrava-se direito de como chegara ao carro dele, mas logo estava observando as luzes da cidade girarem em vultos coloridos, tudo passando muito rápido. Deitou a cabeça para trás, fechando os olhos para tentar conter o mal-estar e a tontura. — Tente não vomitar no meu carro. — A voz dele intercalava um tom de brincadeira com seriedade, Bethany riu.

Foi um borrão o momento em que se despediu de Nicholas e subiu as escadarias, sentindo-se exausta e zonza, se equilibrando nos degraus com dificuldade. Não surpreendeu-se quando abriu a porta do apartamento e encontrou sua mãe sentada no sofá da sala, lhe esperando.

Ela não nem um pouco satisfeita, levantou levemente as sobrancelhas quando lhe encarou.

— Então é assim que vai ser agora? — Bethany revirou os olhos e virou-se para seguir para o próprio quarto. Só queria tirar aquele vestido desconfortável, desabar sobre o colchão e deixar-se apagar pelo resto da noite.

Começara a se sentir levemente nauseada e exausta, seus músculos pesavam.

— Eu só quero dormir — murmurou, os pés se arrastando pelo tapete felpudo enquanto segurava as próprias sandálias na mão para atravessar a sala. É claro que sua mãe estava em sua frente antes que pudesse dar mais três passos, Bethany assustou-se com a rapidez dela.

— Você não pode desligar o celular e chegar em casa às três da manhã cheirando vodca, não sem me dar uma satisfação — disse, rígida e um tanto irritada. Bethany queria responder, mas a náusea que sentiu foi como uma pancada no estômago e na garganta, lhe fazendo se virar e correr para o banheiro, derrubando as sandálias no chão.

Vomitou boa parte do que bebera naquela noite, uma gosma avermelhada por causa do sabor da vodca. Sentiu as mãos de sua mãe segurando seu cabelo enquanto estava caída de joelhos e vomitava puro líquido.

Quando finalmente conseguiu respirar de novo, ofegante e com a garganta machucada, encostou no azulejo frio do banheiro. Sentia o corpo trêmulo e úmido de suor, provavelmente deveria tomar um banho, mas estava tão cansada que só queria ir para a cama e depois resolveria o resto.

Esperou por alguns segundos, só para ter certeza de que não vomitaria de novo antes de se levantar. Ainda com as paredes girando e estranhamente borradas, escovou os dentes e lavou o rosto, jogando os cabelos negros e curtos para trás na orelha.

— O que aconteceu? — Sua mãe lhe esperava na porta do banheiro quando saiu, ainda com uma mistura de preocupação e irritação. Continuou seguindo para seu quarto, sem conseguir aguentar uma discussão naquele momento.

— Está realmente perguntando isso? — irritou-se, sem se virar para encará-la.

— Você nunca fez isso. Beth, se houver algo errado... — A fala dela estava um pouco mais suave, como uma abertura, mas não queria conversar, não naquele momento. Foi para seu quarto e fechou a porta, jogando-se na cama e sentindo as coisas girarem ao seu redor, as paredes se alargarem e então voltarem ao normal.

Dormiu com as roupas que estava usando na festa.

« ♡ »

Acordou sentido-se péssima no dia seguinte. A luminosidade era quase dolorosa, seus olhos ardiam e a cabeça pulsava, os lábios estavam extremamente secos e os músculos cansados. Juntando tudo isso, o despertador parecia um martelo batendo no meio de sua testa.

Gemeu, o desligando. Havia ligado o celular quando acordara no meio da noite para ver as horas, mas agora não se passava das sete da manhã.

Se passaram alguns segundos em silêncio até que alguém abriu a porta, sem nem ao menos bater antes. Conhecia os passos de sua mãe, então a reconheceu mesmo antes de vê-la. Quando se virou, ela lhe esticava um copo de água com uma cartela de comprimidos.

— Tome isso, vai se sentir melhor — garantiu, e Bethany aceitou o copo de água com alívio, já que estava morrendo de sede. Acabou tomando o comprimido também, esperando que aquilo aliviasse a dor de cabeça infernal que sentia. — Quero te mostrar algo — disse ela, sentando-se na ponta da cama. Só então notou que, na outra mão, Sara segurava um ursinho de pelúcia. Bethany fez um esforço para se sentar, confusa. — Eric só dormia quando abraçava esse ursinho, andava com ele para todo lugar. Você lidava bem com pessoas desconhecidas, mas ele abraçava o ursinho e chorava como se estivesse se escondendo. — Bethany sentiu um aperto no peito ao perceber que o ursinho era familiar, que já havia o visto em uma foto na casa de seu pai. Ajeitou-se no lençol, encarando-a e observando o brinquedo como se fosse uma raridade. Sara tinha os cabelos escuros presos, deixando a mostra seus ombros e a postura perfeita de bailarina enquanto estava sentada na beirada da cama. — É uma das poucas coisas que eu quis guardar dele, todas as outras traziam memórias muito vívidas e era mais do que eu podia suportar. Quando Noah nasceu, encará-lo era como encarar Eric, sonhava que Noah estava no lugar de dele, tinha crises de pânico horríveis quando o segurava no colo — contou. Bethany não sabia o que dizer, como absorver tudo aquilo. Sua mãe nunca havia se aberto sobre aquele assunto, nunca havia se disposto a falar sobre Eric e o que acontecera com ele.

Bethany imaginava como seria se tivesse crescido com o irmão gêmeo, desejando ter alguma memória dele. Tinha dois anos quando ele morrera, não se lembrava de quase nada.

— Foi por isso que você se afastou? Por isso você e papai se separaram? — perguntou, rouca. Nunca entendera aquilo, nunca entendera por que ela aparecera tão abruptamente em sua vida. — Noah não se lembra, mas eu sim. Um dia, você apareceu do nada depois da aula, lembro que só te reconheci pelas fotos que papai mostrava. Eu já tinha sete anos, não tenho nenhuma memória com você antes disso — confessou, com cuidado e hesitação. Sabia que estava tocando em um assunto delicado, não queria perder a chance de saber mais sobre o que acontecera.

Lembrava-se das brigas. Lembrava-se de escutar as discussões no meio da noite e de não entender o que estava acontecendo, porque era óbvio que seus pais se amavam, então ficava se questionando por que eles se acusavam daquele modo, porque estavam sendo tão hostis.

Perdera as contas das vezes em que sua mãe viera dormir em sua cama no meio da noite, de quantas vezes a ouvira saindo com o carro de madrugada. Geralmente estava tudo bem no café da manhã, eles estavam abraçados e sorrindo um para o outro como se a discussão daquela noite não houvesse acontecido.

Também lembrava-se de uma noite em que ela havia saído de carro depois de uma dessas brigas. Normalmente dormia antes de ouvi-la chegar, mas, naquela noite, esperou acordada até ver o farol do carro. Quando ouviu a porta se abrindo, quando a viu entrando, agarrou o ursinho e correu escada abaixo para encontrar Sara.

Ela ficou surpresa quando lhe viu.

Bebê, o que faz acordada tão tarde? — Não soube exatamente como responder, mas lembrava-se do medo quando ouviu o carro se afastando, de como pensara no tempo em que sua mãe estivera ausente. Seu pai sempre lhe mostrara fotos dela, mas nunca tivera uma mãe de fato, não como as outras crianças.

Era estranho, todos pareciam ter uma figura materna a qual recorrer, mas era seu pai quem fazia esse papel. Até que ela apareceu.

Fiquei com medo de que você não fosse voltar confessou. Sara lhe abraçou forte naquela madrugada, foi a primeira vez que Bethany a vira chorar. Sentiu-se culpada porque não queria deixá-la triste, mesmo não entendendo aquelas lágrimas.

Eu sempre estarei aqui, docinho, sempre — ela sussurrou, e foi quando entendeu que todo aquele tempo longe também doía nela.

Foi quando aprendeu que poderia confiar nela, porque era Sara quem acordava no meio da noite para lhe fazer chocolate quente quando tinha um pesadelo, era ela quem lhe buscava na escola, quem lhe levava tomar sorvete e lhe deixava explorar toda a sessão infantil da biblioteca. Era dela a última voz que ouvia antes de dormir, quando lhe pedia para ler uma história. Ela nunca lhe decepcionava, sempre estava ali quando prometia que estaria.

Ouviu muitas brigas e reconciliações até que seus pais lhe colocassem no colo e dissessem que morariam em casas separadas.

— As coisas entre mim e seu pai nunca mais foram as mesmas depois que Eric morreu. Tudo ficou mais intenso e pesado, mesmo que tentássemos contornar a situação. Eu o amo muito, mas passei cinco anos fora e nunca vou me perdoar por isso, nunca vou conseguir compensar esse tempo. Não foi por causa de Noah, foi por minha causa — confessou Sara, com um leve suspiro. Ela parecia triste quando levantou o olhar, bem distante dali. — A verdade era que eu queria que vocês tivessem uma vida normal, que ficassem longe dos meus poderes e de todo o drama sobrenatural que me cercava. Eu estava lutando contra Lúcifer, não podia envolver vocês ou seu pai nisso. Passei esses cinco anos me dedicando a isso e, quando o derrotamos, eu voltei — explicou, baixando o olhar para o ursinho e o encarando com um ar cheio de nostalgia. Bethany sentiu o aperto no peito aumentar, um bolo na garganta.

Queria abraçá-la, mas também queria fazer mil perguntas.

— Por quê? Seus poderes... sempre foram parte de você. O sobrenatural sempre fez parte da nossa família — murmurou, perdida. Era quem eles eram. Estava costumada àquele universo desde criança, mas imaginá-los sem todas as habilidades sobrenaturais... Parecia estranho. Impossível de imaginar seus pais como pessoas comuns.

Sara hesitou, Bethany imaginou se havia perguntado algo errado. Por fim, ela se aproximou até que estivesse sentada ao seu lado na cama, próxima o bastante para que pudesse sentir o calor dela, o conforto familiar de seu perfume adocicado.

Bethany entrelaçou a mão na da mãe, ambas sobre o ursinho de pelúcia marrom. Ela hesitou um bom tempo antes de responder.

— Porque foi assim que Eric morreu. Lúcifer precisava dele para conseguir restaurar e conduzir seus poderes para a dimensão humana, consegui impedir que ele o usasse para completar a condução, mas não consegui salvá-lo a tempo. — A voz dela era um tanto cansada e magoada, Bethany absorveu as palavras como se fossem socos no estômago. Era tão cruel que as lágrimas brotaram automaticamente quando pensou no menininho bochechudo das fotografias, na criança risonha que via nos poucos vídeos que restavam dele. Eric era tão inocente e puro que só conseguia chorar por ele, sentir tudo dentro de si doer. — Não quero que vocês se envolvam porque não há limites ou lado bonito nisso. Se eu pudesse fazer uma escolha, se fosse simples assim, preferiria que vocês nunca precisassem lidar com tudo isso, que tivessem a vida mais humana o possível — complementou sua mãe, lhe abraçando ao notar as lágrimas em sua face. Escondeu o rosto no ombro dela, procurando algum conforto naquele abraço tão familiar. — Sinto muito ter escondido tudo isso, mas te contar a verdade é te envolver e tentei evitar ao máximo. Você não é mais uma criança, não posso te proteger para sempre, mesmo que eu tente. — Bethany pensou em Eric. Pensou em sua mãe e em tudo o que seus pais haviam passado. Não era de se surpreender que fossem tão superprotetores em certos aspectos, que Sara sempre exigisse que estivesse com o celular ligado, informasse onde estava e que ficasse afastada do Ouija ou de experiências sobrenaturais.

Ficou em silêncio por um tempo, sentindo as lágrimas nas bochechas, o toque suave do ursinho e o abraço de sua mãe, a segurança que ela trazia.

— Quando vocês me mostraram tudo aquilo, eu só consegui sentir raiva. Raiva porque não sabia quem vocês eram, quem eu era. Raiva porque me senti traída por quem eu mais confiava — falou, ainda sentindo uma certa aversão ao pensar em tudo o que eles haviam escondido, o quanto estava no escuro durante todos esses anos. Entendia os motivos deles para terem escondido a realidade, mas não concordava. — Raiva porque Ally está morta e provavelmente é minha culpa, raiva porque eu deveria ter feito algo — confessou, sem conseguir evitar as lágrimas que escorriam sem parar, a visão borrada que embaçava seu quarto. Era como um peso no peito, mal conseguia respirar. Sara percebeu e gentilmente afagou seus cabelos escuros, lhe abraçando com leveza.

— Meu anjo, não é sua culpa. Eu sei que é difícil de acreditar, que minha fala não muda muita coisa, mas, acredite, você não é a culpada pelo que aconteceu com Ally — disse carinhosamente, beijando-lhe a testa. Logo depois, ela limpou suas bochechas e lhe encarou com seriedade. — Sei que as coisas estão difíceis agora, mas prometo que melhora. Se não melhorar, porque eu sei que nem sempre é simples assim, estarei aqui para te ajudar e daremos um jeito — prometeu, e sua voz carregava tanta calma, força e confiança que não conseguiu duvidar. Retribuiu o abraço com força, soluçando fraquinho e enterrando a face no ombro dela, desejando desaparecer ali. — Eu preciso que você seja forte, tudo bem? Preciso que você me prometa que vai pegar mais leve, nada de se culpar ou beber até vomitar. — Bethany riu de leve no meio das lágrimas, voltando-se para ela e se ajeitando entre os travesseiros. Só agora percebia que usava o vestido desconfortável da festa, havia se esquecido de tirar na noite anterior.

— Se eu fizer isso de novo, você provavelmente nunca mais vai me deixar sair de casa mesmo — murmurou, ainda com a cabeça encostada no ombro dela. Sara riu, acariciando seus cabelos curtos e assentindo com a cabeça.

— Sim, pode até considerar estudar em casa — concordou, e Bethany riu fraco, sentindo-se exausta por algum motivo. Ajeitou-se nos braços dela de um modo que poderia ficar deitada nos travesseiros e abraçada a ela ao mesmo tempo. — Mas nada de festas até o final do mês, aliás. Se desligar o celular de novo, provavelmente ficará sem ele por um bom tempo. — complementou com seriedade. Assentiu, mas já estava fechando os olhos para tentar recuperar o sono perdido. Estava mal demais para ir à aula, talvez sua mãe soubesse disso, pois ficou acariciando seus cabelos em silêncio até que adormecesse novamente, com sonhos mais calmos.

« ♡ »

Talvez tivesse ficado muito impressionada com as palavras de sua mãe, talvez tivesse ficado com a imagem de Eric na mente, mas acordou com um choro de criança, uma voz infantil lhe chamando.

Tinha uma pronúncia esquisita, menos como Beth e mais como Be-ti, como se fosse realmente uma criança lhe chamando. Era a mesma maneira que Noah lhe chamava quando criança.

Sentou-se com o coração disparado, o peito subindo e descendo quando olhou ao redor, procurando por algo, quase chamando por Eric. Demorou alguns segundos para perceber que o som havia desaparecido, não havia ninguém lhe chamando ou chorando.

Ainda zonza, se levantou, desconfortável. Achava que podia vomitar de novo a qualquer momento, mas a dor de cabeça havia desaparecido.

O apartamento estaria vazio se não fosse pelas vozes que ouvia na cozinha, então seguiu até lá, descalça e com o vestido todo amassado no corpo. Sua mãe e sua tia conversavam em um tom baixo e tenso, como se fosse um segredo.

Permaneceu ao lado da porta, onde não poderia ser vista.

— Clarissa tinha razão, a marca voltou ao pulso dela — disse Sara, com os olhos fixos na xícara de café em suas mãos. Ela estava distante, o que significava que estava pensando em algum problema e tentando achar a solução.

Bethany conhecia bem aquele olhar.

— Talvez possamos tentar algo juntas, ou... — sugeriu Naomi, colocando os cabelos loiros atrás da orelha. Seus olhos azuis brilhavam em um tom preocupado, Bethany se perguntou sobre o que a tia estava falando.

Bethany olhou para a marca em seu pulso, se dando conta de que estavam falando sobre ela. Não sabia o que significava, mas se a de sua tia era como um alarme para criaturas demoníacas...

— Não acho que funcionará. Se nem Clarissa conseguiu removê-la, duvido que nós consigamos. — A voz de sua mãe lhe chamou atenção. Clarissa. Aquele era um nome novo que ainda não havia escutado.

— Então qual é o plano? — Naomi estava hesitante, Sara parecia frustrada enquanto bebia o café. Estava exausta.

— Adiar o máximo possível até o final do mês, ganhar tempo e aproveitar o prazo — disse, e Bethany franziu as sobrancelhas. Queria dizer que algo aconteceria ao fim do mês, motivado pela marca? — Ainda não sabemos por que ele precisa tanto de mim. — Queria ter entrado na cozinha e perguntado sobre aquilo, exigido saber o que era aquela marca em seu pulso, mas precisou correr para o banheiro e vomitar antes que pudesse pensar em qualquer coisa.  

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