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II. Não confio em demônios

Música indicada: Running With The Wolves

C/D

Sua cabeça ainda dói quando Teodora abre os olhos confusa, mas bem menos que anteriormente. Reconhece a armação azul marinho de sua cama acima de si, mas seus miolos fritam e ela geme alto tentando se sentar com as duas mãos das têmporas.

— Sai da minha cabeça — grita, furiosa, deitando-se novamente e se encolhendo com as pontadas. — Por favor — implora em prece, sentindo o rosto se molhar pelas lágrimas e a sensação eminente de que vai morrer.

— Ficará menos doloroso com o tempo — explica a voz grossa e conhecida de Azazel. — Quanto antes conseguir se manter acordada, mais rápido vou embora — informa, sentado na poltrona preta exatamente à esquerda da cama. Ela ergue os olhos claros e molhados até ele, que veste um paletó preto de tecido fino.

— O que você quer? — Sussurra, um segundo antes de soltar um alto e agudo grito e pressionar os olhos de dor quando Azazel tenta tocá-la novamente.

— Teodora, olhe para mim — pede, mas tudo que ela enxerga são pequenos lapsos enquanto tenta manter os olhos abertos. — Sei que está doendo, mas lembra de mim? — Ela balança a cabeça negativamente e ele afasta a mão. — Sou Azazel — sussurra o que ela não sabe como já tinha conhecimento. — Salvei a sua no deserto, logo que saiu — explica enquanto Teodora o encara com as sobrancelhas tensionadas. — Esse ano é um fractal, sua energia está muito mais forte e por isso em vim. Preciso que encontre algo para mim. Um favor.

— Não. — Teodora fala com uma voz fina pouco ouvida por Azazel. — Não lembro de você, não exatamente como fala. Tenho imagens em minha memória — repassa as visões aterrorizantes dele em sua cabeça. Odeia esses pensamentos. Parecem fora da realidade. — Não como um salvador. A criatura que nos salvou — tenta relembrar o dia que em questão, mas só recorda de que as asas da criatura eram negras. — Não tinha asas brancas — declara por fim.

— Eu salvei vocês — reafirma ele, encostado na cadeira. — Mas, se não é motivo suficiente para o favor, posso fazer com que demônios te encontrem por aqui, assim como a encontrei; ou garantir que nunca cheguem perto. Sua escolha — joga a oferta na mesa, mas não existe uma escolha real.

— Não quero que me encontrem — decide ela pelo acordo sem ao menos perceber. — O que quer?

— Nesse ano, uma coisa muito importante para mim vai reaparecer e você vai pegar para mim — fala, se levantando e caminhando até o espelho dela. Quanto maior sua distância, menor a pressão na cabeça da mulher. Azazel arruma seu paletó enquanto se olha. Admira-se. — Só isso.

— O que é? — Pergunta ela, conseguindo se sentar.

— Daqui a cento e cinquenta e quatro anos, vocês poderão ser livres do inferno para sempre, mas preciso dessa única coisa par iniciar tudo — vira-se para Teodora, a fazendo levar as mãos à cabeça novamente.

— Não faz sentido — ofegante, fechando os olhos logo depois. Tenta pensar, mas é quase impossível. — Quem é você? — Ele sorri, passa as mãos pelo paletó.

— Vá para a Inglaterra e espere pelo demônio chamado Pitt, ele vai te entregar — instrui rápido demais, ela mal acompanha seu raciocínio.

— Não confio em demônios — diz alto, enquanto toda a sua testa se molha de suor que chega a escorrer por todo o seu corpo. — Não vou a lugar nenhum — determina, mas Azazel não parece abalado com sua rebeldia.

— Não vai voltar para o inferno, Teodora — Azazel deita sua cabeça levemente para a direita. A mulher para de gemer por um instante e o encara. — O demônio vai te ajudar. Você e o outro fugitivo — sorri quando ela abre a boca surpresa. — Acha que não sei dele? Já está a caminho — sussurra. — Pitt vai estar com Lorenzo e tenho certeza de que quer vê-lo de novo — conclui. — Não quer?

— Isso não existe isso — engole em seco. Sua voz é fraca e baixa. — Se eu encontrar Lorenzo novamente, vão nos pegar — sussurra, repleta de medo.

— Demônios cortam a energia de fugitivos, assim como eu — informa, abrindo suas asas enormes e brancas, destruindo todos os potes de vidros na penteadeira ao lado. — Vou voltar Teodora, no próximo fractal. Pegue o que preciso e garanto sua liberdade eterna. A dos dois.

— Você é um demônio? — Pergunta, ele ergue as sobrancelhas.

— Mate a classificação de demônios e anjos que tem na cabeça — pede, respirando fundo e erguendo o queixo. — É historinha de criança. Nenhum dos dois existem, afinal, não é? — Ironiza, dando um passo até a janela. — Mais uma coisa, Teodora. Não pense que pode esconder o que quero de mim.

Ela continua o olhando séria, desconfiada, mas com um sentimento de desejo indescritível de fazer o que ele manda. O ser ultrapassa a janela de cortinas verde escuro aberta, para onde a mulher olha com os olhos arregalado o causador de sua dor sumir no céu nublado. Não se lembra a última vez que sentiu tanta dor e pânico. Suspira antes de começar a chorar, assustada, se tremendo.

Há meio século não vê Lorenzo. Mas, seja lá o que Azazel quer, sabe que vai fazer para libertar ela e a pessoa que mais ama no mundo do inferno para sempre.

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