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sei

Meu coração parece que pode sair do meu peito a qualquer segundo. Ele bate depressa, o ritmo parecido com o de minha perna que balança sem parar, uma evidência da minha clara ansiedade.

Respiro fundo e ergo o olhar da pulseira fina de ouro em volta do meu pulso, que venho girando desde que cheguei a essa sala, e ergo o olhar, meus olhos analisando todo o ambiente ao meu redor.

As paredes ao meu redor são revestidas por painéis de madeira que deixam o ambiente mais escuro e até assustador, há uma mesa de apenas um tom mais escuro a minha frente com uma cadeira de estofado preto do outro lado dela, a mesma cor do pufe em que estou sentada. Reviro os olhos, me sinto uma criança sentada em um pufe, mas sei que ele e os outros dois ao meu redor, estão aqui como uma forma de inferiorizar os convidados.

A sala não passa um pingo de conforto, pelo contrário, faz querer que qualquer pessoa que passe pela porta queira sair correndo, mas são as fotos na parede a minha frente que deixam minha ansiedade ainda pior.

A parede é cheia de quadros, fotos e recortes de jornal em preto e branco, todos remetendo a maravilhosa instituição a que pertenço, essas fotos deveriam me deixar orgulhosa ou algo do tipo, mas é o extremo oposto, principalmente a foto exibindo todos os integrantes, eu ao lado da bela mulher loira ao centro.

— Ei. – Dou um pulo no lugar, meus olhos se arregalam em direção a porta de onde a voz veio, mesma voz que agora gargalha de minha expressão – Qual foi? Sonhando sozinha? – Bufo.

— Só se for um pesadelo. – Solto um suspiro quando o vejo fechar a porta, desvio o olhar para frente e cruzo os braços quando o ouço se aproximar.

— Essa cara de bunda é para mim?

— Não se sinta privilegiado, ela é dada para várias pessoas. – Ele solta um riso, o som abafado soa perto de meu ouvido e me faz virar para o encarar, próximo demais, meu coração volta a acelerar.

— Você sabe como essa frase saiu errada né? – Reviro os olhos e desvio o olhar, o ouço suspirar. – Não precisa ficar nervosa.

— Fácil falar quando não foi você que foi chamado aqui, na verdade... – Me viro na sua direção. – O que faz aqui?

— Adivinhe? – Ele abre um sorriso. – Ela me mandou aqui.

— Por que? – Ele suspira, o ar de graça deixando seu rosto.

— Surgiu um problema de última hora e ela mandou te passar o recado. – Solto todo o ar que estava segurando.

— Pelo menos você eu consigo...- Mordo a língua antes que diga ''olhar nos olhos'', o que seria uma mentira – Respirar direito. – Ele solta um riso e se levanta do pufe, acompanho-o em silêncio, meu olhar só desviando de sua bunda quando ele se vira para me olhar.

— Per l'amor di Dio bionda, seja discreta. – Sinto meu rosto esquentar enquanto ele parece se divertir horrores.

— Cale a boca Romeo. – Resmungo enquanto me levanto, ele fuça em alguns papeis em cima da mesa e quando volta a me olhar, assumiu o papel que é pago para fazer.

— Ela te passou um trabalho. – Franzo a testa, curiosa e surpresa.

— O mesmo de sempre?

— Não – Ele engole em seco e coloca uma pasta sobre a mesa, aproximo-me da superfície de madeira. – É completamente diferente, e não é na Itália.

Após sua fala, tenho medo de abrir a pasta, cujo nome na capa se refere a alguma universidade, então ergo o olhar e sinalizo para que ele me diga. Romeo se encosta contra a mesa e cruza os braços.

— É em Suvellié, na ilha de Piena.

— Piena? Isso existe?

— É próximo daqui, e tem uma das melhores universidades da região, a SMD.

— SMD. – Repito.

— Sacro Mantello Di Dio, onde você vai começar a estudar na próxima semana.

— O que? – Solto em um grito. – Mas que porra é essa?

— Que tal você me deixar terminar de explicar tudo e depois faz todas as perguntas? – Tenho vontade de o mandar a merda, mas mordo a língua e espero-o. - Há uma pessoa que ela vem procurando a anos por todo o país e finalmente encontrou em Suvellié, uma cidade pequena na ilha de Piena, o problema é que ela não pode entrar nessa cidade, não sem ser reconhecida, então decidiu mandar um de nós para lá, no lugar dela.

— E o que a SMD tem a ver com isso? E por que eu? – Romeu revira os olhos pela minha interrupção, mas qual é, ele deveria estar acostumado com isso.

— Não sabemos onde essa pessoa mora, a única coisa que sabemos é que frequenta e tem contatos dentro da SMD, por isso, ela precisa de alguém que possa entrar nessa universidade e passar despercebido como aluno, e obviamente, você é nossa melhor escolha. – Dá de ombros.

— Ok, então querem que eu entre em uma universidade para achar alguém e só?

— Sim, nos passe o que descobrir sobre e o resto deixa com a gente. – Solto uma risada e nego com a cabeça.

— Realmente vão me mandar para a cova sem eu saber no que eu to realmente me metendo? Acha realmente que vou topar isso?

— Primeiro, você não tem escolha, é uma ordem dela, e você sabe o que acontece quando não respeita as ordens dela – O riso em meu rosto morre – E segundo, eu sei tão pouco quanto você, ela não me disse mais do que o necessário. – Respiro fundo e passo as mãos pelos cabelos, tentando raciocinar.

— Ok, quem é essa tal pessoa? – Ele acena para a pasta.

— Abra e veja. – Minhas mãos deixam meus fios longos loiros e caem para a pasta, tomo uma grande lufada de ar antes de abri-la.

Um garoto estupidamente bonito sorri para mim. Ele está com uma beca de formatura na foto, alguns fios de cabelo preto escapam pelo capelo preto com uma fita azul e quase cobrem suas sobrancelhas grossas acima de olhos castanhos claros que, junto com seu sorriso com uma pequena covinha no queixo, me hipnotizam por alguns segundos.

Ouço Romeo limpar a garganta duas vezes antes de eu desviar o olhar do sorriso do garoto e encontrar seu nome escrito na parte de baixo da foto: Dante Bianchi.

— Dante Bianchi – Repito o nome e ergo o olhar. – É ele essa tal pessoa?

— Não, é o cara da foto debaixo – Tiro a foto de Dante da frente e vejo um homem cujo a aparência é um pouco parecida com a do garoto. – O pai dele, Daniel Bianchi.

— Deixa eu adivinhar, Dante estuda na SMD e para chegar ao pai preciso me aproximar dele – Fecho a pasta, não querendo voltar a ser capturada pelos olhos castanhos, pelo amor de Deus, é só uma maldita foto. Romeo assente com a cabeça – Ok, fácil. – Ele solta um riso e nega com a cabeça.

— Ah não, eu deixei o melhor para o final – Ergo as sobrancelhas. – Daniel Bianchi é líder de uma gangue, os Ghostins, eles contrabandeiam armas, são donos de bordeis, assassinos de aluguel se contratados, mas o forte deles é o tráfico de drogas na SMD, uma droga própria deles, luccichio.

— O pai do garoto é um maldito capo e vocês acham que eu, uma desconhecida, vou conseguir tirar alguma coisa dele?

— Talvez não diretamente dele – Ergo as sobrancelhas. – Tem uma garota, uma tal de Anabela Coppola, pelo que descobrimos, ela tem algum tipo de ligação com Dante e seus amigos e para sua sorte, ela acabou de ser transferida de quarto e precisa de uma companheira.

— Então eu preciso me aproximar dessa Anabela, para me aproximar de Dante, para chegar a Daniel Bianchi? – Nego com a cabeça. – Isso não vai dar certo.

— Tem que dar.

— Para que afinal? Matar Daniel e assumir o comando da gangue dele como ela já fez tantas vezes antes?

— Fizemos tantas vezes antes, não tire nosso mérito bionda. – Reviro os olhos.

— Tanto faz, é para isso?

— Sinceramente? Eu não sei – Solto um bufo incrédula – É sério, pode ser que sim, mas se fosse, ela provavelmente falaria, então talvez não seja... – Ele dá de ombros – Não sei, acho que pode ser algo pessoal.

— Pessoal? Tipo o que? – Ele volta a dar de ombros.

— E eu sei lá? Quem convive a mais tempo com ela é você

Desisto de argumentar com Romeo e volto o olhar para a pasta exibindo a fotos dos dois, pai e filho, na verdade, ele não se parece muito com o pai, apenas pelos olhos idênticos. Eu nunca ouvi falar de nenhum Daniel ou Dante Bianchi, Romeo está errado, na verdade, acho que ele sabe mais sobre ela do que eu.

Ergo o olhar quando sinto sua mão em meu braço, seu rosto está próximo do meu e paro para o analisar, seus olhos verdes esmeralda me olham com preocupação, seus cabelos loiros escuros na altura das orelhas estão presos para trás, o que é decepcionante, e seus lábios pálidos, contrastantes com sua pele bronzeada, estão apertados em uma linha fina.

Sinto meu coração acelerar quando sua outra mão, a que não segura meu braço, sobe para meu rosto e acaricia minha bochecha, esse simples gesto quase me faz desabar no chão, mas tento fingir que não sinto nada, que não sou mais atingida por ele.

— Sabe, se você não se sentir bem para assumir esse trabalho, posso conversar com ela e...

— Não – O interrompo e dou um passo para trás, precisando de espaço, caso contrário, posso tomar decisões estupidas, mais delas – Eu quero, eu... preciso sair daqui um pouco, conhecer pessoas novas e... quem sabe com isso ganho de volta a confiança dela? Além do mais, finalmente vou poder estudar em um lugar comum! – Ele franze a testa.

— Não tome decisões por comentários estúpidos ditos em momentos errados. – Ergo as sobrancelhas.

— Você quem disse que seria bom se conhecêssemos outras pessoas, e o momento parecia perfeito sabe, logo após nos flagrarem-

— Não precisa repetir, eu me lembro muito bem do que aconteceu – Romeo respira fundo e quando ameaça dar um passo à frente, dou outro para trás, isso o faz suspirar. – Mas não fuja daqui por causa disso, eu já disse a você que me arrependo e...

— Desculpe, mas tenho que memorizar tudo o que está escrito aqui – Puxo a pasta na minha direção, o movimento faz a foto de Dante se soltar, mas a pego no ar, antes que vá ao chão. – E não tenho tempo para conversas estupidas então depois nos vemos.

Não espero Romeo dizer mais nada, saio correndo da sala e fecho a porta com força atrás de mim, olhares vem em minha direção, mas apenas os ignoro e fujo para meu quarto.

Segura nas quatro paredes que costumavam serem rosas cheias de borboletas, mas hoje não passam de um branco sujo sem nenhum enfeite, jogo a pasta sobre a cama e sento ao lado dela, então, olho para a foto de Dante, agora amassada em minhas mãos.

— Você finalmente me fez sair daqui – Sussurro e abro um sorriso pequeno. – Quem sabe um dia eu te diga obrigado – Franzo o nariz. – Isso se eu não destruir sua vida primeiro.

Per l'amor di Dio bionda – Pelo amor de Deus loira

Não acabou por aqui, vejo vocês amanhã às 19!

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