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Minha mente vagou por todos os piores locais possíveis durante o último minuto, até eu tomar coragem e erguer a cabeça para responder a pergunta de Dante.
— Não, não quero que vá - Respiro fundo - Duas cabeças pensam melhor que uma, pelo menos eu espero. - Dante abre um sorriso, mas seus olhos espelham seu receio.
— Alguma ideia do que fazer? - Balanço a cabeça e caio na cama.
— Agora só consigo pensar em meter o pé daqui, é questão de tempo até nos acharem aqui, na verdade... - Olho pela janela e franzo o cenho. - Samuel sabe que vivo aqui.
— E só tentou te matar agora? Ou ele só queria me matar ou-
— Quis pegar dois coelhos com uma cajadada só - Resmungo e me levanto. - Arrume suas coisas, precisamos ir.
— O que? - Sinto o olhar de Dante em mim enquanto puxo minha mala do armário - Pra onde vamos? - Coloco a mala em cima da cama e bufo para afastar os fios de cabelo que caíram em frente ao meu rosto.
— Não sei - Franzo o rosto, tentando pensar - Sei lá, Estados Unidos? - Dante ri.
— Não posso entrar lá - Ergo as sobrancelhas, mas ele não responde. - Você quer fugir? Sabe que eles virão atrás né? - Solto um suspiro com três cabides de roupas na mão.
— Sei - Jogo o cabide com as roupas em cima da mala de viagem. - Alguma ideia então?
— Qual é Zoela, você não é do tipo que foge de brigas - Cruza os braços e me olha sério. - Vamos ir atrás dos nossos problemas, já fugimos uma vez, eles esperam que façamos de novo, e não que corremos até eles.
— Está sugerindo irmos para Suvellié?
— Descobrimos o que tem nos galpões que meu pai deixou para mim, e depois damos um fim nos contratos e nos livramos de Filipo, da polícia, do juiz e livramos o meu irmão.
— E Samuel? A Regno?
— Pensamos em uma forma de acabar com eles também.
— Como se fosse fácil - Abro a mala e jogo todas as roupas que vejo pela frente, dentro - A gangue é mais velha que eu e você juntos, eles tem contatos e são perigosos pra caralho, não tem como queimar contratos e resolver tudo.
— Eles não tem contratos oficializando o território?
— Até tem - Guardo as coisas do banheiro na mala. - Mas a Regno é respeitada pra caralho, tem muitos aliados, eles não ligam pra contratos, só é uma tradição que não vale nada.
— Então... matamos o líder? - Paro o caminho das minhas roupas íntimas pra mala e encaro Dante. - O que?
— Eu não vou matar ninguém Dante, e se quiser minha ajuda, você também não irá. - Ele solta um riso pelo nariz.
— Você diz isso porque nunca passou por um momento em que sua vida ou a de outra pessoa estivesse em risco.
— Já matou alguém Dante?
— Você já?
— Não! - Minha voz sai alto pelo insulto que sinto.
— Bem, nem eu, mas já atirei em alguém, e sinceramente? Preferia ter matado-o do que imobilizado. - Engulo em seco, sem saber como reagir.
Quero dizer, eu já vi pessoas levarem tiros e morrerem, já peguei uma arma na mão e fui ensinada a atirar, mas matar alguém? É demais pra mim, só de ver sangue eu quase desmaio. Além disso, Dante é uma das pessoas mais... felizes que conheço, nem sabia que ele poderia ficar triste, e ouvi-lo falar isso, com tanta convicção e com o rosto sombrio é... estranho, e não um estranho bom.
— Depois pensamos nisso, agora arrume suas coisas, e tire o sensor da porta, e qualquer outra coisa que possa nos ferrar.
Dante resmunga algo, mas se levanta e o vejo guardar os papéis dentro de sua mochila enquanto eu guardo meus sapatos, e discretamente, alguns documentos, em outra mala.
— Você não trouxe muitas roupas né? - Pergunto, notando que nos dias em que esteve aqui, só o vi com a mesma calça moletom e quando saiu comigo, com a mesma calça jeans de quando chegou, ele também passava mais tempo sem camisa do que vestindo uma também.
— Três blusas, um casaco e duas calças. - Ergo as sobrancelhas.
— Cuecas?
— Uma - Quase engasgo. - Não me olhe assim, eu a lavava todo dia na pia e deixava secando enquanto dormia.
— Tá me dizendo que você lavava sua única cueca na pia que eu escovo os dentes e às vezes bebo água? - Prefiro esquecer a parte que ele vem dormindo sem cueca, porque eu já o vi tirar a calça por debaixo do cobertor a noite. - Ok, nós vamos parar em uma loja no meio do caminho e você vai comprar roupas, roupas descentes, não é porque você é um fugitivo que tem que se vestir mal.
— Falou a garota que só usa saltos, e que aposto que perdeu um enquanto fugia do cara da biblioteca. - Fecho o zíper da última mala com força.
— Corte seu cabelo também e faça essa barba, você está um lixo. - Me levanto e vejo ele com a boca aberta, ofendido, reviro os olhos e pego minha bolsa.
— Onde você vai?
— Trancar meu curso, passar meu cargo no jornal - Meu coração dói, tanto esforço sendo jogado no lixo. - E me despedir de minhas amigas.
— E eu? - Olho-o de cima a baixo e abro um sorriso.
— Faça o que eu mandei, idiot.
— Eu sei inglês, stupid.
Sinto que corri uma maratona. Preferi ir para a BNU a pé, achei que seria mais fácil de me esconder caso precisasse, e resolvi tudo que era necessário no jornal e com a matricula, o mais rápido possível, e sempre tentando ver se estava sendo vigiada. Terminei no horário do almoço.
Respiro fundo e paro próximo na entrada do refeitório, doeu ter que largar o futuro que estava conquistando com o jornal, mas pensar em dizer adeus para Emma e Jade... porra, sinto vontade de chorar, eu nem sei se um dia as verei de novo. Uma garota passa por mim e abre a porta e ouço os gritos vindo da mesa dos jogadores do time de futebol, a mais próxima da entrada e também a mais lotada, eu fugi o dia todo de Samuel, mas esqueci que ele poderia estar aqui, no local mais óbivo possivel.
— Foda-se, esse idiota não vai me impedir de me despedir. - Empurro a porta e sou recebida pelas gritarias do refeitório.
Ouço meus saltos batendo no piso, mesmo que seja impossivel ouvi-lo sobre o som das conversas, e meu coração batendo em meu ouvido. Não consigo evitar passar apressada pela mesa dos jogadores, e olhar pelo canto de olho, procurando Samuel, felizmente não o encontro.
— Oi - Ocupo o lugar vago na mesa das garotas, interrompendo alguma conversa entre as duas. - O que perdi?
— O pente de cabelo pelo visto - Jade me olha com o cenho franzido, levo as mãos aos cabelos, os sinto uma zona - O que te aconteceu? Levou choque do chuveiro? - Solto um resmungo de dor e deslizo pela cadeira, quem me dera fosse isso. - Zoe?
— Acho que vou ter que sair da cidade por um tempo.
— Espere - Jade larga os talheres e se inclina em minha direção. - O que? Sair da cidade? De Bringhte?
— Do país na verdade. - Murmuro e fecho os olhos.
— Zoe - Ouço Emma falar com cautela, abro os olhos e a olho - Eu sei que você curte mistérios e não gosta de contar para nós sobre sua vida, mas somos suas amigas, amamos e nos importamos com você - Engulo em seco, não chore, não chore, não chore. - E você não parece bem a algum tempo, se tem algo acontecendo, algo que a está te deixando...
— Perdida - Jade completa. - E caótica.
— Nos conte, por favor, podemos ajudar.
— Está nos machucando ver você nesse estado a meses e não conseguir fazer nada para a ajudar. Se for algo sobre Samuel, posso falar para Bryan ou Luke... - Uma risada rouca e sem vida escapa de mim, a interrompendo.
— Acredite, Samuel é o menor dos meus problemas - Melhor lidar com ele do que com a lider da Regno. - Na verdade, ele vem tornando meu problema insuportável, mas consigo lidar.
Apesar de todo o problema em que me meti, Dante é o que mais me deixa irritada, além dele ter trazido um novo problema para mim, é difícil pra caralho lidar com ele, e eu estou acostumada a lidar com tudo sozinha, as vezes em grupo como com os Ghostins, mas só eu e Dante...
— Do que está falando? - Jade pergunta.
— Não acho que vocês possam me ajudar. - Aviso, eu nem quero que elas tentem.
— Bem, tente. - Emma incentiva.
Fico em silêncio por alguns segundos, pensando no que contarei, nada que as deixe com medo ou traumatizadas. Me inclino para frente, apoio meus braços na mesa e as olho, vejo quando elas notam o clima pesar. Diminuo o tom de voz, passando para um sussurro:
— Lembram quando contei sobre um garoto com muitas bagagens no meu passado?
— Vagamente.
— Bem, o nome dele é Dante Bianchi, ele está na cidade, e para piorar, trouxe todas suas bagagens junto consigo, e não no sentido literal.
Emma e Jade ficam em silencio, sem saber o que dizerem. Emma é a primeira a falar;
— Então esse... Dante Bianchi - Solto um riso pelo seu sotaque pronunciando com dificuldade o nome de Dante - Ele era daquela sua cidade de nome esquisito - Assinto. - E vocês namoravam?
— Que? Não! - Reviro os olhos e me afasto da mesa. - Não mesmo.
— Então ele é...?
— Hm, lembram da gangue e assassinos que eu ajudei a prender? - Elas assentem - Ele era uma das pessoas que me ajudou a prender, ele é irmão do namorado de Anabela, minha... amiga.
— E por que ele está aqui? E porque não contou? - Jade pergunta.
— Ele veio pedir ajuda, e... ninguém sabe que ele está aqui, e nem devem saber - Emma ergue as sobrancelhas - O motivo é complicado e eu prometo que um dia eu conto, mas não tenho tempo agora. - Me levanto e as duas se erguem em sincronia, confusas.
— Onde você vai?
— Ir embora, eu realmente preciso ir.
— Mas... - Um voz, maldita voz, interrompe Jade.
— Ei loirinha - Fecho as mãos em punhos quando ouço a voz de Samuel atrás de mim - Precisamos conversar. - Respiro fundo antes de me virar em sua direção.
Ele está vestido todo de branco, do tronco aos pés, por debaixo da jaqueta do time, mas o que chama minha atenção é o colar em seu pescoço. Samuel abre um sorriso de canto quando percebe meu olhar no pingente, tenho vontade de lavar minha boca com alcool ao lembrar que já o beijei.
— Não, não precisamos, e espero que não faça nada estupido no meio de um monte de possiveis testemunhas. - Pego minha bolsa em cima da mesa e me apreço em sair, batendo em seu ombro para tira-lo de meu caminho.
Só percebo passos me seguindo quando já estou descendo as escadas que levam ao gramado, diminuo meus passos ao perceber que são Jade e Emma.
— O que foi aquilo? - Jade pergunta, ofegante.
— Uma dica: se afastem de Samuel, e peçam para os garotos se afastarem dele também.
— Chega dessa merda - Meu braço é segurado e paro próximo ao estacionamento, me viro para Emma, que é quem o segura - Fale a verdade, não somos crianças Zoe.
— É, eu sou bem grandinha. - Jade afirma.
Olhando seus olhos castanhos, me lembro da garotinha que conheci quando cheguei aqui, a única que não me atacou por causa do caso, e que definitivamente cresceu, porra, Jade cresceu. Passo os braços ao seu redor e a abraço, Jade é a doçura em minha vida, ela quem trouxe a inocência que nunca tive em minha vida, mesmo que ela não seja mais tão inocente assim, mas ainda tem um coração gigante.
Emma, atrás de Jade, me encara confusa, e sorrio, sentindo meus olhos marejarem, ela quem me manteve forte enquanto eu tentava não me culpar por abandonar as pessoas mais importantes para mim, a garota que nunca desistiu apesar da má sorte como ser perseguida por um cachorro.
— Itália. - Emma murmura. Respiro fundo e me afasto de Jade, vejo a preocupação espalhada em todo seu rosto.
— Aquelas pessoas de Suvellié, as pessoas ruins, voltaram a fazerem coisas ruins - Resumo - E Dante veio pedir minha ajuda, vou ajuda-lo.
— Isso é perigoso Zoe, tem certeza que quer ir?
— Tenho que ir - Respondo Jade - Isso me envolve também, e ficar, além de não poder, poderia prejudicar eu e até voces, e não posso permitir isso. - Emma suspira.
— E a dica sobre Samuel?
— Ele não é bom.
— Desculpe por incentivar você a tentar algo com ele.
— Por favor Emma, você fez querendo ajudar, e me ajudou, apesar de tudo. - Ela abre um sorriso.
— Então... quando você volta?
— Eu não sei - Jade abre uma careta - Mas mando noticias, eu prometo.
— Foi mal Zoe, mas duvido muito disso - Abro a boca, tentando argumentar contra Emma, mas desisto, ela tem razão. - Espero que-
Uma buzina de carro a interrompe e nos viramos, encontro meu jeep branco parado no estacionamento e vejo Dante esticando a cabeça pela janela.
— Andiamo Zoela.
— Devo supor que esse é o italiano. - Emma fala mais atrás de mim e ouço Jade soltar um riso.
— Ele é bonito.
Jade acena para Dante e daqui, consigo ver seu sorriso arrogante se abrir no rosto limpo, ele deve ter seguido meu conselho, já que o cabelo fora raspado.
— Tenho que ir - Me viro para elas, acabo vendo Samuel no topo das escadas nos encarando, desvio o olhar para elas e abro um sorriso - Obrigada por terem gostado de mim, me aceitado e me feito muito feliz - Abraço Emma - Continue sendo essa garota forte que é, não desista de nada por causa desse azar idiota - Quando me afasto, vejo seus olhos lacrimejando, como os meus devem estar agora. Me viro para Jade - Abrace Lib por mim e agradeça Javier por todos os feriados e vezes que me fez me sentir da família. Foi uma honra te ver crescer Jade, e tenho muito orgulho de voce, se Luke fizer alguma merda, o chute bem no saco - Jade ri enquanto me afasto, minha garganta doi pelo choro que seguro. - Amo voces.
— A gente também te ama italia, e tem orgulho de você. - Abro um sorriso para Emma, triste, elas não sabem metade de quem sou.
— Tome cuidado, por favor, e qualquer coisa que precisar, estaremos aqui. - Assinto com a cabeça e dou um ultimo abraço nas duas.
Dante buzina de novo, uma buzina mais longa dessa vez, aposto que viu Samuel. Ajeito a bolsa no meu ombro e antes de me virar, encaro Samuel, com o melhor olhar ameaçador que tenho, felizmente, algo me diz que ele virá atrás da gente, e não mexerá com nenhuma das duas, é isso que me faz ir pro carro com o coração mais tranquilo.
Assim que entro e fecho a porta, Dante dá a ré com o carro e sai do estacionamento, nem esperando eu botar o cinto.
— O que ele fazia ali? Ele tentou algo?
— Não, ele não é idiota de tentar no meio de um bando de gente, ou das garotas. O que faz aqui?
Viro o rosto em sua direção e fico surpresa. Seu rosto ainda tem um pouco de barba, mas está aparada e molda bem seu maxilar, ele veste uma blusa inedita, verde musgo, e a mesma calça jeans azul surrada com que veio, o cabelo está mais curto, raspado, quase em um estilo militar, mas não chega a ser rente a cabeça. O visual o deixou com cara de mais velho, e também de alguém decidido.
— Um cara invadiu o quarto.
— O que?
— Tive que dar uma chave de braço nele, até desacorda-lo, então, peguei minhas coisas, suas coisas e vazei de lá antes que mais alguém surgisse - Ele me olha - Com seu carro. - Solto um suspiro.
Dante pega a avenida principal, deixo minha bolsa no banco traseiro, ao lado de sua mochila e me viro para frente, coloco o cinto.
— Então, é um dia de carro até Suvellié - Dante da será para a esquerda, seus olhos sempre procurando algum carro atrás de nós - Acha melhor trocarmos o carro pelo caminho.
— Não - Murmuro, me sinto avoada, sem acreditar que vou embora, que não sei quando verei as meninas novamente. - Já perdi meu curso, minha vaga do jornal, minhas amigas, não vou perder a porra do meu carro também.
— Okay... - Ouço a voz de Dante receosa - Então, melhor começar a pensar no que faremos em Suvellié, e em que desculpa vai inventar pra Ana quando a ver.
— Nós vamos atrás de sua família? - Olho para ele, o vejo dar de ombros.
— Não, mas com certeza, eles vão vir atrás de nós.
idiot/stupid - idiota em ingles e italiano, respectivamente
Fico por aqui dizendo que logo algumas pessoas de Suvellié vão aparecer...
Até o próximo ;)
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