quattro
Olhares vem em minha direção a cada "toque toque" gerado pelo meu salto enquanto atravesso o corredor do prédio central da SMD em direção ao jornal. Há poucas pessoas no corredor, já que todo o andar é destinado apenas as salas dos clubes da universidade, e a maioria de seus membros já está dentro delas.
Paro em frente à porta dupla, a metade de cima com uma janela tampada por uma persiana e com o nome "sacro notizia" estampado em ambos os vidros. Respiro fundo, passo as mãos sobre a roupa e então bato na porta.
Alguns segundos depois, um garoto de cabelos pretos caindo pela testa e incomodando seus olhos por trás dos óculos de grau, a abre. Seu rosto se franze quando vê minha roupa: uma calça jeans rosa clara, blusa manga longa azul de mesmo tom e saltos altos brancos nos pés. Ergo as sobrancelhas e analiso de cima a baixo seu terno azul escuro, o garoto dá uma tossida.
— Posso ajudar? – Abro um sorriso.
— Sou Zoela Hilton, a nova... integrante do jornal. – Acho que suas sobrancelhas se erguem, mas fica difícil ter certeza por causa de seu cabelo.
— Você é Zoela Hilton? – Ele inclina a cabeça. Respiro fundo, tentando continuar a sorrir e não cruzar os braços, abrir minha melhor cara de deboche e perguntar o porquê de sua cara de bunda.
— Sou.
— Sério? – Ok, sem mais sorrisos.
— Sim, algum problema? – Suas bochechas ficam vermelhas e ele ajeita a postura, finalmente ele abre mais a porta, me permitindo ver mais do que seu corpo magro.
Um cheiro de tinta me atinge em cheio, e a primeira coisa que reparo é na quantidade de pessoas lotando aquela sala tão pequena. O garoto me dá passagem e enquanto entro na sala e ele fecha a porta atrás de mim, meus olhos vagam pelo local.
Há quatro mesas longas pretas pela sala, todas com computadores não tão modernos em cima, com cadeiras de mesma cor na frente destas. No fundo da sala, há quatro impressoras profissionais que não param de imprimir folhas e mais folhas de notícia, no lado esquerdo, há uma porta de uma sala pequena para revelação de fotos, pelo menos eu acho que seja pela luz vermelha que sai de dentro quando uma garota ruiva entra, ao lado, uma sala designada para o diretor do jornal, dois banheiros e uma mini cozinha.
No lado direito, há quatro portas para matérias especificas: fofocas, tempo e astrologia, diversos e investigações, meus olhos param no último.
— Me desculpe se a ofendi. – Desvio o olhar da porta fechada para o garoto atrás de mim. – É só que pela matéria e recomendações que recebemos de você, esperávamos alguém menos...
— Eu? – Ele abre um sorriso contido.
— É, me desculpe. – Dou de ombros.
— Tudo bem, então... – Giro ao redor, só agora reparando que algumas pessoas pararam de trabalhar para me encararem, volto o olhar para o garoto. – O que eu faço?
— Ah, terá que falar com a chefe.
— E quem é?
— Eu. – Me viro surpresa, uma garota baixinha de cabelos cacheados me encara debochada. – E você pode começar cuidando da organização.
— Organização? – Repito, surpresa pela grosseria das pessoas daqui a garota parece me achar um saco de lixo.
— É. Pode começar organizando a sala de investigações, uma garota... – Ela engole em seco. – Saiu, e deixou todos os arquivos uma zona e as garotas da seção estão ocupadas demais para arrumar, e...
— Espere. – Interrompo-a, da forma mais simpática que consigo. – Me disseram que eu conseguiria um cargo... alto, aqui, por sabe, minha reportagem e...
— E você terá, mas sabe como é, todo mundo tem que começar por baixo, certo? – Ergo a sobrancelha, isso a faz sorrir. – Algum problema com isso? – Semicerro os olhos e engulo em seco, minha língua coça para dizer poucas e boas, mas como fui instruída, apenas engulo em seco e sorrio.
— Não, tudo perfeito, mas tenho aula daqui a pouco e...
— Ótimo, venha arrumar assim que possível, de noite se puder. – Ela se vira, mas depois volta, seus cabelos com cheiro de morango chicoteiam em meu rosto. – Ah, e antes de ir, prepare um café para nós.
Enquanto ela se afasta em direção a uma das impressoras, o garoto, que nem lembrava ainda estar ali, tosse ao meu lado, mas na verdade, sua tossida sai mais parecido com um "vadia". Olho para ele, que dá de ombros e sorri.
— Bem vinda a SMD.
Me encosto contra a parede e tiro o casaco com raiva, tive que aguentar cochichos e resmungos sobre eu estar cheirando a café e creme azedo e só descobri que era porque um pouco da bebida havia caído no meu casaco, deixando uma mancha ridícula próxima a minha bunda.
— Garota idiota, jornal idiota, pessoas idiotas. – Tento socar o casaco dentro da bolsa, mas ele não entra. – Universidade idiota, cidade idiota, ilha idiota. – Resmungo e apoio o casaco da bolsa, encosto a cabeça na parede. – E ainda me disseram que seria divertido.
E o pior é que no começo achei que teria, consegui suportar a primeira semana no jornal sem xingar ou fazer cara feia enquanto servia cafés e arrumava um monte de arquivos, mas quando cheguei hoje, achando que finalmente iria fazer algo mais útil, a chefe idiota me disse que continuaria na mesma posição e ainda derramou "sem querer" seu café em mim.
Respiro fundo e tento me acalmar quando vejo mais pessoas entrando no corredor e indo em direção ao refeitório, preciso estar atenta para quando Anabela passar, não preciso de outro telefonema exaltando o quão imprestável eu sou, não sei como ainda não explodi de tanto engolir palavras de baixo calão.
Enxergo a garota atolada de papeis nos braços saindo do elevador, e a espero se aproximar para fixar um sorriso no rosto e a alcançar.
— Finalmente. – Ela ergue o olhar surpresa para mim. — Te procurei por todo o lugar.
— Por que? – Dou de ombros.
— Passei a primeira semana sozinha nesse refeitório e não estou a fim de repetir. – Toda a vez que chegava para comer, ela já estava saindo ou quando eu estava saindo, ela chegava. Ana solta um riso, mas quando ergue o olhar para o corredor, ela paralisa no lugar.
Franzo o cenho para seu rosto que ficou subitamente pálido e acompanho o seu olhar, parando em cartazes com a foto de uma garota loira com o slogan "não use drogas" embaixo, todos com detalhes vermelhos. A ouço respirar fundo e volto o olhar para ela.
— Fiquei do mesmo jeito quando vi semana passada, foi bonita a homenagem que fizeram no auditório, apesar do vídeo de diga não as drogas ter sido ridículo. – Ela engole em seco. – Você sabe quem morreu?
— Minha amiga. – Sua voz soa em um sussurro e volta a andar, tenho apenas alguns segundos para ficar verdadeiramente chocada antes de precisar correr atrás dela.
— Eu não sabia, sinto muito.
— Tudo bem. – Ela empurra as portas do refeitório. – Isso é mais comum aqui do que você acha.
— O que? – Exclamo surpresa, mas ela não me dá atenção.
Seus olhos estão fixos a nossa frente, onde vejo um grupo de jaquetas de couro saindo da fila do buffet em direção à uma das mesas, dois garotos sorridentes lideram o grupo, mas quando nos veem o sorriso de um deles morre e seus olhos se arregalam, acabo ofegando.
Há uma distância considerável entre nós, mas eu reconheceria seu rosto a quilômetros de distância, mesmo que seus cabelos estejam maiores e ele parece mais velho, sinto minha pressão cair quando ele dá um passo a frente, querendo se aproximar, e agradeço quando Anabela segura minha mão e nos leva em direção a fila para se servir. Quase deixo a bandeja cair quando ela a empurra em meu peito, pisco algumas vezes, tentando me recuperar.
— Quem era aquele? – Pergunto, ela solta um suspiro e olha por sobre o ombro, vendo que o grupo que agora segue para uma mesa. Meu coração acelera quando vejo o topo da cabeça do garoto, mas ainda preciso da confirmação.
— Dante Bianchi. – Tropeço para frente e acabo esbarrando em um garoto que me olha zangado.
— Conhece ele? - Ela me olha surpresa por minha reação.
— Não, quer dizer sim. – Reviro os olhos, idiota, pensa rápido. Abro um sorriso brilhante. – Ouvi falar sobre os Bianchi, só não havia visto nenhum deles ainda. – Não é mentira. – Mas não ouvi de nenhum Bianchi chamado Dante. – Anabela arregala os olhos.
— Ah merda. – Resmunga. – Esquece isso, é segredo.
— Como assim?
— Eles são... primos, mas esqueça isso. – Antes que eu possa perguntar mais, ela começa a se servir. Aparentemente é um segredo ele ser um Bianchi, mas felizmente eu já sabia dessa informação.
Passo o intervalo inteiro com os olhos presos na mesa onde Dante está sentado, apenas desviando o olhar quando Ana poderia me flagrar. Não conseguia parar de mexer a perna, o que gerava um barulho chato do salto, não que a garota parecesse se importar, parecia tão avoada quanto eu, e apertar o celular no meu bolso em desespero.
Quando o intervalo termina, saio correndo sem me despedir, deixando a comida intocada, em direção ao jornal, prefiro arrumar as coisas no pouco tempo entre o termino do intervalo e a próxima aula do que de noite, como a louca sugeriu.
Passo pelas portas duplas, aceno para algumas pessoas que estão ali e vou em direção ao meu novo inferno pessoal: a sala de investigações. Fecho a porta atrás de mim e me encosto contra ela enquanto retiro o celular da bolsa e ligo para o número mais recente.
Ouço-o chamar e encaro a sala, ela parece grande, mas as prateleiras ao redor, lotadas de arquivos, a deixam bem menor, elas cercam os quatro cubículos com cadeiras e computadores que estão no centro da sala.
— Alo? – Me desencosto da porta.
— Encontrei ele. – Ouço um riso sair de sua boca.
— Finalmente garota, estávamos quase indo aí procurar nós mesmos. – Reviro os olhos. – E então? Falou com ele? Descobriu sobre...
— Não, eu só o vi, ok? Eu nunca falei com ele, nem sabia como era seu rosto realmente, já que a foto é de anos atrás, não poderia chegar e perguntar sobre sua vida.
— Bem, mas você tem que fazer exatamente isso, se não todo nosso plano vai pro ralo caralho.
— Ownt, tá nervosinho? Já foi bater uma hoje. – Ele solta um palavrão.
— Vai se foder Martinelli – Solto uma risada, ele solta um suspiro. – Você demorou muito para dar o primeiro passo, não demora mais ok?
— Sim, acho que minha amiga é conhecida dele, então não vai ser tão difícil.
— Ótimo, não quero que se ferre Ella. – Abro um sorriso com o apelido tão antigo. – Qualquer coisa me ligue ok?
— Sim senhor.
Ele desliga sem se despedir. Solto um suspiro, levo o celular ao peito e encosto a cabeça contra a porta, meu coração está acelerado pelas novidades recentes, consigo ouvi-lo em meus ouvidos, mas não se torna impossível de ouvir a conversa das garotas do outro lado da porta.
— Todo semestre essa mesma baboseira de cartazes, as vezes acho que eles deixam alguns pré impressos para a próxima garota que será morta. – Desvio o olhar para a porta.
— Fizeram um bolão lá na sala, acredita? – Uma risada de outra garota soa. – Eu ganhei, acertei que seria uma Alpha, mas errei quanto a Letitia.
— Se você errou Letitia, deve nem ter passado pela cabeça Luna.
— Qual é, ninguém esperava pela morte de Luna, ela era uma de nós. – Desvio o olhar para a mesa que venho organizando pela semana e arregalo os olhos.
Abro a porta com tudo, assustando as três garotas que fofocavam, seus olhos arregalados vêm em minha direção, não sei se pelo gesto inesperado ou por terem sido flagradas, mas estou pouco me fodendo, preciso saber onde diabos me enfiei.
— Alguém pode me contar melhor sobre essa história de mortes?
Quase meia noite, abro a porta do quarto com força, fazendo-a bater na parede e assustando Anabela e uma garota ruiva que assistiam televisão. Jogo as várias pastas de arquivos para organizar, em cima de sua cama, a mais próxima, causando uma tremenda bagunça, com os braços livres, os apoio no quadril e respiro fundo. Sinto olhares em mim e sinto meu rosto esquentar quando vejo a ruiva desconhecida, estico a mão em sua direção.
— Oi, sou Zoela, a colega de quarto de Ana.
— Francesca, muito prazer. – Ela aperta minha à mão. – Eu... pensei que sua colega de quarto fosse Kaori? – Ela olha para Ana confusa.
— Eu sinceramente não sei o que aconteceu.
— Certo... – Francesca respira fundo e se levanta. – Eu vou indo, já está tarde. – Ela calça as botas que estavam no chão, desvio o olhar para os papeis enquanto as ouço se despedirem.
— Obrigada pelo jantar Fran, de verdade.
— Não foi nada. Sexta no meu quarto? – Acho que Ana assentiu com a cabeça, e então o olhar da ruiva vem para mim. – Você está convidada também.
— Obrigada.
Assim que estamos sozinhas, me jogo na cama e passo as as mãos no rosto com força.
— Que merda eu fui me meter? – Resmungo.
— O que aconteceu? - Respiro fundo e viro o rosto em minha direção.
— Estava no jornal quando ouvi comentarem sobre algumas mortes que tiveram no campus, pedi para explicar melhor e descobri toda a merda.
— Seja bem vinda a Sacro Mantello Di Dio University. – Tenta fazer graça, mas apenas bufo em resposta.
— Que merda, se eu soubesse disso não teria vindo para cá, afinal, por que ninguém fala disso lá fora? – Ok, na verdade eu viria de qualquer forma, mas porra... como ninguém me falou sobre isso? Como ninguém sabia disso? Seria bom saber!
— Se eles falassem a SMD iria perder a credibilidade. – Dá de ombros, ela fala como se fosse algo normal, ou já está acostumada com o assunto.
— Capitalismo de merda. – Ela dá uma risada e então se levanta, calça seus sapatos, pega o celular e um saco de lixo.
— Aonde você vai?
— Eu... Vou dar uma volta.
— Sério? – Sorrio empolgada, vendo uma ótima oportunidade para me aproximar mais de si e descobrir sobre Dante. – Tá meio tarde, mas posso ir? Não conheço nada da cidade.
— Ham... – Ela desvia o olhar para pegar um casacão preto. – Melhor não.
— O que? – Meu sorriso se fecha – Por quê?
— Por que... – Ela morde o lábio inferior, procurando uma desculpa, me sinto murchar por dentro, ela não gosta de mim, e isso não pode acontecer. – Eu vou ir andando até lá, é meio longe. – Olho para seu pijama.
— Tudo bem, eu adoro andar. – Tento me levantar, mas seu grito me interrompe.
— Não. – Com o susto, caio sentada novamente. – Só... por favor, não vá. – Pede, seus olhos implorando para eu concordar.
— Ok. – Suspiro, mas decido jogar minha última cartada: – Mas não precisa ter vergonha, o corpo é seu.
— O que? – Me olha confusa, mas então parece entender e cai na gargalhada. – Oh Deus não, eu só vou dar uma volta com alguém.
— Ah. – Sinto meu rosto ficar vermelho, não sei exatamente o porquê, talvez aliviada de não estar levando um fora porque ela desgosta de mim. – Oh merda, me desculpe, não quis ofender, é só que eu não entendo porque não quer que eu vá, está tarde, pode ser perigoso. – Abro um bico. – Você não quer ser minha amiga né? Merda, eu me apego fácil as pessoas, sinto muito.
— Não, não é isso, eu... – Respira fundo, então, larga o saco em cima da cama e se agacha a minha frente, fico surpresa quando ela segura minhas mãos e me olha com preocupação.
— Hoje de manhã, lembra daquelas pessoas que vimos no refeitório, com jaquetas de couro? – Assinto. – Eles não são confiáveis, pelo menos a maioria não.
— Quem são eles?
— Eles fazem parte de um tipo de gangue, são os Ghostins. Eles traficam drogas na universidade, mas sinceramente? Acho que fazem mais do que isso. – Solta um suspiro. – Fique longe deles, porque depois que você os conhece... As coisas nunca mais são as mesmas.
— As coisas não são mais as mesmas para você? – Pergunto.
— Não.
— Certo. – Ela se afasta e pega o casaco. – Mas o que isso tem a ver com sua "volta"?
— Vou falar com um deles, contra minha vontade.
— Por que vai então?
— Porque não vão parar de me encher o saco se eu não for. – Pega o saco de lixo – Volto logo.
— Ok. Mas você ainda tem que me apresentar à cidade.
— E se eu disse que conheço tão pouco quanto você?
— Bem, então a gente irá conhecer a cidade juntas. Ah Ana, me chame só de Zoe. – Ela abre um sorriso, assente e então sai.
Penso em a seguir e ver se ela vai sair com Dante e descobrir algo, mas estou tão cansada, que fecho os olhos e caio no sono.
Ok gente eu estou muuuuito ansiosa para que vejam o próximo capítulo, porque Dante e Zoe vão vir com tudooo!
Não tenho muito o que dizer por hoje amores, só muito obrigada por tudo e até o próximo ;)
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