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quattordici

Ana já vestiu duas dúzias de roupas e ainda não decidiu o que vestir para ir ao luau, que na verdade é uma investigação, e por isso a roupa não deveria importar. Mordo o lábio e olho para baixo, meu vestido de verão branco e as rasteirinhas de mesma cor talvez não sejam a roupa adequada para a vigia. Bem, pelo menos não estou de salto, e agora que aprendi a apreciar e poder me vestir na moda, não vou abandonar, mesmo que eu suje a roupa, atole ou morra de frio.

— Sua roupa está ótima Ana – Suspiro e recebo seu olhar pelo espelho, desço da cama e calço meu par de rasteirinhas. – Precisamos ir se quisermos ficar de olho nas garotas.

— Queria ter sua confiança em relação a roupas. – Ela murmura enquanto pega a jaqueta jeans jogada em cima de sua cama, dou de ombros, mesmo que ela não possa ver.

— Ok – A vejo guarda o canivete novo que a presenteei, no bolso da jaqueta e pegar o celular e as chaves. – Vamos lá.

Ana vai até a porta e desvio o olhar para meu celular jogado na cama, prefiro o deixar desligado e longe de mim enquanto as mensagens e ligações de Romeo, cobrando respostas, não param, mas preciso levá-lo por causa da investigação. Respiro fundo e pego-o.

— Vamos lá.

Ana e eu conversamos amenidades pelo caminho até a costa, discutindo quando ela finalmente cumpriria promessa de me mostrar a cidade, fico feliz pela sua preocupação, aquece meu coração, mas a última coisa que penso nesse momento é sobre isso.

Aperto para ligar o celular e desvio o olhar para a janela, vendo as luzes dos postes acesas, as pessoas lotam as calçadas em frente as lojas, e fecho os olhos, desejando que um dia eu possa ser uma dessas pessoas vivendo suas vidas apenas preocupadas com o dinheiro na conta e o que farão no final de semana. Uma música do One Direction começa a tocar e ouço Ana cantarolar, me fazendo abrir um sorriso, seria bom ter ela junto comigo nesses momentos.

— Poderíamos sair final de semana. - Oferece.

Desvio o olhar da janela para ela, a música agora mais baixa, pelo pouco que me lembro da aula que ela me deu sobre a banda, acho que o nome é Ready To Run.

— Dependendo do que acontecer essa noite... - Dou de ombros - Não vou conseguir ficar tranquila e me divertir enquanto uma garota pode morrer a qualquer momento. - Mesmo que eu gostaria muito de sair com ela. Ana franze o cenho e fica quieta, entrando na avenida.

Assim que descemos do carro, o cheiro da maresia me atinge e eu respiro fundo, absorvendo-o e sentindo falta das praias da Itália, onde há bem mais sol do que em Piena. O luau ocupa pelo menos duas quadras, com algumas fogueiras dispostas a cada cem metros, iluminando a multidão dispersa pela areia, pelo menos metade da SMD parece estar aqui.

O celular começa a vibrar sem parar e passo o dedo por cima das milhares de mensagens e ligações enquanto me aproximo de Ana, o blá blá blá já esperado, menos a mensagem recente no grupo.

— Martina está na primeira fogueira de olho nas outras quatro garotas de sua lista, ela disse que Ettore e Fran estão vigiando cinco garotas na segunda, Matteo e Pietro estão acompanhando dez garotas na última e ela pediu para uma de nós ir na terceira com Dante e o ajudar a ficar de olho em outras dez. – Respiro fundo após repetir tudo que eu li.

— Onde está Dean? - Dou de ombros.

— Alguém precisa ficar na maior fogueira de olho nas outras seis - Foi exatamente o que Dean disse. Começamos a caminhar em direção as duas últimas fogueiras – Como eles descobriram o rosto de todas elas? - Pergunto.

— Acho que passaram o dia nas redes sociais como nós. - Abre um sorriso

Paramos em frente a terceira fogueira e trocamos um olhar, quem vai ficar com quem. Respiro fundo, sabendo que ela gostaria de ficar com Dean.

— Eu posso ficar com Dante se quiser. – Olho surpresa para Ana, depois reviro os olhos.

— Não, prefiro aturar o panaca do que Dean, o cara é medonho com raiva. - Mesmo que eu odeie admitir. Respiro fundo antes de me virar e descer os degraus da calçada em direção a areia da praia.

A areia cobre o meu pé na hora em que piso nela e me xingo por usar rasteirinha, até salto seria menos pior. Um cheiro de hortelã e álcool invade meu nariz e ergo o olhar, encontrando Dante, risonho, visivelmente bêbado, e tentando a abraçar. Ergo os braços e o empurro a tempo antes que eu sufoque com o cheiro de álcool, mas ele não desiste.

— Sai porra - Grito e desvio de outro abraço seu, me viro em sua direção e ergo um braço, seu cérebro bêbado parece entender a deixa para ficar afastado. - Qual a porra do seu problema? Você está bêbado, durante uma missão!

— Missão - Bufa, pelo menos ele não está cambaleando, o que significa que ainda há sobriedade. - O que é isso? Um filme de ação?

— Sinceramente? Minha vida parece exatamente um - Respiro fundo e mordo a língua mentalmente - Ok, você não tá sóbrio, mas também não tá caindo de bêbado, então largue essa merda - Puxo a garrafa de cerveja em sua mão, que só agora percebo que estava lá - E vamos ao trabalho, ou eu chuto o seu saco. - Dante abre a boca, depois fecha.

— Eu ia dizer algo muito pervertido, mas não quero levar um soco. - Abro um sorriso.

— Garoto esperto.

— Ok - Respira fundo - Tem garotas na fogueira, outras ali no bar improvisado - Aponta com a cabeça para para um aglomerado de coolers a poucos metros da fogueira. - Outras dançando e uma fumando sentada perto do mar.

Levo o olhar para a fogueira, onde reconheço quatro garotas da lista sentadas ao redor da fogueira, depois para o bar, onde reconheço outras duas. Fora a garota da praia, em algum lugar do aglomerado de pessoas dançando, deve ter as três garotas restantes.

— Vamos nos dividir? - Volto o olhar para Dante, fico assustada por o ver me encarando. sem piscar, medonho.

— Seu cabelo é bonito. - Levo as mãos ao cabelo, sem saber o que responder.

— Obrigada. Acho melhor você ir ver as garotas dançando e eu ficar no bar, consigo ver as garotas da fogueira e a do mar, e ainda te afastar da bebida.

— Bem, você que vai perder essa beldade aqui dançando. - Ele passa a mão no abdômen por cima da blusa azul claro de manga curta que veste, se vira e vai em direção a pista de dança improvisada.

Pisco os olhos e acompanho seu corpo vestido por uma bermuda preta e tênis branco, até que a bunda dele é bonitinha. Arregalo os olhos e afasto o olhar, foco Zoe, foco.

Eu sempre me orgulhei muito da minha capacidade de beber uma garrafa de vinho e não ficar bêbada, é algo estranho de se orgulhar, mas é a habilidade menos... maléfica, que tenho.

Acontece que ficar de vigia no bar e passar despercebida é impossível, atraia olhares, então, tive que botar em prática minha tal habilidade, o problema é que descobri que essa habilidade só vale para vinho.

Tropeço na areia antes de sentar no tronco de madeira ao redor da fogueira improvisada. A garota do bar e do mar foram embora há quase uma hora com alguém de suas casas e as que estavam na fogueira foram para a pista de dança, não sei onde foi parar as que estavam lá.

Levo a garrafa de água a boca, ou deveria, já que erro o caminho e água cai pelo meu colo, o tronco balança e quase caio para trás de tão tonta que estou. Ouço uma risada ao meu lado e ergo o olhar do meu busto molhado, para Dante.

— Que é? - Ele tem um sorriso enorme no rosto, um daqueles que formam rugas no canto dos olhos.

— Foi mal, só tive um deja vu. - Ele olha pro meus peitos antes de voltar a me olhar nos olhos.

— Você não deveria estar dançando?

— Sim, e eu diria que você deveria estar no bar, mas parece já ter feito trabalho suficiente por lá.

— O que quer dizer? - Entre fecho os olhos, Dante ergue as sobrancelhas, bufo. Ok, estou meio bêbada, mas não quero que ele jogue na minha cara - E você fez mais que o pedido né? Tá sujinho aqui - Aponto para o canto de minha boca, me referindo a sua, que não está suja, mas Dante leva a mão ao rosto, o que me faz abrir um sorriso quando ele vê a mão limpa. - Beijando quem deveria proteger?

— Tem modo melhor de proteger? - Reviro os olhos e volto o olhar para frente, vendo duas das garotas da lista sentarem do outro lado da fogueira. - A maioria já foi embora, só sobrou elas duas e outra se pegando com um Corvi.

— Muito tranquilizador. - Bebo a água direito desta vez. Meu celular vibra entre meus peitos e solto um palavrão antes de pega-lo e desligar na cara de Romeo, é a décima vez que liga só na última hora.

— Namorado? - Olho para ele surpresa.

— Te interessa? - Dante bufa.

— Caralho, nem bêbada você é legal comigo - Abro a boca, tentando argumentar, mas ele continua: - Você realmente quer passar o resto da noite trocando farpas? E sabe o que? - Ele vira o corpo em minha direção, parecendo realmente ofendido. - Por que você só não é legal comigo?

— Isso não é verdade.

— Ok, você não é muito fã de ninguém da minha família, especialmente meu irmão, e cara, não te julgo, o cara é um saco, mas você conversa com eles, e eu? Eu sou legal, e você saberia disso se falasse alguma coisa comigo. - Dante pega uma cerveja da mão de um dos caras, Locuste, que passava, abre, se vira pra frente e torna um longo gole, o encaro chocada.

Quem diria que o cara era todo sensível. Meu celular volta a vibrar e respiro fundo antes de baixar o olhar, encontrando uma mensagem de Romeo.

"Você mexeu nas minhas coisas?"

Sinto um arrepio passar por meu corpo ao lembrar dos arquivos que roubei de suas coisas e que estão no fundo da minha mala de viagem no quarto. Não foi uma pergunta, ele sabe que eu os peguei, e quando volta a ligar, desligo o celular e meu cérebro lento tenta pensar no que fazer.

O ombro de Dante encosta contra o meu e apuro os ombros. Não sei o que há nos papéis, não tive coragem ou tempo para lê-los, mas sei que só poderei sair dessa enrascada se entregar tudo que sei de Dante para Romeo, talvez até Dante em si.

Ótima hora de precisar decidir se vale a pena ou não entregar Dante.

— Então, como consegue ver seu irmão com Ana se você é apaixonado por ela? - Vejo o trajeto que o líquido faz ao sair de sua boca e pousar na areia. Dante vira o rosto em minha direção, os olhos arregalados.

— Que merda tá dizendo?

— Você não disse que eu não falo contigo?

— E é sobre isso que você quer falar? - Dou de ombros, Dante bufa - Não sou apaixonado por ela ok? - Solto um riso - É sério - Ele respira fundo e vira o corpo em minha direção, acabo o imitando. - Eu tive uma pequena queda por ela, só isso.

— E vocês se beijaram. - Ele revira os olhos.

— Ok, Isobel, a mãe dela, era minha mãe, não biológica, mas de coração - Da de ombros - Quando ela... morreu, pediu para acharmos Ana e sinceramente? Acho que a achei incrível antes mesmo de precisar ficar seguindo ela.

— Sério?

— Isobel era incrível, e com certeza a filha dela também seria, depois a vigiei porque Dean tinha medo de se aproximar dela, e confirmei que a garota era incrível, e quando a vi e vimos tudo que ela fazia para vingar a amiga... é tive uma queda por ela.

— Teve?

— Tive, ela morreu assim que vi que meu irmão estava apaixonado por ela, mesmo que ele não soubesse.

— Isso é...

— Lindo? Incrível? - Ergo as sobrancelhas.

— Idiota. - O rosto de Dante desabafa.

— O que?

— Você realmente abriu mão de uma pessoa que gostava, que poderia ser o amor da sua vida e toda essa porcaria, pra outro?

— O outro é meu irmão, e ele merecia, além disso, Ana e ele tinham uma puta química, tem.

— E você não merecia? - Inclino a cabeça, tentando entendê-lo de outro ângulo. - Ou você não gostava realmente dela?

— Gostava! Eu acho, eu... - Dante fecha os olhos e nega com a cabeça, respira fundo antes de voltar a me olhar - Meu irmão sempre fez de tudo por nós, assumiu um cargo que não queria, nos protegeu quando precisávamos e sei que morreria por nós, assim como nós por ele - Engulo em seco, sentindo algo em meu peito - A vida dele é uma merda pra nossa ser um pouco melhor, abrir mão de uma garota que era uma paixonite para meu irmão finalmente ter algo de bom em sua vida não é nada comparado a tudo que ele já fez por mim e nossa família.

Meu peito dói e levo uma mão ao local, massageando, há um bolo em minha garganta e prefiro não responder do que acabar soltando um soluço. Pisco os olhos com força e volto o rosto para frente, felizmente encontrando as garotas ainda lá.

— Namorado? - Solto um riso.

— Ex, e prefiro beijar um Alpha do que falar sobre isso.

— Ok, recado entendido. - Engulo em seco novamente antes de perguntar, olhando-o pelo canto de olho desta vez.

— Você conheceu sua mãe biológica? - Dante me olha estupefato.

— Sabe, quando comentei aquilo, me referia a falarmos sobre minha cor favorita, meu carro ou até o que faço nos Ghostins, não sobre isso - Leva longos segundos, de um silêncio desconfortável, até ele voltar a falar: - Não, não conheci, minha única mãe foi Isobel.

— E nunca quis conhecê-la.

— Não. Meu pai disse que ela era gananciosa, que só me teve porque queria parte dos Ghostins, quando ela tentou o fazer assinar um contrato de casamento quando eu tinha só dois meses, ele me pegou e fugiu de volta pra Piena, foi quando descobriu sobre Dean também. Enfim, zero vontades de conhecê-la, e sua mãe?

Olho surpresa para ele, mal digerindo o que disse e já sendo pega de surpresa por sua pergunta.

— Eu... sou adotada - Ele fica surpreso. - Minha mãe adotiva não é a melhor e só sei que a biológica além de mãe solteira, não tinha onde cair morta e há boatos que queria me vender...

— Bem, parece que não somos tão diferentes assim - Ele estica sua garrafa em minha direção - Um brinde para sermos melhores que as mulheres que nós pariram. - Olho para minha garrafa d'água e depois para a sua, então, abro um pequeno sorriso e brindo, sabendo que tomei minha decisão.

Quando tenho um tempo sozinha dias mais tardes, e após afundar meu celular no oceano - foi durante um pico de raiva após receber uma das várias ameaças de Romeo -, finalmente abro minha mala e pego os papéis que roubei antes de ir embora de Roma.

Sento no chão do quarto e pego o primeiro papel, um tipo de contrato sobre a gangue estar no nome de minha mãe e que surpresa: se algo a acontecer, ela passa para o nome de Romeo. Nem estou tão surpresa assim, ele parece ser mais o filho dela do que eu, além de ser seu braço direito. Ainda assim, machuca, e passo os olhos por cima dos outros documentos.

Extratos de conta, notícias velhas, planos de assassinatos e contrabandos, tudo incriminando nossa querida líder, papéis juntos com o contrato que passa tudo para Romeo, solto um riso, o cara era tratado como um filho por ela, e parecia estar planejando tirar tudo dela.

— Talvez tenha ficado comigo só por isso também, maldito filho da puta - Jogo o papel para o resto da pilha e pego o último, esperando ver mais um estrato, mas esse é diferente, uma certidão de nascimento. - Isso é... ok, isso é ok.

Eu desconfiava que Dante era filho de Julia Martinelli, mais conhecida como a líder do Regno e também minha querida mãe adotiva, mas ver a confirmação me faz querer vomitar, mas seguro assim que entendo o que vim fazer aqui.

Júlia queria que eu vigiasse o pai de Dante, quando descobriu que ele havia morrido, que vigiasse Dante, o possível herdeiro dos Ghostins, mas que agora, graças a mim, ela sabe que Dean é o herdeiro, e... merda, se ela quiser ficar com os Ghostins, melhor, ela quer os Ghostins, já que provavelmente só teve Dante por essa merda de poder, vai querer tirar Dean do caminho, e talvez, de quebra, Dante.

Minhas mãos tremem enquanto junto todos os papéis de novo e enfio na minha bolsa, deixo a certidão guardada novamente, empurro a mala debaixo da cama e me levanto. A essa hora, Romeo deve estar vindo atrás de mim, ou chegará em breve, preciso ser rápida.

Desço correndo as escadas até a sala de leitura que há no prédio Sciame, o plano dos garotos para pegar De Luca começará em poucas horas e minha tarefa foi comunicar a imprensa italiana, mas não irei comunicar só isso.

Escaneio todos os papéis enquanto digito um e-mail para a redatora do maior jornal de Roma, e os anexo no final junto com as provas incriminatórias de De Luca.

Romeo pode chegar aqui, mas vai precisar voltar correndo se quiser assumir o cargo de líder assim que minha mãe for presa.

Hesito apenas um segundo, no qual o brinde com Dante me vem à mente, antes de enviar o e-mail.

Parece que no fim das contas, eu realmente prendi a líder do Regno.

Estou viva!!! Voltei depois de muito tempo e peço desculpas por isso, em parte foi a falta de criatividade e outra foi cansaço mesmo, mas enfim, espero que as postagens voltem ao normal ;)

Tô postando o capítulo pelo celular e não deu tempo de corrigi-lo, então perdão por qualquer erro e pela falta das imagens, irei arrumar o capítulo depois, em breve.

Esse foi o último capítulo do passado, agora é só o presente e teremos mais sobre Suvellié e Roma pela frente, preparem-sem.

Mil beijos amores e até o próximo (logo, eu espero).

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