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otto

Eu estava contando os dias e as horas para quando finalmente deixaria de servir café e passaria a colocar a mão na massa. Felizmente, não demorou tanto assim, mas agora, com um monte de papeis ao meu redor e mais acumulados no jornal, esperando para eu colocar em ordem e finalmente começar a escrever, preferia servir café.

— Escuta... – Ergo o olhar de uma reportagem sobre o time de futebol feita há duas semanas, para Anabela do outro lado da mesa do refeitório – O que vai fazer hoje a tarde? E a noite? - Franzo a testa.

Ana mal me olhou nos olhos quando fez a pergunta, sem contar que não parou de balançar a perna desde que sentou na mesa e seu olhar de cinco em cinco minutos ou se desvia para o celular, ou para a mesa dos Ghostins.

— Nada, irei sair da última aula direto para o jornal, to cheia de papéis para ler.

— Sério? Papéis sobre o que? – Dou de ombros.

— Nada em especifico, ainda não me deram uma coluna fixa.

— Legal, então... eu vou indo, tchau. – Ergo as sobrancelhas quando a vejo se levantar e sair corredor, mas não tenho tempo para correr atrás dela já que meu celular vibra em cima da mesa.

— Porcaria – Resmungo e deixo cair na caixa postal, sei que vai voltar a tocar em breve e continuará até eu atender, arrumo minhas coisas e quando estou saindo do refeitório, ele volta a tocar. – Alô?

Finalmente cazzo! – Reviro os olhos ao ouvir a voz de Romeo explodir em meus ouvidos. – Anda me ignorando ou o que?

— Uau, como adivinhou? – Quando o ouço respirar fundo, procurando paciência, desvio meu caminho da sala de aula para a saída, sabendo que essa conversa vai ser longa e estressante.

Não pode simplesmente ignorar as ligações Zoela, isso não é um trabalho de escola.

— Eu sei, mas preferi só as atender quando tiver alguma informação nova, assim eu poupo meus ouvidos e sua garganta. – Ele solta um riso.

Muito engraçada. Isso significa que não tem nada de novo?

— Nada, a última coisa interessante que descobri foi que Dante e Dean são irmãos.

Você não tem certeza disso, apenas supôs. – Solto uma lufada de ar insultada.

— Está duvidando de minha inteligência? Ta na cara que os dois são irmãos, eles são parecidos em vários sentidos, além disso, todo mundo aqui se refere a Dean como Bianchi, não a Dante, só se por acaso você os confundiu e...

Agora você está insultando a minha inteligência – Ele fica alguns segundos sem falar, e quando volta, sua voz soa quase em um sussurro. – Escuta, você precisa descobrir algo logo, a capo está surtando aqui sem informações.

— Mas- – Ele me interrompe.

A informação deles serem irmãos já é velha, ela quer mais, e se não conseguir mais logo... – Seu suspiro faz meus pelos do braço se arrepiarem e aumentar o passo em direção ao prédio Sciame – Você estará fodida Zoe, e eu não quero isso.

— Principalmente porque você se foderia junto? – Adivinho.

Não Zoe, tudo bem que eu realmente me foderia porque eu quem te indiquei para o trabalho – Meus passos vacilam, surpresa pela revelação. – Mas eu não quero que se foda porque me importo com você Zoe.

— Se importa tanto que me sugeriu para o trabalho? Não foi você mesmo que me disse que o aceitar seria uma decisão estupida e blá blá blá?

Bem... eu não pensei que ficaria longe de você por tanto tempo. – Acalme-se coração idiota.

— Preciso ir, vou tentar descobrir algo logo, eu prometo.

Certo, eu... – Paro de andar, meu coração disparando esperando que complete – Espero que sim.

Reviro os olhos e sem me despedir, aperto com força a tela do celular, finalizando a ligação. Eu não sei se estou mais brava com ele ou comigo mesma por ser uma garotinha estupida torcendo para que seu primeiro amor volte a amá-la.

Abro a porta do quarto, meu olhar já vagando por todo o lugar, procurando algo nas coisas de Anabela que possa me ajudar. Deixo os papéis sobre a cama e paro no meio do quarto, indecisa se vasculho suas coisas ou não, não que sejamos melhores amigas, mas a garota é legal e a algo nela que... me lembra a mim mesma.

Ouvi todos dizerem por aí sobre ela estar com o Bianchi, no começo, achei que fosse Dante e pensei que todos meus problemas estariam resolvidos, afinal, ser colega de quarto da namorada dele deveria ajudar em algo, mas então descobri que além de ser Dean o Bianchi e não Dante, Anabela é um túmulo, e apesar de achar isso uma qualidade, agora acho horrível.

Meu celular volta a vibrar no bolso de minha calça jeans clara e quando o pego, já xingando Romeo mentalmente, fico surpresa ao ver o nome megera escrito na tela, uma mensagem dela dizendo que tem mais papéis para mim lá no jornal.

— Bruxa. – Resmungo, mas agradeço pela interrupção, não quero fuçar nas coisas de Ana, não quando ela sempre foi legal comigo.

Pego os papéis que deixei na cama e estou prestes a sair quando lembro que deixei as chaves do jornal hoje de manhã no quarto em cima da mesa de cabeceira, mas que agora não está mais lá.

Semicerro os olhos e tento me lembrar se a deixei em outro lugar quando outra mensagem da megera chega.

— Essa bruxa vai ter que abrir a porta pra mim.

Já está escuro lá fora quando ouço gritos no corredor do lado de fora do jornal onde passei todo o resto do dia. Desvio o olhar da máquina de impressão onde Krystian - o garoto grosseiro do meu primeiro dia aqui, mas que agora nosso ódio mutuo pela megera nos tornou quase amigos – me ensinava sobre a tinta, e presto atenção no que gritam:

— É ridículo, inaceitável que esses Alphas escrotos estejam espancando meu irmão só por ser gay – Krystian e eu arregalamos os olhos e quando vejo, ele já me arrastou para o corredor, onde todos de outros clubes estão amontoados para ouvir. – Em pleno século vinte e um esse tipo de homofobia acontece?

A garota de cabelos coloridos começa a descer as escadas e todos vão atrás dela, curiosa e surpresa por estarem fazendo isso com o pobre garoto, sigo atrás deles.

— Eles são malucos de se meterem com um dos Ghostins.

— Como assim? – Olho para Krystian, confusa.

— A garota – Acena com a cabeça para a de cabelos coloridos lá na frente – É Martina Bianchi, prima de Dean, e o irmão dela é Pietro, ambos fazem parte dos Ghostins e os Alphas estão loucos de se meterem com um deles.

— Eles costumam brigarem muito?

— Não, pelo menos não assim, para todos verem e não com um deles espalhando a noticia – Seu rosto franzido me faz parar de andar, Krystian vira o rosto para mim. – Você não vem?

— Ah não eu... esqueci meu celular lá na sala, depois te encontro.

Sem esperar sua resposta, volto a subir os degraus em direção a sala do jornal, alarmes em minha cabeça disparando em alerta. Primeiro, Anabela estranha no almoço, depois minhas chaves sumindo e agora isso?

Quando chego ao andar certo, não fico surpresa ao ver uma figura parada contra a porta do jornal, e quando me aproximo mais e vejo que é Dante Bianchi, os pontos se ligam em minha cabeça.

— O que faz aqui? – Dante se vira em minha direção, seus olhos se arregalam em surpresa quando me veem.

— Olá, boa noite, como vai? – Ele abre um sorriso arrogante, quase malicioso. – No que posso ajudar?

— No que você pode me ajudar? Em frente ao local onde trabalho? – Aceno com a cabeça para a porta atrás de si. Dante se vira e olha para a porta, depois, me olha com falsa surpresa.

— Oh céus, acho que me perdi. – Ele leva uma mão a testa e não sei se dou risada ou fico chocada.

— Por favor – Reviro os olhos e tento passar por ele, mas o idiota se joga contra a porta, ergo as sobrancelhas. – Que merda é essa?

— Não posso te deixar entrar.

— Ah não? – Cruzo os braços - E quem é você? – Ouço um barulho do outro lado da porta e arregalo os olhos, volto a tentar passar por Dante, mas seu corpo é pesado – Saia.

— Não vai dar amore.

— Amore? – Estou oficialmente com raiva. – Sai agora ou eu-

Não tenho tempo de terminar já que sou pega de surpresa quando Dante segura meu rosto e avança em minha direção, solto um grito e me chacoalho, tentando me soltar, Dante parece assustado com minha reação e se afasta, me olhando surpreso, seu rosto está vermelho, talvez eu tenha o atingido.

— Que porra é essa, você está tendo um ataque epilético?

— Que porra é essa? Você tentou me beijar! – E esse foi meu jeito de o fazer me soltar sem mostrar que sei muito bem dar um soco de direita.

— E você age assim? Já viu esse rostinho bonito?

Pirla, vai al diavolo! – O mando para o inferno e abro a porta, que graças ao meu ataque, ficou livre de seu corpo.

O lugar está vazio, mas ouço um barulho vindo da sala de investigações e vou até lá, ouço os passos e gritos de Dante atrás de mim. Quando abro a porta, encontro Dean e Anabela que me olham como se eu fosse louca, ao seu redor, tem pastas no chão, papéis nas mesas e mais em seus braços.

— O que fazem aqui? – Pergunto, minha voz revelando a raiva que sinto. Quando nenhum deles responde, cruzo os braços e olho para Anabela, decepcionada - Não acredito que roubou minha chave. – Ela parece surpresa.

— Como sabe? – Reviro os olhos e entro na sala, me apoio na cadeira mais próxima.

— Você estava estranha pra caralho me perguntando sobre o jornal, ainda mais estranha hoje no almoço, fui te procurar no quarto depois e quando olhei minha cabeceira, a chave havia sumido – Dou de ombros. – A briga foi patética inclusive.

— Sinto muito. - Ela parece sincera e respiro fundo, tentando pensar com clareza.

Anabela roubou minhas chaves, mas fez isso para ajudar os Bianchis – não faço ideia do porquê -, os mesmos que preciso descobrir sobre seu pai e tudo que os envolve. Desvio o olhar para os três.

— O que fazem aqui? – Dante, parece querer dizer algo, mas quando o olho por sobre o ombro com um olhar feroz, ele desiste – Eu quero a verdade, ou vou na polícia os acusar de roubo e invasão. – Minto.

— Vai, a gente não liga. – Dean, cujo nunca ouvi a voz antes, dá de ombros.

— Basicamente? – Anabela aperta a pasta em suas mãos. – Estamos tentando descobrir o culpado pelas mortes das garotas por Overdose.

— E o que isso tem a ver com o jornal? – Dean respira fundo e se afasta das prateleiras, se encostando no encosto de uma cadeira.

— Precisamos descobrir os nomes delas, sabemos que uma garota do jornal estava investigando sobre isso, viemos atrás dos arquivos dela. – Reviro os olhos.

— E vocês não poderiam apenas me pedir ajuda? Eu poderia ajudar – Olho para todos, meu olhar parando por mais tempo em Dante, encostado contra o batente da porta, é a situação perfeita, mesmo que seja pelos piores motivo – Eu quero ajudar. – Olho séria para Anabela.

Ela encolhe os ombros, mas antes que possa dizer algo, ouvimos alguém na outra sala, quando me viro, encontro a garota de cabelos coloridos e três garotos com o rosto ferrado tentando entrar nessa sala, sendo impedidos por outros integrantes do jornal.

— Merda – Murmuro – Vou resolver isso, mas não vão escapar daqui – Aponto para o chão da sala e sem pedir licença, passo pela porta, esbarrando em Dante - Ei, deixem eles passarem – Aceno para o grupo estranho – Eles prometem darem uma entrevista sobre a briga, né? – Sorrio para o garoto mais machucado, que franze o nariz, mas assente. – Podem ir então.

Os quatro passam por mim e entram na sala de investigação, uma garota loira se vira para mim com raiva.

— Quem você pensa que é? Não manda em nada aqui.

— Mas consegui uma fofoca, né?

— Conseguiu? – Ela ri. – Por favor, você só serve cafés por aqui.

— Você é um doce, por isso nunca sai por aí para entrevistar ninguém. – A garota tenta avançar em mim, mas é segurada por outra garota, apenas me viro e vou em direção aos garotos, ouço-os conversando e paro ao lado da porta quando percebo que é sobre mim.

— Ta falando sério? – Ouço a voz de Ana – Qual o problema de ela ajudar?

— A gente mal a conhece. – A outra garota argumenta.

— E isso pode ser bom – Ana volta a falar. – Ela é nova na cidade, na ilha, então não tem nada a ver com a corrupção que rola por aqui, e é esperta pra caralho, se não, não teria conseguido uma vaga no jornal.

— Ela tem um ponto. – Fico surpresa pelo apoio de Dante.

— E só por isso temos que confiar nela?

— Além disso ela parece ser meio ingênua – Uma voz desconhecida diz. - Isso não vai dar certo, ela não vai conseguir descobrir nada. – Não aguento mais ouvir.

— Vocês são ridículos – Todos dão um pulo e se viram em minha direção - Só um minuto perto de vocês e eu já sei que a garota ai está puta com a Anabela – A de cabelos coloridos ergue as sobrancelhas – Você desvia o olhar de todos a todo momento, provando que tem vergonha de algo que fez, ou faz, e que afeta ou afetou todos – Me refiro ao garoto que deve ser irmão de Martina, já que é o mais machucado de todos, que abaixa a cabeça – Você – Aponto para Dante – Desvia muito o olhar entre o mal humorado ali e Ana, depois fica envergonhado, que me faz duvidar de que teve algo com ela e se sente mal por causa do senhor mal humor - O rosto de Dante fica vermelho e Ana desvia o olhar, isso foi um palpite, mas fico feliz que acertei – Você obviamente ta com raiva de todo mundo nessa sala, menos de Ana – Me refiro ao loirinho que olha para a garota com carinho – E você – Um sorriso maldoso cresce em meu rosto ao mirar Dean – Tá tão cheio de tesão pela Anabela que age feito um babaca perto dela tentando chamar a atenção dela, e fingir que não sente nada – Paro e tomo fôlego – E meus amigos me chamam de Zoe, vocês me chamem de Zoela.

Um silêncio se instala na sala, e me dou um tapinha nas costas mentalmente. Eu sei que deveria ser a doce Zoela, mas poucos segundos com eles e já percebi que eles só confiam em quem os afronta, o que chega a ser engraçado. Dean está vermelho, não sei se de vergonha ou de raiva, provavelmente os dois, já que ele parece ser o típico cara que não consegue assumir os sentimentos e prefere os demonstrar agindo como um idiota, conheci muitos caras assim.

— Ok – A outra garota arranha a garganta – Talvez ela seja boa.

— Talvez? – Dou risada. – Quer que eu fale sobre quem você sente tesão? – Seu olhar, além do de Dean, foi o único que demonstrou ofensa quando soube de Dante e Ana.

— Ok, chega – O único que não soube o que dizer, e o mesmo que me chamou de ingênua, toma a frente – Por mim ela está dentro, alguém contra? – Ninguém diz nada, abro um sorriso brilhante.

— Ótimo, então, já que agora faço parte da equipe, por onde começamos?

Pirla, vai al diavolo – Estúpido, vá para o inferno

Foi revelado o que rolou do lado de fora do jornal, e superou suas expectativas ou não? Pode ser sincere em.

No próximo capítulo o instinto detetive de vcs precisa estar alerta em? Bora sofrer e criam mil teorias de novo meu povo

Obrigada por tudo, vejo vcs no próximo sábado.


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