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''Seja doce e gentil, sorria sempre e faça-os gostarem de você.''
Repito as palavras como um mantra em minha cabeça enquanto tento tomar coragem para entrar no enorme prédio a minha frente. Seja doce e gentil, sorria sempre e faça-os gostarem de você. Engula a acidez, engula o mau humor, seja outra Zoela.
Olho ao redor, acompanhando com o olhar as pessoas que chegam, de carro ou a pé, e entram no prédio Sciame da universidade Sacro Mantello Di Dio, um vento sopra meus cabelos loiros para trás dos ombros e tremo dentro da blusa de lã de uma cor rosa irritante. SMD fica na ilha de Piena, próximo a Itália, mas com um clima bem mais friorento do que lá, ainda pior aqui já que a universidade fica no alto de um rochedo na cidade de Suvellié, o que me deixa irritada por ninguém ter me falado nada antes.
Praguejo mentalmente guando começo a sentir meu nariz ficar gelado, e provavelmente vermelho, e puxo a mala de rodinhas ao meu lado em direção a minha nova moradia. Preciso fazer o maior esforço possível para subir a mala pesada pelas escadas e me pergunto se há deficientes físicos por aqui e como eles se viram porque não tem uma maldita rampa ou elevador em nenhum lugar em que estive até agora.
Solto a mala com força contra o chão quando chego no terceiro andar, fazendo o som do baque alto se espalhar pelo local. Solto uma lufada de ar, afastando as mechas que escaparam da tiara branca que deveria impedir meus cabelos de tamparem minha visão, e pego a chave do quarto no bolso traseiro da calça jeans, a plaquinha pendurada no alto dela indica ser o meu quarto e de Anabela Coppola. Assim que a porta é aberta, giro a maçaneta e empurro a mala quarto a dentro.
O quarto tem duas camas, uma de cada lado e duas mesas de cabeceiras ao lado delas, no espaço entre elas há um mini frigobar e acima deste uma enorme janela com persianas brancas. Fecho a porta atrás de mim, na mesma parede dela há apenas um armário, que não sei como caberá as roupas de duas pessoas, e o espaço entre o armário e a ponta da cama, há uma porta que leva a um banheiro. Não há ninguém aqui, apesar do relógio que deve ser de Anabela em cima da mesa de cabeceira da direita, então empurro minha mala pra cama a esquerda, mais próxima a porta do banheiro e do armário e deixo minha bolsa em cima desta.
Abro o guarda roupa, vendo roupas já ali, Anabela já apareceu por aqui, mas não sei para onde foi, passo a próxima hora arrumando minhas coisas no quarto. Quando termino, o céu já começando a escurecer, após guardar muitos saltos e roupas coloridas, pego uma toalha, deixo a porta destrancada, caso minha colega de quarto não esteja com a chave, e me tranco no banheiro, desejando que o banho me esquente do inverno de Suvellié.
Minutos depois, estou enrolada na toalha e me xingo por não ter trazido uma roupa para dentro, tiro a touca de banho que achei pendurada no registro do chuveiro, fazendo meus cabelos voltarem à altura dos ombros e abro a porta, quase solto um grito quando vejo outra pessoa no quarto.
A garota se afasta do armário e me olha, seus cabelos são castanhos claros, na altura da cintura, ela é mais alta do que eu, mas são seus olhos que quase me deixam hipnotizada, são de um azul tão claro e distinto que me sinto envergonhada por ter olhos castanhos comuns, são eles que me fazem a reconhecer. Anabela Coppola me olha assustada, seu olhar percorrendo todo meu corpo e sinto meu rosto aquecer ao constatar que estou só de toalha.
— Hã... oi. – Seguro o nó da toalha com uma das mãos, e com a outra, estico em sua direção, meu melhor e mais brilhante sorriso no rosto.
— Oi? – Ela aperta a mão. – Desculpe, mas... quem é você?
— Ah, que cabeça a minha. – Solto um riso. – Sou Zoela Hilton, sua nova colega de quarto.
— Colega de quarto? – Ela olha ao redor notando minha cama já arrumada com meus pertences. – Cadê Kaori?
—Kaori? – Franzo o cenho, Kaori é a garota que dividia o quarto com ela no outro prédio, mas que pediu transferência de quarto e nos ajudou sem saber. Forço uma voz extremamente animada. – Ai meu deus, você tem um bichinho de estimação?
Anabela respira fundo e dá um passo para trás, parecendo levar um baque. Não sei exatamente porque a garota pediu transferência, mas não deve ter contado para Anabela, que tem o olhar perdido na parede ao meu lado, solto um riso.
— Uau, você consegue brisa sem maconha? – Ela franze o nariz, mas volta a si.
— Você usa maconha?
— Que? – Arregalo os olhos. – Não, eca, mas meu primo usa. – Dou de ombros, não é mentira. – Uma vez, ele fez brownie com isso e me ofereceu. – Reviro os olhos, o ocorrido voltando a minha mente. – Eu deveria desconfiar, ele nunca cozinhou nada antes.
Fico realmente surpresa quando ela gargalha, mas a surpresa se transforma em alivio, isso quer dizer que ela foi com a minha cara, certo? Reviro os olhos quando sua gargalhada não parece ter fim e jogo um travesseiro em sua direção, o objeto a atinge no rosto, mas ela ainda demora um pouco para parar de rir.
Abro o guarda roupa e após pegar, volto para o banheiro para me vestir ao mesmo tempo que a vejo se levantar para fechar a porta do quarto, que permaneceu aberta até agora. Deixo minha toalha pendurada em um dos dois ganchos colados na parede e começo a vestir as peças intimas e o conjunto de moletom verde água, com a porta do banheiro aberta, ouço sua voz soar do quarto
— Então, de onde você é?
— Roma, Itália – Respondo enquanto visto a calça.
— Itália? – Ela parece surpresa. – Garota, o que você veio fazer em Piena? E aqui? – Respiro fundo e repasso o que me foi dito;
— Eu me inscrevi em uma universidade de lá, mas estou na lista de espera, e como passei aqui, decidi vir para cá por enquanto.
— Não sei se essa foi uma boa escolha.
— Por que? – Franzo o rosto, realmente confusa. – É a melhor universidade de Piena.
— É, mas... – Ela dá uma pausa e visto a blusa com pressa, querendo ver seu rosto. – Amanhã você vai descobrir. – A olho pelo espelho, encontrando-a ajoelhada em frente ao guarda roupa, arrumando as roupas.
— Ok... Estou com medo – Ela tenta abrir um sorriso, mas parece desistir.
Volto para o banheiro e pego a escova de dentes, quando a vejo voltar a atenção para suas malas, solto um suspiro e deixo minha máscara cair, meu coração está acelerado, não sei porque ela disse isso, mas espero que seja pelos Ghostins e não por outra coisa, qual é, é impossível ser por outra coisa.
— Posso usar seu computador? – A ouço perguntar e com a boca lotada de pasta de dente, murmuro um sim em resposta após repassar tudo o que ela poderia encontrar lá, em minha cabeça.
Termino de escovar os dentes, e nem sei porque os fiz e volto para o quarto, querendo conhecer melhor ela e que ela goste ou pelo menos confie em mim.
— O que você estuda? – Pergunto, Anabela ergue a cabeça do computador.
— Direito e você?
— Jornalismo – Ela arregala os olhos.
— Que coincidência...
— Por que?
— Nada, só... – Leva a mão a testa e a coça – SMD tem um ótimo jornal, é o único jornal da cidade, na verdade.
— Eu sei – Abro um sorriso e volto a ser a Zoela sorridente – Entrei aqui por causa de uma reportagem que fiz na minha cidade, para meu colégio, eles gostaram tanto que me ofereceram uma vaga no jornal.
— O jornal? Daqui? Da SMD? – Seus olhos continuam arregalado. – Uau, isso é... incrível.
— Eu sei, estou tão empolgada – Me deito na cama, um sorriso brilhante estampado em meu rosto, em partes por estar realmente empolgada, eu sempre gostei de escrever, seja em um diário ou histórias da minha cabeça, então, quando descobri que faria jornalismo, o medo de estar em Suvellié diminuiu um pouco. – Mal posso esperar para amanhã. – Ela sorri e se levanta, meu notebook fechado em sua cama.
— Obrigada por me emprestar – Ela olha ao redor e franze o nariz – Você não teria uma chave reserva, teria? Não passei na secretária antes de vir.
— Ah. – Pego minha mochila no pé da cama e busco a chave reserva – Aqui. – Estico em sua direção.
— Obrigada – Ela pega o celular e chaves do carro – Volto logo, quer que apague a luz? – Lanço um olhar para a janela, mas não consigo ver o tempo, então olho para seu relógio na outra mesa de cabeceira e vejo ser sete horas da noite, seria bom dormir cedo.
— Por favor. – Ela vai em direção a porta e abre, então apaga a luz.
— Boa noite.
— Boa noite Anabela.
Arregalo os olhos assim que ela fecha a porta, no escuro e sentada no meio da cama, torço para que ela não tenha percebido que a chamei pelo nome sem ela sequer ter o mencionado. Respiro fundo e tento me acalmar, seu nome estava na plaquinha na porta, não surta Zoela.
Me deito de volta na cama e encaro o que deveria ser o teto branco do pequeno quarto, mas na verdade só enxergo breu, respiro fundo novamente, vai dar tudo certo, tem que dar tudo certo ou eu estarei fodida.
Quando estou quase caindo no sono, meu celular toca na bolsa que deixei no chão ao meu lado da cama e abro os olhos, resmungando, caço a bolsa sendo guiada pela pouca luz que sai do celular, assim que o pego e vejo o nome na tela, sinto meu coração acelerar.
— Oi. – Saúdo.
— Tá sozinha? – Sua voz causa arrepios em minha nuca.
— Sim.
— Ótimo, como foi? – Dou de ombros, esquecendo que estou sozinha aqui.
— Só falei com Anabela, e nem foi uma conversa, foi só para se conhecer.
— E descobriu algo interessante?
— Não. – Uma lufada de ar é audível.
— Então descubra e se aproxime dele logo, não temos todo o tempo do mundo. – Reviro os olhos.
— Me diga algo que eu não saiba. Mais alguma coisa?
— Sim, eu... – Ouço meu coração batendo enquanto espero terminar a frase. – Ai parece ser legal? – Me sinto murchar.
— Sim. Preciso ir dormir, boa noite.
Desligo antes que possa responder e após colocar um alarme no celular, deixo-o na mesa de cabeceira e volto a me deitar. O que eu esperava? Um ''sinto sua falta?'', espero que com o meu tempo em Suvellié, meu coração pare de bater feito um idiota por esse otário.
Hey meus amores, me desculpem por não ter postado ontem, eu expliquei os motivos lá no mural.
Chegou o primeiro capítulo do passado, ou prima, eles vão ser menores que os capítulos do presente, então não estranhem.
É isso por enquanto amores, beijos e até sábado que vem.
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