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dodici

Encaro o símbolo da Regno com uma careta no rosto.

— Não acredito que tatuou isso – Seguro minha mão para não cutucar a tatuagem colorida coberta por um plástico e a região ao redor vermelha. Romeo dá e se vira para mim. – Não poderia ter um colar com pingente como todos os outros?

— Eu não vou usar um colar. – Ele resmunga e se joga na minha cama.

— Por que? Ele vai te fazer menos homem? – O ouço bufar. Cruzo os braços e me encosto contra a minha escrivaninha. – Então, o que faz aqui?

— Você sabe como a Regno surgiu? – Franzo a testa o ouvindo desviar de minha pergunta, Romeo continua a falar: - Começou com a avó da líder, ela vivia nas ruas, era uma das melhores ladras de sua época.

— Isso não a impediu de ser presa. – O vejo sorrir, seu olhar voltado para o teto.

— Mas a permitiu conhecer pessoas iguais e até piores que ela na cadeia, pessoas cansadas do poder estar nas mãos dos mais ricos, cansadas do dinheiro não ser distribuído de forma igualitária. Eles se juntaram a ela e formaram o Regno, ela como a líder, o que era e ainda é raro em uma gangue, o objetivo? Fazer a diferença que nossos protetores deveriam ter feito.

— Não sei onde roubar e matar pessoas é fazer a diferença. – Ele bufa.

— É porque você não entende, nunca entenderá – Semicerro os olhos em sua direção, entendendo o que quis dizer, e odiando. – Não dá para fazer a diferença sem ferir pessoas pelo caminho, ainda mais se essas pessoas não querem cooperar.

Engulo em seco, sem saber o que dizer e sem saber quem é a pessoa que está aqui na minha frente.

— A Regno é um reinado, seu nome é dito com terror e admiração e devemos exibir seu símbolo com orgulho – Estica o braço, onde o símbolo da Regno está tatuado no antebraço. – E não escondido como um pingente embaixo da blusa.

— Sua admiração é assustadora. – Romeo senta na cama em um rompante, me assustando. O olhar em seu rosto é ameaçador.

— Não, assustador é você não ter orgulho do que faz parte – Ele se aproxima da borda da cama. – Um dia você será a herdeira de tudo isso, uma das herdeiras, e age como se temesse isso, como se não quisesse.

— Porque eu não quero. – Agora seu olhar é de choque.

— Você tá maluca? – Solto um riso e descruzo os braços, me apoio com eles na mesa.

— Você não sabe como é estar no meu lugar.

— Adoraria saber.

— Você não sabe do que está falando.

— Sim eu sei, porque eu escolhi estar aqui.

— Exatamente, você escolheu, eu fui obrigada. – Ele nega com a cabeça.

— Está sendo ingrata, ingrata por tudo o que ter.

— Tudo o que tenho? – Minha voz sai esganiçada, me desencosto da mesa. – Eu não tenho nada!

— Não tem nada? – Se levanta da cama. – Você não sabe o que é não ter nada, não sabe o que é batalhar todo dia para ter o que comer, viver em um muquifo, dormir no chão, passar frio porque teve que escolher entre comer ou pagar a porra da conta de luz! – A cada palavra, ele se aproximava de mim, até estar tão próximo que consigo sentir sua respiração pesada em meu rosto.

— Mas você teve amor? – Romeo dá um passo para trás, surpreso. – Você teve alguém para te abraçar no frio? Cuidar de você quando estava doente, beijar seus machucados quando caia da bicicleta, alguém te ensinou a andar de bicicleta? – Minha voz sai tremida pelo choro preso em minha garganta. – Você alguma vez foi feliz?

— E-eu... – Romeo não me responde, mas vejo a resposta em seus olhos.

— Eu nunca fui feliz – Meus olhos estão cheios de lágrimas, e permito que ele veja toda minha dor – Eu nunca tive ninguém pra me abraçar e dizer o quanto me amava, e acredite, eu preferiria viver na miséria sendo feliz, do que nesse lugar – Abro os braços, indicando a fortaleza como um castelo da Regno – Infeliz, que mata pessoas e destrói famílias.

— Você só pode estar mentindo.

— Ah sim, tem razão – Abro um sorriso – Eu tive sim uma pessoa que me amava, em abraçava e me fazia feliz, você – O vejo engolir em seco. – Mas no final, acabou da mesma forma: eu infeliz e com um coração partido já que você me traiu com a porra da minha irmã, bem na minha frente.

Romeo e eu passamos longos minutos em silencio, apenas nos encarando, não sei o que passa em sua mente, mas espero que esteja se culpando, com uma dor o dilacerando por dentro. Infelizmente conheço Romeo, ou achava que conhecia, ele deve estar rindo do quão idiota eu fui.

— Realmente acha que a líder não se importa contigo?

— Sabe, você pode dizer o nome dela, não a vai invocar ou qualquer coisa do tipo – Ele revira os olhos. – Eu não acho, eu sei.

— Ela te criou, te deu uma casa e comida, amor não é tudo nessa vida.

— Eu tinha tudo isso no orfanato e era feliz. – Dou de ombros. Romeo suspira e se afasta, parecendo desistir do assunto.

— Vim porque queria passar um tempo contigo antes de ir embora.

— Adoro como você finge se importar comigo.

— Eu me importo com você – Ergo as sobrancelhas, eles parecem entender. – Ok, escuta, eu não queria ter te machucado.

— Não quero ouvir suas desculpas. – Me afasto da mesa e me aproximo da mala aberta no chão com todas as minhas coisas, a maioria comprada ontem para eu fingir ser outra pessoa na universidade.

— Pena, porque irei dize-las – O ouço suspirar, pelo menos eu ganhei saltos bonitos – Eu fui um idiota e covarde ao beijar Donatella só porque não tive coragem de terminar com você – Será que isso são cristais de verdade? Quem coloca cristal em um salto? – Mas eu não conseguia falar com você, toda vez que tentava, o amor que eu via em seus olhos me fazia desistir.

— Não se preocupe, não há mais nenhum amor aqui.

— Sério? Não parecia quando me agarrou no meio do corredor meses atrás. – Olho por sobre seu ombro com raiva.

— Eu estava bêbada, com tesão e infelizmente, você é o único cara da minha idade bonito neste lugar. – Ele sorri debochado, odeio sorrisos debochados.

— Obrigada pelo elogio e pela escolha então.

— Não agradeça, foi uma péssima escolha já que fomos flagrados e minha querida mãe perdeu a confiança em mim e decidiu me castigar me proibindo de sair dessa porra de lugar. – Ele franze a testa.

— Não pense em fazer coisas idiotas enquanto está fora bionda, é uma missão, e quando acabar, você voltará para cá.

— Acha que sou estupida? – Ele suspira.

— Vou te deixar terminar de fazer a mala – Ele leva a mão aos cabelos, nervoso – Depois que você voltar talvez nós... Podemos conversar? – O ignoro. – Eu ainda amo você bionda, de verdade. – Respiro fundo e infelizmente, eu coração salta ao ouvir essas duas palavras.

— Quem sabe. – Murmuro.

Romeo não fala mais nada e só me permito soltar o ar que segurava, temendo e querendo que ele se aproximasse e me abraçasse, beijasse, ou fizesse qualquer coisa, quando ouço a porta bater. Sento no chão e encaro a mala a minha frente, especificamente o fundo falso, onde escondi os papeis que roubei das coisas de Romeo.

Espero que ele nunca descubra, ou eu estarei morta, e sei que nenhum amor que sinta por mim, o impedirá de fazer isso.

Hey amores, eu estou beeem ansiosa pro próximo capítulo porque será quando descobrirão do que ou de quem, nosso querido Dante está fugindo, apostas finais?

É isso por enquanto amores, mil beijos e até o próximo ;)

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