dieci
Minha cabeça tomba para frente e abro os olhos em um rompante, olho ao redor, mas Ana está concentrada na estrada, seus dedos batucando o volante e não parece me ver pescando os olhos a cada dois minutos.
Solto um bocejo e me ajeito no banco, as noites mal dormidas dos últimos dias me atingiram em cheio, ainda assim, abro um sorriso de canto e encosto a cabeça contra a janela, minha mente viajando.
Pela primeira vez, me sinto feliz em ajudar com uma investigação, porque dessa vez, é cem por cento para o bem, apesar de todas as loucuras ilegais que a envolvem, como invadir um hospital atrás de atestados de óbito.
Mas ao mesmo tempo, quase sufoquei com a pressão gigante em cima de mim, todos me esperando encontrar algo, então passei todos meus horários livres lendo noticias e fofocas que tive acesso no jornal, mas só porque em troca, sugeri que fizessem uma campanha para colocar rampas de acesso as instalações – eles preferiam que eu descobrisse sobre a briga entre os GG's e Alphas, mas a sugestão pareceu acalma-los -.
Felizmente, as leituras deram em algo e assim surgiu o plano do hospital e uma outra invasão ao vestiário do time, sinto vontade de rir só de lembrar. Eu nunca fui a uma festa do pijama, ou quase isso, já que foi mais leitura de noticiais da coluna de fofocas e bebedeira, mas teve confissões, confissões que me fizeram mentir ainda mais.
— Hora da fofoca – Francesca, ergue os braços para o ar, visivelmente bêbada.
Francesca é amiga de Anabela e namorada, melhor, ex, de um dos integrantes dos Ghostins, é também quem decidiu organizar uma noite só para garotas comigo e Ana para me ajudarem a lerem as noticias. Acontece que elas deixaram de ajudar há duas cervejas atrás, fico surpresa com o quão fracas para bebidas elas são, não que eu esteja sóbria, mas estou mais do que elas.
– Zoe – Aponta para mim, engulo em seco – Como você chegou até aqui?
— Andando? – Brinco, Ana solta uma risada enquanto organiza os papéis ao seu redor, elas desistiram de continuar a pesquisa.
— Eu quis dizer na SMD, como entrou aqui.
Ah, isso. Minha mente gira por alguns segundos, até me lembrar das instruções especificas de Romeo para caso surgisse essa pergunta.
— Ah – Dou outro gole na cerveja – Eu consegui um depoimento da Capo do Regno, ele foi importante para prender uns contrabandistas aí. – Sinto meu coração acelerar por dentro, mas quando vejo Ana arregalar os olhos e Fran se engasgar com a bebida, solto um suspiro interno.
— A capo do Regno? Tipo, da gangue mais famosa comandada por uma mulher na Itália? – Dou de ombros – Como conseguiu isso? – Abro um sorriso malicioso.
— Nunca saberá – Ela revira os olhos, penso em algo para fugir do assunto antes que ela insista. – Agora me contem a merda que Dean fez.
Naquela noite ouvi tudo o que não esperava ouvir sobre Anabela e Dean, enquanto sentia-me suar frio pensando o quão fodida estaria se descobrissem que a tal reportagem que fiz era mentira e que na verdade, faço parte do Regno. O surreal, era que eu não estava com medo delas me matarem, mas sim de me odiarem por mentirem para elas e para os outros.
Desde que cheguei, percebi que todos eles podem superar tudo, menos mentira ou traição, e eu estou fazendo os dois. Estou mentindo para Anabela que, após me contar sua história com Dean, me fez gostar dela ainda mais por ter passado por algo parecido, o sentimento de gostar de alguém que está longe de ser um mocinho, e de se detestar por isso, mas no meu caso, eu também estava.
Aquela noite foi a primeira vez percebi que ela realmente gosta de mim, que confia em mim, e sinto meus olhos se encherem de lágrimas só por saber que Anabela, e Fran, são as primeiras amizades verdadeiras que tenho e por elas, afastei minha missão e me foquei em ajuda-las, para tentar diminuir minha culpa e retribuir, de alguma forma, o carinho que senti. Isso e destruir o armário do ex filho da puta dela, sem pensar nas consequências, afinal, a segunda vez na cadeia é melhor que a primeira.
— Pelo amor de Deus – Quase salto no banco com sua voz quebrando o silencio que surgiu desde que entrei no carro após mandar uma mensagem pra ela falando que, finalmente, reuni provas importantes – Me conte alguma coisa, uma dica. - Bufo.
— Eu já disse que não. – Ela me olha indignada, tenho vontade de rir com o bico que surge em sua boca.
— Você me odeia?
— Não – Reviro os olhos - Só não estou a fim de repetir tudo novamente para eles – Seguro minha mochila rosa no colo com força. - Além disso, eu tenho slides.
— Slides? - Repete, uma careta se formando em seu rosto – Por que?
— Você vai saber quando chegarmos – Ela bufa, garota difícil – Enquanto isso, alguma novidade? – Pergunto me referindo a vigia dos galpões de drogas dos Ghostins, de onde ela veio. Com Dean.
— Nada, apesar de dois caras meios suspeitos e... – Ela desiste de terminar a frase.
— Isso é uma merda, mas queria dizer entre você e Dean. - Seu pé afunda no freio e meu corpo sofre um solavanco para frente, felizmente o cinto de segurança me protege e ela não bateu no carro a nossa frente.
— Nada de novo sob o sol. – Cantarola, a olho em choque.
— Quando eu penso que você está finalmente admitindo seus sentimentos... – Ela me lança uma careta. – Eu vi os olhares que trocaram ontem e hoje durante os intervalos.
— Foi sobre o plano – Olho para ela, não acreditando em nenhuma palavra que sai de sua boca – Revira os olhos e entra em uma rua. – A gente se beijou, e só.
— Só? – Solto uma risada, eu sabia – Isso é algo e tanto – Ela dá de ombros. – E é meio assustador.
— Assustador?
— É tipo, ele é o líder de uma gangue de traficantes, o que é estranho por que ele tem o que? Dezenove anos?
— Sim. – Isso é incomum, pelo menos eu nunca tive visto ou ouvido antes.
— Como o pai dele o deixou assumir algo assim tão novo?
— Bem... - Morde o lábio - Ele morreu, não tinha outras opções – Engasgo com a súbita revelação, sinto todo meu ar faltar e minha cabeça girar, mas que merda? O carro estaciona e sinto seu olhar em mim, nem imagino o quão chocada eu aparenta estar, mas minha mente não para de vagar para o arquivo que abri semanas atrás, onde eu deveria descobrir tudo sobre Daniel Bianchi, e a primeira coisa que descubro, é que ele está morto. – Você está bem?
— S-sim – Respiro fundo, sentindo meu rosto voltar a cor normal – Eu só... não sabia que ele estava morto – Desvio o olhar para a mochila, uma súbita pergunta me vindo a mente. - E a mãe?
— Não sei, na verdade Dante e Dean são irmãos de mães diferentes, só sei que a mãe de Dante era de Roma, se ela morreu ou não... – Espera.
— Dean assumiu por que era o mais velho?
— Como sabia que eles são irmãos? – Ergo o olhar para ela e sei que fodi tudo.
— O que? Você me disse!
— Não, não disse.
— É claro que disse, como mais eu poderia saber? – Ela me encara por longos segundos, tentando ler minha expressão, felizmente tranquila por fora, mas surtando por dentro. Seguro um suspiro quando ela nega com a cabeça e desliga o carro.
— Tem razão, só não me lembro, contei tantas coisas... - Abro um sorriso e abro a porta, desesperado para fugir, mas então lembro que viemos a casa dos Bianchis, ótimo lugar para estar, e pensar que quando ela me avisou, minutos atrás, eu estava animada para investigar algo sobre Daniel.
Ouço-a me seguir até a entrada e espero que não tenha percebido meus ombros tensos. Subimos as escadas até a campainha, que Ana toca, conto os cinco segundos que passam até ela ser aberta, por Dante, a merda. Ergo o olhar para seu rosto e sinto o tempo parar ao meu redor. Eu desconfiava que seu rosto me lembrasse alguém, principalmente sua expressão de malvadão, mas só agora, notando o pouco de verde que há ao redor de sua pupila, que percebo de onde.
— Sei que sou bonito, mas isso é meio assustador. – Pisco, voltando a realidade e vendo suas sobrancelhas erguidas, coço a garganta.
— Desculpe – Passo por ele, evitando tocar em alguma parte do seu corpo.
Prefiro mostrar as fotos e o que descobri sobre as garotas mortas do que pensar sobre isso.
Mudo de ideia quando vejo Ana entrar na sala e me lembro que tenho um nome para o assassino, e que mesmo que ela não admita, vai ficar sentida pra caralho.
Levo quase uma semana para conseguir criar coragem e ligar para Romeo contando as novidades, e detesto assim que ouço sua solução.
— Então o novo alvo passa a ser Dante.
— O que? – Solto um grito, mas me arrependo assim que me lembro que estou em frente ao prédio principal, esperando Dante para invadirmos, e eu achando que meu tempo na SMD seria chato. – O alvo era Daniel, se ele está morto, então porque preciso investigar Dante? – Ouço-o suspirar.
— Eu só passo as ordens que recebo Ella. - Pela primeira vez, o apelido me trás náuseasz
— Bem, pois diga a ela que essa ordem não faz sentido! – Levo a mão a testa e tento pensar. – O que ela quer que eu descubra de Dante? Eu já disse tudo que sei dele, o que mais ela quer? O tipo sanguíneo dele?
— Eu não sei, isso é algo mais pessoal dela, mas... eu sei que ela quer se aproximar dele, por alguma razão.
— Ele não é o líder dos Ghostins, eu te falei.
— Bem, então talvez ela queira que ele seja, de alguma forma, e consiga ficar com a gangue – Arregalo os olhos. – Eu realmente não sei Zoe, mas ela quer algo de Dante, na verdade, acho que ela queria mais de Dante do que de Daniel, então, permaneça focando em Dante. – Solto uma lufada de ar.
— Focar em algo que eu nem sei o que – Vejo alguém se aproximar do prédio e tenho certeza que é Dante. – Preciso desligar, tchau.
Respiro fundo enquanto o vejo acabar com a distancia entre nós e tento não pensar no que acabei de ouvir, mas assim que o rosto de Dante fica visível, sinto meu estomago embrulhar.
— Chegou a muito tempo? – Ele pergunta.
— Não, Ana acabou de me deixar aqui antes de ir pro racha. – Ele assente e olha para o prédio atrás de mim, as mãos enfiada no bolso da jaqueta verde escura, acho que é a primeira vez que o vejo sem a jaqueta de couro.
Seu olhar volta para mim e o embrulho no estomago piora ao lembrar da voz de Romeo. Se ela quer que ele fique com a gangue, fará algo para isso, seja machucar Dean ou o próprio Dante para convencer, mas para a gangue ficar com ela, ela não precisará de Dante, mesmo que ele seja ele.
Antes eu não sabia exatamente o que fazia aqui, não sabia o objetivo final, mas agora que sei provavelmente qual será, e após me acostumar a conviver com essas pessoas e até gostar, principalmente por me darem a importância que nunca me deram antes, olhar para Dante quase me machuca.
— Zoe? Estou falando com voce. – Pisco algumas vezes e desvio o olhar de seu rosto.
— O que foi? – Me viro para o prédio.
— Podemos ir? Seu amigo Locuste conseguiu resolver as câmeras?
— Sim – Assinto com a cabeça e começo a subir as escadas em direção ao prédio. – Alguma ideia para entrarmos?
— Sim – Ele passa a minha frente e empurra a porta da secretaria, arregalo os olhos e corro atrás dele. – Rose, minha linda rosa.
Ergo as sobrancelhas enquanto vejo Dante abrir os braços e ir em direção a senhora de cabelos brancos na mesa em frente a sala que leva aos arquivos. Espero que a mulher franza o rosto ou o xingue, mas seu rosto apenas fica vermelho e ela abre um sorriso, sério? Ela deve ter o dobro da idade dele, no mínimo.
— O que posso fazer por voce Dante?
— Muitas coisas, voce sabe – Ele sorri, e se é que era possível, seu rosto fica ainda mais vermelho. – Mas hoje eu vim lhe ajudar.
— Me ajudar? Como?
— Soube da campanha que o jornal vem planejando para incluir rampas de acesso a deficientes físicos? - Não sei quem fica mais surpresa: eu ou a tal Rose. - Se eu fosse você, corria para avisar o reitor e ajudar a galera do jornal, quem sabe aquela sua promoção vem. - Ele pisca um olho e de súbito, a mulher se levanta da cadeira e da a volta na mesa.
— Vou fazer isso, não aguento mais ficar atrás dessa mesa e... - Sua voz vai sumindo enquanto se afasta para longe da porta. Dante se afasta para fechar a porta e quando me olha, ergue as sobrancelhas.
— Por que está me olhando assim?
— Não sabia que você lia o jornal. - Ele da de ombros e da a volta na mesa, se sentando na cadeira que antes a senhora ocupava.
— Eu não lia, mas agora leio - Fico sem saber o que dizer. - Então, o que precisamos procurar?
Hey amores, desculpe a demora para atualizar um capítulo, minha vida tá corrida com o fim do semestre da faculdade.
Mais um momento novo de Dante e Zoe do passado, e tem mais por vim, já que a próxima prima é da festa na fogueira...
Espero que tenham gostado e vejo vocês no próximo, mil beijos e se puderem, deixem a estrelinha ;)
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