diciannove
Quando as luzes se acendem, vejo a recepção, uma grande mesa de madeira em forma de metade de um quadrado bem no centro, atrás dela, um mural de fotos que ocupa toda a parede, me atrai. Ouço Dante fechar as portas novamente e sinto o ar aquecer, provavelmente ligou o aquecedor, mas estou mais interessada nas fotos de animais que me fazem sorrir.
Todos usam roupinhas diferentes, tem um hamster de boina, uma cadela com roupa de princesa, um peixe dentro de um aquário com um bigode desenhado no vidro e até um gato com roupa de taco que me faz gargalhar.
Há muitas outras fotos pelo quadro, todas em formato de polaroid, algumas com um coração no meio, mostrando que já fora adotado e outras com frases como ''não vai querer levar essa princesa para casa?'' na foto da cadela, incentivando a adoção. Bem no meio, no topo, vejo o nome de todos os fundadores: Dean, Dante, Matteo, Pietro e Martina.
— Isso é... uau – Solto em um suspiro, surpresa, feliz e encantada. A data de início é do ano passado – Como?... – Me viro para Dante tem as mãos nos bolsos do moletom, parado atrás de mim, analisando o quadro também.
— Dean – Ele dá de ombros – Na verdade todos nós, quando tudo acabou, ficamos meio perdidos, sem saber o que fazer, então nós formamos e ficamos ainda mais perdidos – Ele me olha – E então, no dia que Pietro foi permitido nos visitar, no meio do caminho, ele encontrou uma caixa de filhotes de cachorrinho abandonados, e apareceu com eles lá em casa – Ele solta um riso. – Foi meio assustador, ele chegou chorando, nos abraçando e dizendo que os filhotes não tinham uma família como a dele e mereciam uma... então surgiu a ideia da ONG e bem... aqui estamos.
— Uau.
— E tem mais, vem aqui. – Ele se apressa para um corredor a esquerda e só me resta segui-lo, as luzes de movimento acendendo pelo caminho.
Passamos por várias salas pelo caminho, uma porta escrito refeitório, banheiro, outra playground -consegui ver um escorregador para cachorros-, e uma maior, onde consigo ouvir o barulho de diversos animais, olho rapidamente pela pequena janela da porta e quase grito quando vejo uma maldita cabra olhando pra mim.
— Essa é a Matilda, ela não gosta de ficar presa, melhor se afastar que ela ataca. – Arregalo os olhos e corro atrás dele para a última porta do corredor, a sala dos funcionários.
— Então, você fazia física e agora trabalha numa ONG? – Dante, com a mão agarrada na maçaneta da porta, me olha sobre o ombro.
— Eu fazia química, e ajudo na ONG, eu estava estagiando no laboratório de biomedicina da cidade – Ergo as sobrancelhas, surpresa. – Antes de precisar fugir.
Ele abre a porta e mordo o lábio, indecisa antes de segui-lo. A luz acende quando ele entra e o sigo, vejo dois sofás grandes nas paredes entre a porta que deve levar ao exterior, a também alguns armários na parede ao lado da porta por onde entramos, mas é a arara de roupas que me faz revirar os olhos e um sorriso idiota nascer no meu rosto.
Dante parece uma criança animada em comprar roupas novas quando pega uma das jaquetas e coloca em frente ao corpo, me mostrando as costas, a bendita jaqueta dos Ghostins, pelo tecido meio gasto, é a mesma, só adicionaram a palavra ONG abaixo do desenho.
— Sério?
— O que? É a nossa marca – Ele veste a jaqueta, e quando o vejo ajeitar a gola, engulo em seco – E então? – Abre os braços, chegando a dar uma voltinha pra se exibir.
— Então... – O olho de cima abaixo e foco em seu rosto. – Não é ilegal ou algo assim?
— Talvez, mas não deu nenhum problema até agora e nossa querida Anabela foi promovida na polícia então... – Ele dá um passo à frente. – Você tem que parar de me olhar assim.
— Assim como? – Seu sorriso se torna malicioso.
— Como se eu fosse um pedaço de carne delicioso – Ele pisca. – E eu sou.
— Cala a boca – Passo por ele e me sento no sofá, a jaqueta é sacanagem. – Então vocês têm uma cabra.
— Uhum – Ele se vira e caminha na minha direção, desejo fugir quando ele senta ao meu lado e se vira de frente para mim. – É a nossa mascote.
— Como acharam uma cabra? – Ele dá de ombros, viro o rosto para vê-lo e vejo seus olhos em minha boca.
— Matteo tava andando na praia um dia e ela apareceu.
— E vocês acharam uma boa ideia trazerem uma cabra para a ONG? Uma cabra entre patos, gatos, cachorros, coelhos...
— A gente ajuda quem puder ajudar, é o mínimo que podemos fazer depois de tudo, e de termos saídos como inocentes, mesmo não sendo. – Me viro em sua direção e apoio um cotovelo no encosto do sofá e a cabeça na mão.
— Vocês não eram e não são inocentes, mas o que o tio de vocês e aqueles jogadores idiotas fizeram foi muito pior. – Ele dá de ombros.
— Ninguém é inocente nessa história, mas pelo menos estamos tentando nos tornar pessoas melhores. – Abro um sorriso.
— Vocês estão conseguindo, isso aqui é... – Olho para as jaquetas do outro lado da sala. – Sinceramente? Nunca pensei que os veria sendo donos de uma ONG, que esse seria o futuro de vocês.
— É o começo de nosso futuro – Ergue o dedo indicador. – Ainda queremos muitas coisas.
— E o que você quer?
— Eu? – Seu olhar desce para minha boca de novo e ele se aproxima mais, o ar ficando ainda mais quente ao nosso redor. – Quero ter uma família, filhos, esposa e tals.
Quase engasgo, meus olhos se arregalam e perco a fala por segundos. Dante Bianchi, o cara que dava em cima de qualquer coisa que andasse na universidade, quer ter filhos? Se casar? Se fosse Ettore ou Matteo falando isso, acho que ficaria menos chocada, mas ele?
— Que cara é essa? Acha que não deveria? Que seria um péssimo marido e pai?
— Não, eu... só, você... não esperava isso de você. – Ele revira os olhos e se afasta, quase reclamo.
— Minha mãe era uma oportunista que cagou pra mim e meu pai se importava mais com os negócios do que conosco, por muito tempo eu sentia ânsia de vomito só de pensar em ter uma família porque a minha era uma bosta, mas quando lembro que tive uma boa madrasta, irmãos que fariam de tudo por mim, e... queria um relacionamento como Ana e Dean – Ele abre um sorriso envergonhado. – Tirando todas as brigas e as vezes que realmente acho que eles vão sair na porrada.
— Isso que os torna um bom casal, de um jeito confuso, mas...
— É – Aumenta o sorriso – Eu quero isso, você não? – Não sei o que responder.
— Talvez, mas só se puder dar para meus filhos uma vida melhor que a minha.
— Eu acho que você seria uma boa mãe. – Solto uma gargalhada que me faz deitar a cabeça contra o encosto do sofá.
— Sei, e o que te faz pensar nisso? Que eu sei atirar? Poderia facilmente esconder um corpo? Sei manipular as pessoas e minto tão fácil como beber água? – Seu rosto se franze.
— São boas habilidades se quiser acabar com quem for fazer bullying com seu filho – Olho para ele chocada – O que? Quando passar por isso vai ver que estou certo – Reviro os olhos e olho para o teto, sinto quando Dante volta a se aproximar – Você faz isso tudo para proteger as pessoas, não por maldade. Além disso, é inteligente, linda e tem um bom coração – Viro o rosto em sua direção, e vejo quando sua mão sobe para meu rosto, colocando uma fecha de cabelo atras da orelha, sua mão permanece em meu rosto. – Você tem dúvidas?
Encaro seus olhos castanhos, sua cabeça quase sem cabelos que o deixou ainda mais bonito vestido nessa jaqueta de couro que me provoca arrepios. Dante tem todas essas qualidades também, mas acima de tudo, espero que ele perdoe, me perdoe quando eu contar a verdade. Engulo em seco e respiro fundo, não acho que haverá algum momento bom para contar a verdade para ele, mas sei que preciso contar o mais rápido possível, por que não agora? É uma merda ter que estragar a noite tão boa que estamos tendo.
— Dante eu... – Seus dedos encontram meus lábios, me impedindo de falar.
— Não, agora não. – Minha chance de contar a verdade sobre sua mãe me escapa quando seus lábios encontram os meus, na verdade, tudo me escapa, até minha sanidade.
O puxo pela jaqueta em minha direção, seu corpo se inclinando contra o meu nos fazendo cair até eu estar deitada no sofá, seu corpo cobrindo o meu. Posso parecer uma desesperada enquanto o beijo, mas Dante parece ainda mais, então não ligo de erguer uma perna, passar por cima de sua cintura e o apertar contra mim, o contato de nossos corpos faz nossas bocas se afastarem.
— Jesus Cristo. – Sua boca desce pelo meu maxilar até chegar ao meu pescoço, onde seus beijos seguidos de mordidas me fazem inclinar o corpo em sua direção, sentindo seu pau contra mim.
Suas mãos em minha cintura sobem por dentro da blusa, o contato das mãos geladas contra minha pele quente me faz soltar um gemido. Ergo os braços quando ele empurra minha blusa e o moletom para cima, o tirando de meu corpo, o vejo surpreso ao me encontrar sem sutiã, mas logo seu sorriso malicioso surge e sua boca em meu seio faz o frio desaparecer.
Minhas mãos descem pelo couro de sua jaqueta que em contato com minha pele me deixa ainda mais excitada, até chegar em seu quadril, procurando o zíper de sua calça. Quando minha mão aperta seu pau sobre a cueca, Dante geme contra meu seio.
— Merda. – Sussurra, mas o escuto.
— O que?
— Péssimo momento para dizer que não trouxe camisinhas? – Solto um suspiro e tiro minha mão de sua calça, a cabeça de Dante despenca contra mim.
— Talvez seja melhor. – Ele ri e ergue a cabeça, me encarando triste.
— Melhor que não transar com você? Duvido. – Seu revirar de olhos me faz soltar uma risada e aproximo meu rosto do seu, o dando um selinho.
— São quase cinco da manhã, já vai amanhecer e deveríamos estar em segurança no hotel planejando o que iremos fazer. – Ele suspira e relutantemente, sai de cima de mim, sinto o frio me atingir na hora. Dante se levanta para pegar minha blusa e moletom que jogou no chão e me entregar.
Enquanto visto a roupa e ele corre para o banheiro, não consigo evitar de sentir meu rosto vermelho ao lembrar de onde minha mão estava a minutos atrás. Posso ter experiencia em várias coisas, mas sexo não é uma delas, qual é, eu só fiquei com Romeo em toda minha vida, e foram só duas vezes, a primeira totalmente desastrosa. Não sei como me entreguei tão fácil assim para Dante.
— Pronta? – Ele pergunta parado na porta de acesso ao corredor, respiro fundo antes de me levantar e o encarar, sinto meu rosto ficar vermelho. – Ta com vergonha?
— Melhor ficar quieto antes que eu me arrependa. – Ele revira os olhos e segura minha mão, nos levando pelo corredor em direção a saída.
— Você devia baixar sua guarda mais vezes, viu como a noite foi boa? – Ele só solta minha mão para desligar a energia, nos deixando no escuro, somente a luz dos potes da rua e da placa da ONG iluminando fracamente sua sombra que volta a procurar minha mão. – Você fica até mais legal.
— Obrigada por me chamar de chata – Ele empurra a porta, o vento nos atingindo assim que saímos dela. – Eu não posso simplesmente baixar a guarda, coisas ruins acontecem quando eu baixo a guarda.
— Tipo o que? – Ele para na calçada em frente ao jeep e se vira para mim, quando olho para ele, fico sem reação.
Não tenho tempo de o avisar ou correr quando vejo a pessoa com roupas pretas se aproximar rapidamente, segura-lo pelo pescoço e colocar algo contra seu rosto, já que sinto o mesmo pano úmido contra meu rosto. Só consigo ver Dante tentar se afastar e me olhar desesperado antes de apagar.
Minha cabeça dói, meu pescoço dói, minhas mãos doem, todo meu corpo dói.
Minha cabeça está caída para frente, tento erguê-la, mas o movimento machuca todos os meus músculos, ainda assim, me esforço e a ergo, soltando um gemido de dor durante o processo. Minha cabeça parece estar rodando e quando tento abrir os olhos, minha dor de cabeça piora e vejo tudo embaçado.
Parece que tomei um porre.
Aperto os olhos, tentando aliviar a dor e me lembrar do que aconteceu. Eu e Dante na pista de skate, beijos, ONG, ele me mostrando as jaquetas, mais beijos, então saímos e... homem de preto. Arregalo os olhos, o movimento me causa dor e preciso de segundos para deixar de enxergar tudo embaçado, quando minha visão finalmente focaliza, sinto vontade de vomitar.
Conheço aquela sala até de olhos fechados, não preciso olhar ao redor para ver as paredes revestidas de tijolinhos brancos, o chão marrom claro, as estatuas de mármore ao redor do local, que vieram de vários lugares diferentes, quadros roubados, um enorme candelabro pendurado no centro do teto e na parede mais ao fundo, uma grande poltrona de couro clara, duas mesas ao lado, uma sempre servindo de apoiador para uma bebida e a outra para uma arma.
O riso que soa pela sala me faz levantar o olhar para a poltrona, não encontro os cabelos loiros que esperava lá, mas encontro outros. Os cabelos loiros escuros estão em mais curtos, arrumados em um topete, o rosto está mais maduro com um pouco de barba que enquadra seu sorriso maldoso, mas são seus olhos que me causam arrepios, os olhos verdes esmeraldas que antes me olhavam com cuidado, preocupação e até amor, agora faíscam em minha direção.
Romeo estala os dedos e se levanta da poltrona, os dois guardas ao seu lado segurando metralhadoras não se movem, o que é um bom sinal. Tento me mexer, e só então percebo meu estado, estou sentada em uma cadeira de metal, meus braços para trás estão presos por uma algema e meus pés presos nos pés da cadeira, puxo minhas mãos com força e resmungo.
Olho ao redor, tentando buscar uma saída enquanto ouço os passos de Romeo se aproximarem lentamente em minha direção, é quando encontro Dante ao meu lado, igualmente preso, sua cabeça caída para frente e vejo um olho roxo que não estava lá antes. Sinto uma sombra em mim, respiro fundo e ergo a cabeça, encarando o garoto que não vejo há mais de dois anos.
— Zoela Martinelli Hilton – Ele cruza os braços – Che piacere vederti, faz quanto tempo? Três anos? – Não o respondo, prazer em me ver? Piada – O que foi? Devo falar em inglês? – Ele lança um olhar para Dante desmaiado ao meu lado. – Ah não, acho que andou treinando muito italiano.
— Como me achou? – Ele ergue as sobrancelhas.
— Essa é sua primeira pergunta para mim? Nada de como vai? O que aconteceu desde que você traiu a Regno?
— Levando em conta que você estava naquela poltrona de líder, deve ter sido ótimo minha traição para você. – Ele acena com a cabeça.
— Não posso negar, sua traição me levou para o topo, mas não espere agradecimento. – Reviro os olhos e volto a puxar as algemas.
— De você? Nunca esperaria. – Tento mexer meus pés, mas só faço com que a cadeira se mecha para frente, em sua direção.
— Cuidado para não se machucar bionda – Seu sorriso se torna maior ao ver meu desgosto com o apelido – Soube das novidades – Ele começa a andar ao meu redor, e quando o sigo com o olhar, encontro pessoas espalhadas pelo salão que a muitos anos atrás já foi usado para ceias, me encarando, é estranho ver tantos conhecidos e os olhares de ódio para mim – Se aliou ao inimigo, fez até amiguinhos, depois fugiu para protege-los, que fofo, e conseguiu um cargo de editora chefe do jornal? Estou impressionado, nunca soube que gostasse de jornalismo. – Abro um sorriso de escarnio.
— Você nunca soube muitas coisas sobre mim, não é? É difícil olhar ao redor quando se tem um ego tão grande. – Ele volta a parar na minha frente.
— Mas o mais interessante de tudo, é como você decidiu se unir e os proteger, ir contra as ordens de sua famíglia. – Solto uma risada, famiglia?
— Foi mal, não tava a fim de matar ninguém na época.
— E decidiu acabar com sua vida para protegê-los? – Ele se inclina em minha direção, seus olhos sérios me fazem engolir em seco, pela primeira vez, desde que cheguei – Você sabe que sua traição não vai passar em branco, não é? – Ele sussurra. – Sabe que você está morta.
— E quem vai me matar? Você? – Seus olhos verdes analisam todo meu rosto, consigo ver um pouco do Romeo de antes, e sei que a resposta é um talvez.
Um resmungo soa ao nosso lado e ambos viramos o rosto, encontrando Dante começando a despertar. Ouço a voz de Romeo em meu ouvido, sussurrando o que me faz realmente começar a sentir o medo de estar aqui.
— Vou adorar recepcionar o herdeiro da Regno – Ele solta um riso. – Herdeiro não por muito tempo.
Sem comentários sobre o capítulo, mas se preparem que agora a bomba explode.
Viram minha nova história? Não? Corre lá no meu perfil e cheque sobre Club Della Morte, minha nova história que estreará quando fuggitivi acabar.
Beijos e até sábado que vem.
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