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Vitamina Tutti-Frutti na Memória

Todo dia a gente tem

Tem

Tem que levantar

Cocoricó – Vitamina Tutti-frutti

— Eu não tenho ninguém — vinha dizendo para si mesmo.

  Dom abandonou tudo e decidiu morrer.

  Fazia uma semana que seu melhor amigo se sacrificou para que ele vivesse, fazendo dele o último sobrevivente em um planeta que, ironicamente, estava tendo problemas com a superpopulação até o mês passado.

  Ditaduras são instauradas de forma lenta; relacionamentos acabam depois de muitas e muitas brigas; guerras começam bem antes do estopim; frutas dão indícios de que estão apodrecendo semanas antes de se tornarem impróprias para o consumo. Da história da humanidade ao cotidiano de qualquer ser humano, a vida dá sinais.

  Mas não houveram sinais quando a primeira pessoa foi infectada. E depois outra e outra e outra...

  Dom chamava de zumbis. Alguns jornais os chamaram de "contaminados". Demorou uma única semana até que a maior parte da população estivesse em um estado catatônico, caminhando por aí, gemendo baixinho, procurando por alguma coisa em algum lugar. Mais uma semana até isso chegar à Rússia e assim todos souberam que era o fim... Sério, zumbis na Rússia? Isso soa como um filme trash dos anos 90, mas quem imaginaria, os zumbis sobreviveram ao General Inverno. Eles estavam por toda parte e em todo o mundo.

  O que Dom sabia é que uma mordida te infectaria e que, em um apocalipse, qualquer coisa serve como arma. Foi a primeira vez que ele viu alguém usar apenas uma caneta para matar outra pessoa... Teria sido maneiro se fosse um filme de ação, mas Dom se lembra de ficar meio enjoado com todo aquele sangue e pedacinhos nojentos.

  Na escola ele não era um tipo de aluno estudioso e nem um dos atletas, Dom não era um gênio da ciência e era ruim em educação física. Ele gostaria de ter prestado mais atenção nos seus professores, talvez assim ele conseguisse produzir um pouco de eletricidade para tomar um banho quente. Ele gostaria de ter sido mais engajado nos esportes, talvez assim ele pudesse correr mais rápido e seu amigo não precisaria ter se sacrificado por ele.

  Mas do que adiantava? Todas as pessoas estavam mortas e oh... Certo, Dom decidiu que era hora de morrer.

  Quando as coisas ficavam difíceis, pensar em morrer era a solução chave, costume que parecia vir de família. Você tirou uma nota ruim na prova? Está na hora de começar a planejar a sua morte. Você quebrou o dedinho e agora está com dor? É melhor pensar em formas de morrer. Seu pão caiu e por alguma falha na matrix, a manteiga estava para cima e agora você sabe toda verdade do mundo? Suicídio é a solução!

  Ninguém nunca fez. Seu bisavô, seu vô, seu pai e seus tios falavam muito sobre suicídio, mas nunca tentaram nada.

  Agora, deitado no chão de uma confeitaria vazia, sentindo uma mistura do doce cheiro do açúcar mascavo e o que parecia ser o odor de carne estragada (porque, você sabe, oito bilhões de pessoas agora eram mortas-vivas e isso não podia cheirar bem), Dom decidiu desistir.

  Ele calculou seus motivos:

1. Ele não tinha um emprego. Isso não importava agora, mas os quatro anos que ele passou na faculdade de teatro foram jogados no lixo e isso era tão triste. O que ele iria fazer? Recitar Wilde para os zumbis?

2. Todo mundo sabe que o ser humano é um animal sociável. Quantos dias até que ele começasse a enlouquecer por estar sozinho no mundo? Sem ninguém. Sua família estava morta, ele não tinha certeza se ainda tinha uma namorada e seu único amigo agora era um zumbi que estava apenas algumas ruas atrás.

3. Não havia energia, toda a comida estava começando a estragar e era francamente desconcertante andar nas ruas temendo ser atacado a cada minuto. Oh céus, agora ele sabia como as mulheres se sentiam e ele nem mesmo podia postar a experiência no twitter porque, veja, não tem internet... Pensando bem, isso não é exatamente algo negativo.

  Para mim parece bastante óbvio que ele deveria ir para alguma ilha, porque todo mundo sabe que zumbis não sabem nadar e a menos que a ilha tenha recebido visitantes infectados, estão todos isolados do mundo, rindo dos otários infectados e tomando bebidas em cocos... Porque pessoas que moram em ilhas tropicais com certeza tomam coisas em cocos.

  Claro, ninguém nunca pensa em procurar por uma ilha e agora Dom está jogado no chão da confeiteira sendo, literalmente, a maior vergonha viva do seu país.

  Surpreendentemente, quando se está em um apocalipse zumbi suas opções de suicídio diminuem consideravelmente. Sem chances de ser atropelado. Armas? Onde você pensa que estamos? No Texas? Dom também não vai se envenenar, porque ele não sabe onde encontrar veneno. Ele não tem certeza se se jogar de um prédio é uma boa ideia, porque, caso não morra, vai ficar agonizando no chão sem perspectivas de resgate.

  E, certo, há os zumbis, mas se todos os gritos que Dom ouviu queriam dizer alguma coisa, era que ser devorado por mortos-vivos doía e ele esperava que seus últimos momentos de vida fossem um pouco menos dramáticos do que isso.

  Ele estava pronto para simplesmente permanecer no mesmo lugar até a inanição acontecer, exceto pelo barulho alto que ouviu vindo dos fundos da confeitaria. Como todo bom sobrevivente, Dom alcançou o facão que vinha carregando desde que o mundo desandou, não era muito estiloso, mas cumpria sua função.

  Ele se aproximou dos fundos da confeitaria devagar, movimentos cautelosos e torcendo para não ser uma situação de fuga de emergência, porque ele estava cansado demais para isso.

  Abriu a porta, dando de cara com o que um dia foi a cozinha, se tratava de um cômodo espaçoso, com fogões industriais, freezers, prateleiras cheias de alimentos vencidos e utensílios empoeirados.

  Dom examinou o lugar com um olhar atento, que só alguém que sabe que pode morrer possui. Isso significa que ele avaliou cada possível lugar onde poderia haver alguém escondido e concluiu que estava sendo paranoico ao pensar que um zumbi teria inteligência suficiente para se esconder dentro do armário.

  Dom estava pronto para voltar a sua posição de derrota no chão, quando mais um barulho foi ouvido. Soava como panelas se chocando umas contra as outras e vinha do... Armário! Zumbis no armário? Dom estava certo desde o início? Não seja burro, é claro que não. Zumbis não se escondem em armários. Talvez em elevadores e talvez em carros, mas não em armários. Os filmes não me deixam mentir.

— Gato ou rato? — perguntou-se, pigarreando em seguida, fazia um tempo desde que ele usou a voz.

  Dom manteve a pergunta em mente, enquanto se aproximava do armário, facão levantado e pronto para lutar com o que quer que estivesse se escondendo lá dentro.

  Gato ou rato? Gato ou rato? Gato ou rato? Gato ou rato? Gato ou rato? Gato ou rato? Gato ou rato? Gato ou rato? Gato ou rato? Gato ou rato? Gato ou rato?

— Criança? — engasgou, caindo para trás quando viu olhos castanhos piscarem em sua direção.

  Era uma menina, parecia ter nove ou dez anos de idade, encarando-o com curiosidade. Primeiro, Dom segurou o facão com um pouco mais de força, porque, se uma criança sobreviveu ao apocalipse por tanto tempo, tinha que ter alguma coisa errada com ela.

  A menina tinha dois grandes olhos castanhos, pele marrom e cabelos acobreados que nesse momento eram apenas um amontoado de fios embaraçados. Usava uma blusa de frio cor-de-rosa com manchas vermelhas, o que fez Dom apertar o facão ainda mais, porquê, que tipo de criança usaria uma blusa de frio em pleno verão de dezembro? No Brasil?! Mais uma vez, tinha que ter alguma coisa errada com ela.

— O... lá! Me... u... No... me... É... D... o... m... — disse pausadamente, falando como se a criança só pudesse entendê-lo se gesticulasse bastante. — Qual... É... O... Se... u... No... me?

  A criança ergueu uma sobrancelha em desconfiança. Que tipo de criança ou pessoa consegue erguer apenas uma sobrancelha? De novo, há algo errado com a pirralha.

— Luna Linda Rosa Rosalinda — Luna Linda Rosa Rosalinda se identificou.

— Luna Linda Rosa Rosalinda? — Dom repetiu, também tentando levantar uma sobrancelha em ceticismo, ação que foi falha e ele apenas pareceu ainda mais idiota. — Ninguém se chama assim.

— Ninguém mais se chama Dom — Luna rebateu com uma voz atrevida e fina demais.

— É claro que chama, há o Corleone e o Lockwood — sentiu-se ofendido.

— Eu não sei quem são essas pessoas — a garota murmurou, esticando a mão para fechar a porta do armário, trancando-se de novo lá dentro.

  Dom ficou mudo, piscando atônito na direção da porta. Considerou ir embora. Ele nunca foi um tipo de adulto responsável, sua casa penhorada e suas dívidas com vários agiotas da cidade eram provas de que Dom era a última pessoa que você deveria procurar se precisasse de conselhos financeiros e a primeira caso quisesse alguém para enganar com um novo esquema de pirâmide.

  Mas agora, ele acreditava ser o último adulto do mundo, ele tinha que ser responsável. Tentou abrir o armário, mas a criança o puxou para trás com força, não querendo que ele abrisse.

  Então ele tentou bater, parecia o certo, ele não forçaria a menina a abrir a porta, porque isso parecia algo que alguém não-responsável faria.

— Não tem ninguém em casa — Luna gritou.

— Eu tenho uma faca — Dom disse sem pensar. — Isso não é uma ameaça, eu só... Queria informar? — quis se bater por isso.

  Luna Linda Rosa Rosalinda nem fez questão de responder, o que foi bem rude da parte dela, Dom notou.

  Dom queria ir embora, mas ele também precisava se certificar de que a criança estava segura. Ao contrário do que o Gabriel parece pensar, em um apocalipse zumbi você não pode simplesmente largar as crianças que você encontra pelo caminho em um orfanato. Afinal, não restaram orfanatos...

— Você tem pais? — que perguntinha, hein, é claro que ela tinha pais. — Pais vivos? — complementou.

  Luna não respondeu.

— Vamos, eu só quero te ajudar — Dom insistiu.

  Ainda sem respostas.

— Eu vou embora — ameaçou na tentativa de fazer a garota ficar com medo de ser deixada sozinha e assim abrir a boca.

— Ótimo, adeus — Luna disse lá de dentro.

  Dom suspirou, levantando-se do chão e encarando a cozinha, à procura de alguma coisa que pudesse fazer Luna falar com ele. Do que garotinhas de nove ou dez anos gostavam? Do que ele gostava na infância? Desenhos, brincadeiras violentas, doces...

  Doces! Toda criança gosta de doces e eles estavam em uma confeitaria!

  Com o entusiasmo renovado, Dom foi até as prateleiras onde ficavam os pacotes de balas e chocolates. Escolheu uma bala cumprida de sabor vitamina tutti-frutti e torceu para que Luna não fosse diabética, intolerante a lactose ou alérgica a... Todas as frutas?

  Voltou a se ajoelhar no chão, batendo na porta do armário.

— Eu voltei e trouxe doces — cantarolou com ansiedade.

  Sorriu em excitação quando Luna abriu um pouquinho a porta, um único olho espiando o que Dom tinha. Ele chacoalhou a bala na frente da garota, vendo Luna abrir um sorriso e aceitar o agrado, saindo do armário e sentando-se ao seu lado para comer.

— Achei que não tinha ninguém em casa — zombou, também abrindo uma das balas que pegará para si mesmo.

  Tinha gosto de infância e Dom achou que o gesto de dividirem o mesmo doce o tornou mais próximo de Luna, eles praticamente eram melhores amigos agora. Luna apenas encolheu os ombros, mastigando a bala e olhando ao redor.

— O que está fazendo aqui sozinha? — quis saber, mas a criança permaneceu em silêncio. — Eu não vou te machucar, só quero ajudar — tentou, esperançoso de que pudesse obter respostas se garantisse que Luna estava segura, mas Dom ainda segurava seu facão, porque qualquer um era um zumbi em potencial.

  Eu vou te contar todas as coisas essenciais sobre Luna e que Dom não sabe ainda. Ela tem onze anos, não nove ou dez. Luna perdeu os pais para o vírus zumbi, assim como 100% da população também perdeu alguém para o vírus zumbi. Luna tem sobrevivido escondida no armário da confeitaria e lendo livros de receitas, você não vai acreditar, mas a garota aprendeu a fazer uma tartelete de morango que é de dar água na boca. Luna acha que Dom é um idiota, mas ela também está com medo, porque adultos estranhos com facões costumam ser pessoas ruins e não idiotas.

  Agora, ela não falou nada disso para Dom e Dom está começando a se desesperar.

— Você está com alguém? Alguém está cuidando de você? — exigiu, soando francamente histérico.

  Luna parou de mastigar, encolhendo os ombros novamente e abaixando o olhar.

— Eu não tenho ninguém — Luna murmurou, parecendo muito séria para uma criança tão jovem.

  Dom teve um daqueles flashbacks de segundos. Ele não tinha dito essa mesma frase mais cedo?

  Chame de azar ou de destino, ele achou que depois do divórcio e das pedras no rim sua vida não poderia piorar, Dom nunca teve muito na vida, daí veio o apocalipse e levou o pouco que ele tinha.

  Ele achou que era uma boa hora para morrer, agora que o mundo virou um caos e qualquer sentido que ele estava começando a considerar que pudesse existir foi aniquilado, era o momento perfeito!

  Dom estava assustado, com raiva e ansioso. Ele sentia falta de tomar café, assistir ao jornal e reclamar dos seus vizinhos. Percebeu que a vida era boa antes, mesmo com a carne custando tão caro e morando sob o mesmo teto que sua mãe... Que saudades ele tinha da sua mãe. Sua vida sempre foi uma bosta generalizada, mas em uma escala de fezes, agora era totalmente uma diarreia.

  Fazia semanas que ele não comia uma refeição decente, o mundo estava silencioso pra caramba e tudo fedia, porque toda a população estava meio que morta. Não havia internet, não havia mais noites tranquilas de sono e ele estava surtando toda vez que se lembrava que matou dezenas de zumbis, que já foram pessoas legais e não tão honestas, atropelados com uma minivan que ele e seu melhor amigo roubaram do seu vizinho morto-vivo.

  Estava tudo tão louco e Dom estava exausto, ele queria desistir. Como eu disse, os homens da sua família sempre pensaram em suicídio, sempre queriam fugir quando as coisas ficavam difíceis e simplesmente ignorar o problema até que ele fosse embora, mas eles nunca faziam isso. Dom queria desistir, mas agora ele tinha um motivo para sobreviver.

— Eu também estou sozinho — contou à Luna, coisa que ela já sabia, não tem como um idiota como Dom ter uma vida social. — Podemos ficar sozinhos juntos.

  E Luna, que estava com saudades de casa e assustada com as pessoas sem vida andando pela Terra, pela primeira vez desde que perdeu sua vida, sentiu que talvez Dom pudesse ser um amigo e ela não estaria mais tão sozinha.

  Com o sabor artificial de tutti-frutti na boca e uma velha música na memória, Dom e Luna se levantaram, espreguiçaram-se, chacoalharam-se e foram tomar café.

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