
Volterra
RETA FINAL, VADIAS
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Encarei o castelo como se o visse pela primeira vez. Ele já não me parecia tão grande e imponente quanto eu me recordava. Engraçado, passou tão pouco tempo... As coisas nunca seriam as mesmas, eu sabia disso desde que parti.
O dia está nascendo, iluminando o topo de cada torre e consequentemente seus soldados mais indiscretos que se inclinavam para fora das sombras para espiar nossa chegada. Eu havia destruído a cidade há pouco tempo, nem devia estar dando as caras por aqui, no entanto, havia essa pequena necessidade de voltar para que fôssemos esclarecidos de pontos muito importantes para a conclusão dessa história. Demitri disse que tudo havia ido de acordo com os planos, mas não me explicou nada na nossa viagem de volta no jatinho honestamente comprado — ou quase honestamente. Foram longas horas sem falar nada e até agora estou grudada no braço de Jasper, a mão entrelaçada à sua. Não o soltei nem um segundo depois de tê-lo agarrado na clareira e imagino que não o soltarei nunca mais.
Meu companheiro, eu penso sem ter me adaptado à ideia de que há alguém perfeito para mim nesse mundo miserável e que eu o encontrei. Ele está comigo e ficará para sempre. Olho para o loiro, só que ele não me encara de volta, atento a tudo que acontece ao nosso redor. Não está mais confiante do que eu nessa reunião para a qual fomos convocados, mas a ameaça de Chinara foi superada e Heidi nos disse que não pretendem nos ferir. Acordos foram feitos. Jasper e eu estamos seguros.
— Esperem aqui.— disse ela, melodiosa, se virando para nós assim que as portas do saguão se fecharam em nossas costas. Jasper e eu paramos, Félix continuou andando e Demitri olhou para mim por cima do ombro.
— Voltamos logo— ele disse, mais para mim do que para Jasper. Seu semblante era triste e eu acho que nunca trocamos um olhar tão significativo quanto este. Bem, ele me salvou de ser queimada. Lutou ao meu lado e mesmo que fosse por ordens dos nossos reis, se arriscou mais do que já havia sido obrigado. Ele se importa comigo, à sua maneira. Quando o caçador cortou o contato visual, eu entendi que tudo entre nós estava acabado.
Nosso romance não foi tocante ou íntimo como deveria, não foi longo, mas aconteceu. Não tinha como apagá-lo ou ignorá-lo. Pelas suas costas e em agradecimento, devolvi seu dom.
Eles nos deixaram ali, sozinhos e sem dicas.
— Você confia neles?— Jasper me perguntou baixinho quando não conseguimos mais ouvi-los.
— Tanto quanto você— respondo no mesmo tom, meus olhos correndo pelos corredores que eu conheço como a palma de minha mão. Jasper ficou quieto por um tempo, os olhos âmbar vívidos e cerrados de desconfiança. A pose de um soldado. Estamos sujos e bagunçados. Não tivemos tempo para ficar apresentáveis depois de quase sermos mortos— Você está bem?
— Me sinto um lixo. Vou sobreviver— se ele ainda está dolorido de alguma forma, não demonstra— e você?
— Idem— resmungo.
— Que acordo pode ter sido feito em nosso favor?— ele balança a cabeça— Não gosto disso, não sei o que esperar.
— Não acho que vá melhorar— confesso.
— Luci— ele me abraça, beija meu rosto e aproxima os lábios dos meus cabelos— Você está me deixando nervoso.
Eu estava quase andando de um lado para o lado de tão ansiosa. Suspirei e abracei o empata de volta.
— Eu tô bem— menti. Não, eu não estou bem. Alec morreu na minha frente, ainda me sinto pronta para atacar. O modo de combate é difícil de desligar depois de tudo o que passamos. O dom de Jasper me acomodou, acalmando minha alma e eu fechei os olhos por um momento longo, aproveitando-me do bem que ele me faz.
— Vai ficar bem. Nós dois vamos— ele me corrige e nós ficamos nesse encaixe, até que o silêncio pacífico seja interrompido pelos saltos de Heidi.
— Vistam isso e me acompanhem— ela disse, estendendo-nos capas cinzas para escondermos a roupa suja.
Isso é estranho. Estou tão acostumada a ser a anfitriã que não sei como agir, agora sendo a visita. Receber uma capa cinza e não preta deixa bem claro que minha posição foi revogada. Rompida por um corte irremediável. Não sou mais uma Volturi.
Jasper desfez o abraço e voltou a segurar minha mão enquanto nós íamos atrás de Heidi a uma distância respeitosa com os mantos sobre os ombros. Sabia para onde estava sendo guiada: para o subsolo, para o meu julgamento.
Realmente, não é minha intenção começar uma briga aqui, no entanto, sei que vou atacar Vossas Majestades no momento que sentir que a coroa está ameaçando Jasper. Tal erro seria imperdoável. Acredito que ficou bem evidente o quão fora de mim eu fico quando Jasper está correndo perigo. Ultrapassei barreiras que pensei serem o fim da linha, elevei o dom de Jane em um dia de um jeito que ela não conseguiu fazer em muito mais de um século. Tudo por ele.
Novamente, o mero ato de ficar, é a maior prova de amor que um vampiro como eu pode oferecer. Sei que Jasper ficaria mesmo se eu não fosse supostamente o maior amor de sua existência, porque ele é bom. É piedoso. Uma pena que chegará o dia que eu estragarei isso nele.
Ou quem sabe, no final, é ele quem me muda. De qualquer forma, veremos.
Detesto ter sangue animal no corpo.
Quando chegamos ao salão de julgamento, tive um déjà vu do dia em que passei com Jasper por aquelas portas quando ele era um completo desconhecido. Parece fazer mais de um século que nós nos conhecemos e ouso dizer que não me arrependo de nada.
A caminhada foi curta, quieta, e assim que Heidi saiu da nossa frente, Jasper parou no lugar, me obrigando a parar por consequência, antes do que deveríamos.
Franzi a testa e o encarei, confusa. Ele olhava para frente horrorizado, e, seguindo seu exemplo, notei os novatos. As perdas foram trágicas ontem, então não deveria me surpreender de ter gente nova ladeando Vossas Majestades. Ainda assim, me surpreendo, porque seus olhos são como os de Jasper e eu tenho certeza de que sua dieta não é nada comum para terem tantos a colocando em prática. Farejei o ar e reconheci o cheiro que senti em Jasper quando estávamos em Paris. Ele vinha da vampira baixinha de cabelos curtos e espetados, de pé ao lado de Aro. Ela é absolutamente bela. Alice?
Voltei-me para Jasper, os olhos dele passaram da mulher para o rapaz do outro lado, alto e de cabelos acobreados. Tinha uma feição de quem estava morto por dentro — o que é muito irônico pra quem está de fato morto.
— O que foi?— sibilei para Jasper, o clima tenso preencheu o salão obscuro e quase vazio. Concentrei-me em todos ao nosso redor. Estamos em desvantagem de novo, de dez contra dois.
— Edward e Alice— Jasper rosna, solta minha mão e avança para os novatos, mas Heidi entra na frente dele e segura o seu ombro.
— Não tem o direito de se aproximar a menos que seja chamado para perto— advertiu a vampira, os olhos vermelhos injetados se destacando além da sua pele negra e tão bela quanto a de Chinara. Nem parece que ela ajudou a salvar nossa vida ainda há pouco, tão severo é o seu semblante. Fui para o lado de Jasper e nós a encaramos até que ela abaixasse a cabeça e tirasse a mão do meu homem, se afastando.
— O que é que vocês estão fazendo aqui?— Jasper quis saber, ainda furioso.
— Protegendo você, meu caro, o que mais seria?— respondeu Aro, se levantando graciosamente. Puxei Jasper para que ele recuasse comigo, mas o loiro resistiu. Entendo que esteja furioso, sua família, que ele resistiu tanto para não trazer para o meio disso, veio se entregar em uma bandeja de ouro para os Volturi. Eu também estaria furiosa se desse a mínima para eles.
— Altezas— cumprimentei nossos dois reis presentes. O empata ao meu lado permaneceu quieto, encarando o suposto Edward. Dado seu último encontro com o seu irmão postiço, o leitor de mentes, é mais do que óbvio que Edward foi parte importante para fazer com que Jasper tomasse a decisão de deixar Forks, sua antiga morada.
É Edward quem tem uma mascotinha humana que Jasper quase matou, se não estou enganada. Aquela que sabe demais sobre nossa espécie e certamente é uma ameaça que Vossas Majestades vão querer eliminar.
O que é que ele pode estar fazendo aqui se tem tanto a perder?
— Lucille, mia bella— Aro veio para meu lado segurar minha mão. Anulei seu dom para que ele não soubesse nada de que não deveria. Alguns dos momentos que vivi com Jasper pertencem somente à nós e eu me recuso a compartilhar— Que bom que está viva— ele apertou a minha mão, certamente tentava ver alguma coisa, só que não demorou muito a entender que eu o havia invalidado.
— Viva e curiosa— tirei minha mão das suas do jeito mais delicado que pude e ele tinha seu dom de volta— Vamos direto ao ponto, majestade— ele deu um sorrisinho. Percebo que ele não me assusta tanto quanto assustava antes.. Considerando o que vivi, ele me parece o menor dos obstáculos. Insignificante, na verdade— Tentarão nos matar agora?
— Ah, não, não queremos machucá-los e nem ousaríamos— Aro responde. Caius está ausente, mas por incrível que pareça, chego a lamentar sua falta, porque ele teria ido direto ao ponto— Soube o que fez e em que escala. Não poderia estar mais orgulhoso.
— Não me bajule, meu rei. Demitri me disse que tudo o que aconteceu recentemente estava dentro dos seus planos... que planos seriam esses? Estava dentro dos planos perdermos Alec?!
— Tenha cuidado com a forma que fala, criança— alertou-me Marcus, atraindo minha atenção para si.
— Não faz ideia de quanto cuidado estou tomando, majestade— repliquei e ele sustentou meu olhar com sua indiferença típica. Morra, desgraçado. Morra.
— Você sabia— Jasper fala, olhando para Alice— Eu ia morrer no ataque da bruxa, não ia?
Alice abaixou o olhar, sem coragem de encarar seu irmão. Jasper tinha entendido algo que eu não consegui ver.
— O que?— apertei a mão dele, exigindo uma explicação.
— Eles são o acordo— Jasper baixou a cabeça e a balançou, cheio de desapontamento.
— De fato— Aro concordou— Não deveria estar tão zangado, Jasper, afinal, eles estão aqui para mantê-lo a salvo.
— O que isso quer dizer?!— elevei o tom de voz, irritada por estar sendo deixada de fora daquela conversa de poucas palavras.
Aro se voltou para mim.
— Lucille. Quando você fugiu naquela fatídica noite, nós não demoramos a nos juntar à falecida bruxa, Chinara, na busca pela sua cabeça, como bem sabe. Fiquei terrivelmente desapontado com você ao descobrir que havia matado Jane e omitido este detalhe crucial.— começou Aro, finalmente.
"Jane era um talento muito importante para nossa guarda muito tempo antes de você sequer existir. Sua perda foi trágica e não se engane, em primeiro momento, quisemos o mesmo que Chinara com todas as nossas forças. Vingar Jane era de máxima prioridade, além de mostrar para a bruxa o começo de uma nova e formidável aliança com a nossa espécie. Mas, conforme os dias se passavam e ficava mais difícil de alcançá-la por ter anulado o dom de Demitri, pensamos com mais clareza e nos demos conta... nos demos conta de que você é tão importante para nós quanto Jane foi, Lucille, e que perdê-la também não seria nenhuma vitória. Entendi seu medo e sua reação contra Jane, no fim das contas, você precisava agir ou seria seu fim. Parei de julgá-la e nossa caçada por você tomou um outro rumo. Precisávamos de você em casa, de um jeito ou de outro, só conseguiríamos proteger você de perto... e faríamos de tudo para tê-la de volta."
Ele andava ao nosso redor como um tubarão sentindo o cheiro do sangue de uma presa nova. O acompanhei com o olhar atento, vidrado.
— Depois que a alcançamos, percebemos que não se renderia tão fácil e era de se compreender, considerando que só nos via ao lado de seus inimigos. Não víamos como conseguiríamos trazê-la para casa ou quando. Lucille, devo dizer que ficamos impressionados com sua resistência e a do senhor, senhor Whitlock.
Como ele....? Mal começo a me questionar, logo enxergo o óbvio. Ele viu o verdadeiro nome de Jasper nas memórias de seus irmãos.
— Vocês me queriam de volta porque o dom de Jane não estava perdido— retruquei, irritada.
— A queríamos de volta porque nos importamos com você, mia bella. Alec morreu por você— ele disse e eu quis matá-lo. Me segurei.
— Se importam comigo e apenas comigo? Não deu a entender que seus planos de resgate incluíam Jasper em momento algum mesmo sabendo que eu sofreria sem ele.
Aro juntou as mãos, parando sua voltinha na nossa frente.
É isso tudo mesmo ou ele só se cansou de Chinara e quis tirá-la do caminho, protegendo o que sobrou de tolerante, ou seja, eu. Eu poderia prever que suas personalidades não se encaixariam. Chinara era jovem, imprudente. Aro é ambicioso, frio. Ele é um psicopata sedento por poder. Ela tinha sentimentos muito intensos, tomava decisões estúpidas. Era mais um problema do que uma solução, estava concentrada demais na vingança. Se importava com coisas que não importam para Aro.
— Sabíamos que vocês eram importantes um para o outro, sim, mas não sabíamos o quanto e não poderíamos salvar ambos, pois Chinara exigia a dor de alguém. O acordo que ela a ofereceu tinha sido ideia minha— ele disse e eu cerrei os dentes. Jasper segurou meu pulso e tentou me acalmar com seu dom, no entanto, eu já havia erguido o muro a minha volta, novamente impenetrável. Seu dom só me fez cócegas— A escolha teve de ser feita e nós continuamos a escolhê-la, Lucille.
"Antes de os encontrarmos essa última vez, Alice e Edward apareceram em nossa porta por livre e espontânea vontade. Confiando em mim, Chinara acreditou que eu lhe contaria tudo de relevante que visse nas memórias da vidente e nós soubemos que vocês estavam no Canadá. Vi, através das visões de nossa amada Alice, que fim trágico Jasper teria, destacando que nossa intenção era unicamente salvar você, mesmo desconfiando que ele é sua alma gêmea. Seus irmãos, Jasper, se viram na obrigação de uma intervenção e ofereceram seus serviços à coroa pelos próximos cinquenta anos para que incluíssemos seu bem estar em nossa lista de prioridades. Felizmente, Chinara apenas invadiu a mente de Marcus antes do plano ser discutido e pouco pôde desconfiar."
— Então— o loiro ao meu lado começa— mesmo que eu sobrevivesse ao ataque de Chinara, vocês me executariam?
Houve um momento de silêncio esticado para aumentar o suspense. Eu me enfureci sem me mover.
— A dor de Jasper seria a minha punição— concluí. Aro não negou ou confirmou. Me deu as costas e foi se sentar em seu trono, no meio de Alice e Edward.
— Precisávamos que aprendesse uma lição, Lucille. Sua traição não poderia passar em branco, no entanto, sei que a perda de Alec a abala tanto quanto abala a nós. Assim... considere-se punida.
Ele não faz ideia de um caralho.
Olhei para Alice, a vidente que podia prever de tudo.
— Sabia que Alec morreria!? Vocês o mandaram para uma missão suicida?— rosnei, ardendo em chamas de ódio.
— Ah-ah!— censurou Aro— Sabíamos que perderíamos alguém próximo a você neste conflito, mas não tinha como ter certeza de quem. Alec foi outra perda lastimável.
Alec ou Demitri? Era isso então? Ou eles ou Jasper. De todo jeito, eu perderia alguém.
Desde o começo, eu só estava me defendendo.
— Sim, ele sabe de Isabella— Edward falou pela primeira vez, arrancando-me de meus devaneios. Jasper só poderia ter lhe feito perguntas nos pensamentos— Me afastei dela depois do acidente, quero que ela tenha uma vida normal que nenhum de nós teve a oportunidade de viver. Estou aqui tanto por você quanto por ela.
Não precisava ler os pensamentos de Jasper para entender que ele lamentava profundamente pelos seus irmãos, os quais ele considera melhor do que ele. Ele estava envergonhado por precisar ser salvo. O deixariam morrer por minha causa para que eu sofresse pela eternidade. Acho que fico grata por terem aparecido, na verdade.
— E o que nos resta, Aro? Nunca mais poderemos pisar em Volterra, suponho— fiquei na frente de meu companheiro para ter a atenção total sobre mim.
Aro sorriu.
— Pelo contrário, mia bela.
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